sábado, 8 de agosto de 2009

Porquê karate-do.pt?

As respostas poderiam ser muitas. Como por exemplo, por ser o termo «karaté», um estrangeirismo, incorrecto, pois em 1936 foi o termo «karate-do» o adoptado. Ou porque a resposta até se pode transformar em novas questões: arte marcial ou desporto de combate? Actividade física ou desporto?

Porque quando se passa mais de metade de uma vida procurando respostas, por vezes concluímos que são as perguntas que estão erradas...

Porque a par da prática e da técnica tem de haver pesquisa e investigação. Porque dados e conclusões devem ser postos em comum e ser divulgados. Porque a especificidade da actividade que praticamos assim o exige.

Enquanto na grande maioria das modalidades o praticante domina um objecto, nos “desportos de combate” o dominar o adversário é o fim último – o objecto é neste caso um ser que age e reage, um ser que pensa e que sente. Nos “desportos de combate” não há um elemento dinâmico (ser humano) e um elemento físico (objecto), pois existem dois elementos dinâmicos, autónomos, criativos, dispondo de uma motricidade intencional, que se opõem e confrontam até se designar um superior ao outro segundo certos parâmetros. O facto de ambos procurarem a vitória, de um procurar submeter o outro confinado pelos critérios pré-determinados, o facto de um procurar dominar o outro segundo certas regras, o facto de um ter de se superiorizar ao outro para ser declarado vencedor encontra, de facto, a sua origem no universo guerreiro. O contacto corporal que existe nos desportos colectivos não se confunde com o contacto corporal directo intencional nos “desportos de combate”. Nestes, o corpo do outro é objecto e objectivo da acção. Centramo-nos aqui no Kumite, sendo a Kata, como representação, a estilização do mesmo.

Exércitos e forças paramilitares podem praticar Karaté como arte marcial. Mas ninguém pratica Karaté, no sentido de modalidade desportiva institucionalizada, para “ir à guerra”, assim como ninguém pratica Karaté para combater (no sentido literal do termo, pois no combate não há regras, a morte é real, enquanto que no ritual desportivo a morte é simbólica) com o adversário, pois este não é o inimigo. Como diz Yonnet (2004), “não é a natureza material duma actividade que decide o seu carácter extremo, é o uso feito desse material no quadro de uma actividade possível”.

Não podemos pois classificar o Karaté “civil” actual, federativo, como uma “arte marcial” nem como um “desporto de combate”, pois “é o uso do utensílio que faz a classificação da actividade, não o utensílio por si próprio” (Yonnet, id.).

Parece-nos mais correcto falar num e de um “desporto de contacto corporal directo” (intencional e objectivo), à semelhança do Judo, do Taekwon-do e do Boxe, em alternativa à Esgrima ou ao Kendo, desportos de contacto corporal indirecto.
No quadro da sistemática do desporto, esta foi a tese por mim apresentada no 2º Congresso Científico de Artes Marciais e Desportos de Combate, realizado a 16 e 17 de Maio, em Viseu.

YONNET, Paul, 2004, “Huit leçons sur le sport”, Paris, Éditions Gallimard.

3 comentários:

  1. Gostei de ler este artigo, está bem elaborado, continue assim a escrever artigos sobre o Karate, já agora eu também tento elaborar noticias no meu blog - Karate Shotokan Trancoso;

    Eduardo Rafael; OSS

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  2. Parabéns pelo excelente blog. Os meus agradecimentos pelo convite para visitar e participar neste blog. Desejos dos maiores sucessos.

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  3. Preciso de ajuda para a realização de uma tese de mestrado sobre a importancia dos desportos de combate para a motivação escolar e o sucesso escolar. Alguém me pode ajudar nem que seja só com bibliografia para eu consultar? renato_jvbessa@hotmail.com

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