Todos aqueles que prescindem de liberdades essenciais
para comprar um pouco de segurança temporária
não merecem a liberdade nem a segurança.
Benjamim Franklin
A consumação de um facto
A Federação Nacional de Karaté-Portugal encontra-se desde a passada sexta-feira sem mais um elemento da Direcção e sem Director do Departamento de Formação. Ao fim de um longo período de reflexão e de troca de opiniões com alguns elementos mais próximos da minha pessoa, acabei por assumir a minha demissão, consciente que a própria vida é formada por um conjunto de opções: umas são correctas, outras menos correctas... e outras são erradas, servindo o erro pura e simplesmente para ser rectificado e não se voltar a repetir.
Não é motivo relevante esta demissão porque não há pessoas insubstituíveis e porque não há trabalho que não possa ser melhorado e executado com maior eficácia e eficiência, logo com mais rentabilidade e melhores resultados.
O facto de ter desempenhado funções num órgão institucional não é de nenhuma maneira limitativo da possibilidade de possuir as minhas próprias ideias. Do mesmo modo, não pode a minha liberdade de expressão ser cerceada nem por isso posso ser condenado por delito de opinião. Mas realce-se que a posição que neste documento apresento é pura e simplesmente pessoal. Dirijo-me a todos aqueles que quase diariamente envergam um gi, mas também a todos os dirigentes e restantes agentes desportivos envolvidos no Karaté nacional, mais no papel de treinador do que em qualquer outro. E tal como treinador, individualmente também tenho o direito e a liberdade para me dirigir a colegas meus. O que faço também como responsável por dois dojos e como representante em Portugal da Okinawa Goju-Ryu Karate-Do Kyokai.
Não me dirijo a ninguém em especial, porque penso ser relevante comunicar – e comunicar é colocar em comum – um conjunto de preocupações, no final do meu desempenho como Director do Departamento de Formação da FNK-P. Dois anos de enriquecimento, dois anos de partilha em que, como diria José Fanha, sem remorso ou ilusão fui neste espaço o que sou, nunca direi foi em vão tudo o que aqui se passou. Se esta comunicação peca por tardia, então ela tem toda a sua razão de ser. Se ela é apresentada no momento exacto, então é irrelevante. Isto porque há os que vivem do Karaté, há os que sabem viver do Karaté e há os que vivem para o Karaté.
Encontramo-nos num final de um ciclo legislativo anunciado pelos novos estatutos aprovados a 23 de Agosto mas curiosamente 3 meses depois ainda não registados mas logo colocados na página da net da FNK-P.
Demiti-me principalmente em confronto com um modelo de gestão autocrático imprimido por uma única pessoa. Demiti-me principalmente por falta de informação que me era sistematicamente sonegada. Demiti-me principalmente por falta de acesso a certos conhecimentos. Demiti-me por discordar de muita coisa... Mas também me demiti consciente de erros cometidos por mim próprio, pois também tenho telhados de vidro...
Encontramo-nos num final de um ciclo de amadorismo do qual convém dar o salto. Uma Federação sem estruturas profissionalizadas não passará daquilo que tem eternamente sido: uma funcionária administrativa que sozinha não consegue dar vazão a todo o trabalho burocrático, um Presidente que procura estar sempre em todo o lado e dentro de todos assuntos deliberando por vezes coisas que não são da sua competência e não dando o respectivo espaço de manobra aos vários Departamentos e Directores que em vez de dirigirem, gerirem e organizarem, acabam por fazer todo o trabalho de sapa. Moral da história: escasseiam os meios humanos, fracassa a organização deteriora-se a realização.
Isto porque o final deste ciclo determina novos modelos de gestão: uma só federação por modalidade desportiva, delegados que representam uma única entidade, cada um só com um voto e proibição de votos por procuração ou por correspondência.
Um diagnóstico da situação
Um diagnóstico da modalidade aponta para cinco questões essenciais: a primeira, relacionada com a profissionalização (ou com a contratualização) dos intervenientes nas várias estruturas; a segunda relacionada com o facto de termos uma carreira única – neste momento há competidores que são simultaneamente treinadores e técnicos de arbitragem, outros há que são no mesmo tempo e no mesmo espaço treinadores, árbitros e dirigentes; a terceira refere-se ao facto da maioria dos praticantes de Karaté, e até alguns dirigentes ou outros agentes desportivos, desconhecerem a legislação que rege a nossa modalidade e, embora isso são seja desculpabilizante, infringirem constantemente a mesma (e de que nos serve ter legislação quando os factos não são fiscalizados e a mesma não é cumprida?); a quarta relacionada com os escassos recursos administrativos da Federação e com a excessiva centralização dos mesmos; a quinta com a aplicação das verbas de cada rubrica nos eventos dessas mesmas rubricas e não como, por exemplo, serem aqueles que pagam os seus cursos de formação a suportarem as deslocações das selecções nacionais lá fora enquanto árbitros e formadores continuam à espera das suas remunerações.
Questões de uma ou numa actividade onde muitos não são profissionais mas que deveriam encarar a mesma com profissionalismo, questões inerentes a uma modalidade onde cada um deveria ser exigente consigo próprio.
A evolução da modalidade depende do que a grande maioria pretender: de imposições federativas com mão férrea numa democracia (que existe, segundo se consta) ou com o envolvimento de todos – e sem envolvimento não há desenvolvimento – num estado de direito (que nos dizem existir). O progresso da modalidade presume-se num estado crítico: o estado a que isto chegou!...
E por que não carreiras diferenciadas e um quadro competitivo (com separação entre «julgar» e «formar») em que os árbitros não sejam treinadores e vice-versa?
E por que não campeonatos regionais de crianças e jovens onde alguns não tenham de fazer 600 quilómetros para só apresentarem uma kata ou fazerem um kumite e regressarem a casa? E porque não repescar também os que chegam à meia-final de cada poule – só os que perdem com os finalistas possuem esse direito?
E por que não os centros de prática como associados ordinários em vez das associações de estilo? Ou o recurso a associações regionais?
Verificamos que a projecção para o exterior é um facto, como o justificam os últimos resultados positivos alcançados, mas em detrimento da organização interior.
O exemplo do actual modelo representativo e organizativo
Considerando que o praticante e/ou o competidor são o cerne de todo este processo, situando-se o treinador como charneira central do mesmo, o que acontece no modelo actual?
O sócio ordinário da federação continua a ser a associação, a qual pode ter 10 locais de treino, ou 10 centros de prática (dojos), com 20 praticantes, por hipótese, em cada um. Isto traduz-se numa quotização de 500€ anuais, mais 1000€ da inscrição dos praticantes (para além das eventuais inscrições anuais dos treinadores). Ora, recebe mais a federação pelos praticantes do que pela existência de uma associação. Isto deve-se ao trabalho realizado pelo treinador – a figura central neste processo: sem treinador não há praticantes, logo, sem treinador não há federação. Mas muitas associações só estarão representadas num Conselho Geral (que só tem funções consultivas e é dirigido pelo Presidente da Federação) onde normalmente é o presidente da direcção da associação que vota (não questionamos se consultou ou não os seus associados), mesmo que os 10 treinadores possam ter uma tendência de voto contrária. E será deste Conselho Geral que sairão os delegados à Assembleia-Geral – verificamos que sonhamos o futuro com base no modelo antigo... mas ai de quem sonha o futuro, de olhos fitos no passado, como exclamou Casais Monteiro.
Continuará a ser um modelo em que muita da informação veiculada para as associações (algumas, felizmente!) não chegará sequer aos principais intervenientes no processo formativo – os treinadores – pois continuará a ficar retida ou só na posse dos receptores dos e-mails. Continuará a ser um modelo em que muitas associações não conseguirão fazer ouvir a sua voz.
O Decreto-Lei n.º 248-B/2008, de 31 de Dezembro, publicado no D.R. n.º 252, 3.º Suplemento, Série I de 2008-12-31, impõe-nos não só um novo modelo representativo, mas também um novo modelo organizativo.
A representação nas Assembleias-Gerais passará a ser feita por delegados que representam uma única entidade e só com um voto, deixará de haver votos por procuração ou por correspondência e estas serão constituídas por 53 elementos elementos, onde estarão representadas 37 organizações (associações, clubes, dojos?) 8 representantes dos praticantes, 4 representantes dos árbitros e 4 representantes dos treinadores. Em relação a estes últimos, temos uma associação de classe de treinadores e uma outra de técnicos de arbitragem, mas há que definir quem serão e quem representarão estes restantes 16 delegados... será função do Conselho Geral, mas que o serão através de um regime de votação semelhante (pelas associações) – temos aqui um ciclo dialógico, em que a causa dá origem ao efeito e este exerce uma retroacção sobre a mesma, em que, afinal, o produto se torna produtor.
Mas também o novo modelo nos empurra para uma regionalização, pois estão há muito definidas as áreas geográficas em que decorrem os campeonatos regionais. O número 1 do artigo 31º do referido Decreto-Lei especifica que os clubes participantes em quadros competitivos de âmbito territorial específico se agrupam em associações de clubes organizadas de acordo com a área geográfica em que decorram as respectivas competições.
O que mais uma vez vem reforçar a ideia que de facto os associados da Federação deveriam ser os centros de prática... e a representação nas Assembleias-Gerais ser feita através das associações regionais (e temos seis regiões) e dos dojos com maior número de atletas. Seria um modelo com uma maior representatividade, mais benéfico economicamente para a Federação e mais económico para os dojos e para as associações. Ficou esta regionalização para “um futuro melhor”. Nesse sentido apresentei em devido tempo à Direcção um projecto de estatutos baseado nestas directrizes... mas caiu em saco roto, pois apesar de me ter sido prometido que seria apresentado à SEDJ para parecer nem isso foi. Também em Fevereiro de 2008 apresentei um novo projecto de regulamento de formação de treinadores, o qual também ficou na gaveta...
Por que trazer aqui estes assuntos? Porque temos de os encarar de frente e por muito que desagrade este modelo a alguns, recordo-me de Camões quando dizia: Já me desenganei que de queixar-me / Não se alcança remédio; mas quem pena / Forçado lhe é gritar, se a dor é grande. / Gritarei; mas é débil e pequena / A voz pera poder desabafar-me.
Mas será de realçar que este novo modelo nos responsabiliza mais ao tornar-nos mais intervenientes e participativos, o que significa que nos terá de tornar mais críticos no sentido positivo.
Não adiemos o futuro
As críticas – e todos somos criticáveis – podem ser provenientes de todos os quadrantes da sociedade e devem ser sempre bem-vindas, tal como as sugestões ou os apoios, desde que fundamentadas e alicerçadas em argumentos palpáveis. Pelo menos, sempre as encarei assim...
Mas verificamos que normalmente as críticas surgem com o sentido de rebaixar ou até mesmo de humilhar e de destruir, sendo curioso que normalmente são provenientes de pessoas que revelam nas mesmas nem sequer terem conhecimento de causa sobre o que estão a falar...
Por duas vezes apresentei participações disciplinares à Direcção na pessoa do Sr. Presidente. Uma sobre utilização ilegal do logótipo e outra sobre a actuação de um competidor num campeonato... nenhuma delas chegou ao Conselho de Disciplina!
Utiliza-se ilegalmente o logótipo da FNK-P, critica-se a Federação (quando o que se pretende é criticar a Direcção), acusa-se o Presidente, fala-se mal da arbitragem, criticam--se as organizações, criticam-se os treinadores, criticam-se os atletas (até se criticam certos eventos antes deles se desenrolarem!!)… Mas recorrendo a Sidónio Muralha, acuso as falas e os gestos inúteis; aponto as ruas tristes da cidade e crivo de bocejos as meninas fúteis....
Agendam-se actividades associativas sobre – coincidentes com – eventos marcados no calendário de actividades da Federação quando estas deveriam ser precedidas de parecer emitido pela Federação – basta consultar o Artigo 32º da LBAFD.
Havia e há (continuam a haver!) campeonatos nacionais de todas as associações e selecções nacionais de todos os estilos sem se cumprir o estipulado nos artigos 16º da LBAFD e 61º do RJFD.
Mas o pior de tudo isto é fecharmos os olhos a tudo isto!
O pior de tudo isto (as tais incompatibilidades) é que não poderá haver membros dos órgão gerentes que possam continuar a ser treinadores ou treinadores que possam continuar a ser membros dos órgãos gerentes... tal como membros do Conselho de Arbitragem que não poderão arbitrar...
E quanto às incompatibilidades, se para se ser Director tem de se deixar de ser Treinador (logo a não poder usufruir das receitas do seu trabalho no campo do ensino e do treino) terá a Federação capacidade para remunerar os seus Directores? Parece-me que sim, pois com cerca de 70 associações e 15.000 praticantes a pagarem e se a Federação tem capacidade para pagar uma avença mensal a um advogado que pouco tem que fazer durante o ano, mais capacidade terá para pagar aos que dedicam um grande número de horas a trabalhar em prol do Karaté. Mas não o fará, porque pagar a estes será não ter verbas para outras coisas, tais como despesas de representação...
E todos os que discordam disto e daquilo, algo do qual está regulamentado, por que não o debateram nas suas associações e nunca propuseram a alteração desses regulamentos em Assembleia-Geral? Perderam a oportunidade, pois a partir de agora será a Direcção a elaborar os diferentes regulamentos... e vá-se lá depois arranjar 20% dos delegados para que estes possam baixar à Assembleia-Geral!
E precisamente por se presumir um estado crítico da modalidade, encontramo-nos num momento de rotura em que aqueles que possuem um desempenho declarativo em dissonância com o seu desempenho processual vão-se auto-excluir, eles próprios, do progresso evolutivo do Karaté.
Restarão aqueles com vontade e com força de abraçarem um novo modelo de gestão, aqueles que estiverem abertos à colaboração, à cooperação e ao contributo, ao empenho e ao desempenho. Esses, construirão o futuro...
Nas palavras de Casimiro de Brito, adiemos o fruto para outro planeta, mas não o neguemos (...) Adiemos o planeta para outro fruto, mas não o neguemos. Nas minhas palavras, não adiemos o futuro nem o neguemos!
Uma reflexão e dois agradecimentos
Ao assumir o Departamento de Formação, em Julho de 2007, deparei-me com o atraso dos resultados de quatro cursos de treinadores. Dois anos de avaliações por efectuar foram solucionados em quatro meses, ao mesmo tempo que pela primeira vez foi apresentado um Programa de Formação e robustecida uma bolsa de formadores, todos com competências pedagógicas, científicas e técnicas. Factos que se devem ao ter-se de imediato elaborado um plano de desenvolvimento estratégico para o Departamento de Formação.
Mais de duas dezenas de formadores permitiram levar a cabo esse programa, tendo sido somente feito um reparo ao Director do Departamento: o de estar a tentar elevar demasiado o nível da formação!
É a esses Formadores que desejo manifestar o meu primeiro agradecimento, pela colaboração e pelo sacrifício, pelo empenhamento e pela partilha, com o orgulho de termos aumentado e consolidado o nosso grupo – e recordo-me aqui da inclusão dos formadores dos Açores na nossa bolsa, região onde, pela primeira vez se realizou um Curso de Treinador Monitor e um Curso de Treinador de Nível I.
Uma nota especial para o modo como fui recebido nos Açores e na Madeira, mas também em Beja, em Viseu, em Santo Tirso e na Guarda.
Pela primeira vez também, e após quase 17 anos consegui reunir os Treinadores de Karaté em Congresso. Quem esteve presente avaliou o mesmo: a sua organização, as instalações, o nível, a importância e o interesse das intervenções, a qualidade dos intervenientes... Fez-se história e lançaram-se as sementes... Os meus agradecimentos também a todos os que tornaram esse Congresso possível. Haja coragem e avance-se para o 2º Congresso Nacional de Treinadores de Karaté.
Durante estes dois anos foram aproximadamente 1200 horas de formação, abrangendo cerca de 560 formandos, em mais de três dezenas acções de formação (umas técnicas, outras pedagógico-didácticas) e uma dúzia de cursos de treinadores – mostrámos que havia a possibilidade de se levar a cabo em conjunto um TM e um TNI, assim como um TM, um TNII e um TNIII.
Transpiração, inspiração e inovação levaram-me a realizar o inimaginável. Foram editados dois livros relevantes para a modalidade: “Da ética desportiva às perversidades no desporto” e “Karaté: entre a tradição e a modernidade”. Dois livros com conteúdo e com qualidade... Quantas federações estarão neste patamar? Haja coragem e avance-se para uma nova publicação.
Poder-se-ia ter feito melhor? Penso que sim, mas os meios e os condicionalismos a isso não me deixaram.
O meu segundo agradecimento vai precisamente para aqueles que aderiram a estas iniciativas, que nelas participaram e que connosco permutaram ideias e conhecimentos, actualizando aquelas e complementando estes, lutando contra uma reprodução e uma entropia, combatendo fundamentalismos curriculares baseados numa visão unilateral, a da técnica e a da graduação em detrimento da científica e da pedagógica, quando as duas deveriam andar de mãos dadas, pois levando em conta António Aleixo, sem darem as mãos, o que uma faz a outra atrofia – a tal luta renhida, sem nada de educativa. E foi exactamente no âmbito educativo e formativo que procurei passar uma mensagem e me cansei de dizer que antes do praticante ou do competidor vem o homem, tal como me cansei de dizer que competição não é sinónimo de guerra nem adversário de inimigo.
Mas tal como nos deixou Fernando Pessoa na sua Mensagem, ninguém sabe que coisa quer. Ninguém conhece que alma tem, nem o que é mal, nem o que é bem. (Que ânsia distante perto chora?) Tudo é incerto e derradeiro. Tudo é disperso, nada é inteiro. Ó Portugal, hoje és nevoeiro… Ou se parafrasearmos o génio, Ó Karaté, hoje és nevoeiro…
Era esta reflexão que convosco queria partilhar, até porque, como nos disse Piaget, a reflexão é “uma conduta social de discussão, mas interiorizada”.
A todos que duma ou doutra maneira comigo se cruzaram nestes dois anos desejo também agradecer os bons momentos que passámos, mas também os momentos menos felizes porque conseguimos e soubemos ultrapassá-los.
Mas também os meus pedidos de desculpa por algo que não tenha corrido da melhor forma.
Uma certeza, ou duas, para finalizar
Termino com a certeza de que todos aqueles que quase diariamente envergam um gi e todos os dirigentes e restantes agentes desportivos envolvidos no Karaté com vontade de fazer progredir a modalidade levarão a nau a bom porto – e nele bem atracarão. Bastará partilharem e compartilharem em vez de se oporem ou se imporem...
Mas será necessário que não aconteça o que aconteceu até aqui: a quebra de laços de solidariedade entre o Presidente e os membros (ou o membro) da Direcção.
Quando deliberámos em reunião de Direcção que determinado atleta não participaria no Nacional por não ter ido aos regionais por lesão e tal não estar regulamentado, à revelia da Direcção o Presidente resolveu o contrário...
Para o 10º CTNI (Almada), 11º CTNI (St.º Tirso) e 2º CTNII (Carcavelos e Barreiro) foram aceites pelo Presidente inscrições de formandos que não possuíam os créditos necessários para frequentar esses cursos, o que é completamente ilegal de acordo com o Regulamento de Formação de Treinadores, sem o Director do Departamento de Formação de tal ter conhecimento dado as inscrições nos mesmos não serem da sua responsabilidade. Aconteceu isto por quê? Porque o serviço administrativo tem de ser feito pelo Director? Não são os Directores que têm de fazer o trabalho de secretaria. Os Directores “dirigem” por natureza própria... e se uma funcionária não dá vazão aos serviços, profissionalize-se a secretaria! Desde Janeiro que digo para se admitir mais um funcionário... o que até pode ser feito a custo zero... E quantos atletas participaram nos campeonatos sem estarem inscritos na própria Federação? E quantos Treinadores não renovaram as suas inscrições mas participam nas actividades? Falta de controlo? Falta de meios humanos?
Não há diplomas com o novo logótipo? Não estão as cadernetas de treinador actualizadas? Não há diplomas dos cursos de treinadores e de árbitros? O pessoal administrativo é insuficiente? O que se tem feito sobre isto? São muitas perguntas sem resposta!
Tal como mais algumas questões que este ex-membro da Direcção colocou e para as quais nunca obteve resposta. Também termino com a certeza que já não necessito de tais respostas, mas as questões colocadas desde Janeiro do corrente ano aqui ficam para a posteridade.
Qual o apoio que a FNK-P vai dar em relação ao “acordo celebrado entre os organizadores do Campeonato e o Presidente da FNK-P” referente ao anunciado na internet sobre o 1º Campeonato Mundial de Goju-Ryu, a realizar-se em Cascais, de 29 de Setembro a 3 de Outubro, (sendo utilizado o logótipo da FNK-P)?
Qual a receita do 1º Congresso Nacional de Treinadores de Karaté, realizado em Janeiro de 2009 na FMH e qual a receita do 20º CTM realizado na Tapada das Mercês?
O que foi feito do meu pedido de a instauração de um processo de averiguações ao caso “Vítor Silva – Bushido”? O que aconteceu ao pedido que o Director do Departamento de Formação fez ao Presidente solicitando um parecer por escrito ao Dr. Almeida Fernandes sobre o mesmo caso?
O que foram as Jornadas do Conhecimento Desportivo?
Como apoiou a FNK-P o Torneio Manuel Sousa? Tal torneio não constava no calendário federativo mas até o Presidente da FMK cá veio!
Como foram a Itália de 14 a 21 de Junho de 2008 Joaquim Gonçalves e Rui Diz? Se foram participar num projecto relacionado com a formação, porque não foi dele dado conhecimento à Direcção ou ao Departamento de Formação?
Com tanta ida lá fora “a expensas próprias”, como é que o Tesoureiro não sabe quantas pessoas foram a Tóquio, a Paris ou a Zagreb, não sabe quantos dias, não sabe quantos almoços, jantares e dormidas se pagaram, pois só sabe quanto se pagou?
Segundo o relatório e contas, como é que em 2008 o Tesoureiro consegue ter a receber mais do que qualquer formador?
E como é que esse relatório e contas é apresentado a uma Assembleia-Geral sem ser aprovado em reunião de Direcção e com as assinaturas dos Directores fotocopiadas do relatório do ano anterior?
E com que periodicidade reúne a Direcção? A última reunião de Direcção efectuou-se a 12 de Setembro (sem eu ter estado presente, pois foi convocada após se saber que nessa data eu iria estar nos Açores a fazer formação) e hoje já são…
Como é que um curso de formação de treinadores projectado para Carcavelos (no próximo fim de semana) passa de repente para Ermesinde?
Como Director do Departamento de Formação solicitei ao Presidente da FNK-P uma listagem nominal dos formadores e das respectivas quantias que eram devidas a cada um; como Director solicitei ao Presidente da FNK-P uma listagem nominal dos técnicos de arbitragem e das respectivas quantias que eram devidas a cada um. Porque não obtive respostas?
Por último, o Artigo 8.º do Decreto-Lei n.º 248-B/2008 de 31 de Dezembro, no seu ponto 1 alínea b) diz que as federações desportivas devem publicitar as suas decisões através da disponibilização na respectiva página da Internet de todos os dados relevantes e actualizados relativos à sua actividade, em especial as decisões integrais dos órgãos disciplinares ou jurisdicionais e a respectiva fundamentação (embora observado o regime legal de protecção de dados pessoais). Basta irmos à página da net...
Mas como é possível termos neste momento dois treinadores suspensos e continuar a participar nas actividades da FNK-P? Apresentaram recurso para o Conselho Jurisdicional, alegam eles, mas apresentaram-nos-o a quem? Ao Sr. Presidente? Então não deveriam ter seguido os órgãos hierárquicos e apresentá-lom ao Conselho de Disciplina? Ou não deveria o Sr. Presidente ao ter recebido esses recursos enviá-los de imediato ao Conselho de Disciplina para este os remeter ao Conselho Jurisdicional?
Mas não resisto a uma última pergunta: será possível agradar a gregos e troianos?
Se felizmente já não necessito de obter respostas... basta-me compreender as perguntas.
E resta-me a consolação de não ter gasto dinheiro à FNK-P, nem por ir oficialmente nem por ir a expensas próprias a Triestre, a Zagreb, a Paris, a Tóquio ou a Marrocos.
Para alguns que me criticaram como estando ao lado do sistema, aqui fica o meu comprovativo!
No momento em que pela primeira vez foi defendida no ISEIT uma tese de licenciatura sobre novas metodologias de treino no Karaté, no momento em que pela primeira vez um estagiário da FMH escolhe para fazer do Karaté a modalidade para realizar o seu estágio, a nossa modalidade merecia ser tratada (pelos seus próprios dirigentes) de outro modo a nível nacional – com mais e maior empenhamento, mais responsabilidade, mais competência e mais profissionalismo.
Dizia atrás que terminava com uma certeza. Termino com outra certeza: o progresso da modalidade depende de como se vier a modificar o estado a que isto chegou!...
Mas também termino com a mesma certeza de Sidónio Muralha: não nos responde o céu cinzento e opaco, nem o sorriso de pedra e impenetrável dos nichos... – só nós sabemos porque vivemos num buraco, encurralados como bichos.
De facto, só nós sabemos porque vivemos num buraco, encurralados como bichos.
Só nós sabemos... ...
Armando Inocentes