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Terça feira passada, dia 26 de agosto, em "A Bola", na página 3, o Dr. Hermínio Loureiro pedia "mais cultura desportiva..."
Começa por afirmar na sua crónica (ou coluna) que "muito se fala sobre sustentabilidade do desporto em Portugal. Nos últimos tempos, vários desportistas de nível internacional vão mostrando o seu incómodo relativamente ao futebol. Esta intolerância preocupa-me e julgo mesmo que devia ser feita uma reflexão sobre as razões porque acontece." Completamente de acordo e daí a razão deste post... embora me pareça que esse "incómodo" não é em relação ao futebol mas em relação ao modo como os desportistas do futebol e esses outros "vários desportistas" são tratados não só em termos de apoios económicos como em termos de comunicação social ou de reconhecimento pelas mais altas instâncias do país...
No segundo parágrafo afirma que "ninguém sabe explicar se o problema da nossa competitividade externa é de falta de dinheiro ou da necessidade de melhorar e otimizar o uso do atual financiamento. Nenhum estudo científico identifica o dinheiro como determinante para o sucesso desportivo." Igualmente de acordo, pelo que ambos só poderemos especular sobre tal... E aqui especularei sobre o mito da igualdade de oportunidades dos participantes
no desporto. O desporto pretende apresentar a todos os seus interveniente
diretos uma igualdade de possibilidades dado que o espaço onde desenvolve as
suas actividades assim como as normas que regem as mesmas são comuns. Mas o
desporto ignora a igualdade de condições desses mesmos atletas – condições
individuais diferentes (quer sejam de ordem genética, anatómica, fisiológica ou
psíquica), condições de treino diferentes (no que diz respeito a instalações, a
treinadores e a todo o restante apoio, incluindo o económico) e até diferentes
condições de participação no momento (tempo) comum a todos os atletas (onde os
antecedentes, os níveis de preparação e as circunstâncias de momento emergem). E isto dentro de uma mesma modalidade! Se extrapolarmos para modalidades diferentes...
Não, e de facto não, "não existem receitas mágicas para ultrapassar dificuldades e constrangimentos"! Mas no campo da gestão desportiva, seria conveniente sabermos como é que apenas 22 atletas (nos Europeus IPC) conseguem trazer para casa uma medalha de ouro, seis de prata e três de bronze, enquanto que nos Europeus de Atletismo 44 atletas só conseguem trazer 2 medalhas... No campo da prestação dos atletas, enquanto Carlos Lopes dizia que "só tinha uma coisa na cabeça: ir para ganhar" (A Bola, 12.ago.2014, p. 22), outros agora vão lá para dentro só para fazer o melhor possível... e contentarem-se com sextos lugares...
E prossegue declarando que "as organizações desportivas, bem como os agentes políticos vão ter de ser capazes de mobilizarem o país para o aumento da cultura desportiva." Mais uma vez estou de acordo, mas só quando "cultura desportiva" não se confundir com «cultura futeboleira»... ou quando se deixar de estar aprisionada pelo "fazer mais e melhor com menos" (Passos Coelho na sua tomada de posse como PM). A cultura desportiva vive-se em tempo diferido, enquanto o que se vive em tempo real é a informação... e informação não é conhecimento!
"Não é a chorar constantemente pela falta de apoios que vamos atingir os objetivos." Pois não! Mais uma vez o Dr. Hermínio Loureiro tem razão! É a exigir...
"Todos, sem exceção, temos que contribuir ativamente para a promoção da prática desportiva, bem como consolidar e aumentar o peso político do desporto, em especial junto da economia, fiscalidade, turismo, educação, formação profissional, ambiente e qualidade de vida." Pena não seguirmos o exemplo dos Ingleses, que logo que terminou London 2012 começaram a incrementar o desporto no seu sistema de ensino. Nós por cá, não nos preocupamos sequer com o desporto escolar, quanto mais com o desporto na escola...
Por fim, o Dr. Hermínio Loureiro diz-nos que "o apoio ao desporto não pode ser encarado como custo, mas como um investimento com retorno na área da saúde pública." Sem dúvida, e também um investimento com retorno na área da educação e do ensino... Mas por onde anda esse investimento? Claro está que é de enaltecer o esforço de algumas federações assim como do COP, mas será suficiente? Em caso negativo, então o melhor será rever toda a dinâmica organizacional do desporto, sim, porque a alta competição não se compadece com amadorismos.
A terminar, uma frase de ouro: "não basta olhar para o futebol com inveja..." Aqui, permito-me discordar, pois talvez não seja "inveja", mas falta de equidade! Basta exemplificar com atletas e competidores que se vêem obrigados a treinar antes de irem para o seu emprego e depois de terminarem o seu horário laboral, sem apoios, sem patrocínios... Nomes? Bastará deixar aqui o de Clarisse Cruz e de Nuno Dias...
Acredito que o Dr. Hermínio Loureiro, limitado por questões de espaço no jornal referido, não tenha tido a possibilidade de explorar mais profundamente estas questões, mas exatamente por uma questão de cultura desportiva teremos de ter em conta o que nos disse Paquete de Oliveira esta semana (Público, 24.ago.2014, p. 55): "(...) o primeiro radicalismo a evitar ou a combater é o que emerge do jornalismo, do sectarismo informativo."
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