quinta-feira, 31 de maio de 2012

Notícias na imprensa de hoje...

Lado a lado, no Correio da Manhã, de hoje, na página 38...

Talvez seja hora de evocar Manuel Alegre:

"Talvez a própria vida seja isto
passar montanha e mar sem se dar conta
de que o único sentido é procurar.
"

terça-feira, 29 de maio de 2012

Ética no desporto... (IV)

(foto: Armando Inocentes)

Vou tentar elucidar os meus caros leitores sobre o que tem o último post a ver com este tema...

O filósofo Carlo Levy, reclama que "os homens constroem muitos muros, e poucas pontes". Parece que estamos em presença de um caso destes...

O Decreto-Lei n.º 248-A/2008, de 31 de Dezembro - Regime de Acesso e Exercício da Actividade de Treinador de Desporto -, no seu Artigo 13º (sobre fiscalização e taxas) exprime logo no ponto 1 que "sem prejuízo da competência atribuída por lei às entidades competentes, as federações desportivas titulares do estatuto de utilidade pública desportiva devem fiscalizar o cumprimento do presente decreto-lei relativamente às respectivas modalidades desportivas."


Ora, o Regime Jurídico das Federações Desportivas, Decreto-Lei n.º 248-B/2008, da mesma data, no seu Artigo 41º (sobre as direcções das federações) plasma no seu ponto 2 que compete à direcção administrar a federação, incumbindo-lhe, designadamente, logo na sua alínea a), "aprovar os regulamentos". Logo, algo que não necessita de uma Assembleia Geral.

Por sua vez, o regulamento que fixasse as fiscalizações acima referidas há muito deveria ter sido aprovado e publicitado na respectiva página oficial da federação (salvo erro, até dezembro de 2010), tal como os respetivos procedimentos. 

Curiosamente recebemos um ofício da FNK-P, datado de 21 de maio do corrente ano, onde se exprime que fica claro que a FNK-P, não pactuará, em nenhum momento, com o desenvolver de qualquer exercício de treino por aqueles que não estejam na posse da CTD-K e estimula os seus Associados e respetivos clubes a que, conjuntamente, assumam o mesmo princípio e nos auxiliem na deteção dos eventuais casos. Esta é uma intervenção que reforça a defesa dos nossos pares e de todos aqueles que sempre estiveram dentro do processo formativo.E termina afirmando  que "está em causa a credibilidade da nossa modalidade.Completamente de acordo mas...

... parece que não nos compete (pelo menos a nós, aos treinadores) nem detetar nem denunciar esses eventuais casos. E a sustentação desta tese é simples: no site da federação existe uma listagem nominal de todos os árbitros (aqui), no site da Associação de Karaté dos Açores existe uma listagem de todos os seus treinadores (aqui), logo nada mais fácil, para todos saberem quem são os treinadores devidamente certificados - pais, prováveis praticantes, praticantes atuais e até público em geral - do que elaborar e publicar a respetiva listagem nominal de treinadores...

O que tem isto a ver com o post anterior? Parafraseando Nunes Martins,  ignorem, sentem-se os treinadores credenciados e esperarem que isto passe, e, na verdade, vamos correr de forma clara, decisiva e fatal em direcção ao centro da desgraça.

 





Ética no desporto... (III)

É senso comum que o ser humano, quando confrontado com uma situação anómala, pode assumir um de três comportamentos: ou bloqueia e nada faz, gere essa situação de modo precipitado e negativamente (muitas vezes fugindo ou recorrendo a uma atitude de sobrevivência), ou encarando assertiva e positivamente a situação, domina-a, num ato que muitas vezes é considerado posteriormente de audácia ou de coragem.

Mas aquilo que é veiculado pelo senso comum nem sempre é que acontece. A maioria das pessoas, perante uma situação extrema tem a tendência para se comportar de uma forma amorfa, assumindo um comportamento de “laissez faire, laissez passer”… mas claro que há as exceções para confirmarem a regra! A maioria das pessoas não fica estática quando dominada pelo medo nem reage de modo hercúleo. A tendência é fingir que se ignora e deixar passar ao lado… mostrar-se desinteressado… Sobrevive-se – mas “sobreviver naufragando é um recurso, não uma opção.(1)

Pensamos, sentimos e agimos. Enquanto pensamos podemos optar. "É de compreender que sobretudo nos cansamos. Viver é não pensar." - diria Fernando Pessoa (2).  Quando sentimos (e se de súbito!)  nem sempre agimos - "agir é repousar" (2) -, mas por vezes reagimos… emocional e não racionalmente...

Este tema foi abordado por José Luís Nunes Martins, em “Gestões de crises”, no passado dia 26 Maio, no jornal «i», pagina 13, e com a devida vénia transcrevemos o seguinte excerto:

Há, nas tragédias, quem gele e quem seja temerário, mas tratam-se de qualidades que não são desencadeadas pela situação, antes traços de personalidade que se cumprem também em circunstâncias extraordinárias.
As pessoas, como os rios, variam as suas reacções de acordo com a sua profundidade. Mas, a maior parte da sociedade é radicalmente superficial.
O maior risco desta não gestão de crise é ignorar os perigos e não os enfrentar.
Em muitas situações, as pessoas, alimentadas por um optimismo bacoco, até têm um sorriso nos lábios mas não deixam de morrer por causa disso.
Este estado de apatia, estranhamente normal, impede, de facto, que se cometam erros graves, mas também nada faz para salvar o que é importante. Parece preferir ignorar.
Perante uma tragédia, sentar-se e esperar que passe é, na verdade, correr de forma clara, decisiva e fatal em direcção ao centro da desgraça.

Mas o que tem isto a ver com a Ética no desporto? - perguntarão os leitores...

Daremos a resposta no próximo post.



(1) Miguel Real, 2012, “Nova Teoria do Mal”, Alfragide, Publicações D. Quixote.
(2) Fernando Pessoa, 2011, "Livro do Desassossego", Lisboa, Assírio & Alvim.

Ética no desporto... (II)

(fonte: Vítor Garcez / ASF, «A Bola», 29.05.2012, p. 38)

Miguel Sousa Tavares escreve hoje no diário «A Bola», página 38, crónica intitulada "Em nome do ódio", onde diz que "se fosse na NBA, Carlos Lisboa acabava já aqui a sua curta carreira de treinador", referindo-se ao jogo do  playoff da LPB realizado no estádio do Dragão na passada quinta feira. O que se seguiu logo a seguir ao final do jogo já todos nós sabemos...

Por seu lado, na mesma edição mas na página 40, Vítor Serpa no seu editorial afirma que a verdade desportiva não fica, apenas, em causa com o doping ou a corrupção. "O fair play financeiro não pode continuar a ser uma treta em Portugal, tem de ser um princípio e uma regra que salvaguarde a competência contra a aldrabice, que defenda a honestidade da mentira cobarde."

Tirem-se as devidas conclusões...

Ética no desporto... (I)

Em Itália a polícia deteve 19 jogadores: o internacional Domenico Criscito (Zenit) é um dos 19 jogadores italianos detidos pela polícia devido à investigação de mais um escândalo de resultados combinados para benefício de apostas e vai falhar a presença no Euro’2012. Pode-se ler hoje no Correio da Manhã.
O artigo assinado por Mário figueiredo conclui: "depois do Calciocaos (que levou à descida de divisão da Juventus), surge agora o Calcioscommesse (deriva da palavra italiana para apostas: scommesse)."

domingo, 27 de maio de 2012

X Taça da Jundōkan Internacional de Portugal

Uma ótima maneira de comemorar um vigésimo aniversário... querendo deixar já aqui o meu agradecimento pelo convite que me foi endereçado para integrar o painel de arbitragem por velhos amigos, assim como pela oportunidade de os reencontrar mais uma vez.

Desta vez foi a um domingo e na Damaia. Cerca de 80 praticantes de vários pontos do país tiveram a oportunidade de participar na X Taça da Jundōkan Internacional de Portugal, sendo só de lamentar que Évora não tenha podido estar presente.


A experiência de Álvaro Santos, Leonardo Pereira e Gualter Morgado, liderados pelo Sensei José Campos fizeram deste evento um sucesso. Bonito, porque raro nestas ocasiões, a apresentação do Hino Nacional na hora da abertura.


Decorrendo num ambiente calmo e descontraído, apesar de competitivo, realce para a camaradagem e o respeito mútuo entre todos os competidores presentes.

(fotos: cortesia da Jundōkan Internacional de Portugal)

De parabéns toda a organização, assim como todos os participantes familiares e amigos presentes, estes últimos pelos incentivos e pelo colorido que deram à bancada.

Até para o ano...

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Oriente e Ocidente: um dilema? (II)


Apesar de divulgada e difundida a prática institucional do Karate-dō entre nós, a mesma tem de ser enquadrada dentro da cultura japonesa de onde é originária, a qual se encontra profundamente influenciada por valores histórico-culturais, por valores religiosos (Budismo e Zen), por códigos de honra (Bushidō), pela sinceridade e lealdade (Makōtō), assim como pelo sentimento do dever e da obrigação (Giri). Mesmo que outros argumentos faltassem, bastaria relembrar que a sociedade japonesa é uma sociedade altamente hierarquizada…
Com o advento da competição em Karate-dō – a primeira competição formal teve lugar em 1958 e os primeiros campeonatos mundiais realizaram-se em 1970 – e a passagem de uma arte marcial a desporto, parte dos valores ancestrais foram-se progressivamente perdendo não só no Ocidente, mas no Oriente também…
Florence Braunstein, no seu livro “Penser les Arts Martiaux” refere o seguinte: “a oposição fundamentada entre o Ocidente e o Oriente repousa a maior parte das vezes sobre a construção de um eu, a procura fanática de um ego. A compreensão falseada da grande maioria dos praticantes de Artes Marciais do contexto cultural destes últimos conduziu-os a comportamentos no limite do patológico sobre o Dojo. A vontade de perder o seu ego conduziu-os a uma vontade de submissão que fazia do Sensei, não um mestre, no sentido do magister latino, pondo de parte a conotação espiritual, mas a um dominus.  As respostas oscilam entre a afirmação de si e a negação de si, simultânea e contraditoriamente, num movimento que em cada um dos extremos pode conduzir à transposição para um limiar patológico”. 
A transição de arte marcial a desporto originou a comercialização do Karate-dōacarretando a fragmentação da ciência, com elaborações nada práticas e movimentos baseados no senso teatral e não na eficiência da guerra” afirma Thomas Cleary no seu livro “A Arte Japonesa de Criar Estratégias”. Miyamoto Musashi (1584-1645) muito tempo antes já tinha predito algo do género ao afirmar que “particularmente nas artes marciais, existe muita teatralidade e vulgarização de carácter comercial. O resultado disso tem de ser, como disse alguém: «as artes marciais amadoras são uma fonte de sérios danos»” (Musashi, 1985).
Verificamos assim que uma verdadeira e consciente prática do Karate-dō não pode estar afastada de uma ética – estudo dos conceitos envolvidos no raciocínio prático: o bem, a ação correta, o dever, a obrigação, a virtude, a liberdade, a racionalidade, a escolha. Para alguma coisa serve o Dōjōkun…Pretendendo-se com a prática do Karate-dō formar o carácter do seu praticante, é essencial a criação de hábitos, atitudes e comportamentos, através de experiências eticamente válidas e corretas, assim como impregnadas de valores não só morais mas também sociais.


Quando consideramos o Bujutsu na perspetiva de um «como» funcional e estratégico do combate, estando o Bu relacionado mais exatamente com o último e mais humano «por quê» (ou seja, com as razões para se enredar num combate), “vemos que só em muitas poucas ocasiões tiveram êxito certos mestres de Bujutsu ao harmonizar o seu jutsu com o do mais elevado e com o imperativo ético até ao ponto de trocar ou transformar substancialmente as antigas técnicas de artes marciais de eleição (separando-as assim da especializada e estreita dimensão da experiência militar e transmutando-as em disciplinas de iluminação e de ganho social e espiritual (Ratti & Westbrook, 2000). Por que motivos serão tão poucas essas «ocasiões»?
E se há casos em que houve uma harmonização com sucesso do jutsu com o na sua transição, Ratti e Westbrook (id.) dizem-nos queestes raros casos de êxito, contudo, não justificam a suposição de que esta era a norma ou que, de um ponto de vista histórico, o jutsu (ou técnica) era o mesmo ou idêntico que o do de exaltada intenção ética.
Sendo o Bujutsu a arte genérica do combate (com armas ou inerme), “quando falamos de um do universal (de um sistema ético influenciado pelos conceitos originais do budismo, taoismo, confucionismo e outros, numa escala verdadeiramente universal e humanitária que só merece o qualificativo de «moralmente excelente e superior»), consideramos acertado manter esse do separado do Bujutsu na doutrina, tal como estiveram separados nas suas aplicações históricas (Ratti & Westbrook, id.).
Se estiveram separados nas suas aplicações históricas o jutsu e o dō, foi porque na realidade houve essa necessidade (com que fins? Por que motivos?). Mas se houve casos em que o jutsu e o dō se harmonizaram, então, concretamente nestes, estaremos perante uma evolução… ou talvez uma re-evolução!

Nota: citações conforme o original, sem transcrição fonética. Negritos da nossa responsabilidade.

BRAUNSTEIN, F., 1999, “Penser les Arts Martiaux”, Paris, PUF.
CLEARY, T, 1991, “A Arte Japonesa de Criar Estratégias ”, São Paulo, Cultrix. 
MUSASHI, M., 1985, “Écrits Sur les Cinq Roues: gorin no sho, le savoir-vaincre japonais”, Paris, Maisonneuve & Larose.
RATTI, O. & WESTBROOK, A., 2000, “Secretos de Los Samurai”, Barcelona, Editorial Paidotribo.

terça-feira, 22 de maio de 2012

O Plano Nacional de Ética no Desporto (II)



Conheci o Prof. Sidónio Serpa num curso de treinadores de karate realizado na década de 80 pela antiga FPKDA, num quartel ali para os lados dos Anjos. Tive depois a oportunidade de muito com ele aprender na FMH. Exemplar a crónica de hoje em «A Bola», na página 32, intitulada “Exemplo de ética”, a qual transcrevo na íntegra com autorização do seu autor. Aqui nos demonstra como alguém nomeado Embaixador para a Ética no Desporto pode fazer algo em prol do PNED. Obrigado Professor!


Há muitos anos li num livro juvenil de histórias do desporto um episódio passado com o histórico nadador Mário Simas que representou Portugal nos Jogos Olímpicos de Londres e foi imbatível nas piscinas nacionais e respeitado nos contextos internacionais. Aí se contava que num campeonato europeu saiu em primeiro lugar na última viragem, o que lhe daria forte possibilidade de ser campeão da Europa, coisa de particular significado nos anos 40 do século passado, em que, para além do hóquei patins, Portugal não alcançava vitórias internacionais. Sucede que Simas – de quem tive o privilégio de vir a ser aluno no antigo INEF e companheiro no Panathlon Clube de Lisboa – se apercebeu que havia cometido uma infracção involuntária na viragem que nenhum juiz havia notado. Assim, voltou atrás para repetir aquela fracção da prova, comprometendo a possibilidade do título europeu até então nunca alcançado por qualquer português.

Num texto dirigido ao presidente da Federação em 2008, por ocasião de uma homenagem que lhe foi prestada em comemoração dos 60 anos de participação nos Jogos de Londres, afirmava que o desporto deve servir para unir as pessoas e não para as separar, acrescentando que os valores olímpicos devem ser meio de valorização pessoal, de respeito pelos outros e de união e de paz entre todas as pessoas, e terminando com a afirmação de que foram estes os valores com que, na perspectiva cristã, procurou pautar a sua vida.

A ética e o respeito pelos outros são, de facto, valores que se expressam no desporto como na vida em geral. Existe uma transferência mútua e há que trabalhar nos dois campos com o exemplo de cada acto. Respeitando a responsabilidade da nomeação para embaixador da ética desportiva pela Secretaria de Estado da Juventude e Desporto, pareceu-me adequado partilhar com os leitores este exemplo que me marcou ao longo de toda a minha actividade de praticante e profissional no contexto do desporto.

Oriente e Ocidente: um dilema? (I)


Atualmente um dos tópicos em discussão na net revela a falta de conhecimento que os ocidentais possuem da cultura oriental (veja-se aqui)...
Verificamos que a todo o momento nos confrontamos com o dilema das contradições entre a aplicação prática da técnica (jutsu), as intenções da mesma, e as motivações últimas da via a seguir (). Ratti e Westbrook (1) salientam que este dilema é facilmente observável historicamente na maioria das artes marciais do passado e até em muitas disciplinas delas derivadas tal como se ensinam e praticam atualmente em todo o mundo. Há um contraste entre o proclamado e o praticado. Daí o facto de podermos ter um desporto perfeitamente institucionalizado e regulamentado, com um programa técnico codificado, com elevados princípios filosóficos e com um código ético, mas constatarmos que na sua prática nem sempre despontam comportamentos éticos e morais.
Se a ética é um conjunto de princípios universalmente aceites, já a moral se encontra condicionada pela cultura. Logo, também seria difícil fazer transitar de uma cultura oriental para uma cultura completamente diferente, a cultura ocidental, a sua moral, até porque “a difusão, ou seja, o transporte de realidades culturais de uma para outra cultura, não é um ato, mas sim um processo cujo mecanismo muito se assemelha ao de qualquer processo evolutivo”, como nos diz Malinowski (2). E como tal, há acomodações e assimilações, há interpenetrações e interdependências, há progressos mas também degradações e degenerações, há ganhos mas também perdas.
Por isso mesmo as próprias noções de ética ou de moral nem sempre estão presentes no Karate- e nos comportamentos adjacentes (mas quase que poderíamos afirmar que o mesmo acontece no desporto em geral, nomeadamente no profissional).


A transição progressiva de técnicas guerreiras a desporto (jogo) processa-se através de tempos e de lugares, assim como através de um processo histórico influenciado por mudanças e movimentações.
A passagem do Karate- de arte marcial a desporto de combate (ou melhor, a desporto de contacto corporal direto) não é uma mutação repentina, mas um processo gradual (com diversas fases em diferentes contextos históricos) inserido em modificações socio-culturais e pela aculturação (importação) de uma realidade oriental na cultura ocidental. Todo este processo originou aquisições e reinterpretações mas também degenerações, até porque as condições históricas criaram situações objectivas de desigualdade.
Neste avanço temporal, assim como numa deslocação geográfica e cultural, há toda a transferência de rituais que perdem os seus significados originais e ganham outros similares ou diferentes.
Johnson (3) diz que “a atitude ocidental é principalmente orientada para objectivos, pragmática e reducionista, apontando para a consideração do produto mais do que do processo, dos fins mais do que dos meios, e dos objectivos mais do que das experiências pelo seu próprio mérito. Em contraste, os orientais vêem as oposições como relação e fundamentalmente harmoniosas. Eles reconhecem uma não-divisão entre produto e processo, fins e meios, ou objectivos e experiências”.
Daí que, se praticamos algo que é proveniente do oriente e desejamos preservar a sua originalidade, seja nossa a responsabilidade de a descobrir e a conhecer. Assim como a de a transmitir corretamente...



(1) RATTI, O. & WESTBROOK, A., 2000, “Secretos de Los Samurai”, Barcelona, Editorial Paidotribo.
(2) MALINOWSKI, B., 1997, “Uma Teoria Científica da Cultura”, Lisboa, Edições 70.
(3) JOHNSON, C., “Toward a revisionist philosophy of coaching”, in S. Kleinman, Ed., 1986, “Mind and Body – The East meets the West”, pp. 149-155, Champaign, Illinois, Human Kinetic Publishers.


segunda-feira, 21 de maio de 2012

O amadorismo, o amor à camisola e o profissionalismo...

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Em 1939 a Associação Académica de Coimbra venceu a 1ª Taça de Portugal - 8 jogadores eram estudantes. Ontem, os jogadores da Académica, 73 anos depois, voltaram a vencer a mesma competição... só que são todos jogadores profissionais!

(foto: Correio da Manhã, revista Domingo, 20.05.2012, p. 34)
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sábado, 19 de maio de 2012

O Plano Nacional de Ética no Desporto (I)


O desporto sempre esteve intimamente ligado a formas educativas, culturais e formativas, o que sempre nos levou a considerá-lo uma escola de virtudes. Sempre foi o arauto de valores, de ética e de moral… o que não significa que o tenham sido (sejam) as pessoas nele envolvidas – pelo menos na prática, em ações, em atitudes e comportamentos. A formação do indivíduo, a construção do seu caráter, o desenvolvimento da sua autonomia e da sua disciplina sempre foram dados como podendo ser adquiridos através do desporto. O que por vezes nem sempre se reflete em comportamentos que deveriam ser exemplares.

A FNK-P levou a cabo entre 2007 e 2009 seis ações de formação em todo o país (Lisboa, Guarda, Santo Tirso, Beja, Funchal e Ponta Delgada) denominadas “Ética, Desporto e Karaté”, sendo assim percursora de parte daquilo que se pretende agora com o Plano Nacional de Ética no Desporto (PNED). 


Perguntava eu, aquando do lançamento do PNED, se há valores inerentes à prática desportiva, por que é preciso promovê-los? Se são inerentes a essa prática, ainda há a necessidade de serem assimilados e vividos nela própria?

A resposta é simples: parafraseando Hannah Arendt não é o Homem que milita no desporto, são os homens que o fazem e nele participam em diferentes funções. Logo, a resposta direta àquelas questões terá de ser positiva! Aliás, nas ações de formação acima referidas, verificámos que durante a época desportiva de 2007/08, dos Treinadores de Karaté participantes em cinco destas ações de formação, somente cerca de 1,6% conhecia o Código de Ética emanado da Federação Mundial de Karaté. Na última ação de formação, já em 2008/09, dos 48 participantes nenhum o conhecia.

Numa época em que alastra no desporto a violência, o doping, a corrupção, a fraude desportiva, a morte em competição (morte súbita e morte por acidente), a morbilidade (lesões permanentes), a exploração infantil e o treino intensivo precoce, algo haverá a fazer.

Num tempo em que se verificam suicídios de desportistas, em que começam a ingerir-se cada vez mais no desporto a política e a religião, começando até a ser visíveis casos de racismo, de xenofobia e de terrorismo, é necessário fazer algo neste campo para se poderem evitar e/ou modificar comportamentos perniciosos para e no desporto.

Numa altura em que a economia manobra o desporto, deverá este fenómeno ser escalpelizado.

No momento em que se pede ao desporto comportamentos exemplares quando eles mesmos não são exigidos à sociedade há que criar um espaço de discussão, de debate alargado, que se venha a transformar em ações concretas que reflitam essa conjugação e confronto de ideias. Não só no desporto escolar ou nos escalões de formação, não só no desporto amador como no profissional, não só entre professores ou académicos e investigadores como entre treinadores, árbitros, dirigentes, praticantes e competidores.

Qual a nossa responsabilidade? Como diz Paul Ricouer (1), “chegamos sempre a meio de uma conversa que já começou e à qual tentamos orientar-nos a fim de, pela nossa parte, para ela podermos contribuir”.

Contribuiremos mais um pouco num próximo post…



(1) Paul Ricouer, 1989, "Do Texto à Acção", Porto, Ed. Rés.
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20 anos... de JIP!


20 anos já são muitos anos...

E este é o ano em que precisamente a Jundōkan Internacional de Portugal comemora o seu vigésimo aniversário.

Uma Associação debaixo da batuta do Sensei José Campos, 7º Dan, onde tive a oportunidade de militar durante alguns anos, progredir no nosso estilo e fazer inúmeros amigos.

Dia 27 realiza a sua 10ª Taça Nacional, na Damaia.

Encontrar-nos-emos lá para os felicitar!

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Novos tempos...

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Talvez coincidência, ou não, as crónicas desta semana de Sidónio Serpa e de Jenny Candeias no jornal «A Bola» (respetivamente no dia 15, página 34, e no dia 17, página 40) quase que se tocam.

Sidónio Serpa começa por nos dizer que "a evolução das palavras ajuda-nos a compreender a evolução dos conceitos que exprimem", opinião de que sou adepto e que também defendi na minha tese de mestrado em relação à evolução do termo «violência» dado que se tratava de uma dissertação sobre a violência na prática desportiva infanto-juvenil. E continua afirmando que "assim se passa no contexto desportivo com os termos que têm designado quem exerce funções de treino dos praticantes de competição."
Passando à evolução dos termos propriamente dita, da "clássica designação de treinador, (...) de um especialista que transmite o seu saber-fazer aos atletas, que conhece e domina de forma intuitiva, e cuja vontade pretende mobilizar", passou-se para a designação de «coach» cuja "intervenção transcende os aspectos técnico-tácticos" e cuja palavra "exprime uma abordagem do treino mais abrangente na qual a dimensão psicológica e humana passa a ter um papel determinante e sistematizado, associado à técnico-táctica." Entrou-se assim no domínio do saber-fazer-ser.
Por último, aborda o conceito de «manager», algo mais do que treinador, pois "coordena a equipa técnica com profissionais de diversas áreas, fixa objectivos, concebe estratégias, gere o projecto e orienta os atletas no terreno." E conclui que "é um enorme desafio para quem abraça a tarefa, mas igualmente para os dirigentes que têm de entender o seu lugar num mundo de elevada especialização." Os dirigentes... que estão na retaguarda dos treinadores-coaches-managers... e que na realidade são (deveriam ser!) gestores.

Por seu lado, Jenny Candeias, embora abordando a ginástica, aponta-nos para "um bom princípio: colher informações no terreno e validar a estrutura de cada desporto"  implicando "a organização, buscando o compromisso tácito, ou expresso, de muitos que nela participam." E se uma Federação (generalização minha!) "não tem razão de ser sem clubes, sem atletas, treinadores e juízes, precisa - e de há muito! - dos pareceres responsáveis e fundamentados de especialistas nos modernos meios de suporte do treino desportivo e seu enquadramento."

Nem o treinador pode exercer eficazmente as suas funções se não trabalhar numa equipa multidisciplinar, nem uma Federação pode singrar se não se rodear de especialistas nas mais diversas matérias. Passámos a fase do técnico-táctico, do intuitivo e do improviso, para já estarmos na fase da dimensão cultural, científica e das relações humanas... no âmbito da actividade que exercemos.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Gasshuku da Kaizen

Mais um exemplo da dinâmica de uma Associação que se preocupa com uma "melhoria contínua"...

A Kaizen Karate Portugal vai encerrar a sua época desportiva com a realização de mais um um Estágio, desta vez orientado orientado por dois conceituados Mestres: Sensei Arnold de Beer, 8º Dan, proveniente da África do Sul, e Sensei José Campos, 7º Dan, Diretor Técnico Nacional da Jundōkan Internacional de Portugal.

22, 23 e 24 de Junho são as datas deste Estágio que se irá desenrolar no Pavilhão Municipal da Torre da Marinha, no Seixal.
A não perder...

domingo, 13 de maio de 2012

Campeonato Europeu e novo site da FNK-P


A nossa seleção participou no 47th EKF Senior Championships neste fim de semana em Tenerife, Espanha. Desta vez não houve medalhas, mas é de realçar o empenho dos nossos competidores, salientando-se a disputa para a medalha de Bronze em Kumite Masculino -75Kg de Nuno Moreira, que "só" teve de  defrontar na derradeira batalha o Campeão Mundial em título Rafael Aghayev, do Azerbaijão! Teremos de aguardar pelo próximo...



De enaltecer a apresentação do novo site da FNK-P (http://www.fnkp.pt/), com um visual novo, bastante mais atrativo e com novas funcionalidades, uma ferramenta útil para manter associações, clubes, treinadores, árbitros e praticantes informados e atualizados em relação ao que se passa na nossa modalidade. De parabéns a Federação... e esperamos que haja mais elementos da nossa comunidade a consultá-lo!


terça-feira, 8 de maio de 2012

Sidónio Serpa, Guardiola e cultura


Hoje, no diário «A Bola», página 31, Sidónio Serpa escreve sobre o treinador do Barcelona e a sua evolução cultural.

E diz-nos que Guardiola "há poucos anos, já treinador do Barça afirmava que o futebol era a mais importante das coisas menos importantes, o que revela realismo inteligente, entendedor do essencial da vida que transcende o significado do desporto, mesmo enquanto profissão." Fazendo uma aproximação inevitável a Mourinho, Sidónio Serpa afirma que este, "com toda a sua conhecida competitividade, desdramatiza a importância do jogo relativamente a outros valores, como a família que lhe garante o verdadeiro equilíbrio." O que demonstra, parafraseando Manuel Sérgio, que quem só sabe de futebol nem de futebol sabe... tal como quem só sabe de Karate nem de Karate sabe... e que há outros valores para além dos valores desta própria modalidade.

Mas sobre as funções de um treinador, Sidónio Serpa vai mais longe: "um treinador de topo, como profissionais noutros domínios, para aproveitar o potencial das situações e dos colaboradores, sejam atletas ou membros do staff técnico, deve estar além do mero conhecimento específico da sua área de intervenção. Apenas uma cultura alargada permite o entendimento das coisas do mundo que se reflecte na eficácia do trabalho do terreno."

E termina de modo exemplar: "A preparação científica e técnica é factor de competência. Mas não chega! Treinadores que apenas sabem falar da sua actividade, para além de enfadonhos, não atingem patamares de real excelência. Receio que nas faculdades de desporto, por muito rigorosas e baseadas na ciência que sejam, se esteja a esquecer a dimensão cultural, abrangente e humanista que promove a curiosidade e criatividade geradora da diferença e desenvolvimento." Tal como eu receio que no complemento da formação dos atuais treinadores de Karate também se esteja a esquecer esta dimensão... Ou que a mesma seja igualmente olvidada nos próximos cursos de formação de Treinadores de Karate...
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segunda-feira, 7 de maio de 2012

APKGS - Karate-dō e Kobudō


É o 24º Estágio... É obra!!!

José da Fonseca Oliveira, 6º Dan, o amigo que me deu a conhecer o nosso estilo há mais de 30 anos, traz mais uma vez a Portugal  o Sensei Zenei Oshiro, 8º Dan, numa organização da Associação Portuguesa da Karate Goju-Ryu Shōdōkan.

Karate-dō e Kobudō, em Viseu, de 25 a 27 de Maio...

Corrupção...


Portugal ocupa o 32º lugar no Índice de Percepções da Corrupção da Transparency International, que mede sobretudo as percepções do fenómeno por homens de negócios e peritos estrangeiros.

Esta classificação, que revela uma situação negativa do País - desceu da 28ª posição que ocupava em 2007 -, consta do relatório final do Projecto Sistema Nacional de Integridade (SNI), apresentado hoje em Lisboa por Luís de Sousa, presidente da Transparência e Integridade.

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sábado, 5 de maio de 2012

Doping: mais um caso...


"O alemão Mario Thevis, um dos maiores especialistas mundiais no combate ao "doping", alertou recentemente para o facto de haver "80, 90 ou 100" novas substâncias dopantes que não são detectáveis nos actuais controlos. Luís Horta, presidente da Autoridade Antidopagem de Portugal (Adop), concorda, mas também defende que a luta contra a dopagem está mais forte" pode-se ler no «Público» on-line de ontem pela pena de Hugo Daniel Sousa (aqui).

Entretanto foram divulgados os casos positivos em relação a 2011 e o Karate lá aparece com um caso... em 44 amostras em competição e 6 fora... quando em 2010 o Karate também já tinha apresentado um caso positivo (aqui)

Comentários para quê?...
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sexta-feira, 4 de maio de 2012

A pontuação em Kumite


Habituados que estávamos ao "sanbon", "nihon" e "ippon" para a marcação dos pontos em Kumite, eis que em janeiro deste ano a WKF decide modificar a nomenclatura.



Se anteriormente sanbon definia três pontos, nihon dois pontos e ippon um ponto, atualmente a terminologia correspondente é ippon (3 pontos), waza-ari (2 pontos) e yūkō (1 ponto).

Joséferson Goulart (aqui), referindo-se ao documento da FNK-P Regras de Competição WKF, diz-nos que:
一本  Ippon - "1 ponto!". (Doc: "3 pontos" - Correto: SANBON 三本.)
技有り Waza-ari - "Houve a técnica!". (Doc: "2 pontos" - Correto NIHON 二本.)

有効  Yūkō - "Foi efetiva (a técnica)!". (Doc: "1 ponto" - Correto IPPON 一本.)

acrescentando que "seria mais coerente informar que isto é a equivalência em pontos e não uma suposta tradução".

Adriana Tanaka (aqui), analisando os Kanji (漢字) explica-nos os significados desses mesmos termos do seguinte modo:

Yūkō (有效): eficiente.
Waza-ari (技あり ou 技有?): executado com destreza.
Ippon (一本): único.

Saliente-se que a nomenclatura foi modificada mas o sitema de atribuição de pontos continua igual.

Assim, grosso modo, poderemos dizer que:
1 - o gesto técnico avaliado com yūkō é considerado efetivo ou eficiente sendo atribuído ao competidor que a realizou um ponto;
2 - a técnica avaliada com waza-ari foi executada com destreza e ao competidor que a executou são atribuídos dois pontos; 

3 - a técnica avaliada com ippon é considerada como única, excelente, e, apesar de "ippon" significar "um ponto", são atribuídos três pontos ao competidor que a efetuou.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Fotos e classificações: o possível da III Taça Kaizen

Pois desta vez não temos grande reportagem fotográfica...


E ainda não temos as classificações oficiais, mas podemos avançar com dois segundos lugares em Kata M 8-9 anos para António Correia e Yhami Bernardo, mais um 3º para Rúben Jacinto e um 1º para Yúri Inocentes em Kata M 12-13 anos, quedando-se Alberto Cavaleiro em 4º lugar. Em Kata M 14-15 anos Diogo Neto classificou-se em 3º lugar e em 2º na prova de Kumite M 14-15 anos. Marta Martins, do Quinta Grande Health Club, atingiu o  3º lugar e Rute Baptista o 4º em Kata F 14-15 anos. Mafalda Campino ganhou a categoria de Kata F 6-7 anos e Gonçalo Ferreira alcançou o 2º lugar em Kata M 10-11 anos. A Cooperativa de Ensino de Benfica preencheu o pódio em Kata F 8-9 anos com Teresa Porqueddu, Margarida Castello e Alice Resende. Em Kata F 10-11 anos o 2º lugar pertenceu a Beatriz Piedade e o 3º a Rita Antunes, tendo-se Filipa Isidro classificado também em 3º lugar em Kata F 12-13 anos.


Núrya Inocentes alcançou os dois primeiros lugares em Kumite e Kata F +18 anos e em Pré-Kumite M 12-13 anos o pódio pertenceu ao Tapada Kids, com Alberto Cavaleiro, Yúri Inocentes e Rúben Jacinto. 


Foram 6 primeiros lugares, 7 segundos e 7 terceiros para a PGKS nestas provas... em cerca de 280 participantes!


Não temos registo das classificações dos Percursos Físicos e Técnicos, mas vários competidores do Tapada Kids e da Cooperativa de Ensino de Benfica subiram ao pódio em ambos nos vários escalões. 


De realçar as prestações na categoria Sénior de João Martins em Kumite e de Fernando Gonçalves em Kata, ambos do Quinta Grande Health Club.


A todos as minhas felicitações - principalmente aos mais novos, não referidos aqui por falta de dados...