sábado, 25 de janeiro de 2014

Estratégias...

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Há três maneiras de se estar na vida: ou juntando-se aos inimigos quando não se podem vencer estes, agradando-se a gregos e não a troianos ou agradando-se a troianos e não a gregos.

Mas há pessoas que conseguem conviver com elas próprias… e conseguem agradar a gregos e a troianos!

Se por um lado falta no nosso Karate exigência e espírito crítico aberto, por outro lado abunda a hipocrisia e a promiscuidade…

Um dos problemas há muito está identificado, a partir do momento em que se constata que uma só pessoa pode ser em simultâneo competidor de alto nível, treinador e árbitro… O facto de não termos uma carreira única de treinador e uma outra de árbitro – para não falar de uma outra em que felizmente há indivíduos que se dedicaram única e exclusivamente à competição.

Outro dos problemas, igualmente há muito constatado, reside no facto de poucos saberem de muito e muitos saberem tão pouco… do que se passa e conforme se passa. Não há transparência, não há esclarecimento, não há abertura, principalmente quando nem sequer as associações (sócias) estão representadas nas Assembleias Gerais da Federação…

O corporativismo reinante está expresso na acumulação de cargos: veja-se por exemplo quais as funções que os elementos da direcção da Associação Nacional de Treinadores de Karate desempenham na própria Federação… Não temos uma associação de classe que permita defender os interesses dos treinadores – daí que eles próprios, todos formadores, sejam remunerados como formadores, enquanto os Tutores de Estágio trabalham pro bono!

Mas o sistema instalado assim permanecerá, até porque muitos daqueles que criticam, alguns até construtivamente, muitos daqueles que discordam, muitos daqueles que verificam que as coisas não correm como deveriam correr, estão “indignados até à medula, mas paralíticos até ao tutano”*.

Aproxima-se um Campeonato Europeu organizado por e em Portugal… a montra é importante, a exposição essencial, mas à custa de quê? Pouco importa às pessoas saber que têm os seus direitos reconhecidos em princípio, se o exercício dos mesmos lhes é negado na prática – os Presidentes das Associações (pelo menos!) há muito que deveriam ter dado conta disso, a não ser que se tenham juntado aos inimigos por não os poderem vencer… ou por desejarem agradar a gregos e a troianos... Quanto aos treinadores (e aqui não distinguimos treinadores de mestres!) o relacionamento entre a sua medula e o seu tutano obviamente não é o melhor!


Tudo isto me faz lembrar Maquiavel (e cito de memória): como é perigoso libertar um povo que prefere a escravidão…




* Frase de Nuno Ferreira, no seu mural do facebook, através de Paulo Guinote.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Os "yes man"!

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Peter Druker, num dos seus livros, usa a imagem do camponês que todos os anos lança as sementes à terra mesmo sabendo que muitas delas nunca germinarão, mas ele nunca desiste... pois sabe que algumas (nem que seja só uma) delas frutificarão. E já Confúcio nos dizia que "não são as más ervas que matam a semente boa mas sim a negligência do camponês".

Telefonou-me há dias um amigo mais ou menos com estas palavras: eles dizem que é verdade, que tens razão, mas não fazem nada, mais ninguém dá a cara!

Arlindo Figueiredo, Karateka dos tempos de antanho, perguntava na sua página do facebook apresentando um vídeo de Jūdō: "Jūdō já foi assim, o Karate está a deixar de ser. Que futuro para o Karate?"

Fácil a resposta: enquanto todos os que comem da mesma gamela continuarem a comer da dita cuja, o karate não terá futuro, nem cá dentro nem lá fora! Enquanto os que se insurgem o fizerem só à socapa sem se sentirem responsáveis e continuarem a ter medo (ou falta de coragem) dos que comem da tal gamela, o nosso karate não terá futuro!


Enquanto se criticar em conversas de bastidores mas depois se dizer ámen a tudo para se continuarem a defender alguns poucos previlégios de certas coutadas, os "yes man" não permitirão que o nosso Karate tenha futuro!

Enquanto projetos alternativos não sairem à luz do dia por receio de se modificar o status quo, só se modificará o que se pretender que fique na mesma...

                                                                                             アルマンド  イノセンテス

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014


As duas espécies de praticantes...

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É normal no final de um ano civil fazer-se o balanço desse mesmo ano. Fazer-se o balanço de 40 anos de Karate-Dō é muito mais difícil e complicado... mas talvez nem valha a pena fazer esse balanço!

Todos nós caminhamos para o fim da vida. Todos nós vivemos de recordações. Mas parece-me que o mais importante será preocuparmo-nos não com o passado, não com o futuro, mas sim com o presente e com as sementes que por cá deixaremos. Porque aquilo que fazemos sobre nós recai!... 


Mas um momento de reflexão não fará mal a ninguém... principalmente quando após a organização e realização de um Festival de Artes Marciais se chega à conclusão que existem duas espécies de praticantes nas mesmas: aqueles que singraram por si prórpios ao longo da vida, que realizaram esforços enormes para se irem superando dia a dia e que podem até nem ser bons praticantes mas que demonstram possuir valores, que respeitam para serem respeitados e que são dignos daquilo que fazem; e aqueles que nunca tiveram dificuldades em pagar a mensalidade do dōjō, que sempre encontraram tudo feito, a quem sempre facilitaram a vida e que poucas ou nenhumas dificuldades encontraram ao longo da vida para chegarem ao mesmo patamar onde chegaram os outros, enfim, aqueles que em vez de servirem as Artes Marciais se servem delas!

E se "a ausência de evidência não significa necessariamente a evidência de ausência", já não é tão ausente o facto de estes últimos serem aqueles que mais propalam o Dōjōkun em vez de o praticarem!

Isto porque dos vários convites enviados para participarem no dito Festival, alguns nem resposta obtiveram... 


Mas houve um conjunto de praticantes e alguns experts, uns sacrificando o seu domingo, outros a sua família, outros ainda que decidiram fazer cerca de 500 quilómetros para estarem presentes, que marcaram a sua posição. Solidários com dois amigos que comemoravam 40 anos de Karate-Dō, compareceram! E, solidários, mostraram o seu respeito e a sua amizade para com estes, os quais por sua vez retribuíram... De realçar ainda aqueles que marcaram presença nas bancadas num incondicional apoio!!!


Vivemos uma época em que, para certos indivíduos, é mais fácil olhar para o seu próprio umbigo que para o horizonte (talvez uma questão de distância!). Vivemos uma época em que, para certos indivíduos, é mais fácil ser falso e hipócrita (talvez uma questão de oportunidade!). Mas como dizia Anton Tchekhov, "eles são honestos: não mentem sem necessidade." 

Aliás, já nos vamos habituando a que a hipocrisia e a falsidade não possuam medo de sair à rua a qualquer momento... de cara destapada!