Já nos
preocupámos muito com o termo "marcial", mas rara é a vez em que nos
pre-ocupamos com termo "arte" - proveniente do latim ars (técnica e/ou habilidade).
(Fotos: capa de «A Bola», 22.08.2012 e capa de «Mind Power», de Kazumi Tabata,Tuttle Pub.)
A grande questão que quero aqui colocar aos leitores deste blog é a seguinte: se afirmamos que o karate-dō é uma "arte marcial", o que se entende por "arte" nesta situação?
Aceitam-se sugestões... comente por favor!
Ora aqui vai: No meu fraco entender, arte é a forma de expressão mais sublime do indivíduo. É mostrar, da forma diferente e "construída" o seu saber.
ResponderEliminarNo Karate e outras "artes" marciais, entendo só haver arte marcial, quando o praticante põe no seu trabalho a sua forma de o ver. O Karate que começamos a fazer no início não é nossa arte marcial...é a do instrutor, porque não estamos a colocar nada de nosso nela. Fazemos por imitação e a nossa prática limita-se a isso. Ao progredir na prática, sentimos a necessidade de aprofundar o que aprendemos e começamos a "dar a nossa interpretação" ao que nos ensinaram - começa aí o trabalho "artístico" por assim dizer. Quando atingimos um nível mais alto e começamos a questionar as razões de se fazer, aí, começamos a produzir arte - a nossa forma de fazer aquilo que nos ensinaram. A Arte em si está no que podemos dar ao karate que nos ensinaram, transformando-o no "nosso" Karate.
Obrigado por me dares a oportunidade de "dissertar" sobre este tema. Um abraço!
Não é o Sensei que diz que o que vale a pena fazer vale a pena fazer bem feito?
ResponderEliminarArte é isso - tentar atingir a perfeição naquilo que se faz e sentir-se realizado com o resultado!
Um abraço!
Pedro Correia
Arte é técnica, é o como fazer, é uma habilidade, uma interpretação, um estilo e, sobretudo uma estética e uma forma de estar e compreender o mundo. O artista faz , produz alguma coisa, domina e conhece os segredos da sua arte como ninguém. Este saber torna-o único e faz com que sinta de forma e modo diferente. karate é uma arte, pode ser uma arte, na medida em que o praticante domina a técnica o saber, exprimindo-o de uma forma estética que provoca sentimentos e emoções,quer a si próprio quer aqueles que o observam.Arte do corpo, das suas forças antagónicas e do controlo da mente de forma positiva. Domínio de si próprio para interagir, pode ser uma forma de arte ,de viver, de estar, de sentir. Nestes aspetos muito mais que arte da guerra, ou da defesa pessoal, karate pode ser arte do limite, do caminho interior esteticamente codificado , sentido e testado no equilíbrio do que somos. karate pode ser arte do encontro de mim para mim e de mim para o outro, outros,mas é, sobretudo , uma arte que nos torna diferentes quando sentimos e vibramos com o que praticamos. Quando no final de um treino sentimos uma espécie de vibração de bem-estar, satisfação, serenidade e alguma exaltação interior de beleza, olhamo-nos e questionamos se nos momentos anteriores não teremos contemplado ou vivido um quadro de um grande artista, este é o sentimento da arte, do saber que nos eleva e nos faz sentir uma espécie do absoluto. Se o sentirmos, se o vivermos em exaltação e beleza karate é arte, se só descortinarmos murros , saltos e pontapés é qualquer coisa física, meramente formatada, nunca uma forma, esteticamente, diferente de ser e estar.
ResponderEliminarKarate, para mim, é uma arte,independentemente do que domino ou não, mas , sobretudo, pelo que procuro, num desejo impossível de absoluto.
Caro Armando, não sei se me perdi, ou se ultrapassei o tema, é o que faz não impor limites à arte da escrita, tal como muitas artes,muitas vezes, foge-nos ao controlo.
Grande abraço, tal como o J. Ramalho , agradeço a oportunidade de dissertar sobre o tema.
Boa Tarde sensei!
ResponderEliminarCompartilho com Argan (1994) adepto da teoria formalista, quando este nos diz que o conceito de arte não se define, pois ele sempre estará ligado a um tipo de valor. “Este está sempre ligado ao trabalho humano e às suas técnicas e indica o resultado de uma relação entre uma atividade mental e uma atividade operacional”.
Pedro Teixeira
Concordo com todos estes fantástios e verdadeiros comentários. Acrescento pouco mais, Bunkai.
ResponderEliminarOSS...
Olá Armando! Vou tentar dar um empurrão ao tema!
ResponderEliminar"Arte" é normalmente definida como uma atividade humana ligada a manifestações de ordem estética ou comunicativa, realizada a partir da perceção, das emoções e das ideias do autor de determinada obra, podendo ter o objetivo de estimular essas instâncias da consciência do próprio autor ou podendo ter a finalidade de fazer passar uma mensagem, atribuindo este um único significado para cada uma das suas obras. A arte apresenta-se assim sob as mais diversas formas: pintura, escrita, escultura ou fotografia... De uma forma mais dinâmica poderemos dizer que certas formas de música, de dança ou de desporto também são arte...
Mas uma coisa é falar-se de uma obra de arte, outra coisa é falar-se de uma determinada arte... Falando-se de arte marcial, sou leiga no assunto!
Um abraço!
Luísa Costa
A propósito de artes marciais ou de guerra. O contexto histórico simplista impele-me a "defender" que em determinado momento e num determinado local, em face das circunstâncias de equilíbrio factual de forças,terá havido necessidade de resistir a uma opressão, através da aprendizagem duma forma de resistência física (sempre baseada numa enorme força interior de raiva e sobrevivência, perante um adversário que não tinha pejo em retirar vidas, nem moralidade nos actos que a isso levavam). Isto tudo numa zona onde qualquer tipo de armas estava interdita pela força das armas. Como um ser humano decente não aceita ser subjugado, desenvolveu-se secretamente uma forma de resistência ao opressor, que teria de ser letal, ou a vida do desafiante seria ceifada. Esta determinação de resistência obrigaria a grandes sacrifícios e capacidade de superação perante adversários mais numerosos e dotados de meios de dissuasão enormes, ou seja,era a arte clandestina da dissimulação de objectivos. Mas isto, afinal é uma história que todos ou quase todos conhecem.
ResponderEliminarOs costumes actuais fazem parecer esta opinião uma novela, mas aqui reside a diferença entre esses tempos e os actuais. Aquilo que era uma forma sofrida de sobrevivência real, hoje é pantominada em filmes de 3º. nível. O CAMINHO de cada um faz-se caminhando na direcção que cada um escolhe...com arte...e engenho.
Isto leva a outra discussão filosófica. É sobre a eficácia real dos actuais praticantes. Quantos julgam ser "perigosos" ou são induzidos a julgar isso de si próprios e quantos sobreviveriam no contexto atraz exposto?
Caro Dr. Armando:
ResponderEliminarComeçamos a enveredar pela passagem do Bujutsu a Budo... E desculpe-me mas são mais as questões que tenho a levantar do que os contributos!
Se continuássemos no campo do Bujutsu, seria o karate-do uma arte marcial?
Até que ponto um desporto pode ser considerado arte marcial?
De certeza que alguém mais credenciado do que eu poderá acrescentar algo.
Grande abraço
JA Neves