quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Um desporto com nove dedos...

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No recente Seminário "Move-te por valores", Gonçalo M. Tavares, escritor e Professor na Faculdade de Motricidade Humana, iniciou a sua intervenção apresentando-nos dois contos de sua autoria. Um deles, «A revolta»*, aqui fica, com as necessárias ilações...


Para o Rei era fundamental que toda a população, sem excepção, estivesse satisfeita.
Quando apareceu aquele estrangeiro extremamente feliz e com seis dedos em cada mão, o Rei ordenou que os médicos do Reino implantassem mais um dedo em cada um dos habitantes. E que os médicos fizessem o mesmo uns aos outros. Ninguém invejaria os seis dedos daquele estrangeiro.
Assim se fez. Todos ficaram com seis dedos em cada mão.
No ano seguinte chegou outro estrangeiro - com ar ainda mais feliz - que tinha sete dedos em cada mão.
O Rei de novo ordenou que os médicos do Reino implantassem mais um dedo em cada um dos habitantes. Assim foi feito.
No ano seguinte um estrangeiro com oito dedos por mão, que não parava de exibir a sua felicidade, provocou nova implantação geral: oitavo dedo.
No ano seguinte: um estrangeiro com nove dedos. E ainda mais feliz.
A mesma operação. Todos os do Reino ficaram com nove dedos em cada mão. Dezoito no total.
Foi então que no ano seguinte chegou um estrangeiro com o rosto mais feliz que alguma vez fora visto por ali com cinco dedos em cada mão.
Depois de um momento de hesitação, o Rei ordenou aos médicos que cortassem quatro dedos por mão a cada habitante.
Havia um problema, no entanto. Os nove dedos em cada mão dos cirurgiões já não conseguiam operar: os dedos atrapalhavam-se uns aos outros. Já não era possível: teriam que ficar todos com nove dedos em cada mão.
Como o Rei não conseguiu dar à população os cinco dedos daquele estrangeiro feliz, rebentou uma revolta e o Rei foi deposto.
(Foto: http://pt.dreamstime.com)

Quando se aborda uma mudança de valores em toda a nossa sociedade, com este exemplo, metáfora atual, concluímos que o desporto - analisando toda a sua evolução ao longo da história e das civilizações - depois de ter nove dedos nunca mais conseguirá voltar a ter cinco dedos...


* Gonçalo M. Tavares, 2004, "O Senhor Brecht", Lisboa, Ed. Caminho.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Seminário "Move-te por valores" - notícia que não chega!

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O Plano Nacional de Ética no Desporto, o Instituto Português do Desporto e Juventude em colaboração com a Faculdade de Motricidade Humana - Universidade Técnica de Lisboa realizaram hoje o Seminário sob o lema "Move-te por Valores", que teve lugar no Salão Nobre daquela Faculdade, o qual apresentou um painel de oradores notável e com intervenções de grande qualidade.





Um Seminário ao qual gostariam de ter assistido muitos Treinadores de karate-dō e muitos karatekas... mas que infelizmente não foi divulgado entre a nossa comunidade e muito menos na página da FNK-P (a qual é parceira institucional do PNED) ou na página do facebook "FNKP - Federação Nacional de Karate Portugal (unofficial)"! No entanto estiveram presentes no mesmo o Presidente desta Federação, assim como o Diretor do Departamento de Formação!

karate-dō tem três Embaixadores para a Ética no Desporto... dois deles estiveram lá!


Uma informação que não se publicitou... uma notícia que não chega... uma sonegação de uma realização... A quem interessam?

domingo, 9 de dezembro de 2012

Seppuku (切腹)


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Dois animadores de rádio australianos divertiram-se com um telefonema para um hospital... As televisões transformaram-no em "reality show"! O público riu-se!!! A enfermeira que atendeu o telefonema e transferiu a chamada suicidou-se! Os animadores foram criticados...

A 2Day FM declara: "estamos convencidos que não fizemos nada de ilegal." JUSTIFICAÇÃO errada!!! A questão é: O QUE FIZERAM CABE DENTRO DOS LIMITES DA ÉTICA  E DA DEONTOLOGIA??? Os dois animadores estão a receber aconselhamento intensivo...

Miguel Esteves Cardoso escreve no «Público» de hoje (p. 53) o seguinte: "A diabolização dos dois apresentadores australianos é inaceitável. Ninguém tem culpa. Não é essa a tragédia. A tragédia é que uma pessoa se matou sem razão para se matar. Foi vítima de um princípio de honradez que ela tinha: foi pena ter sido tão honrada. Se alguém tem culpa é a curiosidade pública à volta da gravidez da mulher que casou com o filho mais velho do príncipe Carlos. A curiosidade pública é um monstro bisbilhoteiro e é muito pior do que os monstrengos que decidem ganhar a vida a saciá-la."

Foi pena? Há que ter pena de todos aqueles que cometeram seppuku (切腹)? 

Pergunta-se: a "moral" australiana" é diferente da "moral" inglesa?


Nota: ontem participámos numa ação de formação em que foi abordada a ética no karate-dō... meditemos!

terça-feira, 20 de novembro de 2012

É preciso fechar algumas modalidades...

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Para sabermos que futuro estará eventualmente reservado ao nosso desporto, aconselha-se a leitura da crónica de António Varela, Editor Chefe do jornal «Record», publicada na edição de hoje na página 40 sob o título "Que remédio!...", e que a seguir transcrevemos com a devida vénia.

O Governo encomendou um estudo à consultora PricewaterhouseCoopers (PwC) para saber como é que Portugal, um pequeno país periférico do Sul da Europa, sujeito aos humores dos mercados e às teorias charadísticas das agências de rating, pode ganhar mais medalhas nos Jogos Olímpicos com um nível de investimento menor do que o atual.

E a PwC não se fez rogada. Em menos de um mês fechou o estudo e concluiu que a delegação portuguesa devia ter abandonado Londres'2012 não com uma (a prata ganha pela dupla da canoagem Emanuel Silva - Fernando Pimenta), mas com 5 medalhas. E apontou imediatamente o remédio para curar a sangria de dinheiros públicos sem retorno desportivo: é preciso "fechar algumas modalidades".

Esta terminologia utilizada correntemente por quem está habituada a "cortar o mal pela raiz", "reduzindo custos", "otimizando recursos", fazendo "downsizings" e "upgradings", levanta desde logo uma dúvida que os senhores juízes do Tribunal Constitucional se encarregarão de responder, provavelmente a pedido de algumas dessas modalidades que "deve fechar": "pode fechar-se uma modalidade", cortando-lhe os fundos de apoio públicos?

Num país que tem consagrado na lei fundamental o livre associativismo; num país em que a lei não prevê o intervencionismo estatal, como é que isto se faz? O Secretário de Estado da Juventude e Desporto, Alexandre Mestre, já informou o Comité Olímpico de Portugal e as federações que devem pronunciar-se até dia 3 de dezembro. A partir daí, julgo que ele próprio se encarregará de explicar aos portugueses, os que têm aspirações de participar nos Jogos Olímpicos e os outros, que gostam de desporto e aspiram ainda a viver num país livre, democrático e sem mais este grilhão do Estado, como é que a coisa se faz. Sim, está este mundo e o outro em pulgas para descobrir como será esta cura da PwC. E quanto custou, já agora.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Construir... e sermos independentes!

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Construir sociedade e comunidade significa que se não evita nenhum dos desafios que a humanidade enfrenta num momento crítico para ela. Os problemas sejam eles de que índole forem, devem ser encarados de frente sem ambiguidades, com a clara decisão de os resolver ou, pelo menos, de o tentar fazer. Não o fazer assim é trairmo-nos a nós mesmos e aos que acreditaram que essa era a nossa obrigação. Dizer a verdade ao poder, bem como aos que o exercem ou se escondem cobardemente atrás dele, não é uma alternativa entre muitas, mas a única possível.

Sermos independentes é sermos capazes de defender as próprias ideias, mas também confrontá-las e pô-las em comum com os que pensam de forma diferente, mas estão dispostos a somar esforços para conseguir uma convivência melhor e tornar este mundo mais livre, mais seguro e mais justo.

Palavras de Baltasar Garzón no seu livro "Um Mundo sem Medo", aqui reproduzidas com os meus agradecimentos a um amigo: Luís Sérgio Mendes.


sexta-feira, 26 de outubro de 2012

A "arte" do treinador ou a "arte" do Mestre?

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Equacionar o termo "arte" num contexto de «arte marcial» arrastou-nos para outras perspetivas! Uma colaboração, que divulgamos aqui, chega-nos através de António Santos - e com o equacionamento de novas questões! Os nossos agradecimentos!


OSS

Ora vamos tentar dar uma ajudinha na temática da "arte", o que nos leva ao DESPORTO DE COMBATE ou ARTE MARCIAL...

Penso que os karatekas podem não saber teorizar a menor distância entre dois pontos, mas sabem muito bem percorrer a distância mais curta entre dois pontos (uma linha reta).

Os karatekas sabem bem o que é o/a Bunkai, os treinadores é que podem ter dúvidas.

Os treinadores são obrigados a preocuparem-se com o resultado desportivo, mas o objetivo dos Sensei é ensinar KARATE-DO.

O tema levantado é pertinente e atual, mas para mim preocupa-me mais onde é que tem de ser discutido.

Provavelmente numa organização de karatekas, mesmo que ela se chame Associação Nacional de Treinadores de Karate.

No dia 10 de setembro de 1994 em Coimbra e a 21 de Abril de 1996 em Lamego, alertei para esta questão o então preletor (agora presidente da ANTK) de uma ação de formação da Federação, dizendo-lhe que não me identificava como treinador. A reação foi mais ou menos:
- Este tipo que vem lá do estrangeiro pensa que é quem?
Perante tal reação calei-me, e apenas lhe pedi uma assinatura no meu passaporte desportivo (recordo que o atual presidente da ANTK foi o interpelado).

Estou em querer que o passo tinha que ser dado, porém logo aí devíamos ter acautelado se havia diferença entre arte marcial e desporto de combate.

Agora estamos no dilema:
Somos treinadores de desporto ou mestres de karate-do?

Alguns, embora não soubessem param onde iam, queriam era dar um passo grande. O certo é que chegados aqui, (uns de forma voluntária, outros puxados e outros arrastados) olhamos uns para os outros e começamos; ai ai ai ...ai ai ai que não me sinto bem com o rótulo  de treinador, pois não me diferencio entre treinador de desporto e mestre de arte marcial.

Aconselho a tomarmos o exemplo do Sensei Chujun Miyagi em 1940 quando perante uma situação difícil criou um/a kata que se dá pelo nome de Gekisai dai ichi, e tem a particularidade de no final avançar com o pé direito.
Avançamos todos, nem que seja apenas um só passo, rumo à nossa organização de classe, mesmo que ela se chame ANTK.
Uma vez a casa arrumada, podemos teorizar as diferenças entre o desporto de combate e as artes marciais. Para além de tentarmos saber "arte: o que é?" teremos de saber onde está a "arte"...

Mas atenção, todos são mesmo todos. Porque o todo é sempre mais do que a soma das partes.

António dos Santos.
Praticante de GOJU-RYU.

domingo, 21 de outubro de 2012

Arte: o que é?


Já nos preocupámos muito com o termo "marcial", mas rara é a vez em que nos pre-ocupamos com termo "arte" - proveniente do latim ars (técnica e/ou habilidade).

(Fotos: capa de «A Bola», 22.08.2012 e capa de «Mind Power», de Kazumi Tabata,Tuttle Pub.)

A grande questão que quero aqui colocar aos leitores deste blog é a seguinte: se afirmamos que o karate-dō é uma "arte marcial", o que se entende por "arte" nesta situação? 

Aceitam-se sugestões... comente por favor!

domingo, 14 de outubro de 2012

Demitam-se, sejam honestos!



Devemos desafiar os treinadores de escalões jovens a pensar primeiro o processo.
Tomaz Morais
(«A Bola», 12.10.2012, p. 40.)


Este deveria ser, por exemplo, um dos desafios já há muito lançado aos treinadores de karate-dō... por quem possui responsabilidades na matéria! Não sabemos é se existe esse "quem"...

Mas nós, treinadores de karate-dō, sabemos que existe  (ou que não existe...) uma Associação Nacional de Treinadores de Karaté, e conhecemos a sua obra (?) desde o seu início em 2000... 

Mas não vamos falar do passado... vamos falar de uma associação que gostaríamos de ter (pelo menos alguns treinadores, talvez a maior parte!)... talvez no futuro!

Mais do que cargos repartidos por estilos, associações ou por zonas do país seria benéfico ter um grupo que trabalhasse em prol dos treinadores, os representasse, defendesse os seus interesses e com o qual pudéssemos contar e colaborar .

Gostaríamos de ter uma associação em que se reunissem todos os treinadores - ou a maior parte deles - com direitos e deveres iguais, sem termos de ter  associados Fundadores, Ordinários e Extraordinários (estes últimos, não estando especificamente incluídos na categoria anterior, são aqueles que "manifestem um relacionamento atendível com as actividades de ensino e treino de Karaté" - serão "treinadores" sem cédula de treinador de desporto?). Gostaríamos de ter uma associação em que todos tivessem direito a voto, até mesmo aqueles que frequentaram os seus cursos de formação, podendo no entanto não exercer o ofício!

Gostaríamos de ver uma associação com uma Direção ativa e dinâmica, uma associação em que os órgãos gerentes fossem eleitos para um período de quatro anos (e não três), acompanhando os ciclos federativos, colaborando com a Federação... para promover a nossa modalidade.  Uma Direção que se preocupasse com as preocupações dos treinadores, interventiva e que nos congregasse. Zélia Matos diz que, em relação à competência para intervir, se devem distinguir "duas componentes principais – o conhecimento e a disponibilidade para agir."* Só conhecimento não chega... Não há disponibilidade? Demitam-se, sejam honestos!

Seria ótimo vermos uma associação de classe preocupar-se em dinamizar a existência de comissões de apoio. Um exemplo: uma comissão que levasse os árbitros a ensinar verdadeiramente as regras e os regulamentos de arbitragem aos treinadores virados para a competição. Mais dois exemplos: uma comissão que elaborasse os tão propalados códigos éticos e deontológicos, assim como uma comissão de juristas para apoio aos treinadores e à Direção nos casos de disciplina e na aplicação de sanções, assim como para a defesa legal dos treinadores. No que se refere à defesa dos interesses dos treinadores, quantos deles conhecem as cláusulas da apólice do seguro desportivo?

Gostaríamos de ver uma associação de treinadores com um site autónomo onde, para além do comum, se colocasse a listagem dos treinadores licenciados. Pais, praticantes, competidores e público em geral deveriam saber quem está habilitado a ministrar o ensino, o treino e a prática do karate-dō.  Isto seria uma medida pedagógica e uma medida fiscalizadora! Ou que cumprisse os seus Estatutos publicando os nomes dos seus associados... Gostaríamos de ver essa associação organizar, pelo menos de dois em dois anos, um Congresso de Treinadores, a fim de poder dar voz aos seus anseios, reunindo mesmo todos os que não fossem seus associados. A informação hoje em dia é célere - gostaríamos de ter uma associação que criasse um blog onde todos se pudessem expressar ou levantar as suas questões, não de ter um site (mais que desatualizado!) incluído numa outra associação e de não ter uma página no Facebook inativa, imóvel, amorfa...  Gostaríamos que os treinadores se fizessem ouvir! Que levantassem a sua voz! Que comunicassem uns com os outros e que quebrassem o isolamento a que se sujeitam e a que os sujeitam…

Apetecia-nos dizer, através da nossa associação de classe, tal como Sidónio Muralha diria:

Algemados – não importa por que leis –
Seja qual for a vossa raça e a vossa casta,
Vinde dizer o que sabeis!
– por agora é quanto basta.


Gostaríamos de ter uma organização digna do seu nome que atribuísse uma identificação a cada associado, uma organização digna do seu nome que publicasse material de apoio aos treinadores e organizasse Acções de Formação não só com técnicos credenciados da nossa modalidade mas também com técnicos de outras modalidades e Professores Universitários.

Acima de tudo, seria lindo termos uma associação de classe que promovesse as competências dos Treinadores dedicados ao karate «desportivo», mas também aos que são a favor do karate «tradicional» e do “dō”, aos preocupados com a formação de Seres Humanos - o que se poderia conseguir através de estágios tradicionais de cada estilo com mestres de renome e de consenso entre as várias linhas... e ao mesmo tempo através da realização de colóquios, seminários ou conferências com pessoas especializadas na cultura japonesa e na filosofia da nossa modalidade.

Ouro sobre azul seria termos uma associação que representando-nos, tivesse uma bandeira dentro da nossa sociedade, colaborando pelo menos com uma instituição de solidariedade social. A visibilidade da organização só poderia credibilizar e dignificar os treinadores de karate-dō.

Gostaríamos de ter uma associação de treinadores que esclarecesse a todos as dificuldades que estarão para surgir com o novo Programa Nacional de Formação de Treinadores e com a Cédula de Treinador de Desporto, com a sua duração de cinco anos, com a supervisão pedagógica...

Será uma utopia? Pensamos que não, pois uma verdadeira associação de classe poderia unir-nos se por nós tivesse consideração... Os treinadores são os verdadeiros motores da modalidade! Sem treinadores nada mais há... nem competidores, nem prticantes, nem karate-dō!

Parafraseando José Fanha, diríamos que

Não sabemos de palavras vãs
peito aberto a meio da praça
somos construtores de amanhãs
em cada dia que passa.


Os treinadores de karate-dō têm sido construtores de amanhãs. Embora desamparados, alguns sós, têm sido construtores de amanhãs e pretendem prosseguir nesse caminho. 

Os treinadores de karate-dō merecem… há é quem não os mereça!!! 

* Zélia Matos, 1989, “Professor de Educação Física.  Aspectos éticos da sua profissão.”, in “Desporto, Ética, Sociedade”, FCDEF-UP.


Nota aos leitores deste post:

Se entenderem que devem continuar na vossa "quinta", 
se entenderem nada dizer para não criarem inimizades 
ou para defenderem os vossos privilégios,
então não comentem!

Revelarei depois quantas visitas o mesmo teve...


sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Comemorar o 3 de outubro...

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Todos os anos costumo comemorar o dia 3 de outubro... Este ano não comemorei - talvez porque 5 de outubro fosse o último feriado comemorativo da implantação da República, talvez porque 7 de outubro fosse o primeiro dia do karate-dō...

Mas quais os motivos? Simples - foi a 3 de outubro de 1973 que pela primeira vez enverguei um karategi! Um karategi feito por medida - sim, fui tirar medidas primeiro e foi confecionado depois -, pois ainda não os havia comercializados em barda (isto em Luanda) e muito menos de várias marcas. Um karategi em que não havia costuras na manga - tal como nos kimono - como nos de agora...

(fotos: arquivo pessoal)

Nesse dia fiz pela primeira vez a saudação à entrada do dōjō  - um dōjō ao ar livre, com piso de cimento, em que fazíamos bolhas debaixo dos pés que antes de rebentarem já tinham outras bolhas por baixo...

Etiqueta, aquecimento e primeiras técnicas ensinadas por João Fiel Lopes, na altura kyu... E a partir daí, sempre às segundas, quartas e sextas e ritual  mantinha-se, por vezes na praia ao fim de semana...

Não comemorei este ano no dōjō, mas fica aqui a comemoração!

(fotos: Cristina Lopes)

No próximo ano serão 40 anos... aí sim, espero comemorar de uma outra forma, agradecendo aos que me ensinaram e continuam a ensinar, aos que me têm acompanhado ao longo da vida nos momentos difíceis e nos momentos de glória, a alguns colegas com quem tenho compartilhado ideias, conhecimentos e suor, aos meus alunos - alguns que deixaram a prática mas que continuam em contacto comigo - com quem divido aquilo que faço e aquilo que sei...

No próximo ano...

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Festival de Artes Marciais em Alfragide

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No passado dia 29 de Setembro a Junta de Freguesia de Alfragide levou a efeito um Festival de Artes Marciais apresentando o kenpō, o karate-dō e o taekwondō. Aqui ficam algumas imagens dos momentos altos deste Festival que falam por si... com os nossos agradecimentos pelo convite endereçado!


A apresentação do Festival esteve a cargo do Dr. Luís Festas e da Dr.ª Beatriz de Noronha, Presidente da Junta de Freguesia, que deram as boas vindas aos três representantes destas modalidades diferentes...

O kenpō terminou a sua demonstração com um teste de quebra... 

Okinawa Gōjū-Ryū Karate-Dō Kyōkai esteve representada por 26 praticantes da PGKS, dos dojo de Alfragide e da Tapada das Mercês, demonstrando várias fases de treino...










Todo o programa técnico, desde a base até aos aspetos mais avançados, foram percorridos nesta demonstração  apresentada por praticantes de vários escalões etários e karatekas de várias graduações, a qual culminou com apresentação de uma aplicação (bunkai) da kata "SĒPAI" contra bokken (sabre de madeira)...

A finalizar, foi apresentada uma classe infantil de taekwondō que mostrou também todo o cambiante técnico que os mais jovens praticam durante os treinos...

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Ensaio sobre a pasmaceira

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Esta semana a comunicação social deu-nos a conhecer a carta assinada por 15 nadadoras espanholas onde revelam maus tratos cometidos pela ex-selecionadora nacional de natação sincronizada Anna Tarrés.

Foi com esta treinadora que Espanha ganhou quatro medalhas em Jogos Olímpicos (duas das quais em Londres), vinte e três em Campeonatos Mundiais e vinte e cinco em Campeonatos Europeus... 

Algumas questões se levantam: selecionadora desde 1994, só agora se revelam esses métodos? As famílias, os dirigentes, de nada tinham conhecimento? A ser verdade, no alto rendimento os meios justificam os fins? A ser falso (e recordo-me aqui do livro exemplar "Eu menti" de Virginie Madeira e Brigitte Vital-Durand), como se defenderá e quem defenderá a ex-selecionadora?

Lembro-me agora de um e-mail enviado em tempos para a FNK-P por um pai que se queixava que o treinador de karate-  do seu filho lhe dava "carolos" na cabeça... e que, por acaso, mesmo denunciando optou por não apresentar queixa... (E se tivesse apresentado? Em que lençois estaria metido esse treinador? Quem averiguaria e quem estaria do seu lado?)...

Esta semana também se veio a saber que a romena Florica Leonida, atualmente com 25 anos, campeã europeia de ginástica artística em juniores (2002) e medalha de prata por equipas nas Taças do Mundo de 2003 e 2006, abandonou esta modalidade aos 21 anos, optando por emigrar. Iniciou-se como instrutora de fitness numa academia alemã, mas um mau contrato de trabalho desta emigrante levou-a a acumular dívidas e a ser despejada de sua casa. A prostituição foi a solução para sobreviver... 

As instituições a que poderiam ter recorrido as protagonistas destes dois exemplo falharam... tal como falhou a instituição a que poderíamos recorrer, nós, treinadores de karate-... devido a uma pasmaceira generalizada... embora ainda estejamos a tempo!

(Foto: Armando Inocentes)
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domingo, 23 de setembro de 2012

Uma opinião sobre a ANTK - o comentário que virou post!


O que não sabe é um ignorante,
mas o que sabe e não diz nada é um criminoso.


Bertolt Brecht


Caro Inocentes e restantes treinadores, eu não quero ser criminoso!

Em meu entender o tema que levantas tem importância elevada, e deve ser tratado com a maior seriedade.

Gostaria de serenar os vossos espíritos, porque creio que alguma coisa está, ou vai ser feita, de contrário, então, “temos” dinheiro.
Antes de divulgar o que sei, penso que uma sociedade ou organização reflete o comportamento dos seus cidadãos ou associados.

Devemo-nos questionar:
1 - O que queremos?
2 - Qual o nosso contributo para chegarmos aqui? 
3 - O que podemos fazer para o nosso futuro e para as gerações vindouras?

Posto isto, passo a factos.
Quando se “constituiu” a ANTK, inscrevi-me, paguei a minha quota e a de mais sete pessoas que na altura tinham graduação superior a 3º kyu (eram meus assistentes). Essas pessoas por razões diversas deixaram de praticar karate. Alguns anos mais tarde o então, e agora, presidente da ANTK, sugeriu-me que as quotas pagas, se refletissem apenas na minha quotização. Como a ANTK se tinha constituído em conflito e nessa altura as “águas” estavam calmas, aceitei. Este ano na formação de Alfabetização Motora e Especialização Desportiva de 2/6/2012 em Pombal, o Sr. Presidente da ANTK, que estava lá, informou-me que eu era o nº 21, e que tinha apenas a quota deste ano para pagar - paguei.
Ora bem, se sou o nº 21 há pelo menos 9 anos, há no mínimo mais 20 pessoas que pagaram, ou deviam ter pago quotas todos estes anos. Pelo que conheço, o Sr. Presidente da ANTK pode ter alguns defeitos, mas é seguramente pessoa de boas contas. Então temos dinheiro. Não tenho qualquer recibo dos meus pagamentos, mas acredito que o dinheiro está lá.
É verdade as coisas funcionam de forma manuscrita, e o Sr. Presidente tinha lá algumas folhas. Mas ele tem um fixeiro da JKF GOJU KAI onde tem muito bem cadastrados os membros da JKF. Houve uma altura que algumas pessoas tinham “necessidade” de graduações, hoje mais de um milhar de treinadores tem necessidades prementes de ter uma associação de classe forte.

Parafraseando Pedro Abrunhosa, vamos fazer o que ainda não foi feito.

Embora algumas pessoas só consigam trabalhar em palco e com os holofotes virados para si, eu não me importo de ajudar nos bastidos e até de sujar as mãos. Agora que nós temos de ter uma atitude construtiva para pôr a ANTK a funcionar, lá isso temos.

Não podemos é ficar parados a apontar o que o outro não fez. Temos é de dizer o que  podemos fazer.

Por mim, creio ter sido o segundo a reunir vários estilos a competir em Portugal (da primeira vez que tinha acontecido ficaram mais divididos à saída do que estavam à entrada).
Sujeitei-me a ser raptado para se constituir a FPK ou a FPKDA (e ainda por cima o carro que me transportava deitava mais fumo para o banco de trás do que pelo escape).
Quando a FNK-P se estava a colapsar financeiramente, contribuí com um perdão de dívida de 270 contos (informando que aquele seria o último perdão).

Outras pessoas fizeram coisas muito mais importantes. Estou seguro que continuarão a fazê-lo - refiro-me concretamente ao atual presidente da ANTK, a ti, Armando Inocentes, que tens neste momento uma série de ideias para a ANTK muito interessante, e estou em crer que temos muita gente competente e de boa fé disponível para trabalhar em prol do karate em geral e da ANTK em particular. A entrada em vigor da nova lei de bases do desporto e do exercício físico vai obrigar-nos a ter uma associação de classe que funcione.

António dos Santos, 6º Dan
Treinador de grau IV
Presidente da APGKK


sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Sobre uma associação de classe (a dos treinadores de karate-dō)

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Alguns comentários anónimos ao post anterior (que continuarei a ler mas nunca a publicar por serem anónimos - por uma questão de princípio, quer eu concorde quer discorde deles, quer me apoiem, quer me critiquem!) e alguns e-mails e telefonemas de colegas meus levaram-me a refletir um pouco mais sobre o que tem sido a ANTK e aquilo que deveria ser, pois muitos treinadores desconhecem certos factos, outros ignoram para que serve uma associação de classe e outros ainda encontram-se esquecidos...

Para estes últimos, os esquecidos, faço minhas as palavras de Jorge de Sena em «Fidelidade»:

"- nesta insólita fortuna, à luz que vem
oh só em poeiras inofensivas, rezo
a mim mesmo para não perder a memória,
por vós, para que saibais sempre lembrar-vos
de que tudo se perde onde se perde a paz,
e primeiro que tudo se perde a liberdade."

Aos que ignoram para que pode servir uma associação de classe, posso-lhes dizer que uma verdadeira associação nacional de treinadores de karate-dō não se deverá só preocupar com o expresso no art.º 2º dos estatutos da ANTK. Se os treinadores a viver exclusivamente da sua atividade são uma minoria, isso não isenta os restantes das suas responsabilidades. Há interesses dos treinadores que devem ser defendidos por quem os representa. Como se justifica que um treinador espere dois anos pela sua classificação num curso? Sendo a formação da responsabilidade da FNK-P, como pode uma associação cujos dirigentes são formadores da própria FNK-P defender os treinadores neste campo perante essa federação? Não existirá aqui conflito de interesses? Não estarão aqui presentes certas incompatibilidades? É que houve treinadores que durante esse tempo, com prejuízo próprio, se viram impossibilitados de apresentar credenciais perante organismos públicos...

O Programa Nacional de Formação de Treinadores, cujos futuros cursos terão algumas componentes teóricas entregues à responsabilidade das Universidades de Educação Física e Desporto, terão respetivamente 600, 800, 1100 e 1500 horas de estágio... não deverá a associação de classe ter uma palavra a dizer sobre os programas e sobre os supervisores, orientadores ou metodólogos desses estágios?

Quem defenderá um treinador de karate-dō a quem aconteça algo parecido com o que aconteceu a certo Professor de Educação Física (ver aqui)? E o alerta foi dado também por alguém que sabe do que fala (ver aqui) e que do assunto sabe mais do que eu... A quem irá recorrer, se acontecer, o treinador a quem algo semelhante aconteça?

Estando os treinadores representados na AG da FNK-P pelos seus delegados, quem defendeu os treinadores cujos nomes nem sequer constavam nos cadernos eleitorais no último ato eleitoral? Ninguém (e assim estes não votaram!), porque um dos eleitos até nem sequer estava também nos cadernos eleitorais mas... era quem era... era o próprio Presidente da ANTK! Auscultam esses delegados aqueles que representam??? Levam as suas opiniões paras as ditas AG´s???

Já agora, os associados da ANTK que pagaram jóia e quotas, já receberam os respetivos recibos? Eu e os treinadores da minha associação ainda não...


Está patente o descrédito desta instituição... mas não temos dúvidas nenhumas em assacar as responsabilidades aos próprios treinadores, aos desinteressados... uns porque se calam para defender as próprias quintas, outros porque se escondem (para não dizer acobardam!) no anonimato, outros ainda porque revelam o seu próprio medo! E como nos disse Alexandre O'Neill no seu «poema pouco original do medo»:

"O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos 
a ratos

Sim

a ratos"

Já chegámos???

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Carta aberta aos treinadores de karate-dō

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Assumindo-me essencialmente como treinador de karate-dō, dirijo-me a todos aquele que, tal como eu, abraçaram a responsabilidade de transmitirem conhecimentos teóricos e práticos acerca da nossa modalidade e que se dedicam e contribuem para a formação harmoniosa de seres humanos, independentemente de serem adeptos do "karaté desportivo" ou da "arte marcial". E realço que, neste momento, a legislação portuguesa não contempla «mestres» mas sim «treinadores de desporto»...

A 11 de Junho de 2011 tivemos no Auditório do Complexo de Alto Rendimento sito nas Piscinas do Jamor, na Cruz Quebrada, a última Assembleia-Geral da Associação Nacional de Treinadores de Karaté, onde foram eleitos os órgãos sociais para o triénio 2011-2014.

Nessa AG, onde foi equacionada a ação da ANTK nos últimos anos, o Presidente da Direção cessante afirmou que - e são palavras textuais - "não vale a pena perceber porque é que a ANTK não tem funcionado nestes últimos três anos". E reconheceu também que "a direção perdeu o mandato já há alguns anos" tendo esta revelado algumas "incompetências"... Acontece que o mesmo Presidente foi reeleito! Estavam presentes 33 associados, numa associação que já tinha contado quase com duas centenas de treinadores... Aquele que foi eleito Presidente do Conselho Fiscal viria a afirmar que "as coisas funcionaram um pouco artesanalmente..." mas concedemos nesse momento, os presentes, ao votarmos, o benefício da dúvida! Está provado que o "artesanalmante" continuou, mas o desempenho das nossas funções não se pode compadecer com isso!


Ao fim de um ano e três meses, em que o logo da ANTK apareceu em três ou quatro eventos, que orgão de classe temos que nos possa representar ou que defenda os nossos interesses? Tinhamos um original, agora temos uma fotocópia... Mas o mais preocupante é que nem os treinadores de  karate-dō  se preocupam com isso... até ao momento em que derem conta que não podem recorrer a nada nem a ninguém no momento em que necessitarem! Podem os treinadores exercer as suas funções sem uma associação de classe? Claro que podem, mas não é a mesma coisa...



Tem a ANTK feito algo em prol dos treinadores? Infelizmente a resposta é nula...

Nenhum dos pontos do art.º 2º dos estatutos da ANTK foi cumprido neste último ano - fins e atribuições da mesma! 

«Compete à Direcção declarar a perda da qualidade de associado mediante a actualização anual da listagem de associados» - art.º 7º, ponto 2. Onde está essa listagem? Nem publicada, nem enviada aos associados  - e eu encontro-me associado (ou encontrava-me, já não sei!).

A AG dever-se-ia reunir extraordinariamente no primeiro trimestre de cada ano para apreciar e votar aquilo que todos nós sabemos (art.º 16º), mas nada se passou... Reuniu-se? NÃO!! Se na altura (junho de 2011) existiam em caixa cerca de 5.200 Euros, que destino foi dado a essa verba? Em que se investiu durante este ano?

Estão pessoas competentes nos órgãos sociais da ANTK? Não duvidamos que sim! Mas não confundimos pessoas com desempenho de cargos! Qual o âmago da questão? Identificamos duas situações - a dos elementos dos órgãos sociais e a dos treinadores!

A primeira, que sem rebuço queremos deixar aqui, expressa uma opinião - e como tal discutível - sobre os elementos da Direcção: o Presidente é Assessor Técnico do Departamento de Formação da FNK-P e Formador, o Vice-Presidente é Formador da FNK-P e o Tesoureiro é Selecionador Nacional e Formador - logo, para além de conflito de interesses, parece-nos que quando se tentam tocar todos os burros ao mesmo tempo algum há-de ficar para trás... 




A segunda situação refere-se aos treinadores, pois esbarram numa parede, já que se quiserem solicitar uma AG terão de apresentar um requerimento com as assinaturas de cem associados fundadores e ordinários no pleno gozo dos seus direitos sociais (art.º 16º, ponto 2) - CARICATO!!! Possui a ANTK cem associados no pleno gozo dos seus direitos neste momento???

E esbarram numa parede em que quem detém o poder "representa os treinadores" mas que mais uma vez perdeu a legitimidade para os representar... logo, ilícito e inaceitável! Esbarram numa parede em que muitos perderam o interesse em fazerem-se representar... os ativos, os dinâmicos, os interessados, esbarram numa parede de apatia por parte de alguns treinadores...

Como sair desta situação? Como termos uma verdadeira associação de treinadores? Questões que deixo à Vossa consideração...
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