sábado, 23 de março de 2013

Formação? Ou ilusão?

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O que se entende por formação? "A formação é um processo contínuo e sistemático de aprendizagem no sentido da inovação e aperfeiçoamento de atitudes, saberes e saberes-fazer e da reflexão sobre valores que caracterizam o exercício das funções inerentes a cada profissão." (1) Mas a formação também pode ser "um conjunto de possibilidades de adaptação activa, algo muito diferente de «acomodação», ou seja, a oferta de um máximo de esquemas de comportamento possíveis face a novas situações e a condução a prováveis associações dos mesmos." (2)

Daí uma federação apostar na formação (complemento e/ou atualização de conhecimentos) dos seus treinadores.

De 2007 a 2009 a FNK-P ofereceu aos seus treinadores (em programa apresentado e calendarizado no início de cada época desportiva) 8 ações de formação distribuídas pelas 6 zonas do país (incluindo Açores e Madeira), sendo a formação que ia ao encontro dos treinadores e não estes atrás da mesma (Lisboa, Viseu, Paredes, Vila das Aves, Funchal, Almada, Porto, Guarda, Beja, Carcavelos, St.º Tirso e Ponta Delgada), e assim designadas: 1- Novas tendências da arbitragem; 2- As regras de competição adaptadas aos jovens; 3- Diário electrónico do treinador; 4- Metodologia de Treino de Shiai Kata; 5- Liderança e ansiedade no karate; 6- O marketing ao serviço do karate; 7- Ética, desporto e karate; 8- A legítima defesa e o praticante de karate.  

Em 2007 foram realizadas 10 ações de formação, num total de 33 horas, estando presentes 339 treinadores. Em 2008 realizaram-se 21 ações de formação, num total de 69 horas, em que participaram 550 treinadores. Em 2009 o panorama foi idêntico...

Os treinadores podiam livremente escolher os temas que mais lhes interessavam, para os quais tinham mais apetências ou estavam mais motivados, podiam selecionar os assuntos em que sentiam mais carências e escolherem as ações de formação em que queriam participar - daí a média aproximada de cerca de 29 treinadores em cada ação de formação.



Mas agora, como os treinadores têm de fazer em média por ano 12,5 horas, 15 horas ou 20 horas, todos acorrem - cerca de 90 em cada ação de formação - às ações de formação que aparecem mês sim mês não, mesmo que o assunto não lhes interesse diretamente! Mesmo que não estejam motivados... O que interessa é estar presente (diferente de participar e adquirir conhecimentos para transpor para o dōjō)... o que interessa são as tais horitas!!!


(1) ONOFRE, M., 1996, “A Supervisão Pedagógica no Contexto da Formação Didáctica em Educação Física”, in Carreiro da Costa, F.; Carvalho, L. M.; Onofre, M. S.; Diniz, J. A. e Pestana, C., “Formação de Professores    em Educação Física – Concepções, Investigação, Prática”, FMH-UTL, Cruz Quebrada, pp. 75-118.

(2) LAGRANGE, G., 1977, “Manual de Psicomotricidade”, Ed. Estampa, Lisboa.

11 comentários:

  1. Pois! A formação tem que existir... Se é para formar ou não, a questão já é outra... Mas pelo menos podem dizer que fizeram... Continuam os mesmos tristes...;)

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  2. Comentário de Vítor Alberto Valadas Rosa no Facebook, o que agradecemos:

    "Resposta difícil, Armando. Deixa cá ver: quando é feita com qualidade, com pessoas bem formadas, acho que é uma realidade. Já foi assim, quando estiveste à frente da FNK-P. No meu caso pessoal, depois de teres saído, dei uma horas, que a federação ainda me deve. São cerca de 150 euros, e, parece-me, que dois anos que já passaram, que não os vejo."

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  3. Verdade Dr. Armando! Aquilo que foi feito sem grande aparato ou estrondo mas útil foi destruído. Agora há grandes parangonas, cinesiologias, parcerias com manz's e afins... mas o que aproveitam os treinadores?

    Abraço grande!

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  4. Comentário de Adriano Botelho de Sousa no Facebook, o que agradecemos:

    "Porque também tenho um diploma de Treinador de Desporto de Karate, e principalmente porque fui muitos anos dirigente Associativo e Federativo, agente formador em karate de estilo e de arbitragem competitiva, não vou focar a minha opinião nesta FNK nem em nenhuma época específica. A formação de agentes de ensino é uma necessidade básica de qualquer via de aprendizagem e, para que se encontre um estado de excelência, deveria estar à disposição de todos e, gratuitamente. Infelizmente, numa sociedade virada para "os mercados", não passa dum negócio lucrativo para os promotores que sim, ensinam melhor ou pior mas, recebem contrapartidas por vezes chorudas. Por exemplo, a FPKDA vivia mais dos cursos de formação do que própriamente das quotizações. E, sendo obrigatória a formação para a legalização da prática, não passa neste momento dum instrumento económico para gerar receitas e "acarneirar" quem precisa dum papelito para poder ensinar. São as regras da UE meus caros...."

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  5. Foi Sartre que nos disse que "o homem está condenado a ser livre". Mas teremos de equacionar esta afirmação no caso presente! E recorro a Yvette Centeno*: "Quem não pode escolher não é livre e nós neste momento, como nos repetem a todo o tempo, não temos escolha, não podemos decidir (alguém, sem rosto, está sempre a decidir por nós)."

    Mas teremos - deveremos - mesmo equacionar a afirmação de Sartre? "O importante na escravatura não é o facto de haver escravos, é que a questão não pode e não deve ser levantada."**

    Perguntava-me alguém recentemente quais os motivos de tantas visualizações deste blog e tão poucos comentários? Está aí a resposta: não somos livres... e há questões que não podem e não devem ser levantadas! Ou se o forem, não se responde a elas para não se ficar comprometido!!!


    * Que valores para 2013? - Yvette Centeno, "Defendo o poeta na cidade", Público, 06.01.2013, pp. 16-17.
    ** Cornelius Castoriadis, 2012, "A Ascensão da Insignificância", Lisboa, Bizâncio.

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  6. Sensei Armando:

    A verdade dói! E dói ainda mais quando se põe o dedo na ferida. Como em tudo nesta sociedade mercantilizada, há os que servem o karaté e os que se servem do karaté. E tal como nesta sociedade e no nosso Portugalzinho, os decisores querem, podem e mandam e os karatekas, qual cordeirinhos, amocham e nem sequer nada dizem. Na sociedade as pessoas ainda estrebucham, manifestam-se, reclamam no Facebook, reencaminham mails... no karaté calam-se com medo de perderem os compadrios, de verem devassadas as suas coutadas.
    Houve acções de formação dadas por pessoas credenciadas que transmitiram os seus conhecimentos com humildade, que partilharam os seus saberes... agora há ações de formação dadas também por pessoas com conhecimentos... mas que estão lá no alto! Esquecem-se que quanto mais alto mais baixo acabam por cair.
    Por que tem poucos comentários Sensei? Não se preocupe, tenho falado com alguns que seguem este blogue assiduamente mas não comentam para não se exporem... apesar de concordarem com muito do que nele é expresso! Dar a cara? Conte quantos são!
    Vamos continuando Sensei! Aplaudamos o que é de aplaudir mas denunciemos o errado!
    Grande abraço!

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  7. Sensei Armando:

    A verdade dói! E dói ainda mais quando se põe o dedo na ferida. Como em tudo nesta sociedade mercantilizada, há os que servem o karaté e os que se servem do karaté. E tal como nesta sociedade e no nosso Portugalzinho, os decisores querem, podem e mandam e os karatekas, qual cordeirinhos, amocham e nem sequer nada dizem. Na sociedade as pessoas ainda estrebucham, manifestam-se, reclamam no Facebook, reencaminham mails... no karaté calam-se com medo de perderem os compadrios, de verem devassadas as suas coutadas.
    Houve acções de formação dadas por pessoas credenciadas que transmitiram os seus conhecimentos com humildade, que partilharam os seus saberes... agora há ações de formação dadas também por pessoas com conhecimentos... mas que estão lá no alto! Esquecem-se que quanto mais alto mais baixo acabam por cair.
    Por que tem poucos comentários Sensei? Não se preocupe, tenho falado com alguns que seguem este blogue assiduamente mas não comentam para não se exporem... apesar de concordarem com muito do que nele é expresso! Dar a cara? Conte quantos são!
    Vamos continuando Sensei! Aplaudamos o que é de aplaudir mas denunciemos o errado!
    Grande abraço!

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  8. Um sincero obrigado aos que vão lendo mesmo que não comentem...

    Penso que foi Leonardo da Vinci que disse algo como: "enquanto lá fora falarem de mim, é sinal que ainda existo!" e ao ler o comentário anterior não resisti a ir buscar uma mensagem que me foi enviada atravé do Facebook pelo Ricardo Gonçalves e que, mesmo sem a sua autorização, pois decerto não se oporá, aqui transcrevo:

    "É uma honra tê-lo como amigo no facebook. Não o conheço bem, mas sou um leitor regular do seu blogue, que considero ser de longe o melhor blogue de karaté nacional. Não se limita a dar uma opinião sobre determinado assunto, coloca as questões, deixa-as em aberto, dando assim liberdade ao leitor para reflectir. Não o aprisiona nem o leva numa determinada direcção, excepto a direcção da reflexão sobre os problemas ou as situações que expõe. Eu é que tenho de lhe agradecer por me fazer pensar e abrir horizontes. Um abraço."

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  9. Todo puede y debe cuestionar! Si hay alguien que no es capaz de contestar, sólo muestra su carácter débil!

    Karateka Raton siempre tiene la razón.

    Saludos desde España.

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  10. Uma vénia ao Ricardo Gonçalves pelo seu comentário!

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  11. Retirado de um mural por aí no feicebuk: "Decorre em ... ... no próximo dia ... ... uma ação de formação que serve para acumulação de créditos, necessários à manutenção da cédula de treinador."

    E eu a pensar que a formação servia para complementar ou atualizar conhecimentos!!!

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