domingo, 14 de outubro de 2012

Demitam-se, sejam honestos!



Devemos desafiar os treinadores de escalões jovens a pensar primeiro o processo.
Tomaz Morais
(«A Bola», 12.10.2012, p. 40.)


Este deveria ser, por exemplo, um dos desafios já há muito lançado aos treinadores de karate-dō... por quem possui responsabilidades na matéria! Não sabemos é se existe esse "quem"...

Mas nós, treinadores de karate-dō, sabemos que existe  (ou que não existe...) uma Associação Nacional de Treinadores de Karaté, e conhecemos a sua obra (?) desde o seu início em 2000... 

Mas não vamos falar do passado... vamos falar de uma associação que gostaríamos de ter (pelo menos alguns treinadores, talvez a maior parte!)... talvez no futuro!

Mais do que cargos repartidos por estilos, associações ou por zonas do país seria benéfico ter um grupo que trabalhasse em prol dos treinadores, os representasse, defendesse os seus interesses e com o qual pudéssemos contar e colaborar .

Gostaríamos de ter uma associação em que se reunissem todos os treinadores - ou a maior parte deles - com direitos e deveres iguais, sem termos de ter  associados Fundadores, Ordinários e Extraordinários (estes últimos, não estando especificamente incluídos na categoria anterior, são aqueles que "manifestem um relacionamento atendível com as actividades de ensino e treino de Karaté" - serão "treinadores" sem cédula de treinador de desporto?). Gostaríamos de ter uma associação em que todos tivessem direito a voto, até mesmo aqueles que frequentaram os seus cursos de formação, podendo no entanto não exercer o ofício!

Gostaríamos de ver uma associação com uma Direção ativa e dinâmica, uma associação em que os órgãos gerentes fossem eleitos para um período de quatro anos (e não três), acompanhando os ciclos federativos, colaborando com a Federação... para promover a nossa modalidade.  Uma Direção que se preocupasse com as preocupações dos treinadores, interventiva e que nos congregasse. Zélia Matos diz que, em relação à competência para intervir, se devem distinguir "duas componentes principais – o conhecimento e a disponibilidade para agir."* Só conhecimento não chega... Não há disponibilidade? Demitam-se, sejam honestos!

Seria ótimo vermos uma associação de classe preocupar-se em dinamizar a existência de comissões de apoio. Um exemplo: uma comissão que levasse os árbitros a ensinar verdadeiramente as regras e os regulamentos de arbitragem aos treinadores virados para a competição. Mais dois exemplos: uma comissão que elaborasse os tão propalados códigos éticos e deontológicos, assim como uma comissão de juristas para apoio aos treinadores e à Direção nos casos de disciplina e na aplicação de sanções, assim como para a defesa legal dos treinadores. No que se refere à defesa dos interesses dos treinadores, quantos deles conhecem as cláusulas da apólice do seguro desportivo?

Gostaríamos de ver uma associação de treinadores com um site autónomo onde, para além do comum, se colocasse a listagem dos treinadores licenciados. Pais, praticantes, competidores e público em geral deveriam saber quem está habilitado a ministrar o ensino, o treino e a prática do karate-dō.  Isto seria uma medida pedagógica e uma medida fiscalizadora! Ou que cumprisse os seus Estatutos publicando os nomes dos seus associados... Gostaríamos de ver essa associação organizar, pelo menos de dois em dois anos, um Congresso de Treinadores, a fim de poder dar voz aos seus anseios, reunindo mesmo todos os que não fossem seus associados. A informação hoje em dia é célere - gostaríamos de ter uma associação que criasse um blog onde todos se pudessem expressar ou levantar as suas questões, não de ter um site (mais que desatualizado!) incluído numa outra associação e de não ter uma página no Facebook inativa, imóvel, amorfa...  Gostaríamos que os treinadores se fizessem ouvir! Que levantassem a sua voz! Que comunicassem uns com os outros e que quebrassem o isolamento a que se sujeitam e a que os sujeitam…

Apetecia-nos dizer, através da nossa associação de classe, tal como Sidónio Muralha diria:

Algemados – não importa por que leis –
Seja qual for a vossa raça e a vossa casta,
Vinde dizer o que sabeis!
– por agora é quanto basta.


Gostaríamos de ter uma organização digna do seu nome que atribuísse uma identificação a cada associado, uma organização digna do seu nome que publicasse material de apoio aos treinadores e organizasse Acções de Formação não só com técnicos credenciados da nossa modalidade mas também com técnicos de outras modalidades e Professores Universitários.

Acima de tudo, seria lindo termos uma associação de classe que promovesse as competências dos Treinadores dedicados ao karate «desportivo», mas também aos que são a favor do karate «tradicional» e do “dō”, aos preocupados com a formação de Seres Humanos - o que se poderia conseguir através de estágios tradicionais de cada estilo com mestres de renome e de consenso entre as várias linhas... e ao mesmo tempo através da realização de colóquios, seminários ou conferências com pessoas especializadas na cultura japonesa e na filosofia da nossa modalidade.

Ouro sobre azul seria termos uma associação que representando-nos, tivesse uma bandeira dentro da nossa sociedade, colaborando pelo menos com uma instituição de solidariedade social. A visibilidade da organização só poderia credibilizar e dignificar os treinadores de karate-dō.

Gostaríamos de ter uma associação de treinadores que esclarecesse a todos as dificuldades que estarão para surgir com o novo Programa Nacional de Formação de Treinadores e com a Cédula de Treinador de Desporto, com a sua duração de cinco anos, com a supervisão pedagógica...

Será uma utopia? Pensamos que não, pois uma verdadeira associação de classe poderia unir-nos se por nós tivesse consideração... Os treinadores são os verdadeiros motores da modalidade! Sem treinadores nada mais há... nem competidores, nem prticantes, nem karate-dō!

Parafraseando José Fanha, diríamos que

Não sabemos de palavras vãs
peito aberto a meio da praça
somos construtores de amanhãs
em cada dia que passa.


Os treinadores de karate-dō têm sido construtores de amanhãs. Embora desamparados, alguns sós, têm sido construtores de amanhãs e pretendem prosseguir nesse caminho. 

Os treinadores de karate-dō merecem… há é quem não os mereça!!! 

* Zélia Matos, 1989, “Professor de Educação Física.  Aspectos éticos da sua profissão.”, in “Desporto, Ética, Sociedade”, FCDEF-UP.


Nota aos leitores deste post:

Se entenderem que devem continuar na vossa "quinta", 
se entenderem nada dizer para não criarem inimizades 
ou para defenderem os vossos privilégios,
então não comentem!

Revelarei depois quantas visitas o mesmo teve...


10 comentários:

  1. Utopia?
    Não. Não pode ser sonho algo que seja possível e viável de conseguir, apenas com trabalho, dedicação e entrega.
    Eu concordo com a ideia e com os pressupostos.
    Mas,.. não estou activo. Força Armando

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    1. Botelho, todos os que são treinadores, mesmo não exercendo o ofício, estão ativos... Deste mostras disso ao comentar aqui!

      Curioso que no FB até agora há 4 "gostos" quando a página só foi visitada por 3 pessoas... Logo, uma há - essa sim - não ativa!!!

      Mas esta é a última vez que me pronuncio sobre o assunto! Se querem uma ANTK moribunda, ou até mesmo já cadavérica - pela SEGUNDA vez - então é isso mesmo que ela vai ser. Se querem uma ANTK que só serve para a auto promoção do seu Presidente da Direção, então ele que se continue a auto promover!

      Virá o dia em que os treinadores de karate-do abrirão os olhos... o dia em que hão-de precisar de uma "ANTK" (não esta!)... e TALVEZ NÃO A TENHAM (POR CAUSA DESTA!)!

      Grande abraço!

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  2. Caro Armando:

    Tive a oportunidade de conhecer o Dr. Abel Figueiredo (agora Prof. Dr.) há uns anos atrás e pareceu-me ser uma pessoa com grande bagagem, comunicativa e muito dinâmica. Assim, ao longe, não se consegue perceber por que motivo a vossa associação de treinadores não funciona! Só posso concordar com o título do teu post, pois por uma questão de honestidade os orgãos gerentes se nada fazem deveriam demitir-se e dar espaço a quem pretende fazer alguma coisa!

    Desistires desta guerra não significa saíres derrotado! Armstrong desistiu da sua defesa, o que não quer dizer que admitiu usar produtos dopantes. Mas o facto de ter realizado 500 controlos não positivos é uma realidade...

    Grande abraço
    José Brás

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  3. Caro Armando,
    Igual a ti próprio, com lealdade , inteligência e sem medo a pores o dedo na ferida. Sem conhecer na plenitude o meio, nem o que se passa com muitos dos treinadores, subscrevo os teus pressupostos para a acção. Não interessa quem está, importa mais o que faz falta e urge fazer e tu enunciaste o fundamental e necessário. É quase uma declaração de guerra (metaforicamente falando), a pergunta, ou perguntas são : Será que temos generais e soldados dispostos e prontos para o combate ? Será possível fugir ao individualismo e às capelinhas ?
    Pois , se tivermos exército não importa o inimigo, "se não fugir, fazêmo-lo correr em debandada" , como dizia o outro.
    Parece-me, caro Armando, que a falta de comparência está a deixar este combate bem mais difícil do que é.
    E lá se vai o Dojo Kuhn, digo eu...
    Grande abraço,
    Luís Sérgio

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  4. Inocentes Sensei.

    Para mim, longe de ser tão específico, bastaria uma associação de pessoas que simplesmente "gostassem" do Karate-dō (gostar de verdade e não apenas dizer que gosta) e se interessassem honestamente pelo mesmo, pela sua cultura, história, desenvolvimento e ensino corretos.

    Um grupo de pessoas que procurassem difundir o Karate-dō o mais próximo da realidade possível, com base no estudo, pesquisa e treino sérios, fundamentados no conhecimento efetivo.

    Bastava, penso eu, uma associação que - antes de olhar para a "cintura" - olhasse para o "coração" dos seus treinadores.

    É bem provável que a minha "utopia" fosse mesmo composta por poucos... mas "quantidade" não implica necessariamente "qualidade".

    Um abarço!

    Joséveson

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  5. Eu diria mais: demitam-se, sejam honestos!

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  6. Previsível: 77 visualizações... Comentários (que agradeço!): 5!

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  7. Caro Dr. Armando:

    Tenho andado um pouco afastado (mais uma vez!) mas cá estou de novo!

    A conclusão é clara: os treinadores de karaté não merecem que desenvolva este esforço por eles! A sua visão do assunto, a sua contestação, cria-lhe as habituais inimizades (para não dizer inimigos) daqueles que vivem na hipocrisia. O poder basta-lhes para atravancarem o sistema e para dele tirarem benefícios próprios. Eles são felizes assim... projetam-se, promovem-se, andam nas luzes da ribalta e esquecem-se que esta vida é efémera! Ninguém está preocupado com os seus colegas de classe! Nem os próprios treinadores!

    Faz bem em abandonar a liça! Explicou o que tinha a explicar e a partir de agora, de facto, ninguém pode dizer que não sabia! Quando alguém vier a precisar de uma ANTK estaremos cá para nos lembrarmos de todo o "report" que aqui trouxe!

    Um abraço e obrigado!
    JA Neves

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  8. Só mais uma coisa: é pena que os interesses e a cobardia reinem entre os agentes de ensino do karaté. Se são treinadores, estão a desvirtualizar um desporto! Se são Mestres, pior ainda! Que deixem de falar em máximas, em dojo kun, em respeito, em dignidade, em sei lá mais o quê!

    Novo abraço
    JA Neves

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  9. Maria Eugénia S. Caeiro29 de outubro de 2012 às 18:33

    Não sou treinadora e também já não estou no activo como diz Mano a mano,mas tenho que comentar que estou de acordo demitam-se sejam honestos!!!!!!!!! mas nestes "tempos" admitir e tentar alterar/modificar, seja o que for é perder o poleiro, perder estatuto, perder pretensos amigos, benefícios,ect............ esquecendo as MÁXIMAS do Karate-dõ, ou qualquer outra modalidade desportiva que é educar/formar SERES HUMANOS........

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