quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
Resposta a "Quarteto de cordas..."
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
Afinal não são só os competidores... os árbitros também podem ser violentos!
Aqui vos deixo um caso ocorrido em 2008, em que num combate entre dois competidores, curiosamente Aka de karategi branco e Ao vestido de azul, após uma grande agressividade por arte de Ao mesmo após a voz de yame do árbitro, este resolve toda a situação.
Antebraço esquerdo à garganta, projecção com o direito na nuca, mae geri à cabeça após Ao já estar no chão com o pé esquerdo, culminando com kakato geri também à cabeça com o pé direito. Uma sequência perfeita por parte do árbitro...
Vale a pena ver este triste espectáculo!... Estas imagens estão disponíveis em http://www.youtube.com/watch?v=_ge9CuM1YkE e a acção ocorre por volta dos 2 minutos e 35 segundos...
Afinal, para além de existir violência no Karaté, esta já não é só da exclusividade dos competidores ou dos espectadores! A violência no Karaté também pode ser perpetrada pelos árbitros!...
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
Quarteto de cordas...
“A violência também existe no Karaté” teve três comentários. Comentários de pessoas preocupadas... O primeiro interrogando (Carlos Rodrigues), o segundo afirmando (José Ramalho) e o último confirmando através de novas interrogações (Luís Sérgio).
Ainda bem que existem pessoas preocupadas com estas preocupações... Seremos quatro, daí o quarteto... veremos que tipo de cordas e para que servem!
Mas convém primeiramente fazer aqui algumas destrinças, segundo a minha modesta opinião, pelo que vou ousar dar o meu contributo tentado responder ou complementar esses comentários.
A primeira, relacionada com aquilo que nos foi inculcado durante muito tempo, o que nalguns casos ainda continua a acontecer.
Aquilo que treinamos actualmente é um desporto, um desporto que, como tal, possui competição formalizada; não treinamos uma «arte marcial» pois não praticamos Karaté com o sentido de «ir à guerra»; ninguém faz tiro com arco pata atirar umas flechas ao seu vizinho quando se incompatibiliza com ele, nem tiro aos pratos para acertar da janela do andar do seu apartamento nos ladrões que lhe estão a tentar roubar o carro. Militares ou forças paramilitares podem treinar Karaté como «arte marcial», nós, praticantes civis, competidores ou não, não é essa a via que seguimos.
Chamar «arte marcial» à modalidade desportiva que praticamos não é, neste momento, nesta sociedade, o mais correcto. Nem sequer praticamos um «desporto de combate», mas sim um “desporto de confronto corporal directo” (veja-se o post que deu início a este blog). Graças à denominação «marcial» muito do que o Karaté tem é e tem sido conotado com violência...
Ninguém pratica Karaté para combater (no sentido literal do termo, dado que no combate não há regras, a morte é real) com o adversário, pois este não é o inimigo. Pratica-se Karaté para competir... mesmo na kata, um “aforismo” do kumite, estilização do mesmo, ou sua forma estética. A kata é simbolicamente um «combate real» contra «inimigos» hipotéticos, e não, como nos venderam durante muito tempo, um «combate imaginário contra quatro adversários».
Se a arte marcial estava ligada ao Budo, neste momento o nosso treino pode incluir princípios que são daí originários, mas nada tem a ver com a parte espiritual. O dojo não é um lugar de culto, como a igreja ou a mesquita... Apesar do desporto conter rituais e poder haver certas afinidades com uma “religião” (ir à “catedral” ver jogar “a nossa” equipa tem algo a ver com isso!).
Estarmos preocupados (como treinadores) em transmitir valores através do treino deveria ser uma das nossas preocupações. O comportamento do atleta adulto reflecte sempre a sua formação anterior – e quem foi responsável por ela? O treinador. Mas a acção do treinador sobre a criança e/ou o jovem não é condição única pois há inúmeros outros factores que se interagem sobre o indivíduo e levam o competidor a apresentar um comportamento de violência, nomeadamente as circunstâncias ou a situação na qual esse comportamento é despoletado.
Treinar a concentração, o cumprimento das regras, o respeito pelo colega e pelo adversário, a responsabilidade do comportamento apresentado e o controlo (quer seja o sundome quer seja o controlo emocional), devem estar nos nossos horizontes. Devemos ensinar os competidores a “aprender a ganhar” ao invés de os levar a “saber perder” (mais uma em que sempre se bateu, para não falar daquela célebre “o que interessa é participar”).
O que tem o Karaté para além daquilo que é comum aos outros desportos? Nada! O Karaté é um desporto precisamente igual aos outros (reparem que até no ténis ou no basquetebol o kiai existe!). De que falamos quando falamos na parte espiritual do treino? Não estaremos fazer alguma confusão com o desenvolvimento moral do praticante? Tal como quando falamos da parte mental, não estaremos a fazer alguma confusão com a parte psicológica?
Um segundo aspecto tem a ver com o facto de qualquer ser humano ser um homicida em potência, muitas vezes dependendo da situação, segundo dizem os entendidos na matéria. Mas há que destrinçar aquilo a que chamamos combatividade (persistência, perseverança, vontade de vencer) de agressividade (tendência para...) e ainda de violência, que não é o mesmo que agressão (os compêndios dizem que há cerca de uma dúzia de teorias que explicam por que motivos o homem pode ser violento, umas divergentes de outras, outras ainda complementando-se).
Uma terceira destrinça refere-se às competências do treinador: as competências técnicas, que são apresentadas pela sua graduação, e as suas competências pedagógicas, que lhe são conferidas através da sua formação numa carreira de treinador. Muitos possuem boas competências técnicas, mas de pedagogia nada percebem... alguns até possuem algumas qualidades pedagógicas inata, mas ainda lhes falta o background técnico e formativo – nem os primeiros nem os segundos deveriam ser treinadores! A própria formação de treinadores, daqui para a frente escalonada em GI, GII, GIII e GIV faria muito mais sentido se tivéssemos os especialistas em escalões de formação, os especialistas em pré-competição e/ou competição e os especialistas em alto rendimento.
Perguntam-me agora: e o tradicional? O tradicional também tem competição, conforme defendeu Rómulo Machado no 1º Congresso Nacional de Treinadores de Karaté, em Janeiro de 2009, na FMH. Quem quer faz, quem não quer não faz... felizmente! E esta do «tradicional» tem sido outra que nos tem sido impingida...
Como nos mostra Giddens (2006), o tal Karaté tradicional não é tão «tradicional» como isso, pois o conceito de tradição não passa de um conceito da modernidade. “A resistência à passagem do tempo não é a característica fundamental da tradição, nem do seu primo um pouco menos visível, o costume. As características que definem a tradição são o ritual e a repetição. As tradições são sempre pertença de grupos, comunidades ou colectividades. (…) Contudo, por muito que mude, a tradição proporciona meios de acção que são pouco questionáveis. É normal que as tradições possuam guardiões próprios: homens bons, sacerdotes, sábios. Mas ser guardião não é o mesmo que ser especialista”. Convém começarmos a questionar esses meios de acção, investigando, partilhando ideias e dando o benefício da dúvida às nossas próprias convicções e crenças.
Os que treinam crianças e jovens deveriam ser aqueles que mais competências técnicas e pedagógicas tivessem... Acabei de ler o último livro do Prof. Manuel Sérgio onde ele nos diz que “uma coisa é o sábio que domina a ciência criada; outra, o artista que a recria e reproduz”...
Mas na formação de treinadores há uma lacuna: os conhecimentos sobre sociomotricidade, sobre os planos afectivo e relacional... sobre o comportamento motor intencional quando se interage com os seus semelhantes... Ensinar a criança que “se estraga” o adversário fica sem companheiro para poder brincar, ensinar a criança que há uma diferença entre bater e tocar embora ambas impliquem contacto, ensinar a criança que tem de respeitar para ser respeitada, preparar o jovem para competir lealmente, preparar o jovem para fazer competição dentro das regras, preparar o jovem para respeitar as decisões dos árbitros, preparar o jovem para competir com espírito desportivo mesmo que o objectivo final seja a vitória – são funções do treinador (esquecidas... mas que são, lá isso são!).
Mas também há que preparar os árbitros para respeitarem os competidores... Como respeitar um árbitro se ele não está bem preparado (ou nem sequer sabe disso) – não é por acaso que o bom árbitro não é aquele que erra, mas aquele que erra menos vezes.
O competidor desenvolve-se aprendendo, atingindo uma certa maturidade e adaptando-se (daí a tal importância da situação!) A ética desportiva tanto pode ser ensinada e aprendida de uma forma lúdica como competitiva... Há metodologias que apontam para isso, e em vez de termos um Karaté reprodutivo como o que temos, deveríamos ter um Karaté em que se deveriam abrir os horizontes dos treinadores, dos praticantes e dos competidores para esses aspectos. Mais uma vez recorro a Pessoa: “viver não é necessário; o que é necessário é criar”.
E o que acontece com o treinador? Participa em estágios ou outras acções de formação com o gi vestido mas ignora conferências, colóquios e seminários para treinadores, ou outras acções de formação mais teóricas do que práticas. A prática de nada vale sem a teoria e a teoria para nada serve se não for complementada pela prática. Manuel Sérgio (2009) afirma que “na motricidade, a teoria é praxis e a praxis é teoria”. Daí a necessidade do treinador ter também conhecimentos teóricos fundamentados e consolidados que complementem a sua prática.
Tive a feliz oportunidade de orientar uma acção de formação sobre “Ética, Desporto e Karaté” nas seis zonas do país e, para espanto meu, ao chegar a um dos locais onde a mesma se iria desenrolar encontrei alguns treinadores de karategi... quando estavam informados sobre os conteúdos da acção e de que a mesma tinha um cariz teórico didáctico-pedagógico...
Durante a época desportiva de 2007/08, verificámos que dos Treinadores de Karaté participantes nas cinco acções de formação, somente cerca de 1,6% conhecia o referido Código. Na última acção de formação, já em 2008/09, dos 48 participantes nenhum o conhecia.
E se o hábito não faz nem nunca fez o monge, alguém disse “quando ganhar é tudo, fazemos tudo para ganhar”... correcto ou não tudo depende é do "como"...
GIDDENS, Anthony, 2006, “O Mundo na Era da Globalização”, Barcarena, Editorial Presença.
MANUEL SÉRGIO, 2009, “Filosofia do Futebol”, Lisboa, Prime Books & IDP.
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quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
A violência também existe no Karaté!..
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
2010: esperança e desejo...
Iniciei 2010 com uma pequena inactividade deste blog. Como dizia Confúcio, “a maior glória não é ficar de pé mas levantar-se cada vez que se cai”.
Este interregno teve um motivo: no passado dia 8 terminou o prazo de apresentação dos trabalhos individuais dos formandos dos 3º CTNII e do 2º TNIII. Como tal, e embora trabalhando sobre uma planificação e periodização de treino efectuada no início desta época desportiva, estive ocupado na elaboração do meu trabalho – pesquisa, fundamentação, ilustração, redacção – para o entregar pelo menos no último dia estabelecido. Como diria Pessoa, o esforço foi grande e o homem pequeno...
Justificada a ausência, poderia começar por analisar algo daquilo a que muita comunicação social chamou os acontecimentos desportivos da década, mas a década só termina no final deste ano (mais uma vez a tal confusão matemática que houve com o final do século)...
Poderia começar por um rali que em 30 edições (o Dakar, que com Dakar já nada tem a ver), já fez 47 mortos... sendo um já este ano!
Poderia começar por mais um acto terrorista no desporto, aquele de que foi alvo a selecção de futebol do Togo (o motorista do autocarro e outros dois elementos da equipa técnica mortos) que ia participar no CAN em Angola...
Poderia começar pela petição sobre a “verdade no desporto” entregue na Assembleia da República...
Mas optei por começar este ano por outros assuntos.
Começarei pelo blog do meu amigo José Ramalho, o Goju Hoshindo (http://gojuhoshindo.blogspot.com/), onde colocou, sob o título “Continuando a nostalgia...” uma foto do seu baú de recordações (também a tinha no meu baú, já não me lembrava era do seu autor) que recentemente ofereci ao João Coutinho.
Amigo José Ramalho: só falta completares o teu post com aquela fantástica boleia (penso que também vinha o Jorge Peixoto) que me deste de Coimbra para Lisboa num Citroen 2 cavalos...
De facto o árbitro é o João Coutinho, a quem gostaria de prestar uma homenagem, dado ter sido o nosso primeiro árbitro internacional de Karaté... que por motivos que nunca percebemos não prosseguiu a sua carreira em termos internacionais. Uma homenagem ao único árbitro que me atribuiu um hansoku directo enquanto competidor. Num Campeonato Nacional, o primeiro da FPKDA, em que, só competidores de Goju-Ryu, oito foram desqualificados por excesso de contacto...
Caro João Coutinho: como prometi há um ano, no 1º Congresso Nacional de Treinadores de Karaté, na FMH, saldo agora as nossas contas – o árbitro determinou, ficou determinado... papéis diferentes dentro do tatami, mas respeito mútuo entre competidor e árbitro independentemente do acto e da decisão. O mais importante, apesar de estar um título em jogo, foi que amizade e respeito perduraram...
Foi a 30 Março de 1987, no Pavilhão do Colégio S. Teotónio em Coimbra. Classificação final dessa categoria: 1º - António Marques (LPK), 2º - Armando Inocentes (APOGK) e 3ºs - Rui Marques (APK) e Luís Ferreira (FSAM). Aqui fiz outros dois amigos (um abraço para ambos!) – o António e o Rui.
Na altura, os campeonatos nacionais eram noticiados pelo menos nos jornais “Correio da Manhã”, “O Jogo” e no então “Gazeta dos Desportos”. Agora...
Foi quase há 23 anos...
Aliás, uma das minhas fotos preferidas e que várias vezes apresentei como exemplo de ética desportiva (comportamentos que não se vêem nas outras modalidades) é aquela em que o árbitro acompanha o competidor combalido a sair do tatatmi (a sua autora, Maria Camarão, quando lho solicitei, deu-me autorização para a poder utilizar).
Aqui fica um abraço para ti, com os meus parabéns pela tua conduta e pelo teu exemplo como árbitro!
Outro assunto refere-se a um encontro casual com outro amigo, de um estilo diferente do Goju, que também vem desses mesmos tempos, da competição e dos estágios em conjunto na altura, e que encontrei no sábado passado (dia 9) no Cascais Shopping.
Um amigo que também passou pelo menos por uma direcção federativa e que me deu os parabéns pela posição que eu tomei na Federação, garantindo-me que no tempo dele já as coisas também eram assim, o problema era ninguém ser capaz de dizer o que se passava e eu ter tido a coragem de assumir a posição que assumi... Esclareci-o que não tinha estado contra ninguém em especial, estive sim contra os métodos que se utilizavam (ou se utilizam!), contra o modelo de gestão que era (ou é!) seguido...
Sabem o que ele me disse? “ – Um dia isso mudará, mas já não seremos nós a ver, serão os nossos netos!...”
Tenho esperança e desejo que ele não esteja certo!