sábado, 26 de outubro de 2013

"TROLLS" e "FANBOYS" do Karatedō.

...
Não é novidade para ninguém que ainda há muita coisa errada sendo transmitida como correta no mundo do Karatedō.

O grande problema desta questão está no facto de que não menos considerável é o número de pessoas que defendem o errado com unhas e dentes. A este tipo de atitude, no mundo dos vídeo-jogos, criou-se uma classificação para identificar determinados jogadores como "trolls" e "fanboys". 

A diferença entre o "troll" e o "fanboy" é que o "troll" não está interessado em fazer nada de jeito, a não ser incomodar os outros, sem que ganhe ou partilhe qualquer cosia útil com os demais... a não ser a própria satisfação de "chatear" ou simplesmente "incomodar" quem tem a infelicidade de cruzar o seu caminho. 

Por sua vez, o "fanboy" é aquele jogador que considera um jogo, uma empresa específica de jogos como sendo "a melhor do mundo" e vai aos limites extremos para fazer valer o seus pontos de vista - sempre restritos ao jogo ou marca que utilizam e cegos em relação às demais empresas ou jogos.

Esta analogia pode ser facilmente aplicada no mundo do Karatedō, onde temos os mesmos "trolls" que não querem saber de aumentar o seu conhecimento, achando que o que sabem já é o suficiente e, a partir deste ponto entram em forums, facebooks e blogs apenas para incomodar os outros sem trazer nada de útil à discussão e onde temos também os "fanboys" que consideram as suas escolas, os seus estilos, os seus mestres fundadores "os melhores do mundo", sendo estes quase elevados à categoria de "santos" ou "deuses".

Esta questão é facilmente verificável quando Miyagi Chōjun Sensei e Mabuni Kenwa Sensei colocam em causa as classificações dos Kata feitas por Funakoshi Gichin Sensei, mostrando as discrepâncias nos livros publicados pelo próprio Funakoshi Sensei, dizendo que tais classificações não existiam em Okinawa antes da ida do Karatedō para o Japão, sendo estas "invenções" de Funakoshi Sensei! O problema é que... Miyagi e Mabuni Sensei têm razão!

Os "fanboys" de Funakoshi Sensei acham um "sacrilégio" ou "heresia" alguém duvidar da idoneidade do seu mestre fundador (mesmo que sejam outros mestres fundadores de outros estilos que, por incrível que pareça, fundamentaram as suas desconfianças baseadas nas inconsistências das obras do próprio Funakoshi Sensei) e começam a lançar ataques desesperados e disparatados em todas as direções, tentando provar e comprovar o quão "perfeito" era o seu mestre.

O que os "fanboys" esquecem é que os mestres fundadores eram - antes de mais nada - seres humanos e, sendo seres humanos, também erravam!

Mas... para o "fanboy", "o mestre nunca errou", o "estilo é inquestionável"! 

E, sendo assim, o que vinha errado dos tempos antigos, vai continuar errado... "PORQUE O MESTRE DISSE QUE ERA ASSIM"!

Para o "fanboy", a utilização do cérebro fica relegada para segundo plano e "pesquisar o estilo que se pratica" é algo que não se faz "porque pode por em causa os ensinamentos do mestre fundador".

Esta idolatria desmedida, quase às raias da insanidade, e a falta de discernimento entre o "santo" e o "ser humano" no que diz respeito aos antigos mestres de Okinawa continuarão a impedir que se tenha uma visão mais correta do mundo do Karatedō e uma possível correção de muita informação como um todo.

Entre tantos fatores, a pesquisa, com base em fontes diversas, deveria ser uma característica dos tempos modernos, de pessoas mais esclarecidas... Mas, novamente, não é isto que ocorre na realidade.

«Eu uso "traduções rigorosas" para fundamentar esta ou aquela informação...»

Permitam-me lançar uma questão sobre "traduções rigorosas": se o idioma japonês utiliza "ideogramas" na sua escrita, sendo "ideogramas" a "representação de ideias" e sendo as "ideias" diferentes para cada indivíduo, podemos dizer que existe uma "tradução rigorosa" quando não sabemos o que pensava o autor exatamente? 

Sem ter necessidade de muito esforço mental, pode-se afirmar que "traduções rigorosas" em se tratando do idioma japonês, na melhor das hipóteses, quer dizer que a tradução foi feita o mais próximo do contexto possível. Por quê? Porque, além de usar ideogramas, o idioma japonês é contextual, ou seja, depende do contexto do que se está a expressar.

Assim, quando lemos "traduções" é quase 100% certo que algumas coisas serão perdidas do original japonês, quer pela falta de correspondência na linguagem estrangeira, pela má tradução (por causa dos ideogramas e ideias) ou pela má interpretação (devido aos erros de contexto).

Portanto, como pode ser visto, o desenvolvimento do Karatedō tem vários aspectos: políticos, sociais, regionais etc.. Contudo, se não levarmos em consideração que a pesquisa aprofundada, sem idolatrias desmedidas ou preconceitos, baseada na pluraridade de fontes e fatos verificáveis, então a única hipótese que o Karatedō teria para se afirmar como verdadeira arte marcial foi em vão... e mesmo para isto, não há a necessidade de "trolls" ou "fanboys".


Cortesia de Joseverson Goulart, a quem agradeço a amabilidade.

domingo, 6 de outubro de 2013

O bem e o mal

...

O Bem e o mal, o Governo e o provedor da Ética no Desporto

(crónica do Prof. José Manuel Meirim no jornal «Público» de 29 de setembro de 2013, página 49)

1. Na sequência do ocorrido no final do jogo entre o Vitória de Guimarães e o Benfica, este infeliz país assistiu – dirão alguns que não – a uma explosão mediática que se projectou no quotidiano de todos os portugueses. Agora que os procedimentos, disciplinares e criminais, iniciaram o seu percurso, com a garantia da defesa do arguido, é tempo de «fechar» ou pelo menos suspender os fluxos de informação e de contrainformação. Pela nossa parte, deixamos três registos “finais”.
2. Em primeiro lugar, temos para nós que, no futebol e na restante vivência social, o «mal» e o «bem» não se guiam por qualquer ponto cardeal. Não há um “eixo do mal” a Norte e uma “linha da verdade” ou da ética a Oeste ou a Leste. O mal e o bem repartem-se pelo todo e tanto se localizam ao Norte, a Leste, a Oeste ou no Sul. Por outro lado, a meu ver, só há duas formas de vencer o mal: praticando o bem (em resposta ao mal) ou, em pura lógica, agir sempre pior que o «mal». O que verdadeiramente me perturba é o discurso do bem e a ação que, nos momentos determinantes, não o respeita. Dessa forma, é bem sabido, não se vence o “eixo do mal”.
3. Independentemente até do juízo jurídico que se faça sobre o ocorrido, a verdade é que os agentes de segurança pública se viram confrontados com algo realmente perturbador da sua ação.
Durante os dias que se seguiram nem uma palavra, diria mesmo um suspiro, se ouviu do Governo. O Ministro da Administração Interna e o Secretário de Estado da Juventude e do Desporto remeteram-se a um silêncio confortável, ainda para mais em semana eleitoral.
Ministro e Secretário de Estado que sempre se recheiam de palavras sobre a ética desportiva, a prevenção e o combate à violência no desporto. Membros do Governo esses claramente empenhados em mais um rejuvenescimento de uma ineficaz lei do combate à violência, ao racismo, à xenofobia e à intolerância nos espetáculos desportivos, de forma a possibilitar a realização dos mesmos com segurança, operado no passado dia 25 de Julho. Ministro esse que tornou obrigatória a presença das forças policiais nas competições profissionais de futebol.
4. O Plano Nacional de Ética no Desporto tem até um Provedor da Ética no Desporto, nomeado pelo Governo. Na actualidade o cargo é desempenhado pelo Professor Manuel Sérgio que, na página da Internet, tem uma mensagem ao mundo do desporto, desde o dia 15 de Setembro, intitulada “O Desporto em que eu acredito”. Entre muitas afirmações das suas convicções em prol de um desporto ético, retiramos estas duas: “Este é o Desporto em que eu acredito. Para ele, vale mais uma lágrima humana do que todos os campeonatos e taças do mundo. Ele não se ocupa só do estudo dos meios, esquecendo os fins, e por isso não tem por si as letras grandes das páginas dos jornais, nem os noticiários mais escutados da rádio e da televisão, nem as redes de mundialização mediática”; “Não pode esperar-se dos cultivadores de um clubismo ou regionalismo doentios, nem de nefastos manipuladores da opinião pública, que reconheçam na Ética lugar imprescindível, na prática desportiva. Os nossos jovens têm direito a este banho de verdade, que deve abranger todo o sistema educativo nacional: Sem Ética, não há Desporto”. Nove dias depois, o Professor Manuel Sérgio em declarações públicas à Rádio Renascença entendeu pronunciar-se sobre “o caso” nos seguintes termos: “não tem valor nenhum” e é “para morrer”; “quando nos agarramos em demasia a um caso como este, é porque não temos coisas importantes a tratar. Aquilo não tem importância nenhuma”.
5. Se o “bem” se comporta assim, então o “eixo do mal”, esteja em que ponto cardeal esteja, vive ainda melhor e só pode proliferar. 





sábado, 5 de outubro de 2013

3.out.1973 - 3.out.2013: 40 anos são muitos anos...

...
Quem diria?
Alguma vez o jovem imaginaria, no primeiro dia em que envergou um karategi, que 40 anos depois ainda o continuaria a envergar? Não, nem tal lhe passou sequer pela cabeça!



Mas o que é certo é que por cá continua!