domingo, 6 de outubro de 2013

O bem e o mal

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O Bem e o mal, o Governo e o provedor da Ética no Desporto

(crónica do Prof. José Manuel Meirim no jornal «Público» de 29 de setembro de 2013, página 49)

1. Na sequência do ocorrido no final do jogo entre o Vitória de Guimarães e o Benfica, este infeliz país assistiu – dirão alguns que não – a uma explosão mediática que se projectou no quotidiano de todos os portugueses. Agora que os procedimentos, disciplinares e criminais, iniciaram o seu percurso, com a garantia da defesa do arguido, é tempo de «fechar» ou pelo menos suspender os fluxos de informação e de contrainformação. Pela nossa parte, deixamos três registos “finais”.
2. Em primeiro lugar, temos para nós que, no futebol e na restante vivência social, o «mal» e o «bem» não se guiam por qualquer ponto cardeal. Não há um “eixo do mal” a Norte e uma “linha da verdade” ou da ética a Oeste ou a Leste. O mal e o bem repartem-se pelo todo e tanto se localizam ao Norte, a Leste, a Oeste ou no Sul. Por outro lado, a meu ver, só há duas formas de vencer o mal: praticando o bem (em resposta ao mal) ou, em pura lógica, agir sempre pior que o «mal». O que verdadeiramente me perturba é o discurso do bem e a ação que, nos momentos determinantes, não o respeita. Dessa forma, é bem sabido, não se vence o “eixo do mal”.
3. Independentemente até do juízo jurídico que se faça sobre o ocorrido, a verdade é que os agentes de segurança pública se viram confrontados com algo realmente perturbador da sua ação.
Durante os dias que se seguiram nem uma palavra, diria mesmo um suspiro, se ouviu do Governo. O Ministro da Administração Interna e o Secretário de Estado da Juventude e do Desporto remeteram-se a um silêncio confortável, ainda para mais em semana eleitoral.
Ministro e Secretário de Estado que sempre se recheiam de palavras sobre a ética desportiva, a prevenção e o combate à violência no desporto. Membros do Governo esses claramente empenhados em mais um rejuvenescimento de uma ineficaz lei do combate à violência, ao racismo, à xenofobia e à intolerância nos espetáculos desportivos, de forma a possibilitar a realização dos mesmos com segurança, operado no passado dia 25 de Julho. Ministro esse que tornou obrigatória a presença das forças policiais nas competições profissionais de futebol.
4. O Plano Nacional de Ética no Desporto tem até um Provedor da Ética no Desporto, nomeado pelo Governo. Na actualidade o cargo é desempenhado pelo Professor Manuel Sérgio que, na página da Internet, tem uma mensagem ao mundo do desporto, desde o dia 15 de Setembro, intitulada “O Desporto em que eu acredito”. Entre muitas afirmações das suas convicções em prol de um desporto ético, retiramos estas duas: “Este é o Desporto em que eu acredito. Para ele, vale mais uma lágrima humana do que todos os campeonatos e taças do mundo. Ele não se ocupa só do estudo dos meios, esquecendo os fins, e por isso não tem por si as letras grandes das páginas dos jornais, nem os noticiários mais escutados da rádio e da televisão, nem as redes de mundialização mediática”; “Não pode esperar-se dos cultivadores de um clubismo ou regionalismo doentios, nem de nefastos manipuladores da opinião pública, que reconheçam na Ética lugar imprescindível, na prática desportiva. Os nossos jovens têm direito a este banho de verdade, que deve abranger todo o sistema educativo nacional: Sem Ética, não há Desporto”. Nove dias depois, o Professor Manuel Sérgio em declarações públicas à Rádio Renascença entendeu pronunciar-se sobre “o caso” nos seguintes termos: “não tem valor nenhum” e é “para morrer”; “quando nos agarramos em demasia a um caso como este, é porque não temos coisas importantes a tratar. Aquilo não tem importância nenhuma”.
5. Se o “bem” se comporta assim, então o “eixo do mal”, esteja em que ponto cardeal esteja, vive ainda melhor e só pode proliferar. 





2 comentários:

  1. É incrível como até o garante desse eixo do bem, sendo ele também, ou pelo menos, muitos consideram um guru do desporto, não consegue tirar a camisola clubistica e, ou, da amizade, desvalorizando o a ação, como se tudo isto fosse normal nesta sociedade que acusa sinais preocupantes de ausência total de valores. João Cardiga

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  2. A ética é só para os pobres, para os néscios, os outros estão acima da lei e da virtude.
    Abraço,
    Luís Sérgio

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