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O meu Karatedō nunca será como o teu, o teu Karatedō nunca será como o meu.
Nunca suarás o teu karategi como eu suei o meu, nem o meu ficará alguma vez tão suado quanto o teu.
A tua kata nunca será igual à minha, nem a minha kata será alguma vez parecida com a tua.
Os meus ippon poderão ser parecidos com os teus, mas os teus ippon serão diferentes dos meus.
A minha Arte não se assemelhará ao teu Desporto, a tua Arte não será nunca comparável com o meu Desporto.
(Abro aqui um parêntesis: Alain de Botton diz que "a arte pode ser muito utilmente definida como uma disciplina dedicada a tentar poderosamente introduzir conceitos na cabeça das pessoas".)
Nunca a minha técnica superará a tua nem a tua será mais eficaz do que a minha.
Executarás bunkai superiores e mais perfeitas que as minhas, mas eu também executarei bunkai que deixarão as tuas para trás.
Aprendi contigo e tu aprendeste comigo, mas coloca sempre dúvidas naquilo que te ensinei. Podes ter a certeza que duvido de tudo aquilo que me transmitiste...
Treinámos juntos. Quando me empurraste eu agarrei-te e puxei-te... Quando te empurrei tu agarraste-me e puxaste-me... quando ataquei defendeste e contra-atacaste, quando me atacaste eu defendi-me e contra-ataquei... foste superior a mim e eu fui superior a ti!
Venceste-me no kumite e eu venci-te no kumite.
Porque umas vezes te mascaraste e outras vezes mascarei-me eu... mas fomos sempre nós, porque como diz o povo, "o que o berço não dá, Coimbra não acrescenta"!
Nunca te deixaste comprar nem nunca te vendeste, por mim nunca me vendi nem nunca me deixei comprar. Mas nisso, somos diferentes!
Sim, somos diferentes! Como dizia Camões, "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a confiança..." Sim Camões tinha razão: "o mundo é feito de mudanças, tomando sempre novas qualidades". Umas boas, outras más, umas melhores, outras piores, mas dependendo sempre de uma certa subjectividade e de um certo ponto de vista!
Sim, porque umas pessoas são redondas, outras quadradas, umas morrem de pé, outras morrem sentadas!!!
sábado, 23 de abril de 2016
quarta-feira, 13 de abril de 2016
Da arbitragem... e dos erros de decisão dos árbitros
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"A iminente entrada em campo do vídeo-árbitro é uma revolução que, em teoria, irá servir para auxiliar o árbitro, mas, na realidade, acabará por os passar para segundo plano e lhes reduzir o poder e a discricionaridade. É isso que os desconforta e assusta. Agora, a medir a competência dos juízes é a moviola: quantas vezes menos esta os desmentir em campo, melhor nota eles terão. A sacralidade do golpe-de-vista do árbitro vai perder-se para sempre. Até aqui, ele via, sancionava e essa era a única lei vigente, a única e definitiva verdade. Ponto final. Em breve vai chegar o dia em que serão obrigados a confrontar a sua verdade com a verdade da máquina. Não só perderão o manto diáfano da isenção como ficarão sujeitos a um obrigatório processo de humanização."*
Válido para o futebol e válido para uma modalidade que tem plasmado no seu Art.º 24º do Regulamento de Provas, no ponto 2, o seguinte:
«Os protestos relacionados com a arbitragem só poderão incidir sobre os erros administrativos desta e não sobre a decisão dos membros do painel de arbitragem (de acordo com o artigo 11º das regras de arbitragem).»
*Manuel Martins de Sá, "A humanização dos árbitros", «A Bola», 12.04.2016, p. 28.
NOTA: a propósito do vídeo "Erro arbitral campeonato nacional de Karate" (clicar aqui para ver o vídeo).
domingo, 10 de abril de 2016
Formação de professores, de treinadores e de agricultores
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Senhores TREINADORES:
Todos os agricultores que compram, manuseiam ou aplicam pesticidas têm de obter uma licença, que passou a ser obrigatória a partir do dia 26 de Novembro de 2015. Para obterem essa licença têm de frequentar uma formação a ser paga do seu próprio bolso (não consegui apurar se a licença também será paga!).
Quem não tiver a referida licença arrisca-se a pagar uma multa de 500 euros se manusear pesticidas nas suas culturas. A acção de formação que capacita os agricultores para usarem aqueles produtos tem uma duração de 50 horas. Nos últimos três anos, enquanto não foi obrigatória, realizaram-se formações grátis. Agora paga-se!
ESTÃO A VER O MODELO?
Transcreve-se agora a coluna do Prof. David Rodrigues publicada a 9 do corrente no jornal «Público» e intitulada "O mito da formação de professores", aparecendo como subtítulo a frase "Não são os professores os únicos agentes de modificação dos sistemas educativos":
Antes de mais, devo fazer um registo de interesses: a grande maioria da minha vida profissional foi a dinamizar, realizar e investigar sobre a importância da formação de professores. Não sou um arrependido, mas pretendo, tão- -só, com esta reflexão, partilhar algumas ideias que penso que aprendi com este interesse e prática que exerço há muitas dezenas de anos.
Não é razoável pôr em causa a importância da formação de professores. A escola é a porta da entrada de culturas novas, de formas de ver e de ler o mundo muito distintas. É uma importante porta de entrada da inovação porque, por esta porta, entram serem humanos que, apesar de jovens, são já portadores de formas próprias de ver o mundo e são atores particularmente porosos e permeáveis ao mundo que os rodeia. Uma escola que tem permanentemente aberta a porta para esta juventude não pode ser conservadora. E aqui um primeiro argumento: precisamos de formação de professores para que eles lidem (gosto deste verbo dinâmico “lidar”) com pessoas que querem aprender, que querem desenvolver-se, mas de forma diferente do que as gerações anteriores o fizeram. Os professores, sem este acompanhamento formativo, ficariam certamente mais pobres na sua reflexão, nos seus valores e mesmo no seu trabalho pedagógico. Poder-se-ia perguntar qual a classe profissional que no momento atual pode passar sem ter uma proximidade com momentos de desenvolvimento profissional?
A formação de professores — e agora refiro-me sobretudo à formação que é feita “em serviço”, isto é, quando os professores já se encontram em exercício profissional — é, pois, uma condição indispensável para que possam ter espaço para repensar e melhorar os seus valores e as suas práticas.
O reconhecimento da imprescindível importância da formação de professores tem, no entanto, conduzido a exageros que, de tanto incensar a formação, acabam por a tornar inatingível. Quando são equacionadas as mudanças que são necessárias no sistema educativo, logo à cabeça aparece a formação de professores. Ora, este realce, que parece benigno e positivo, pode afinal não ser tão benigno e consensual como originalmente se apresenta. Por três razões principais:
Em primeiro lugar considerar que a formação de professores é a alavanca fundamental da inovação coloca o ónus do conservadorismo nos professores: tudo estaria melhor, se os professores fossem mais bem formados. Todos os outros fatores que constituem uma intrincada e sólida rede de interesses que afeta a Educação (legislação, organização das escolas, currículos, encarregados de educação, famílias, comunidades, etc.), todos estes fatores são relegados para um segundo plano. Escolher a formação de professores como o elemento fundamental de mudança conduz à desvalorização de outros fatores que são, pelo menos, tão importantes quanto a formação. Este pensamento convida ainda a pensar que os professores (isto é, a sua falta de formação) são o verdadeiro problema da Educação. É inevitável citar em abono desta perspetiva o recente estudo publicado pelo Conselho Nacional de Educação sobre a dimensão das turmas e em que se sugere que a dimensão da turma pode ou não ser um problema em função da atuação do professor. Aqui temos, de novo, a ideia de que o professor e a sua formação são por si mesmo capazes de reverter fatores educativos adversos.
Uma segunda reflexão chama-nos a atenção para a insuficiência da formação de professores, se não forem criados contextos em que essa formação possa florescer e tornar-se útil. Um exemplo: já tive alunos de cursos de formação de professores que se mostraram brilhantes não só ao nível dos conhecimentos, mas também de uma perspetiva lúcida e clara do que é a sua missão na escola. Já aconteceu que, tendo encontrado estes alunos algum tempo depois de terem iniciado a sua prática profissional, fico muito dececionado com o conformismo e conservadorismo que eles evidenciam. A formação de que estes professores usufruíram esvaiu-se em ambientes escolares tradicionais, hierárquicos e temerosos de fazer algo que não seja “apropriado”. Assim, a formação de professores é um pobre e frágil argumento de mudança em estruturas escolares poderosas e conservadoras.
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