domingo, 21 de setembro de 2014

Valerá a pena?

...
As mais altas instâncias internacionais desdobram-se em contactos, em reuniões... quando 70% dos japoneses preferem ver o basebol ou o softbol em Tóquio 2020! Após algumas derrotas em que só o kumite faria parte do programa, volta-se à carga...
Mas valerá a pena o Karate fazer parte do programa dos Jogos Olímpicos? Quais são os prós e os contras? A quem interessa? Talvez perguntas a mais... e respostas a menos!!!


Respingo aqui algo já escrito há muito:

"(...) o fair-play, a paz e a união entre os povos, a participação pela participação e o menosprezo pela vitória não são os ideais do olimpismo. O doping, a violência, a corrupção e a intromissão da política nos mesmos a essa conclusão nos fazem chegar. E nem sequer o recorde é um dos objectivos olímpicos: caso fosse, o mergulho em apneia constaria do seu programa – o italiano Umberto Pelizari com 118 metros em 1991, posteriormente o cubano Francisco Ferreras com 133 metros e o francês Loic Leferme (o qual viria a morrer durante um treino em 2007) com 171 metros em 2004 –, mas em que espaço e como apresentar a um grande número de espectadores este evento?
Sem direitos televisivos e sem publicidade o olimpismo já teria deixado de existir há muito. O râguebi de sete e o golfe caminham para os JO a passos largos. O facto do hóquei em patins e do karate-dō, modalidades muito divulgadas e com grande número de praticantes, não serem modalidades presentes nos JO dado as suas regras «não serem facilmente perceptíveis pelo grande público» (ou talvez por não encherem estádios) levam-nos a concluir que a grande motivação olímpica é o espectáculo que faz render dinheiro. E não esteve já a esgrima para sair do seu programa?"

terça-feira, 9 de setembro de 2014

On Ko Chi Shin [温故知新]

...

On Ko Chi Shin [温故知新] é um antigo provérbio japonês que, traduzido, significa "estudar o velho para compreender o novo... ou "aprende o velho, comprende o novo". Mas tal como "a cara é o espelho da alma", "quem vê caras não vê corações"... ou ainda se "saber esperar é uma virtude", "quem espera desespera"...

Isto a propósito de muitas vezes ser difícil estudar o velho... Por vezes não há fontes, outras vezes as fontes que existem não são fidedignas, outras ainda porque só temos acesso a conhecimentos que foram sendo transmitidos oralmente (e "quem conta um conto acrescenta um ponto"), ou então porque chegam até nós relatos que foram sendo deturpados ao longo dos tempos e nem disso nos apercebemos.

Estudar algo relacionado com o Karate-dō por volta de 1920, ou nas duas décadas seguintes, é assim um risco. Tanto do ponto de vista da sua história como da sua própria prática... pelo que parece que afinal talvez seja mais produtivo estudarmos o atual para compreendermos o novo...

Até porque nos tem sido vendido muito daquilo a que se tem acrescentado não um ponto, mas muitos pontos! Mas só compra quem quer...

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Ver ou não ver... eis a questão!

...
"Today I visited the home of Zenshu Toyama, hanshi 10th dan.
Almost 79 years young, he's the last active student of Chojun Miyagi (founder of Goju-ryu), most senior Goju-ryu master in the world and titled 'Intangible Cultural Asset Holder' by the Okinawan prefecture." (KARATEbyJesse). 

Em Portugal estamos habituados a referir que este foi aluno daquele que por sua vez foi aluno do outro... e aceitar o que se diz como dado adquirido. Pelos vistos lá fora acontece o mesmo... Parece ser (haver) de facto uma necessidade ser o último aluno vivo de Miyiagi Sensei...

Com todo o respeito pelos Mestres a seguir  citados, vamos analisar datas de nascimento... Koshin Iha: 1925 (falecido em janeiro de 2012); Shūichi Aragaki: 1928; Kiichi Nakamoto: 1931;  Zenshū Toyama: 1936 ou 1937...

Koshin Iha começou a treinar com Chōjun Miyagi em 1936 – tinha 14 anos.

Shūichi Aragaki começou a treinar com Chōjun Miyagi em 1951 – tinha 23 anos.

Em relação a Kiichi Nakamoto e Zenshū Toyama, não conseguimos apurar em que data começaram a treinar com Chōjun Miyagi...

Sabemos que Chōjun Miyagi faleceu em 1953 – enquanto Koshin Iha treinou durante 17 anos, Shūichi Aragaki treinou durante 2 anos…

Com que assiduidade treinaram, com que dedicação, com que “ninju giri”, com que espírito de “seguimento” de Chōjun Miyagi, o que este lhes transmitiu e o que aprenderam com ele é o que determina “ser ou não ser” seu aluno…

Por outro lado, a história não se faz de entrevistas na primeira pessoa. "No que se refere às relações passadas, falando do passado é mais fácil fazer distinções entre aquilo que a qualquer título se pode considerar uma verdade científica e aquilo que pode ser uma aspiração ou um desejo pessoal. Quanto ao presente, e com maioria de razão quanto ao futuro, é muito mais difícil distinguir entre uma verdade que se diz objectiva e os seus próprios desejos." (1)

(1) - Jacques Le Goff, 1986, "Reflexões Sobre a História", Lisboa, Edições 70.


Algumas pessoas só vêem o que conseguem ver. (Foto de The Rainforest Site)