quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Um desporto com nove dedos...

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No recente Seminário "Move-te por valores", Gonçalo M. Tavares, escritor e Professor na Faculdade de Motricidade Humana, iniciou a sua intervenção apresentando-nos dois contos de sua autoria. Um deles, «A revolta»*, aqui fica, com as necessárias ilações...


Para o Rei era fundamental que toda a população, sem excepção, estivesse satisfeita.
Quando apareceu aquele estrangeiro extremamente feliz e com seis dedos em cada mão, o Rei ordenou que os médicos do Reino implantassem mais um dedo em cada um dos habitantes. E que os médicos fizessem o mesmo uns aos outros. Ninguém invejaria os seis dedos daquele estrangeiro.
Assim se fez. Todos ficaram com seis dedos em cada mão.
No ano seguinte chegou outro estrangeiro - com ar ainda mais feliz - que tinha sete dedos em cada mão.
O Rei de novo ordenou que os médicos do Reino implantassem mais um dedo em cada um dos habitantes. Assim foi feito.
No ano seguinte um estrangeiro com oito dedos por mão, que não parava de exibir a sua felicidade, provocou nova implantação geral: oitavo dedo.
No ano seguinte: um estrangeiro com nove dedos. E ainda mais feliz.
A mesma operação. Todos os do Reino ficaram com nove dedos em cada mão. Dezoito no total.
Foi então que no ano seguinte chegou um estrangeiro com o rosto mais feliz que alguma vez fora visto por ali com cinco dedos em cada mão.
Depois de um momento de hesitação, o Rei ordenou aos médicos que cortassem quatro dedos por mão a cada habitante.
Havia um problema, no entanto. Os nove dedos em cada mão dos cirurgiões já não conseguiam operar: os dedos atrapalhavam-se uns aos outros. Já não era possível: teriam que ficar todos com nove dedos em cada mão.
Como o Rei não conseguiu dar à população os cinco dedos daquele estrangeiro feliz, rebentou uma revolta e o Rei foi deposto.
(Foto: http://pt.dreamstime.com)

Quando se aborda uma mudança de valores em toda a nossa sociedade, com este exemplo, metáfora atual, concluímos que o desporto - analisando toda a sua evolução ao longo da história e das civilizações - depois de ter nove dedos nunca mais conseguirá voltar a ter cinco dedos...


* Gonçalo M. Tavares, 2004, "O Senhor Brecht", Lisboa, Ed. Caminho.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Seminário "Move-te por valores" - notícia que não chega!

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O Plano Nacional de Ética no Desporto, o Instituto Português do Desporto e Juventude em colaboração com a Faculdade de Motricidade Humana - Universidade Técnica de Lisboa realizaram hoje o Seminário sob o lema "Move-te por Valores", que teve lugar no Salão Nobre daquela Faculdade, o qual apresentou um painel de oradores notável e com intervenções de grande qualidade.





Um Seminário ao qual gostariam de ter assistido muitos Treinadores de karate-dō e muitos karatekas... mas que infelizmente não foi divulgado entre a nossa comunidade e muito menos na página da FNK-P (a qual é parceira institucional do PNED) ou na página do facebook "FNKP - Federação Nacional de Karate Portugal (unofficial)"! No entanto estiveram presentes no mesmo o Presidente desta Federação, assim como o Diretor do Departamento de Formação!

karate-dō tem três Embaixadores para a Ética no Desporto... dois deles estiveram lá!


Uma informação que não se publicitou... uma notícia que não chega... uma sonegação de uma realização... A quem interessam?

domingo, 9 de dezembro de 2012

Seppuku (切腹)


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Dois animadores de rádio australianos divertiram-se com um telefonema para um hospital... As televisões transformaram-no em "reality show"! O público riu-se!!! A enfermeira que atendeu o telefonema e transferiu a chamada suicidou-se! Os animadores foram criticados...

A 2Day FM declara: "estamos convencidos que não fizemos nada de ilegal." JUSTIFICAÇÃO errada!!! A questão é: O QUE FIZERAM CABE DENTRO DOS LIMITES DA ÉTICA  E DA DEONTOLOGIA??? Os dois animadores estão a receber aconselhamento intensivo...

Miguel Esteves Cardoso escreve no «Público» de hoje (p. 53) o seguinte: "A diabolização dos dois apresentadores australianos é inaceitável. Ninguém tem culpa. Não é essa a tragédia. A tragédia é que uma pessoa se matou sem razão para se matar. Foi vítima de um princípio de honradez que ela tinha: foi pena ter sido tão honrada. Se alguém tem culpa é a curiosidade pública à volta da gravidez da mulher que casou com o filho mais velho do príncipe Carlos. A curiosidade pública é um monstro bisbilhoteiro e é muito pior do que os monstrengos que decidem ganhar a vida a saciá-la."

Foi pena? Há que ter pena de todos aqueles que cometeram seppuku (切腹)? 

Pergunta-se: a "moral" australiana" é diferente da "moral" inglesa?


Nota: ontem participámos numa ação de formação em que foi abordada a ética no karate-dō... meditemos!