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Segundo o Prof. Sidónio Serpa*, "a ginástica artística portuguesa teve nos últimos anos notável melhoria de resultados internacionais" devido a "um desenvolvimento muito positivo do relacionamento entre os treinadores dos diferentes clubes que assumiram a evolução da sua modalidade como missão comum, criando um ambiente de bom entendimento e de compromisso na colaboração. Foi um acto colectivo de inteligência que, todavia, não é muito habitual no desporto onde a rivalidade desportiva tende a ser prolongada a nível pessoal, e onde os objectivos associados aos resultados individuais ou da equipa geram individualismo no trabalho, por vezes temperado (envenenado?) com deslealdades e falta de desportivismo." Desenvolvimento esse a que a própria Federação não deve ser alheia... nem eventualmente a Associação Portuguesa de Treinadores de Desportos Gímnicos - repare-se que não é uma «Associação Nacional de Treinadores de Ginástica»!
Ainda segundo a sua opinião, "lamentavelmente, encontramos muitos exemplos, no contexto das várias modalidades, que seguem lógicas opostas àquela. Aí observamos que a evolução desportiva, ainda que tenha lugar, não atinge o potencial possível. Verificamos, também, que a própria situação profissional dos treinadores não se consolida como seria benéfico para todos, fruto de um relacionamento que desperdiça a força da comunhão de esforços, estratégias e objectivos. As certezas inflexíveis impeditivas da colaboração resultam de inseguranças pessoais, e o desejo mesquinho de querer ter algum poder no pequeno meio das modalidades e de se destacar entre os pares leva a guerras de grupos e indivíduos que culminam na derrota de todos. A psicologia social há muito demonstrou a elevada probabilidade de percas generalizadas nos jogos em que todos querem ganhar sem colaborar."
Na senda de Adorno (1963), Parlebas (1969), Villiaumey (1991), Gutiérrez Sanmartín (1995), Lassalle (1997), Olímpio Bento (1999, 2004 e 2005) e de Saint-Martin (2004), que nos mostram uma bivalência do desporto, o Prof. Sidónio Serpa vem agora alertar-nos para este facto: "o desporto, como meio de transmissão de valores, é perfeitamente neutro. Com efeito, tanto pode ter um impacto profundamente positivo na formação moral e cívica dos seus actores, como pode induzir as mais vis abordagens, plenas de egoísmo e desrespeito pelos outros."
E termina com uma crença: "acredito que a prazo ganham os que se regem pelos valores éticos, mesmo que não figurem no topo da classificação desportiva."
Esperamos que esta sua crença seja válida...
* "A força da colaboração", «A Bola», 23.04.2013, p. 32.