domingo, 10 de abril de 2016

Formação de professores, de treinadores e de agricultores

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Senhores TREINADORES:

Todos os agricultores que compram, manuseiam ou aplicam pesticidas têm de obter uma licença, que passou a ser obrigatória a partir do dia 26 de Novembro de 2015. Para obterem essa licença têm de frequentar uma formação a ser paga do seu próprio bolso (não consegui apurar se a licença também será paga!).

Quem não tiver a referida licença arrisca-se a pagar uma multa de 500 euros se manusear pesticidas nas suas culturas. A acção de formação que capacita os agricultores para usarem aqueles produtos tem uma duração de 50 horas. Nos últimos três anos, enquanto não foi obrigatória, realizaram-se formações grátis. Agora paga-se!


ESTÃO A VER O MODELO?

Transcreve-se agora a coluna do Prof. David Rodrigues publicada a 9 do corrente no jornal «Público» e intitulada "O mito da formação de professores", aparecendo como subtítulo a frase "Não são os professores os únicos agentes de modificação dos sistemas educativos":



Antes de mais, devo fazer um registo de interesses: a grande maioria da minha vida profissional foi a dinamizar, realizar e investigar sobre a importância da formação de professores.  Não sou um arrependido, mas pretendo, tão- -só, com esta reflexão, partilhar algumas ideias que penso que aprendi com este interesse e prática que exerço há muitas dezenas de anos.
Não é razoável pôr em causa a importância da formação de professores. A escola é a porta da entrada de culturas novas, de formas de ver e de ler o mundo muito distintas.  É uma importante porta de entrada da inovação porque, por esta porta, entram serem humanos que, apesar de jovens, são já portadores de formas próprias de ver o mundo e são atores particularmente porosos e permeáveis ao mundo que os rodeia.  Uma escola que tem permanentemente aberta a porta para esta juventude não pode ser conservadora. E aqui um primeiro argumento: precisamos de formação de professores para que eles lidem (gosto deste verbo dinâmico “lidar”) com pessoas que querem aprender, que querem desenvolver-se, mas de forma diferente do que as gerações anteriores o fizeram.  Os professores, sem este acompanhamento formativo, ficariam certamente mais pobres na sua reflexão, nos seus valores e mesmo no seu trabalho pedagógico. Poder-se-ia perguntar qual a classe profissional que no momento atual pode passar sem ter uma proximidade com momentos de desenvolvimento profissional? 
A formação de professores — e agora refiro-me sobretudo à formação que é feita “em serviço”, isto é, quando os professores já se encontram em exercício profissional — é, pois, uma condição indispensável para que possam ter espaço para repensar e melhorar os seus valores e as suas práticas.
O reconhecimento da imprescindível importância da formação de professores tem, no entanto, conduzido a exageros que, de tanto incensar a formação, acabam por a tornar inatingível.  Quando são equacionadas as mudanças que são necessárias no sistema educativo, logo à cabeça aparece a formação de professores. Ora, este realce, que parece benigno e positivo, pode afinal não ser tão benigno e consensual como originalmente se apresenta. Por três razões principais:
Em primeiro lugar considerar que a formação de professores é a alavanca fundamental da inovação coloca o ónus do conservadorismo nos professores: tudo estaria melhor, se os professores fossem mais bem formados.  Todos os outros fatores que constituem uma intrincada e sólida rede de interesses que afeta a Educação (legislação, organização das escolas, currículos, encarregados de educação, famílias, comunidades, etc.),  todos estes fatores são relegados para um segundo plano.  Escolher a formação de professores como o elemento fundamental de mudança conduz à desvalorização de outros fatores que são, pelo menos, tão importantes quanto a formação. Este pensamento convida ainda a pensar que os professores (isto é, a sua falta de formação) são o verdadeiro problema da Educação.  É inevitável citar em abono desta perspetiva o recente estudo publicado pelo Conselho Nacional de Educação sobre a dimensão das turmas e em que se sugere que a dimensão da turma pode ou não ser um problema em função da atuação do professor. Aqui temos, de novo, a ideia de que o professor e a sua formação são por si mesmo capazes de reverter fatores educativos adversos.
Uma segunda reflexão chama-nos a atenção para a insuficiência da formação de professores, se não forem criados contextos em que essa formação possa florescer e tornar-se útil.  Um exemplo: já tive alunos de cursos de formação de professores que se mostraram brilhantes não só ao nível dos conhecimentos, mas também de uma perspetiva lúcida e clara do que é a sua missão na escola.  Já aconteceu que, tendo encontrado estes alunos algum tempo depois de terem iniciado a sua prática profissional, fico muito dececionado com o conformismo e conservadorismo que eles evidenciam.  A formação de que estes professores usufruíram esvaiu-se em ambientes escolares tradicionais, hierárquicos e temerosos de fazer algo que não seja “apropriado”. Assim, a formação de professores é um pobre e frágil argumento de mudança em estruturas escolares poderosas e conservadoras.


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