quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Finalmente o desengano!!!

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Carácter, sinceridade, esforço, etiqueta e auto-controlo...



Finalmente compreende-se por que motivo o Dōjōkun (道場訓) se chama Dōjōkun e não outra coisa qualquer... pois se outra coisa qualquer se chamasse...

道 DŌ - Caminho, via; 場 JŌ - Local, lugar; 訓 KUN - Instruções, normas. São regras do Dōjō... só para o Dōjō... e nós a pensarmos que eram regras para a vida, incluíndo "fora do Dōjō"... É triste constatarmos que andámos enganados durante todo este tempo! Finalmente o desengano!!!

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Competências

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É normal dizer-se que o dan define a competência técnica do karateka...

É normal afirmar-se que o dan define a competência técnica do treinador e o grau de treinador a sua competência pedagógica...

Estando a nossa actividade legislada, a legislação contempla as funções do "treinador de Karate", os cursos de treinadores e os seus vários graus, mas não contempla cursos nem graus para aqueles que não são treinadores de Karate-Dō mas exercem o seu ensino (e treino) assim como desempenham funções formativas - traduzindo, não contempla um reconhecimento e uma certificação daqueles que não se preocupando com resultados ou com medalhas se preocupam com a formação de seres humanos - ou seja, não contempla aquela figura que normalmente designamos por "Mestre"!

É uma lacuna grave? É!!! Mas mais grave ainda é não existirem parâmetros que definam a competência moral* daqueles que se dedicam ao ensino e ao treino do Karate-Dō!

Ou antes, não é tão grave assim porque a competência moral destes acaba por ser definida pelas suas acções e pelo seu comportamento!



* Nota: repare-se que não estou aqui a abordar a competência ética.
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terça-feira, 18 de agosto de 2015

Exemplos de actores menores

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Uns dizem que Charles Chaplin disse que "a vida é um palco de teatro que não admite ensaios"... Outros juram a pés juntos que ele afirmou que "a vida é uma peça de teatro que não permite ensaios"...

A diferença está entre o palco e a peça... mas no mesmo palco várias peças podem ser apresentadas... e uma mesma peça pode ser apresentada em vários palcos.

E teremos de concordar que o elemento principal nesse palco, ou dessa peça, é o actor que desempenha um determinado papel... e que não há papéis menores... que há, isso sim, actores menores!

O jornal «A Bola» noticia hoje que "Diego Armando Maradona, de 54 anos, aproveitou a viagem à Tunísia, onde está a filmar um anúncio publicitário, para se encontrar com o antigo árbitro Ali Ben Nasser, que apitou o jogo dos quartos de final do Mundial de 1986, no México, entre a Argentina e a Inglaterra. 
«Apresento-lhe a minhas desculpas, marquei aquele golo graças à mão de Deus», disse o argentino, referindo-se ao célebre lance, que na altura escapou aos olhos do juiz."

Embora desculpas não curem feridas, à equipa da Inglaterra nem um pedido de desculpas... Um exemplo de um actor pequeno...

2 - Recentemente (8 de julho) fui convidado por um instrutor de Karate-Dō com responsabilidades associativas para integrar um painel de instrutores num evento onde cada um apresentaria o seu estilo. Depois de lhe ter enviado o material que me foi solicitado para a promoção do evento, foi-me comunicado (dois meses e meio depois) que "a decisão para o seu estilo recaiu maioritariamente em (...)", passando o Gōjū-Ryū  a ser representado por um outro instrutor de uma outra associação.

Também aqui não houve um pedido de desculpas... Confirma-se, de facto, que o Karate-Dō não forma o carácter dos seus praticantes, antes revela-o...




Desígnios não insondáveis e até transparentes... dissonância cognitiva mais que confirmada! Mais um exemplo, desta vez de actores menores!!!

Como diz Joseverson Goulart, "Deixemo-nos de hipocrisias! Não devemos "proteger o Caminho da Verdade" apenas quando nos convém! Tenham tomates para assumir esta postura nos seus dia a dia ou, então, parem de citar algo apenas porque fica bonito como palavras de um Dōjōkun."

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quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Normal

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As quatro virtudes cardeais foram apresentadas inicialmente a partir da discussão de Platão, sensivelmente 300 anos antes de Cristo, na sua obra "República", no Livro IV. 

São elas a prudência (φρόνησις, phronesis), a justiça (δικαιοσύνη, dikaiosyne), a temperança (σωφροσύνη, sophrosyne ou moderação) e a fortaleza (ἀνδρεία, andreia ou força).

Foi durante o período feudal japonês que o código de honra dos Samurai se desenvolveu, embora o termo Bushidō raramente seja mencionado na literatura pré-moderna japonesa. O livro "Bushidō - The Soul of Japan" escrito por Inazō Nitobe é uma das primeiras obras escritas em inglês e para um público ocidental em 1905.

A justiça, a coragem, a benevolência, a cortesia, a sinceridade, a honra e a lealdade são apresentadas como sendo as virtudes do Bushidō.

Regista-se assim uma preocupação ao longo do tempo e em espaços diferentes em codificar conteúdos que possam orientar a vida do ser humano de um modo ético. Logo, e no mesmo sentido, normal também o aparecimento do jōkun...

Na Stanza della Segnatura, que Rafael (1483-1520) pintou no Vaticano em 1509, a "temperança" segura com as mãos, numa pose suave, as rédeas de um corcel que não é visível aos nossos olhos.


Assim estamos nós hoje em dia em relação ao jōkun, segurando as rédeas de um corcel que não é visível aos nossos olhos...

Normal a dissonância entre o propalado e o praticado!

Toda a gente pratica “o verdadeiro”, “o puro”, "o autêntico", “o tradicional” Karate-Dō! Ainda não encontrei ninguém que afirmasse praticar algo diferente (claro que estou a exceptuar aqueles que reconhecem só praticar "karate desportivo")...

Toda a gente recita o jōkun, mas como refere Thérese Delpech*, "os valores, de que se faz grande eco nos discursos, parecem bons absolutamente para tudo, menos precisamente para a acção." 




"O Regresso da Barbárie", Thérese Delpech, Quidnovi, Porto, 2007.

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domingo, 9 de agosto de 2015

J. O., projeções e mitos

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O antigo jogador inglês Gary Lineker explicou uma vez: “o futebol é um jogo para 22 homens, 11 de cada lado. Os jogadores chutam a bola de um lado para o outro. A bola tem de entrar numa baliza, defendida por um guarda-redes. O jogo demora 90 minutos e no final ganha sempre a Alemanha.”

Vem isto a propósito dos próximos Jogos Olímpicos, para os quais Portugal tem 115 atletas de 18 modalidades enquadrados no Projeto de Preparação Olímpica. Dez atletas integram o nível 1 (provável obtenção de medalha) e vinte e cinco o nível 2 (prováveis finalistas). 

Dos primeiros dez, seis são da canoagem (Fernando Pimenta, Emanuel Silva, João Ribeiro, David Fernandes, Teresa Portela e Hélder Silva), dois do judō (Telma Monteiro e Jorge Fonseca), um do taekwondo (Rui Bragança) e um do ciclismo (Rui Costa). 

Dos opinadores e "comentaristas" que polulam por aí, uns opinam que Portugal tem neste momento, teoricamente, sete/oito resultados que projetam possível medalha; outros, ficam-se pela projeção de 2/3 medalhas...

Ora, entendendo-se por opinião toda a proposição (verdadeira ou falsa) representativa que não é factual, constatamos que nenhum peso têm estas projeções... com a agravante de entrarmos no domínio das suposições.


A história do desporto mostra-nos que por vezes os maiores candidatos a vitórias fracassam no momento decisivo, tal como nos mostra o inverso (dir-me-ão que há um padrão médio: claro que há!). São demasiadas as variáveis que estão em jogo na prestação de um competidor nuns J. O. e por vezes nem todas são tidas em conta.

E chegados aqui, entramos no reino do mito da igualdade de oportunidades dos participantes no desporto. O desporto pretende apresentar a todos os seus interveniente directos uma igualdade de possibilidades dado que o espaço onde desenvolve as suas actividades assim como as normas que regem as mesmas são comuns. Mas o desporto ignora a igualdade de condições desses mesmos competidores – condições individuais diferentes (quer sejam de ordem genética, anatómica, fisiológica ou psíquica), condições de treino diferentes (no que diz respeito a metodologias, a instalações, a treinadores e a todo o restante apoio, incluindo o económico) e até diferentes condições de participação no momento (tempo) comum a todos os competidores (onde os antecedentes e todos os níveis de preparação emergem tal como as variáveis de circunstância momentâneas).

Por isso mesmo "no final ganha sempre a Alemanha.”
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