Karate-Do: o caminho das mãos vazias...
Que mãos? Com mãos se faz a paz se faz a guerra, com mãos tudo se faz e se desfaz... diz-nos o poeta.
Mas Manuel Alegre também nos fala nas mãos que transformando se transformam...
Coloca-se aqui uma primeira questão: as mãos vazias, que tanto podem fazer a paz como fazer a guerra, quando se vão transformando o que transformam?
Actualmente com mais “Karaté” e menos “Do”, esse “Do” a que todos afinal nos agarramos porque é a via, o caminho que temos que seguir... Será?
Que mãos? Com mãos se faz a paz se faz a guerra, com mãos tudo se faz e se desfaz... diz-nos o poeta.
Mas Manuel Alegre também nos fala nas mãos que transformando se transformam...
Coloca-se aqui uma primeira questão: as mãos vazias, que tanto podem fazer a paz como fazer a guerra, quando se vão transformando o que transformam?
Actualmente com mais “Karaté” e menos “Do”, esse “Do” a que todos afinal nos agarramos porque é a via, o caminho que temos que seguir... Será?
Carlos Drummond de Andrade escreveu “nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra”. E temos encontrado muitas pedras no meio deste nosso caminho.
Mas numa resposta a este poeta, Casimiro de Brito diz:
“No meio das pedras há um caminho
há um caminho no meio das pedras
um caminho descrevo
há um caminho aberto no meio das pedras.”
Assim, tanto podemos encontrar escolhos no meio do caminho, como podemos abrir um caminho pelo meio desses mesmos escolhos...
A segunda questão que se coloca é se saberemos abrir esse caminho.
Mas mesmo que o caminho já exista e mesmo quando no meio do caminho há uma pedra, Piaget ensinou-nos a continuar esse caminho por assimilação ou por acomodação.
A terceira questão que se levanta é a seguinte: continuaremos o caminho assimilando que existe lá essa pedra ou continuá-lo-emos acomodando-nos a ela?
A terceira questão que se levanta é a seguinte: continuaremos o caminho assimilando que existe lá essa pedra ou continuá-lo-emos acomodando-nos a ela?
Basicamente as três perguntas resumem-se a uma apenas: "O que é o Dô 道 e como segui-lo?"
ResponderEliminarEssa é uma pergunta bastante pertinente, porque na realidade são raros os instrutores que sabem a que se refere o Dô... Arriscaria dizer que apenas 1 ou 2% destes sabe(m) realmente o que é o Dô.
O Dô 道 é facilmente entendido se entendermos o CONTEXTO onde este foi desenvolvido!
Quando o Japão saiu do período feudal com o começo da restauração Meiji 明治明治維新 (Meiji Ishin) o belicismo, os Samurai 侍, as artes da guerra (escolas "-Jutsu" 術) do período anterior já não faziam o menor sentido. O Japão tinha de se afastar do militarismo dos séculos anteriores e ingressar numa nova era de paz. Assim, o Dô 道 como meio de vida substituiu os -Jutsu 術 militares. O Jû-jutsu passou a Jûdô, o Kenjutsu passou a Kendô, o aikijutsu passou a Aikidô e assim por diante. A mentalidade guerreira (do passado) deveria evoluir e dar lugar a evolução da sociedade e artes japonesas.
O problema dos instrutores de Karate é que não acompanharam esta evolução histórica e teimam em introduzir conceitos que já não existem dentro da sociedade e artes japonesas, apenas porque acham que com isso a sua escola vai ser mais "marcial" do que as outras. O que estão a fazer, na realidade, é deturpar o Karate em si, deturpar a evolução natural da sociedade japonesa e a transmitir informação errada aos seus alunos.
O Dô 道 nada mais é do que uma transformação e um posicionamento social, com as consequencias inerentes de uma evolução histórica natural.
Dô 道, definitivamente, não é sinónimo de "Samurai" ou qualquer outro disparate que pessoas com pouco conhecimento da história e tradição marcial japonesas tantam impingir.
Caro Joseverson:
ResponderEliminarObrigado pela sua contribuição fantástica neste blog.
Não podia estar mais de acordo com este comentário.
Agradecia que me pudesse contactar através de armando.inocentes56@gmail.com para uma maior e melhor troca de ideias.
Um abraço amigo!
Armando Inocentes
Mas a questão agora é: "COMO aplicar este conceito, este "Dô 道" (Caminho, Via) ao Karate praticado nos dias de hoje?"
ResponderEliminarPrimeiro temos de ver como 98 ou 99% dos instrutires vêem este "Caminho".
Nós, seres humanos, temos uma tendência de criar fantasias sobre assuntos que não dominamos ou compreendemos. Criamos ilusões e idéias sobre "como deveria ser" detrminado tópico - isso é natural e não há problema algum quanto a isso.
Então começamos nas artes marciais e - mais cedo ou mais tarde - lemos, assistimos filmes sobre os Samurai ("Serviçal") e o Bushidô 武士道 ("Via do Guerreiro" - o código moral não escrito dos antigos guerreiros). Quem é que não fica fascinado com o assunto? Guerreiros, honra, vida e morte... a expressão máxima das Artes Marciais!
"Olha! Temos o "Dô 道" na palavra Bushidô 武士道!"
É aqui que o problema começa. Por associação directa, alguns instrutores associam o Dô 道 na palavra Bushidô 武士道 ao Dô 道 em Karate-Dô 空手道. E não só em Karate-Dô, mas em Jûdô, Kendô, etc. Para estes instrutores mal informados, os Samurai são o modelo a seguir. ERRADO! Este Dô a que se refere o Karate-Dô é justamente o afastamento do Bujutsu 武術 "militarismo" do passado, inadequado para o Japão dos dias de hoje.
Assim, o Dô que se deve viver no Karate de hoje no contexto japonês é a formação de elementos úteis à sociedade contemporânea e com espírito de esforço e dedicação forjado nas artes do combate. Isso é o Dô a que as artes marciais se referem! Não tem nada a ver com Bushidô ou qualquer outro assuntos relacionado com o mesmo.