O Bem e o mal, o Governo e o provedor da Ética no Desporto
(crónica do Prof. José Manuel Meirim no jornal «Público» de 29 de setembro de 2013, página 49)
1.
Na sequência do ocorrido no final do jogo entre o Vitória de Guimarães e o
Benfica, este infeliz país assistiu – dirão alguns que não – a uma explosão
mediática que se projectou no quotidiano de todos os portugueses. Agora que os
procedimentos, disciplinares e criminais, iniciaram o seu percurso, com a
garantia da defesa do arguido, é tempo de «fechar» ou pelo menos suspender os
fluxos de informação e de contrainformação. Pela nossa parte, deixamos três
registos “finais”.
2. Em primeiro lugar, temos
para nós que, no futebol e na restante vivência social, o «mal» e o «bem» não
se guiam por qualquer ponto cardeal. Não há um “eixo do mal” a Norte e uma
“linha da verdade” ou da ética a Oeste ou a Leste. O mal e o bem repartem-se
pelo todo e tanto se localizam ao Norte, a Leste, a Oeste ou no Sul. Por outro
lado, a meu ver, só há duas formas de vencer o mal: praticando o bem (em
resposta ao mal) ou, em pura lógica, agir sempre pior que o «mal». O que
verdadeiramente me perturba é o discurso do bem e a ação que, nos momentos
determinantes, não o respeita. Dessa forma, é bem sabido, não se vence o “eixo
do mal”.
3.
Independentemente até do juízo jurídico que se faça sobre o ocorrido, a verdade
é que os agentes de segurança pública se viram confrontados com algo realmente
perturbador da sua ação.
Durante
os dias que se seguiram nem uma palavra, diria mesmo um suspiro, se ouviu do
Governo. O Ministro da Administração Interna e o Secretário de Estado da
Juventude e do Desporto remeteram-se a um silêncio confortável, ainda para mais
em semana eleitoral.
Ministro
e Secretário de Estado que sempre se recheiam de palavras sobre a ética
desportiva, a prevenção e o combate à violência no desporto. Membros do Governo
esses claramente empenhados em mais um rejuvenescimento de uma ineficaz lei do
combate à violência, ao racismo, à xenofobia e à intolerância nos espetáculos
desportivos, de forma a possibilitar a realização dos mesmos com segurança,
operado no passado dia 25 de Julho. Ministro esse que tornou obrigatória a
presença das forças policiais nas competições profissionais de futebol.
4.
O Plano Nacional de Ética no Desporto tem até um Provedor da Ética no Desporto,
nomeado pelo Governo. Na actualidade o cargo é desempenhado pelo Professor Manuel
Sérgio que, na página da Internet, tem uma mensagem ao mundo do desporto, desde
o dia 15 de Setembro, intitulada “O Desporto em que eu acredito”. Entre muitas
afirmações das suas convicções em prol de um desporto ético, retiramos estas
duas: “Este é o Desporto em que eu acredito. Para ele, vale mais uma lágrima
humana do que todos os campeonatos e taças do mundo. Ele não se ocupa só do
estudo dos meios, esquecendo os fins, e por isso não tem por si as letras
grandes das páginas dos jornais, nem os noticiários mais escutados da rádio e
da televisão, nem as redes de mundialização mediática”; “Não pode esperar-se
dos cultivadores de um clubismo ou regionalismo doentios, nem de nefastos
manipuladores da opinião pública, que reconheçam na Ética lugar imprescindível,
na prática desportiva. Os nossos jovens têm direito a este banho de verdade,
que deve abranger todo o sistema educativo nacional: Sem Ética, não há
Desporto”. Nove dias depois, o Professor Manuel Sérgio em declarações públicas
à Rádio Renascença entendeu pronunciar-se sobre “o caso” nos seguintes termos:
“não tem valor nenhum” e é “para morrer”; “quando nos agarramos em demasia a
um caso como este, é porque não temos coisas importantes a tratar. Aquilo não
tem importância nenhuma”.
5.
Se o “bem” se comporta assim, então o “eixo do mal”, esteja em que ponto
cardeal esteja, vive ainda melhor e só pode proliferar.
É incrível como até o garante desse eixo do bem, sendo ele também, ou pelo menos, muitos consideram um guru do desporto, não consegue tirar a camisola clubistica e, ou, da amizade, desvalorizando o a ação, como se tudo isto fosse normal nesta sociedade que acusa sinais preocupantes de ausência total de valores. João Cardiga
ResponderEliminarA ética é só para os pobres, para os néscios, os outros estão acima da lei e da virtude.
ResponderEliminarAbraço,
Luís Sérgio