quarta-feira, 30 de junho de 2010

Ensaio sobre a cegueira - continuação e conclusão...

E como prometido, cá retomamos o fio à meada em relação ao texto do Prof. Dr. Olímpio Bento - sendo de novo os negritos de nossa autoria.

Falava ele sobre os principais sujeitos da cegueira e da insanidade que estava caracterizando. E quem são eles?

“São os que fazem com que a utopia da democracia se transforme em dura desilusão. Os que usam todos os ardis para encobrir a indecência do modo de ser e de estar de exercer o poder para impor, por via legal, decisões abjectas e reprováveis pela moral. Os que alargam o fosso da cada vez maior separação entre a lei e a ética. Os que arrotam, medram e respiram bem na palhaçada hedionda e pérfida da quadratura do círculo de interesses sujos que nos governam. Os abjectos corruptos e os seus aliados, defensores e encobridores. Os desavergonhados autores e beneficiários da promiscuidade entre política e negócios. A mixórdia asquerosa de mentirosos, negadores, vigaristas, defraudadores, trampistas, intrujões, chupistas, golpistas, tartufos e embusteiros. Os amorais que reclamam para si privilégios, intocabilidade e honorabilidade e espezinham a dignidade e humanidade dos outros. Os que tratam as pessoas como meras e rebaixadas coisas e lhes roubam os requisitos de uma vida própria. Os prepotentes que condenam os trabalhadores por conta de outrem, os humildes e pequenos ao esbulho dos seus direitos e ao infortúnio e desdita. Os que pairam acima do desencanto e desolação desta época putrefacta e se recusam a ver o chão juncado de danos colaterais. Os que censuram, perseguem, proíbem, reprimem ou vetam o pensamento divergente, ditam sempre mais exigências, obrigações e restrições para os outros e para si desenham um mundo de fraude, mentira, impunidade, deleite e regabofe. Os insensíveis e indiferentes ao sofrimento alheio, avessos a reconhecer nos outros a condição de seus semelhantes. Os que se situam a si na casta de entes superiores e aos ignorados restantes na sarjeta dos dejectos inferiores.

Esta choldra, que de tudo faz negócio imundo, cria um asfixiante vazio ético e moral, obrigando-nos a procurar o oxigénio existencial em qualquer sítio, onde a nossa fome de ilusões possa ser aquietada e sobreviver. É por isso que nos voltamos para o futebol. Para nos encontrarmos com muita gente que sente como cada um de nós e se vê desmotivada para expressar indignação e revolta perante o desvario que marca o nosso destino e ignora as aflições e aspirações, dramas e agruras das pessoas de bem, honradas, sérias e laboriosas.

Vamos ao futebol, como quem procura pão para a boca. Por isso ansiamos sempre pelo começo das novas temporadas. Nós, os adeptos, investimos nele a paixão não correspondida na política e nas actividades que a deviam merecer, por serem determinantes da nossa vida. Devemos salvá-la e alimentá-la, para que se não perca e possa ser mobilizada para pleitos nobres e transcendentes. Para tanto, o futebol não devia cometer traição; mas, infeliz e amargamente, está a trair nesta hora, pela mão dos seus agentes e branqueadores mediáticos.”

E será só o futebol? É só a questão que coloco para meditarem...

Obrigado Professor pela sua lúcida reflexão...
...

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Ensaio sobre a cegueira: danos colaterais, mentiras e perversões

É desnecessário apresentar o Prof. Dr. Jorge Olímpio Bento...

Da Nota Editorial “Ensaio sobre a cegueira: danos colaterais, mentiras e perversões” publicada no n.º 2-3 do Volume 9 da Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, não resistimos a transcrever o seu ponto 2 (o negrito é de nossa autoria):

“Se olharmos em redor e prestarmos a devida atenção, veremos que a nossa era está enredada numa teia de manipulações e mistificações, demências e mentiras. Este ambiente crepuscular e de limbo, despido de inteireza, nobreza e hombridade, em que estiolam princípios e valores,[1] é propício a que aprendamos, como diz, Arnaldo Jabor, de cabeça para baixo, a partir do que é negativo e execrável, porque “os canalhas são mais didácticos que os honestos. O canalha ensina mais (...) As tramóias e as patranhas de hoje são deslavadas; não há mais respeito pela mentira. Está em andamento uma ‘revolução’ (...) na cara da população como fito de nos acostumar ao horror”. Nunca se aprendeu tanto de cabeça para baixo! Aprendemos que a corrupção, a farsa e demais iniquidades não “são um ‘desvio’ da norma, um pecado ou crime; são a norma mesmo, entranhada nos códigos, nas línguas, nas almas (...) Aprendemos a mecânica da sordidez; a técnica de roubar o Estado”, a maneira de fazer “esgotos à flor da pele”, “orgasmos” e o emocionante “sarapatel entre o público e o privado”. “Querem nos acostumar a isso, mas poder ser (oh Deus!) que isto seja bom: perdermos o auto-engano, a fé. Estamos descobrindo que temos de partir da insânia e não de um sonho de razão, de um desejo de harmonia que nunca chega”.[2]

“Até que enfim – acrescenta Arnaldo Jabor – nossa crise endémica está sujamente clara” e nos mostra uma “prodigiosa fartura de novidades imundas”, oferecendo temas deliciosos para teses de “doutorado sobre nós mesmos”!

Obviamente no desporto – notoriamente no futebol – também se mente. Mas ele é, sobretudo, expressão do quanto nos mentem os protagonistas deste tempo e do quanto assenta na obscenidade no mais descarado fingimento a força que os sustenta.

Sim, os sintomas da alienação e loucura reinantes nesta era foram nítidos nas aquisições do Real Madrid, na enchente do seu estádio para a apresentação de Cristiano Ronaldo, tal como na exploração mediática do evento e nas absurdas cláusulas de outras transferências. Porém são outros os principais sujeitos da cegueira e insanidade. São os que fazem com que a utopia da democracia se transforme em dura desilusão. Os que usam todos os ardis para encobrir a indecência do modo de ser e de estar de exercer o poder para impor, por via legal, decisões abjectas e reprováveis pela moral. Os que alargam o fosso da cada vez maior separação entre a lei e a ética.”

E continua explicando quem são os outros principais sujeitos desta cegueira e desta insanidade...

Mas como já vai longo o texto, retomaremos o fio à meada no próximo post.

[1] “Sem valores não se pode construir nada”, Lech Walesa, in: Jornal Público, Lisboa, p. 3, 01.09.2009.
[2] “Aprendemos de cabeça para baixo”, Arnaldo Jabor, in: Jornal do Comércio, Caderno C, p. 6, Recife, 25.08.2009.

Finalmente, dúvidas desfeitas...

Realizou-se a AG da FNK-P e finalmente ficaram as dúvidas desfeitas...
Atendendo a que a última AG tinha sido impugnada por uma Associação dado alegar esta não ter recebido a convocatória nem por carta, nem por e-mail, foram finalmente os Estatutos aprovados pelas 25 Associações presentes (com a abstenção de uma e o voto contra de outra), passando o ponto 3 do Art.º 17.º a ter a seguinte redacção:
"As reuniões são convocadas por correio, postal ou electrónico, ou por anúncio, publicado
num jornal nacional ou no sítio electrónico da Federação, ou, ainda, por telecópia ou outro
meio técnico disponível, competindo ao Presidente da Mesa escolher o meio que entenda
adequado
."
Num total de 9716 votos, verificaram-se 9279 votos a favor, 363 abstenções e 74 contra.

sábado, 26 de junho de 2010

À atenção dos treinadores...

Vai-se iniciar uma nova época competitiva.
Em qualquer Campeonato Regional podem os competidores estarem sujeitos ao controle anti-doping.
Quantos de nós se lembram de perguntar ao nosso competidor antes de um campeonato "se está a tomar pingos para o nariz"?
Ou se é asmático(a)?
Há procedimentos a que podemos recorrer no caso de alguns competidores estarem sujeitos ao uso de medicamentos prescritos por médicos...
É só perderem um bocadinho de tempo e informarem-se! Talvez assim se poupem "alguns trabalhos"!

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Mas que enormes questões!...

Vamos à página da net e vemos que não está lá nenhuma AG convocada para domingo...

Claro que esta AG deve ser à moda antiga, pois caso contrário os treinadores estariam representados, ter-se-ia convocado o Conselho Geral...

Por isso a informação só seguiu para as Associações - as únicas dignas e legítimas representantes do Karaté na AG da FNK-P!

E que alterações se vão apreciar, discutir e votar? Não somos merecedores de as conhecer? Foi reconhecido no último Fórum serem os Treinadores o cerne da FNK-P. Diz hoje Vasconcelos Raposo em «A Bola» que "quer alguns queiram quer não o treinador será sempre a figura central do processo de preparação dos atletas e das equipas."...

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Homenagem a Saramago...

Polémico mas inquebrável... Discutível mas com carácter... Firme mas sensível...

Deixou-nos ou não? Eis a questão! Sempre nos orgulhámos de ter um Prémio Nobel da Medicina (embora tivesse havido tentativas posteriores para que o mesmo lhe fosse retirado) e sempre nos orgulharemos de um Prémio Nobel da Literartura - tal como nos orgulhamos dos 7-0 à Coreia do Norte... independentemente do futuro!

O poeta sevilhano António Machado disse

"Caminhante, são os teus passos
o caminho e nada mais;
Caminhante, não há caminho,
o caminho faz-se ao andar.
Ao andar se faz o caminho,
e ao olhar para trás
se vê a senda que nunca
se há-de voltar a pisar.
Caminhante não há caminho
somente rastos no mar."

Saramago retorquiu:

Não é verdade. A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o viajante se sentou na areia da praia e disse: «Não há mais que ver», sabia que não era assim. O fim duma viagem é apenas o começo doutra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na Primavera o que se vira no Verão, ver de dia o que se viu de noite, com sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já.
Mais uma vez contestatário, mas sem deixar de ter razão (pelo menos a sua razão!).

Aqui fica, embora tardia, mas oportuna, a minha homenagem.

Os karatecas também são caminhantes... fazem caminho? São capazes de ver a senda que nunca se há-de voltar a pisar? Voltam aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles? É preciso recomeçar a viagem? Claro que é! Sempre!
(...)

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Deus é brasileiro, Cristo foi português e treinador de Karaté...

A maioria não sabe, mas Cristo foi português e treinador de Karaté. Deixou de o ser aos trinta e três anos… Saiba os motivos!!

Naquele tempo, Jesus subiu ao monte seguido pela multidão e, antes de começar a ministrar o treino, sentado sobre uma grande pedra, deixou que os seus alunos se aproximassem. Depois, tomando a palavra, ensinou-os, dizendo:
– Em verdade vos digo, bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles...
Pedro interrompeu:
– Temos que aprender isso de cor?
André disse:
– Temos de tirar apontamentos?
Tiago perguntou:
– Vamos ser examinados sobre isso?
Filipe lamentou-se:
– Não trouxe o papiro-diário.
Bartolomeu quis saber:
– Isso é importante para eu mudar de cinto?
João levantou a mão:
– Isso aplica-se mais ao Kumite ou à Kata?
Judas exclamou:
– Para que é que serve isto tudo? Não se resolve com 30 moedas?
Tomé inquietou-se:
– Porque não há mais treino e menos palestra?
Tadeu reclamou:
– Mas porque é que não nos dás o dossier e... pronto!?
Mateus queixou-se:
– Eu não entendi nada... ninguém entendeu nada!

Um dos fariseus presentes, que nunca tinha estado diante de uma multidão, nem ensinado nada, tomou a palavra e dirigiu-se a Ele, dizendo:

– Tens Cédula de Treinador de Desporto? E onde está o teu Planeamento e Periodização da Época Desportiva? Fizeste uma planificação do treino?
– Qual é a nomenclatura do teu plano de treino nesta intervenção didáctica mediatizada?
– Fizeste uma avaliação diagnóstica da situação?
– És apoiado institucionalmente? Por que Federação?
– Quais são as tuas expectativas de sucesso?
– Tens uma abordagem da área em forma globalizada, de modo a permitir o acesso à significação dos contextos, tendo em conta a bipolaridade da transmissão?
– Quais são as tuas estratégias conducentes à combinação dos conhecimentos prévios? E de que modo pretendes conquistar títulos?
– Respondem estes aos interesses e necessidades do grupo, de modo a assegurar a significatividade do processo de ensino-aprendizagem?
– Incluíste actividades integradoras com fundamento epistemológico produtivo? Contaste com as normas, os símbolos e os valores?
– E os espaços alternativos das problemáticas curriculares gerais? Tens ums concepção generalística e sistematizada dos mesmos?
– Propiciaste espaços de encontro para a coordenação de acções transversais e longitudinais que fomentem os vínculos operativos e cooperativos das áreas concomitantes? Tiveste em conta o Yoshi, o Maai e o Yomi?
– Quais são os conteúdos conceptuais e processuais que respondem aos fundamentos lógicos, praxeológicos e metodológicos, constituídos pelos núcleos generativos do Kihon, do Kumite, da Kata e da Bunkai, transdisciplinares, interdisciplinares e metadisciplinares?

Caifás, o pior de todos, disse a Jesus:
– A tua graduação está homologada? Pagaste a taxa de Treinador?
– Quero saber que Curso de Treinador possuis, que acções de formação frequentaste e reservo-me o direito de, no final, graduar os teus discípulos e reembolsar as taxas de exame, para que ao Rei não lhe falhem as previsões de uma selecção nacional de qualidade e não se lhe estraguem as estatísticas do sucesso.
– Serás notificado, em devido tempo, pela via mais adequada. E agora vai ter com Herodes para designar o metodólogo que irá supervisionar as tuas horas de estágio e que te dirá quais as horas de formação que terás de fazer este ano!
– Lembra-te que se não estiveres dentro da lei, haverá mecanismos de fiscalização que tratarão disso….

... E Cristo deixou de ser treinador de Karaté aos trinta e três anos...


(adaptado de um e-mail que circula na net intitulado "A razão de Jesus ter pedido a reforma antecipada aos trinta e três anos..." e dirigido a todos os Professores e Professoras…)

Mas que grande questão!

Se os Estatutos da FNK-P foram aprovados a 23 de Agosto de 2009 e publicados na net de acordo com o regime Jurídico das Federações Desportivas, como como pode constar na Ordem de Trabalhos o ponto 2: Apreciação, discussão e votação da alteração dos Estatutos Federativos?
Se o Conselho Geral ainda não foi convocado nenhuma vez, quem irá representar os treinadores?
Quais as alterações que irão ser postas à discussão?
Mas que grande questão! Grande porque não a percebemos...

sábado, 19 de junho de 2010

AG da FNK-P a 27 de Junho

Está convocada para o próximo dia 27 de Junho, com início às 10.30 horas, uma AG da FNK-P, no Comité Olímpico de Portugal - Travessa da Memória 36, 1300- 403 Lisboa - com a seguinte Ordem de Trabalhos:

1 - Informações
2 - Apreciação, discussão e votação da alteração dos Estatutos Federativos
3 - Aprovação de Actas
Assinada pelo Presidente da Mesa da AG e datada de 15 de Junho de 2010.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Cronograma do sistema de certificação dos Treinadores

Enquanto aguardamos que seja disponibilzada na net a plataforma para cada Treinador pedir individualmente ao IDP a sua Cédula de Treinador de Desporto, aqui fica o cronograma até Dezembro deste ano do que compete ao IDP e à FNK-P.

Fonte: IDP

Como se verifica, compete à FNK-P a proposta da correspondência dos graus de treinadores (TM-TGI, TNI-TGII, TNII-TGIII e TNIII-TGIV), a qual já foi efectuada, e até ao final de Dezembro definir os conteúdos específicos da modalidade assim como incluir nos regulamentos mecanismos de fiscalização.

Parece no entanto que até ao final deste ano a FNK-P ainda poderá realizar cursos nos moldes anteriores, sendo certo que os novos modelos de formação terão 40, 60, 90 e 135 horas de formação geral e a mesma carga horária de formação específica (logo, a multiplicar por 2 em cada curso), havendo para o GI um Estágio de 600 horas supervisionado, para o GII 800 horas, 1100 horas para o GIII e 1500 horas supervisionadas para o GIV.


A Cédula de Treinador de Desporto terá uma validade de 5 anos, os GI terão de fazer uma formação todos os anos de 12,5 horas, os GII de 15 horas, os GIII e os GIV de 20 horas (carga horária anual durante cada um desses cinco anos...).


Que tipo de formação? Quem a ministrará? Quem irá supervisionar as horas de estágio? Custos de toda esta formação? Perguntas às quais ainda não encontrei resposta...


Mas no entanto, o «Expresso» na sua edição on-line de 27 de Janeiro deste ano noticiava através da Lusa que "O Orçamento de Estado para 2010 contribui com apenas 16,5 milhões de euros para o Instituto do Desporto de Portugal, sendo a restante verba proveniente dos Jogos Sociais e de receitas próprias do organismo." Também foi afirmado no Fórum de Treinadores que a tutela tinha garantido que haveria verba para a supervisão pedagógica... Como será no Orçamento de Estado para 2011?


Não será o Treinador de Karaté um especimen em vias de extinção?



terça-feira, 15 de junho de 2010

De Francisco Moita Flores...

Do Correio da Manhã de 6 do corrente, vale a pena ler na sua página 2 a «impressão digital» do Prof. Dr. Moita Flores sobre o caso Apito Dourado. Inicialmente havia 27 arguidos... agora estão todos absolvidos.

Ele diz-nos que nos últimos dois séculos "se separaram os poderes de decisão, do executivo ao legislativo, passando pelo judicial, que se tipificaram condutas censuráveis, que se encontrou um processo legítimo de levar cada homem, que cometeu algumas dessas condutas, a ser punido por quem tem a autoridade para punir e conforme a lei previamente conhecida: O tribunal. E o resultado final é o que importa. Ou são punidos ou são absolvidos. E os homens do Apito Dourado foram absolvidos."
E termina afirmando que "aquilo que importa e que ficará para a história da cidadania é que aqueles senhores todos estão inocentes à luz das condutas censuradas pelas leis penais. Se calhar não são tão inocentes. Se calhar não são tão chico-espertos. Ou, se calhar, são tudo isso. Porém, é este o jogo e com as regras que lhes entregámos. O resto pouco importa. À luz do Estado de Direito o apito está limpinho. Ou então temos um mau Estado com mau Direito. Cabe-nos a todos decidir."



segunda-feira, 14 de junho de 2010

Para finalizar, mais uma vez o Karaté ao som da poesia (III)...

Após ter assistido ao Fórum Nacional de Treinadores, mais convencido fiquei que se a poesia tem som, música, ritmo, também o Karaté os tem… Analisando de novo o Karaté em Portugal à luz da poesia (o Karaté também deveria ter luz, brilho, fluidez…), volto mais uma vez a Sidónio Muralha em «O VOO DE SUA ALTEZA», quando ele nos conta:

O rei vai partir.
Seu avião a jacto de platina
ronca em estereofónico
e de suas turbinas
jorra uma disenteria de rubis.

Mas um bode pára na pista
e sua barbicha que não é a jacto
desafia o avião do rei.

É um bode subversivo
- gritam milhares de pessoas
simetricamente quadradas.
E o bode é enquadrado
na lei que protege os soberanos
e é fuzilado por ter tido a ousadia
de roubar ao rei um minuto de voo.

Mais um bode fuzilado
por crime de lesa-magestade
- pensam os reis.

Mais um rei que voa por
crime de leso-bode
- respondem os bodes.

(Questão de pontos de vista)

A verdade é que ser bode
Não oferece garantia nenhuma.

Há por aí muitos “reis” mas também há muitos “bodes subsersivos”... Mas se há bodes fuzilados por crime de lesa-magestade, há reis que voam por crime de leso-bode.

Para complementar mais uma vez com José Gomes Ferreira, em «CHOVE!»:

Chove...
Mas isso que importa!,
se estou aqui abrigado nesta porta
a ouvir a chuva que cai do céu
uma melodia de silêncio
que ninguém mais ouve
senão eu?
Chove...
Mas é do destino
de quem ama
ouvir um violino até na lama.

E se ser bode não oferece garantia nenhuma, se é do destino de quem ama ouvir um violino até na lama então também nenhumas garantias nos estão a ser oferecidas e parece que o nosso destino será nem ouvirmos aquilo que amamos, o Karaté, na própria lama... São, na realidade, questões de ponto de vista!
Tirem as necessárias ilações, estabeleçam as conotações que vos apetecer, façam as comparações que quiserem, mas meditem, parem um pouco e façam uma reflexão.
Tal como já referi, nos «POEMAS» de Makarenko podemos ver que:

Primeiro
É preciso
Transformar a vida
Para cantá-la
Em seguida.

Mas há quem a ande a cantar primeiro, para a transformar de seguida!...

sábado, 12 de junho de 2010

Fórum Nacional de Treinadores de Karaté

Em boa hora se realizou na passada quinta-feira, dia 10, o Fórum Nacional de Treinadores de Karaté, no Auditório do Centro de Alto Rendimento do Complexo Desportivo situado no Jamor, organizado pela FNK-P.
O Presidente João Salgado fez-se rodear de uma equipa constituída pelo Eng.º Gonçalo Esteves, pelo Prof. Doutor Abel Figueiredo, pelo Mestre Filipe Pamplona, pelo Dr. Mário Moreira em representação do IDP, pelo Dr. Paulo Rocha do CAR do Jamor e ainda, no campo das selecções, pelo ex-seleccionador nacional Dr. João Dias, acompanhado pelo actual seleccionador, Dr. Joaquim Gonçalves.
Comunicações e debates rondaram a necessidade de se utilizarem os novos sistemas de comunicação entre os treinadores da nossa modalidade assim como os desafios que irão surgir no campo da formação de treinadores, tendo-se reconhecido que estes são o verdadeiro cerne da Federação e que esta não deve ser só espaço para o karaté desportivo, mas também para as outras vertentes do Karaté, nomeadamente a considerada "arte marcial", ou seja, a vertente não-competitiva.
O Dr. Mário Moreira, por parte do IDP, elucidou-nos sobre o Programa Nacional de Formação de Treinadores, enquanto o Dr. Paulo Rocha apresentou a Caracterização dos Competidores de Alto Rendimento do Karaté Nacional.
A finalizar, o Dr. João Dias fez uma retrospectiva do trabalho das selecções nacionais e dos resultados obtidos enquanto seleccionador, para de seguida o Dr. Joaquim Gonçalves apresentar dados e resultados actuais assim como as dificuldades com que se depara no desenvolvimento do seu trabalho.
Cerca de uma centena de treinadores ficaram com muitas das dúvidas esclarecidas, embora algumas ainda persistam mas que só com a operacionalização do novo modelo se esbaterão.
De enaltecer esta iniciativa, estando o FNK-P e a sua Direcção de parabéns, embora outras do mesmo género se devessem realizar com maior periodicidade.

...

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Um dos problemas do Karaté é...

Alguns amigos meus queixaram-se que eu escrevia muito... e que depois demorava muito tempo a ler. Vou prometer ser mais conciso, mas um um problemas do Karaté é poucos saberem de muitas coisas e muitos não saberem de nada!
As cartas só são enviadas para alguns, as notícias rodopiam por aí, diz-se que se disse... e de factos concretos NADA!
Por isso tenho tentado colocar aqui algumas situações que por vezes não chegam ao conhecimento principalmente da maioria dos treinadores...
Outro dos problemas é cada um de nós estar só na sua quinta! Ora, esta "quinta" está aberta a todos!!
Um abraço aos que de vez em quando visitam esta "quinta". Obrigado!
...

terça-feira, 8 de junho de 2010

O Karaté ao som da poesia (II)...

Respondendo a várias solicitações de comentadores deste blog (Rafael Loureiro, Luís Sérgio, Fernando Gonçalves e Ricardo Prelhaz), vou tentar demonstrar como a poesia reflecte o actual estado do Karaté no nosso País.

Houve eleições para a FNK-P em 2007. Duas listas concorrentes: uma liderada por Nuno Cardeira, outra por João Salgado. Ganhou a segunda, ponto final, pensávamos nós...

Foi épico, agora é hípico...

A 25 de Maio de 2009, a JKF Goju-Kai Portugal (não confundir com a Goju-Kai liderada por António Santos e Abel Figueiredo, essa sim, representante da sua congénere do Japão) enviou um e-mail ao Presidente da Mesa da Assembleia Geral da FNK-P, com conhecimento a várias Associações, onde, a certa altura, no ponto 4 (O estado actual do karate nacional), se podia ler, nas seguintes alíneas, o seguinte:

a. O karate está hoje nas mãos de professores de educação física e de algumas pessoas que dele pouco sabem.

d. Todos devem ser tratados da mesma forma. Os lugares directivos devem ser ocupados pelo mérito e valor dos respectivos titulares e não por pessoas cujo único objectivo é defender os interesses das associações maioritárias em votos e menos maioritárias tanto em resultados como na participação de eventos a nível nacional.

Do ponto 5 (Conclusões) transcrevemos a segunda alínea:

b. Seguramente, uma das melhores gestões da história da Federação, digam o que disserem, foi a realizada por Humberto Oliveira. Temos menos votos, é certo, mas é às pessoas válidas da nossa “lavra” que as grandes associações têm recorrido, o que nos honra imenso (a título de exemplo, nesta direcção e na formação, Abel Figueiredo e Armando Inocentes; ao nível europeu e apenas no que respeita ao passado recente, o treinador José Carvalho). Outras associações com peso reduzido têm igualmente apresentado resultados significativos que enriquecem a modalidade, por vezes chegando a contrastar com os resultados (não) obtidos pelas grandes associações.

E-mail esse assinado por M. Costa, em nome da Direcção dessa Associação.

Sendo eu na altura Director do Departamento de Formação da FNK-P, respondi ao mesmo a 26 de Maio, a título particular e puramente pessoal, com o seguinte teor:

“Exm.º Senhor M. Costa

Tive a oportunidade de ler atentamente o e-mail que V.ª Ex.ª me enviou e cumpre-me fazer algumas correcções naquilo a que me diz respeito, o que faço a título meramente pessoal.

Afirma V.ª Ex.ª que «o Karaté está hoje nas mãos de professores de educação física e de algumas pessoas que dele pouco sabem». Penso ser uma afirmação generalista e incorrecta. Se por acaso se refere ao facto de muitos dos formadores serem Licenciados em Educação Física e Desporto (que não é o mesmo que serem «professores de educação física») engana-se, pois os mesmos não têm poderes deliberativos nem executivos. E convém esclarecer que possuindo esses formadores essas habilitações, não há nenhum deles que não possua um CT independentemente do seu grau. Quanto às suas graduações, se tem estado desatento, vão de 2º a 7º Dan. Se por acaso se refere ao facto de um director também possuir o mesmo grau académico, e simultaneamente ser Mestre em Gestão da Formação Desportiva, não é um voto a mais ou a menos na Direcção que fará com que o “Karaté esteja nas suas mãos”.

Continua V.ª Ex.ª a manifestar um sintoma paradigmático existente não no Karaté, mas nas pessoas que praticam Karaté em Portugal: confunde-se competência técnica com competência pedagógica e ignora-se a competência deontológica.

Quanto ao facto das pessoas saberem ou não de Karaté, ou que «dele pouco sabem», não sei quais são os parâmetros em que se baseia para determinar quem sabe ou não sabe, quem sabe muito ou sabe pouco... A graduação? O nível de treinador? Os títulos obtidos? Os títulos dos alunos? A formação académica? Os anos de prática (ou os anos de rotina e de vícios)?

Mais um sintoma paradigmático da maioria da nossa comunidade: confunde-se a filo com a epistéme, o saber com o conhecer, confunde-se competências com atributos e ignora-se o desempenho, a eficácia e a eficiência.

Já agora, quem são as pessoas em Portugal que “sabem de Karaté”?

Quanto ao articulado que aborda «uma das melhores gestões da história da Federação, digam o que disserem», de facto o «digam o que disserem» é reversível, pelo que se aplica também a quem o diz.

Mas a afirmação demonstra na realidade falta de alguns conhecimentos, o que aliás é também manifestado no e-mail de V.ª Ex.ª de 17 de Abril.

Só como exemplo, por acaso sabe por que é que em 1994 “uma das melhores gestões da história da Federação” não aceitou a inscrição dos atletas de um dojo de uma Associação por existir um contencioso entre os dirigentes (técnicos e administrativos) desse dojo e de uma outra Associação, num processo que nem tinha sido despoletado pela própria Federação nem a ela dizia respeito? Ou por que motivo a acta de reunião de Direcção que tal deliberava nunca foi apresentada?

Quando V.ª Ex.ª refere «as pessoas válidas da nossa “lavra”», talvez fosse melhor não recorrer a um argumento que parece roçar as raias do doentio, de tantas vezes se recorrer a ele. Isto porque no caso presente não se trata de mais “lavra” ou menos “lavra” quando essa “lavra” era inexistente.

A psicose de quem ensina quem também sido paradigmática nas pessoas que se movimentam no seio da nossa modalidade. Mas curiosamente o paradigma de quem aprende com quem tem andado afastado... O facto de se pertencer a uma Associação ou o facto de se participar num ou noutro estágio não transforma automaticamente o associado ou o praticante em “aluno” do Instrutor-Chefe (Director Técnico ou Presidente do Conselho Técnico conforme a terminologia, ou até “Mestre”). Ser-se “Mestre” de alguém implica ter competências e conhecimentos mas sobretudo saber ensiná-los e transmiti-los contribuindo para a consequente aprendizagem e formação desse “alguém”. Mas se o acto de ensinar não implica o acto de aprender, a aprendizagem também não é obrigatoriamente fruto de uma “lavra”.

O reclamar-se “ser sucessor de” por motivos de projecção e de imagem, assim como o reclamar-se “ter sido Mestre de” para se tentar associar aos louros de outros coloca essas pessoas numa situação que demonstra a fragilidade existente num complexo de superioridade.

No Karaté o “Mestre” também se mede pelo número de indivíduos de craveira técnica e pedagógica que o vão abandonando ao longo dos anos, mesmo que alguns deles nada tenham aprendido com ele. Por algum motivo será... E também por algum motivo será que alguns desses indivíduos só são reconhecidos e têm alguma projecção após se libertarem do jugo de certas organizações...

Por acaso sabe V.ª Ex.ª como foram seleccionados os competidores para o Campeonato Europeu de Goju-Ryu em 1991? Onde estava V.ª Ex.ª nessa altura?

Por acaso conhece V.ª Ex.ª o que ocorreu com a arbitragem no Campeonato Europeu de Goju-Ryu em 1993? Por acaso conhece V.ª Ex.ª os motivos pelos quais Portugal não revalidou um título nesse mesmo Campeonato? Por acaso sabe com que meios económicos os atletas se deslocaram à Letónia?

Por acaso sabe por que foram alguns praticantes de Karaté portugueses expulsos da IOGKF, da OGKK (de Okinawa, no Japão) ou da JKF Goju-Kai (do Japão) e por que motivos? Onde estava V.ª Ex.ª em 1982?

Provavelmente são perguntas a mais para respostas a menos. Daí o ser fundamental conhecer e estar bem documentado sobre aquilo que se diz ou sobre aquilo de que se fala.

Com os meus respeitosos cumprimentos,

Armando Inocentes”

Vem-me agora à ideia Makarenko, quando dizia:

Já não há imbecis
Para, multidões boquiabertas,
Esperar que caia dos lábios do «mestre» uma palavra.


A 7 de Julho de 2009 recebi a resposta ao meu e-mail, desta vez não assinado, mas proveniente do mesmo endereço – JKFPortugal – o seguinte mail, enviado para mais 31 endereços:

Armando Inocentes
Exmo. Senhor,
Em resposta a sua carta de fins de Maio, venho dizer o seguinte.
(...)
Relatei factos, pois uma federação não é uma associação e o Senhor veio responder como que em defesa de um sistema já obsoleto há muito.
A sua actuação só demonstra o estado da federação e dos seus corpos dirigentes; a sua resposta só nos dá razão particularizando e personalizando tudo. Avaliamos quem lá está agora e não os que estiveram - esses já foram julgados.
Combatemos o sistema para que deixe de ser para amigos, para a defesa de interesses e para o protagonismo de alguns.
Mas voltemos à mensagem que origina a presente missiva.
A carta que V. Ex.ª enviou tem tanto de pretensioso, quanto de desconhecimento. No entanto, nenhum deles merece resposta: o pretensiosismo reclama humildade; o desconhecimento pede informação. Ministrar uma e outra não é minha responsabilidade no presente caso.
Não posso, porém, deixar passar sem reacção um outro atributo da referida carta: a insolência com que se refere aos Mestres de karate. E faço-o, não por se tratar do Sr. Inocentes (pessoa que tenho o prazer de não conhecer, condição em que pretendo permanecer), mas sim pelo cargo de responsabilidade que Vexa ocupa na estrutura organizativa do karate nacional (FNK-P).
O karate é muitas coisas, mas é acima de tudo respeito e lealdade para com os Mestres. Aprendi-o no primeiro dia em que entrei num Dojo. Nesse dia disseram-me que devia fazer uma vénia antes de entrar. Desde então tenho cultivado esse ensinamento.
Para o meu Mestre, reservo o maior respeito e a mais genuína lealdade. O Sr. Inocentes reservará o que entender. Tenho, porém, de realçar o seguinte: colocar em questão a relação de aprendizagem entre o Mestre e o seu aluno e ir até ao ponto de enaltecer o abandono dos Mestres pelos respectivos alunos é negar aquele princípio, que é o primeiro, do karate: o do respeito, o da lealdade. Quem subscreve tal actuação poderá saber de muita coisa, poderá ter muitos títulos académicos, poderá até ostentar muitos dans, porém, nada sabe de karate.
Destarte a história se encarregará de provar a verdade dos factos e esses factos embora alguns queiram apagar haverá sempre alguém que se lembre deles.
Afortunadamente há em Portugal muitas associações de Karaté composta por elementos de muito valor quer técnico quer humano, sendo muitos desses elementos a própria história.
O “Mestre” será sempre o Mestre, quer ainda seja o nosso ou não!!! Por isso defeitos todos temos mas “dissonância cognitiva” não é de certeza o nosso e os actos, esses ficam com quem os praticam!!!
Dito isto, irei colocar a carta de V. Exª no local que lhe pertence por natureza: na lixeira.
Saudações


Como se pode constatar, nem o Sr. M. Costa respondeu às questões que eu lhe coloquei (talvez por não ter o prazer de me conhecer e nessa condição pretender permanecer), como ainda afirmou que eu respondi “como que em defesa de um sistema já obsoleto há muito”, quando frisei que o tinha feiro a título meramente pessoal, para a seguir colocar a minha carta “no local que lhe pertence por natureza: na lixeira.” FEZ muito bem!... A sua carta contínua a estar por mim guardada! E eu até teria todo o prazer em conhecê-lo para podermos trocar opiniões pessoalmente...

Mas o mais curioso é que um ano depois, a 20 de Maio do corrente, a Associação JKF Goju-Kai Portugal envia um novo e-mail intitulado “Carta para associações membros da FNK-P”, desta vez assinado por M. Marques em nome da Direcção, subordinado um título com 3 pontos: “Impugnação da Assembleia-geral (AG) de 23 de Agosto de 2009, Demissão do Secretário-geral e Director do Departamento de Formação (DF) e Queixa-crime contra a Direcção da FNK-P”.

No que me diz respeito, nunca fui Secretário-geral de nada, cargo que nem existe na FNK-P, tendo-me demitido da Direcção da FNK-P, onde era Secretário da Direcção e ocupava as funções de Director do Departamento de Formação, em Novembro de 2009, como é sabido.

Mas nesse e-mail, curiosamente, e ao contrário dos anteriores, afirma-se, após extensas considerações:

Mas o pior é fecharmos os olhos a tudo isto, como diz e muito bem, Armando Inocentes que teve a coragem de, com a verdade, trazer à luz acontecimentos passados e actuais. Teve ainda a coragem de se demitir, demonstrando que nunca esteve agarrado ao poder, fazendo-o, a bem do Karate.

Para o mesmo finalizar com um “Bem - haja muitos como o Senhor, Dr. Armando Inocentes.

Eis como de repente de besta se passa a bestial...

CONCLUSÃO: dois directores da mesma Associação com opiniões diferentes sobre uma mesma pessoa, mas ambos assinados em nome da mesma Direcção! Numa situação defendo um sistema já obsoleto há muito, e a minha carta vai para a lixeira! Noutra situação sou colocado nos píncaros e demonstro que nunca estive agarrado ao poder... Ou porque numa altura ocupava um cargo e na outra já nele nada representava por iniciativa própria. Ou então não é a pessoa que se coloca em causa, mas pretende-se colocar a instituição em causa através dessa pessoa. Utiliza esta Associação os meus motivos de demissão, que tornei públicos após a mesma e tendo de tal dado conhecimento ao Presidente da FNK-P, para avançar com uma queixa-crime quando a mesma poderia em Assembleia-Geral – onde se fez representar – ter questionado a Direcção e ter analisado o Relatório e Contas em discussão e inquirir ou verificar os documentos que desejasse (o que não fez!). Moral da história: é mais fácil utilizar terceiros para atingir os seus fins...

É a diferença entre cavalgar e ser cavalgado... quando é o cavalo que monta o cavaleiro.

De facto, apetece saltar p’rá lua e ...

Sobre o segundo ponto, o Campeonato Europeu de Regiões, quando participei na 1ª Assembleia-Geral da FNK-P, nos finais de 2007, um treinador houve que proclamou alto e bom som que “em Portugal 90% dos treinadores «são covardes»”. Ficámos sem saber, mas presumivelmente esse treinador estaria nos outros 10%.

Na página da net da FNK-P podemos ver que “decorrem no Conselho Disciplinar dois processos que foram objecto de recurso. Aguarda-se a decisão do Conselho Jurisdicional.” Enquanto se aguarda o recurso, a decisão do Conselho Disciplinar permanece suspensa e os visados continuam em funções (há quanto tempo? Funciona o CJ? Já prescreveu o processo?).

Quem criticou o Seleccionador Nacional, Joaquim Gonçalves, numa Assembleia-Geral em que este até nem esteve presente, sobre os relatórios que o mesmo elaborava de cada prova em que participava a Selecção Nacional e onde este até utilizava o termo «murros supersónicos», deveria agora apresentar um relatório sobre a prestação da equipa que esteve presente na Polónia, para termos conhecimento do desempenho dos competidores portugueses. Mas como nem o próprio dilúvio foi eterno, um dia as negras águas partirão....

E volto mais uma vez a recordar-me de Makarenko:

Primeiro
É preciso
Transformar a vida
Para cantá-la
Em seguida.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

I have a dream, but I'm not the only one...

Não é difícil juntarmos Martin Luther King e John Lennon... difícil é separá-los!

Principalmente quando temos um sonho e sabemos que outros há que também têm o mesmo sonho... Termos um sonho é sermos sonhadores, é acreditarmos!

E esse sonho passa por não perdermos a capacidade de nos indignarmos e não nos resignarmos à indiferença. Esse sonho passa pela capacidade de sermos activos actuando, de vivermos vivendo em pleno, de sentirmos sentindo com todos os poros, de progredirmos.

Há duas formas de dizer – falar e estar calado”, como disse Fernando Pessoa na pele de Álvaro de Campos. Tenho optado pela segunda para dar asas a esse sonho...

Um sonho que passa por não prescindir de uma verticalidade, de uma dignidade, pois parece que a moral e a ética já não existem nos meandros do Karaté tais são as necessidades de evidência, de projecção, tais são as lutas pelo poder, ou então no seu seio passaram muitos a sentir-se bem, a viver qualitativamente com a falta dessa moral e dessa ética.

Ao ser confrontado com a inscrição para o Fórum Nacional de Treinadores, constatei no mesmo o logótipo da Associação Nacional de Treinadores de Karaté... Um Fórum que pela primeira vez tem uma taxa de inscrição (10€), coisa que nunca aconteceu nos anteriores...

Mas já antes me tinha deparado no site da nossa Federação com o anúncio de uma reunião da FNK-P e da ANTK com a tutela sobre o Regime Jurídico da Formação de Treinadores... fiquei admirado mas deixei passar.

Ora, se recorrermos à página da net da ANTK – único meio de estarmos informados da sua actividade – verificamos que a sua última Assembleia-Geral foi realizada a 15 de Novembro de 2003.

Consta da Ordem de Trabalhos da mesma a eleição dos corpos gerentes para o “próximo triénio”, ou seja, 04/05, 05/06 e 06/07. Tanto quanto sei (ou julgo saber) mais nenhuma AG se realizou e os associados deixaram de pagar quotas há bastante tempo... Eu também paguei quotas... Logo, a ANTK neste momento não existe! Então qual o motivo do aparecimento agora do seu logo?

Tem (tinha!) a ANTK nos seus órgãos gerentes ilustres karatetecas, insignes mestres, grandes treinadores e óptimos formadores: Abel Figueiredo, Joaquim Gonçalves, Paulo Almeida, Joaquim Costa, José Patrão, Carlos Maurício Costa, Raúl Cerveira, Carlos Silva e António Ramalho.

Mas em termos de operacionalidade, o que tem feito (o que fez? o que faz?) a ANTK? Não estou contra a ANTK (não posso estar contra uma coisa que não existe!), sou a favor de uma ANTK, mas de uma ANTK dinâmica, viva, activa, que represente e defenda os interesses dos treinadores – de todos os treinadores. Sempre defendi, sempre tive o sonho, que deveria ser a ANTK a assumir, em parceria com a FNK-P, a formação de treinadores... e deveria ser ela a assumir e a conduzir o processo de eleição dos delgados dos treinadores para a AG da FNK-P...

Por quê o ressurgir deste logo, de uma Associação que já não sei se moribunda (nas próprias palavras do Prof. Dr. Abel Figueiredo proferidas há algum tempo atrás) se cadáver?

Já aqui apresentei a importância da existência do treinador: se a Federação existe, não é por causa dos competidores ou dos praticantes, mas sim do labor dos seus treinadores, que os ensinam, os treinam e os preparam. Se a Federação existe não é por causa dos juízes e árbitros – funcionários da Federação – que ajuízam nas provas aqueles que são propostos e apresentados pelos treinadores nas competições. Se as selecções existem, devem-se ao trabalho dos seleccionadores regionais e do seleccionador nacional todos eles treinadores. Logo, a razão de ser da Federação são os próprios treinadores. Mais uma razão para a existência de uma real (real mas não monárquica!) Associação de Treinadores!

Mas tenho de regressar de novo a Luther King: “o que mais me preocupa não é nem o grupo dos violentos, dos corruptos, dos desonestos, dos sem carácter, dos sem ética. O que me preocupa é o silêncio dos bons, dos honestos.” E na antiga ANTK, não só nos seus dirigentes mas também nos seus associados, há muitos “bons” e muitos “honestos”, mas remeteram-se ao silêncio. Muitos treinadores desinteressaram-se e ficaram (continuam!) calados. Então haja a coragem de erguer a voz, de renovar, de reactivar e pôr a funcionar a ANTK!

You may say I’m a dreamer…

Mas como disse Fernando Pessoa no seu Livro do Desassossego, “alguns têm na vida um grande sonho e faltam a esse sonho. Outros não têm na vida nenhum sonho, e faltam a esse também.

Se estamos entre os primeiros, não faltemos a esse sonho!

Se estamos entre os segundos, ignoremos tudo o que acima foi escrito e desculpem-me o incómodo!
...

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Homenagem a João Aguiar

Faleceu hoje João Aguiar. Vítima de cancro...
Pouco dirá este nome aos praticantes de Karaté, pois era jornalista e escritor. Em 1985 publicou o seu primeiro livro "A Voz dos Deuses - memórias de um companheiro de armas de Viriato". Mas em 1985 eu fazia competição e uma frase desse livro sempre me ficou na memória - ainda a semana passada a citei por duas vezes aos meus alunos durante os treinos.
Num confronto (este sim, marcial, de espada contra espada) entre um centurião romano e esse companheiro de armas de Viriato, um lusitano, este conta: "o ódio e a sede de vingança roubavam-me a lucidez e faziam-me cometer erros. De súbito ouvi uma voz precisa e clara dentro da minha cabeça... «Menos ardor e mais estratégia!», a voz de Beduno, a frase que ele sempre me lançava durante os treinos."
Foi precisamente esse «menos ardor e mais estratégia» que a partir do momento em que eu li o livro de João Aguiar começaram a nortear a minha actuação em Kumite...
Mais recentemente, em 2008, numa das suas crónicas mensais de uma conhecida revista aprendi com este autor que "onde entram as questões de lucro, saem a moral e os princípios, voando pela janela como andorinhas assustadas."
Afinal, João Aguiar sempre tinha algo a ver com o Karaté. Escreveu ainda, entre outros, "O Trono do Altíssimo", "A Hora de Sertório", "Uma Deusa na Bruma" e "Lapedo - Uma Criança no Vale.
Jão Aguiar não poderia passar sem esta singela homenagem de um seu leitor... Obrigado pela oportunidade de ter consigo aprendido algo!

terça-feira, 1 de junho de 2010

O Karaté ao som da poesia (I)...

Sebastião da Gama dizia que ser poeta “é estar encantado ou desencantado e contá-lo com palavras que pareçam música”. Após tomar conhecimento da carta enviada pela Associação JKF Goju-Kai Portugal a todas as associações e depois de ler na página da net da FNK-P a notícia sobre o “8º Campeonato da Europa por Regiões – Polónia” e constatar quem «nos» iria (foi!) representar, fica-se a saber porque aprecio tanto a poesia de Sidónio Muralha.

Em «ÂNGULOS DIFERENTES» ele escreve:

A diferença
entre cavalgar
e ser cavalgado
é pesada
contundente
crucial.

Cavalgando, o cavaleiro exclama:
– é épico.
Cavalgado, o cavalo constata:
– é hípico.

Frases de pouca monta
totalmente desmontadas
quando é o cavalo que monta
o cavaleiro.

Mas não me fico por este poeta! Também admiro o poeta militante, José Gomes Ferreira, principalmente quando ele imperativamente afirma no início de «MENINO QUE VAIS NA RUA»:
Menino que vais na rua,
não cantes nem chores: berra!
Cospe no céu e na lua
e aprende a pisar a terra.

E mais ainda quando no final do mesmo poema remata peremptoriamente:
Menino que vais na rua,
não chores, nem cantes: berra!
ou, então, salta p'rá lua
e mija de lá na terra.

Penso que são os dois poetas que melhor definem a realidade do actual panorama do Karaté português! Para além de pensar que um pouco de poesia (para além de pedagogia) é uma das coisas que faz falta no «nosso» Karaté...
Se não perceberem, talvez depois vos possa explicar...
... porque como escreveu Bertolt Brecht em «LENDO HORÁCIO»:
Nem o próprio dilúvio
Foi eterno.
Um dia as negras águas
Partiram. Mas como,
É verdade, houve poucos
Sobreviventes.


... ...