quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Normal

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As quatro virtudes cardeais foram apresentadas inicialmente a partir da discussão de Platão, sensivelmente 300 anos antes de Cristo, na sua obra "República", no Livro IV. 

São elas a prudência (φρόνησις, phronesis), a justiça (δικαιοσύνη, dikaiosyne), a temperança (σωφροσύνη, sophrosyne ou moderação) e a fortaleza (ἀνδρεία, andreia ou força).

Foi durante o período feudal japonês que o código de honra dos Samurai se desenvolveu, embora o termo Bushidō raramente seja mencionado na literatura pré-moderna japonesa. O livro "Bushidō - The Soul of Japan" escrito por Inazō Nitobe é uma das primeiras obras escritas em inglês e para um público ocidental em 1905.

A justiça, a coragem, a benevolência, a cortesia, a sinceridade, a honra e a lealdade são apresentadas como sendo as virtudes do Bushidō.

Regista-se assim uma preocupação ao longo do tempo e em espaços diferentes em codificar conteúdos que possam orientar a vida do ser humano de um modo ético. Logo, e no mesmo sentido, normal também o aparecimento do jōkun...

Na Stanza della Segnatura, que Rafael (1483-1520) pintou no Vaticano em 1509, a "temperança" segura com as mãos, numa pose suave, as rédeas de um corcel que não é visível aos nossos olhos.


Assim estamos nós hoje em dia em relação ao jōkun, segurando as rédeas de um corcel que não é visível aos nossos olhos...

Normal a dissonância entre o propalado e o praticado!

Toda a gente pratica “o verdadeiro”, “o puro”, "o autêntico", “o tradicional” Karate-Dō! Ainda não encontrei ninguém que afirmasse praticar algo diferente (claro que estou a exceptuar aqueles que reconhecem só praticar "karate desportivo")...

Toda a gente recita o jōkun, mas como refere Thérese Delpech*, "os valores, de que se faz grande eco nos discursos, parecem bons absolutamente para tudo, menos precisamente para a acção." 




"O Regresso da Barbárie", Thérese Delpech, Quidnovi, Porto, 2007.

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