Há três maneiras de se estar na vida: ou
juntando-se aos inimigos quando não se podem vencer estes, agradando-se a
gregos e não a troianos ou agradando-se a troianos e não a gregos.
Mas há pessoas que conseguem conviver com elas
próprias… e conseguem agradar a gregos e a troianos!
Se por um lado falta no nosso Karate
exigência e espírito crítico aberto, por outro lado abunda a
hipocrisia e a promiscuidade…
Um dos problemas há muito está identificado, a
partir do momento em que se constata que uma só pessoa pode ser em simultâneo
competidor de alto nível, treinador e árbitro… O facto de não termos uma
carreira única de treinador e uma outra de árbitro – para não falar de uma
outra em que felizmente há indivíduos que se dedicaram única e exclusivamente à
competição.
Outro dos problemas, igualmente há muito
constatado, reside no facto de poucos saberem de muito e muitos saberem tão
pouco… do que se passa e conforme se passa. Não há transparência, não há
esclarecimento, não há abertura, principalmente quando nem sequer as
associações (sócias) estão representadas nas Assembleias Gerais da Federação…
O corporativismo reinante está expresso na
acumulação de cargos: veja-se por exemplo quais as funções que os elementos da direcção
da Associação Nacional de Treinadores de Karate desempenham na própria
Federação… Não temos uma associação de classe que permita defender os
interesses dos treinadores – daí que eles próprios, todos formadores, sejam remunerados
como formadores, enquanto os Tutores de Estágio trabalham pro bono!
Mas o sistema instalado assim permanecerá, até
porque muitos daqueles que criticam, alguns até construtivamente, muitos
daqueles que discordam, muitos daqueles que verificam que as coisas não correm
como deveriam correr, estão “indignados até à medula, mas paralíticos até ao
tutano”*.
Aproxima-se um Campeonato Europeu organizado
por e em Portugal… a montra é importante, a exposição essencial, mas à custa de
quê? Pouco importa às pessoas saber que têm os seus direitos reconhecidos em
princípio, se o exercício dos mesmos lhes é negado na prática – os Presidentes
das Associações (pelo menos!) há muito que deveriam ter dado conta disso, a não
ser que se tenham juntado aos inimigos por não os poderem vencer… ou por desejarem agradar a gregos e a troianos... Quanto aos
treinadores (e aqui não distinguimos treinadores de mestres!) o relacionamento
entre a sua medula e o seu tutano obviamente não é o melhor!
Tudo isto me faz lembrar Maquiavel (e cito de
memória): como é perigoso libertar um povo que prefere a escravidão…
* Frase de Nuno Ferreira, no seu mural do facebook, através de Paulo
Guinote.