Devemos desafiar os treinadores de escalões jovens a pensar primeiro o processo.
Tomaz Morais
(«A Bola», 12.10.2012, p. 40.)
Este deveria ser, por exemplo, um dos desafios já há muito lançado aos treinadores de karate-dō... por
quem possui responsabilidades na matéria! Não sabemos é se existe esse "quem"...
Mas nós, treinadores de karate-dō, sabemos que existe (ou que não existe...) uma Associação Nacional de Treinadores de Karaté, e conhecemos a sua
obra (?) desde o seu início em 2000...
Mas não vamos falar do passado... vamos falar de uma associação
que gostaríamos de ter (pelo menos alguns treinadores, talvez a maior parte!)... talvez no futuro!
Mais do que cargos repartidos por estilos, associações ou por
zonas do país seria benéfico ter um grupo que trabalhasse em prol dos
treinadores, os representasse, defendesse os seus interesses e com o
qual pudéssemos contar e colaborar .
Gostaríamos de ter uma associação em que se reunissem todos os
treinadores - ou a maior parte deles - com direitos e deveres iguais, sem
termos de ter associados Fundadores, Ordinários e Extraordinários (estes
últimos, não estando especificamente incluídos na categoria anterior, são
aqueles que "manifestem um relacionamento atendível com as actividades de
ensino e treino de Karaté" - serão "treinadores" sem cédula de
treinador de desporto?). Gostaríamos de ter uma associação em que todos
tivessem direito a voto, até mesmo aqueles que frequentaram os seus cursos de
formação, podendo no entanto não exercer o ofício!
Gostaríamos de ver uma associação com uma Direção ativa e
dinâmica, uma associação em que os órgãos gerentes fossem eleitos para um
período de quatro anos (e não três), acompanhando os ciclos federativos,
colaborando com a Federação... para promover a nossa
modalidade. Uma Direção que se preocupasse com as preocupações dos treinadores, interventiva e que nos congregasse. Zélia Matos diz que, em relação à competência para intervir,
se devem distinguir "duas componentes principais – o conhecimento e a disponibilidade
para agir."* Só conhecimento não chega... Não há disponibilidade? Demitam-se, sejam honestos!
Seria ótimo vermos uma associação de classe preocupar-se em
dinamizar a existência de comissões de apoio. Um exemplo: uma comissão que
levasse os árbitros a ensinar verdadeiramente as regras e os regulamentos de
arbitragem aos treinadores virados para a competição. Mais dois exemplos: uma
comissão que elaborasse os tão propalados códigos éticos e deontológicos, assim como uma comissão
de juristas para apoio aos treinadores e à Direção nos casos de disciplina e na
aplicação de sanções, assim como para a defesa legal dos treinadores. No
que se refere à defesa dos interesses dos treinadores, quantos deles conhecem
as cláusulas da apólice do seguro desportivo?
Gostaríamos de ver uma associação de treinadores com um site autónomo onde, para além do comum, se
colocasse a listagem dos treinadores licenciados. Pais, praticantes,
competidores e público em geral deveriam saber quem está habilitado a ministrar
o ensino, o treino e a prática do karate-dō.
Isto seria uma medida pedagógica e uma medida fiscalizadora! Ou que cumprisse os seus Estatutos publicando os nomes dos seus associados... Gostaríamos
de ver essa associação organizar, pelo menos de dois em dois anos, um Congresso de Treinadores, a fim de poder dar voz aos seus anseios, reunindo
mesmo todos os que não fossem seus associados. A informação hoje em dia é
célere - gostaríamos de ter uma associação que criasse um blog onde todos se
pudessem expressar ou levantar as suas questões, não de ter um site (mais que desatualizado!) incluído numa outra associação e de não ter uma página no
Facebook inativa, imóvel, amorfa... Gostaríamos que os treinadores se fizessem
ouvir! Que levantassem a sua voz! Que comunicassem uns com os outros e que
quebrassem o isolamento a que se sujeitam e a que os sujeitam…
Apetecia-nos dizer, através da nossa associação de classe, tal
como Sidónio Muralha diria:
Algemados – não importa por que leis –
Seja qual for a vossa raça e a vossa casta,
Vinde dizer o que sabeis!
– por agora é quanto basta.
Gostaríamos de ter uma organização digna do seu nome que
atribuísse uma identificação a cada associado, uma organização digna
do seu nome que publicasse material de apoio aos treinadores e organizasse
Acções de Formação não só com técnicos credenciados da nossa modalidade mas
também com técnicos de outras modalidades e Professores Universitários.
Acima de tudo, seria lindo termos uma associação de classe que
promovesse as competências dos Treinadores dedicados ao karate «desportivo»,
mas também aos que são a favor do karate «tradicional» e do “dō”, aos preocupados com a formação de Seres Humanos - o que se poderia conseguir através de estágios tradicionais de
cada estilo com mestres de renome e de consenso entre as várias linhas... e ao
mesmo tempo através da realização de colóquios, seminários ou conferências com pessoas especializadas na
cultura japonesa e na filosofia da nossa modalidade.
Ouro sobre azul seria termos uma associação que representando-nos,
tivesse uma bandeira dentro da nossa sociedade, colaborando pelo menos com
uma instituição de solidariedade social. A visibilidade da organização só
poderia credibilizar e dignificar os treinadores de karate-dō.
Gostaríamos de ter uma associação de treinadores que esclarecesse
a todos as dificuldades que estarão para surgir com o novo Programa Nacional de
Formação de Treinadores e com a Cédula de Treinador de Desporto, com a sua
duração de cinco anos, com a supervisão pedagógica...
Será uma utopia? Pensamos que não, pois uma verdadeira associação
de classe poderia unir-nos se por nós tivesse consideração... Os treinadores
são os verdadeiros motores da modalidade! Sem treinadores nada mais há... nem competidores, nem prticantes, nem karate-dō!
Parafraseando José Fanha, diríamos que
Não sabemos de palavras vãs
peito aberto a meio da praça
somos construtores de amanhãs
em cada dia que passa.
Os treinadores de karate-dō têm sido construtores de amanhãs.
Embora desamparados, alguns sós, têm sido construtores de amanhãs e pretendem
prosseguir nesse caminho.
Os treinadores de karate-dō merecem… há é quem não os mereça!!!
* Zélia Matos, 1989, “Professor de Educação Física. Aspectos éticos da sua
profissão.”, in “Desporto, Ética, Sociedade”, FCDEF-UP.
Nota aos leitores deste post:
Se entenderem que devem continuar na vossa "quinta",
se entenderem nada dizer para não criarem inimizades
ou para defenderem os vossos privilégios,
então não comentem!
Revelarei depois quantas visitas o mesmo teve...