O naufrágio*
Apenas o
hipopótamo e o seu dono escaparam ao naufrágio, saltando para cima de um
pequeno bote.
O hipopótamo era o ganha-pão do homem e por isso quando o pequeno
bote se começou a inclinar para o lado onde estava o animal, o homem ficou
preocupado com a possibilidade de este se afogar. Para evitar que a pequena
embarcação se desequilibrasse completamente o homem cortou um pedaço do
hipopótamo e comeu-o, o que também era oportuno pois começava a estar com fome.
O pequeno pedaço tirado ao hipopótamo permitiu que o bote recuperasse o
equilíbrio entre os dois lados, como uma balança. Mas por pouco tempo. Novamente
o bote começava a ir ao fundo do lado do hipopótamo. Este, apesar do bocado que
lhe fora retirado, ainda era mais pesado que o seu dono. O homem decidiu então
comer mais um pedaço do hipopótamo. Depois de o fazer, olhou para o barco e viu
que ainda não era suficiente: tirou mais um bocado do animal e comeu-o. O barco
recuperou o equilíbrio.
A viagem durou ainda algumas semanas e o homem, de seis em seis
horas, via-se obrigado a cortar mais um bocado do animal.
Talvez não fosse a solução perfeita, mas não poderia correr o
risco de perder o hipopótamo.
(Foto: The K is on the Way Karate 2020)
O Karate-dō tem sido um grande hipopótamo... Agora pretende-se que ele faça parte do programa olímpico de 2020 mas sem a prova de Kata!!!
* Gonçalo M. Tavares, 2004, "O Senhor Brecht", Lisboa, Ed. Caminho.