domingo, 31 de março de 2013

O pseudo-verdadeiro

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Não sou fã de Miguel Esteves Cardoso. Por isso mesmo sou insuspeito! Começo por não perceber porque escreve “Facebook” e “Internet” com maiúsculas… (tal como muita gente, tanta gente que às vezes até eu escrevo!) Mas tenho de me curvar perante o seu artigo “O pseudo-verdadeiro”, publicado no jornal «Público» a 17.02.2013, na página 45. Aqui fica na íntegra, porque merece ser lido até ao final!



«Abre-se um jornal ou uma revista; vê-se um anúncio de televisão; vai-se ao Facebook ou ao raio que o parta na Internet e é tudo tão fake que o que mais dói é ser tão aberta e facilmente descobrível ser tão fake.
Sempre foi assim. O que mais horroriza agora é que as pessoas – os seres humanos com quem contactamos – não só ecoam a falsidade do que recebem, acriticamente, online, como a prolongam e trazem para a vida real, como se fosse verdade.
“Viste a mentira/hipocrisia/fraude que eu usei para dizer bem, ironicamente, da mentira/hipocrisia/fraude com que pareço andar obcecado, apesar de, presentemente, não estar?” E a resposta não é tanto “sim” mas “por onde hei-de eu começar?”
Os americanos têm fake como dantes, como J. D. Salinger, se dizia phoney, a fingir. As línguas latinas não têm adjectivos à altura de tal baixeza. Chamamos hipócrita, fraudulenta e armada em carapau de corrida a pessoa que tenta fazer passar-se por quem não é.
Desde as relações públicas às revistas ditas cor-de-rosa tudo é projectado e emitido com um sentimentalismo mentiroso e ignorante, que desconhece a verdade e, através dessa ignorância, atinge a inocência da gula de quem quer comer à custa da curiosidade de quem é incapaz, por preguiça, incompetência e incultura, o que não lhe apetece nem saberia apreciar.
Dantes a hipocrisia era mais sincera: sabia-se o que era dito por ser esperado ou por ser boa educação. Ainda era possível distinguir. Hoje já não é.»


Num blog sobre Karate-dō ou sobre desporto, um post destes? Quais os motivos? Fácil!... É só uma questão de fazermos o transfer! Alguns saberão o que quero dizer... ou então leiam o livro "Desporto - geometria de equívocos"* do recém eleito Presidente do COP, José Manuel Constantino, que aqui aproveito para saudar publicamente, enviando os meus parabéns, tal como ao Presidente da FNK-P, João Salgado, que integra a sua comissão executiva!

*J. M. Constantino, 2006, "Desporto - geometria de equívocos", Lisboa, Livros Horizonte.



5 comentários:

  1. Caro Armando, na verdade o desporto nacional é uma geometria de equívocos. Não conheço o livro do senhor José Constantino, quanto ao "transfer" não arrisco, mas concordo que muito do que escreve MEC se pode aplicar ao nosso desporto.
    Abraço,
    Luís Sérgio

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  2. Caro Armando, na verdade o desporto nacional é uma geometria de equívocos. Não conheço o livro do senhor José Constantino, quanto ao "transfer" não arrisco, mas concordo que muito do que escreve MEC se pode aplicar ao nosso desporto.
    Abraço,
    Luís Sérgio

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  3. Sensei Armando:

    "Dantes a hipocrisia era mais sincera: sabia-se o que era dito por ser esperado ou por ser boa educação. Ainda era possível distinguir. Hoje já não é." Porquê? Porque temos muitos a quererem agradar a deus e ao diabo, agregos e a troianos... muitos oportunistas.... e temos muitos exemplos no nosso meio!

    Churchill dizia que o apaziguador dá de comer ao crocodilo na esperança de ser comido por último... Se não é difícil ver quem é o apaziguador, mais difícil será dizer quem é o jacaré e o corcodilo.

    Abraço amigo.

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  4. Sensei Armando:

    "Dantes a hipocrisia era mais sincera: sabia-se o que era dito por ser esperado ou por ser boa educação. Ainda era possível distinguir. Hoje já não é." Porquê? Porque temos muitos a quererem agradar a deus e ao diabo, agregos e a troianos... muitos oportunistas.... e temos muitos exemplos no nosso meio!

    Churchill dizia que o apaziguador dá de comer ao crocodilo na esperança de ser comido por último... Se não é difícil ver quem é o apaziguador, mais difícil será dizer quem é o jacaré e o corcodilo.

    Abraço amigo.

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  5. Caro Armando Inocentes:

    MEC apresenta-nos aqui um dos ramos da sociedade de consumo (Baudrillard, Lipovetsky) em que até o superficial é consumível. A hipocrisia também é consumível, pois também é vendida e sem prazo de garantia!

    Abraço amigo!

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