sábado, 31 de julho de 2010

E as garras transformaram-se em unhas...

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Diz o meu amigo José Jordão que «com o passar dos anos e com a prática da nossa arte passamos a ser pessoas mais calmas, tolerantes e humildes». Eu acrescentaria «alguns...»! É a minha opinião e vale o que vale!

A ser verdade, para uns isso deve-se à prática do Karaté, quando a transportam para as suas vivências diárias. Para outros, como diz o Prof. Olímpio Bento, "a idade amolece-nos"!

No entanto para esses «alguns» que eu acrescentaria, a prática do Karaté torna-os tudo menos humildes ou honestos. Como afirma o também meu amigo José Ramalho, «conheço alguns Mestres - mestres de arrogância, mestres de desonestidade, mestres de conflito, mestres de desrespeito, mestres de insensibilidade, mestres de "aparências".» E provavelmente eu também ... agora imaginemos se em vez de «alguns Mestres» tivermos de passar a dizer «alguns praticantes»! Será que eventualmente teremos de substituir o «alguns» por «muitos»? Mas se o fizermos teremos de nos interrogar sobre as causas disso... e se não estarão elas a montante...

«Apesar de todas as condicionantes existentes e das milhentas razões que estamos sempre arranjar uma justificação para os nossos erros, cabe-nos sempre a nós escolher quem queremos ser!» conclui o José Jordão. É bem verdade, pois já Ortega y Gasset dizia "Eu sou eu e as minhas circunstâncias. Se não as salvo a elas, não me salvo a mim" (e cito de memória). Por vezes conseguimos escolher o que queremos ser, mas por vezes somos condicionados e acabamos por ser aquilo que fazem de nós – é a célebre teoria da submissão à autoridade, de Stanley Milgram.

O que também me faz recordar aquele velho provérbio árabe: "Quem quiser fazer algo encontra um meio. Quem não quiser fazer nada arranja uma desculpa."

O Karaté é uma modalidade conotada com valores, com o respeito e a disciplina, onde o fim último não é a vitória ou a derrota mas sim o aperfeiçoamento do carácter dos seus praticantes, conforme afirmou um dos maiores Mestres desta modalidade. Mas há por aí alguns mitos... e os mitos não são eternos!

A agressividade (combatividade, persistência) faz parte da condição humana. O desporto é uma representação do combate, uma sublimação da violência, onde a derrota é a “morte simbólica” segundo o processo civilizacional de Norbert Elias e “qualquer jogo é um simulacro de combate em que não há derramamento de sangue”, conforme sustenta o meu amigo Joaquim Gonçalves. Uma evolução cultural comparável com o facto de ao longo da filógenese humana as garras se terem transformarado em unhas…

Cada estilo possui o seu dojokun – conjunto de normas que procura reger o comportamento dos praticantes dentro e fora do dojo –, sendo o mesmo o “não desaparecimento” do Bushido, a réstia do espírito do Budo que perpassou para o Karaté. Normas que pretendem transpor os valores da prática desportiva para a vida diária.

Procura-se assim ter presente em cada local de prática a existência de um Código Ético.

Mas também toda a modalidade é regida pelo “Código Ético do Karaté” emanado da Federação Mundial. Curiosamente, durante a época desportiva de 2007/08, verifiquei que dos Treinadores de Karaté participantes nas cinco acções de formação promovidas em todo o país pela FNK-P sob a denominação “Ética, Desporto e Karaté”, somente cerca de 1,6% conhecia o referido Código. Na última acção de formação, já em 2008/09, dos 48 participantes nenhum o conhecia.

Diz-nos esse Código Ético do Karaté o seguinte:

O Karaté é fundamentalmente BUDO e assim sendo, o seu código ético é inspirado pelo do BUSHIDO. Neste código, a honra e a lealdade são dois dos seus princípios mais importantes. Mas, não menos significativos, temos também: justiça, coragem, bondade e benevolência, sinceridade, correcção e respeito, humildade e modéstia e especialmente auto-controlo em todas as circunstâncias.

Estes valores são necessários para a vida em comunidade. No entanto, apesar de representarem a arquitectura espiritual do Homem, tendem a desaparecer nas sociedades modernas. Assim, a primeira grande missão de qualquer Cinto Negro é a de renovar estes princípios, tornando-os vivos com o seu comportamento exemplar.

HONRA - MEIYO
A dignidade fatal. Sem honra não poderá haver combate. Tudo depende disto. Significa possuir e respeitar o código ético de forma justa e dignificante.
"A honra é a poesia do dever." /Alfred de Vigny/

LEALDADE - CHUJITSU
A honra não pode ser usada sem sinceridade para com determinados ideais e para com as pessoas que a possuem. Ela é imprescindível para cumprirmos a nossa obrigação e mantermos a nossa palavra.
"A lealdade é necessária no bem-estar, é imprescindível na desgraça." /Séneca/

SINCERIDADE - SEIJITSU
A lealdade necessita de sinceridade nas nossas palavras e acções, porque a intimidade não pode existir sem ela. A mentira e a ambiguidade produzem a suspeita que é fonte de disputas e rixas.
A saudação no Karaté é uma expressão desta sinceridade. Ela é um sinal daquele que não oculta os seus ideais e sentimentos e consegue ser ele próprio.
"As palavras sinceras não são elegantes, as palavras elegantes não são sinceras." /Lao c'/

CORAGEM - YUUKI
A força de espírito que nos faz resistentes ao perigo e sofrimento chama-se coragem. Significa respeitar, sob todas as circunstâncias, tudo o que nos possa parecer bem e ser capaz de ultrapassar os nossos receios e medos. Valentia, entusiasmo e, sobretudo, vontade, são pilares de coragem.
"É preferível viver um dia como um leão do que 100 anos como um carneiro." /provérbio/

BONDADE e BENEVOLÊNCIA - SHINSETSU
A bondade e a benevolência são sinais de coragem e revelam um alto grau de humanismo. Dispõem-nos num estado de espírito que nos conduz à ajuda mútua e com a atenção dirigida aos outros, ao futuro, ao ambiente e ao respeito pela vida.
"A benevolência encontra-se no caminho dos deveres." /Mencius/

MODÉSTIA e HUMILDADE - KEN
A bondade e benevolência não podem ser expressas sem moderação na autoavaliação. A única garantia de modéstia é a capacidade de ser humilde, sem orgulho ou vaidade. Quer dizer, ser autêntico e real sem falsas imagens de si mesmo.
"Se os rios e os mares imperam sobre todos os riachos, é só porque eles se mantêm abaixo do nível destes." /Lao c'/

JUSTIÇA - TADASHI
Justiça significa seguir e cumprir deveres e nunca se afastar deles ou deixá-los. Lealdade, honra e sinceridade são pilares da justiça, capacitando-a de sensatez para as decisões correctas.
"Ninguém perderá no caminho correcto." /Goethe/

RESPEITO - SONCHOO
A justiça evoca o respeito aos olhos daqueles que nos rodeiam. Caracteriza a capacidade de tratar as pessoas e as coisas com consideração, não olhando à sua idade, mérito ou religião.
Correcção no comportamento é expressão do respeito pelos Homens sem reparar nas suas riquezas, fraquezas e posição social.
Etiqueta e cerimonial são a expressão do respeito e da correcção.
"Aquele que não respeita a Deus e a si próprio, embora respire, não vive." /Provérbio Sânscrito/

AUTO-CONTROLO - SEIGO
Esta deveria ser a característica incondicional de todos os Karatecas. Significa o perfeito controlo dos nossos instintos e sentimentos, sendo um dos alvos na prática de uma Arte Marcial. Além de tudo mais, os nossos sucessos estão dependentes disso. O dever e a honra na moral tradicional estabelecida para o Karate-Do são a base para conseguir esta perfeição.
"Um lago reflecte as estrelas melhor do que um rio." /Th. Jouffroy/

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Temos assim em cada dojo um código a nível micro e um código a nível macro para a modalidade desportiva. Mas atente-se que "a primeira grande missão de qualquer Cinto Negro é a de renovar estes princípios, tornando-os vivos com o seu comportamento exemplar".

Comparado com outras modalidades desportivas, seria motivo para alegarmos que, sendo o Karaté proveniente de uma arte marcial ancestral imbuída de valores, nesta modalidade encontrar-se-iam maiores e mais exemplos de «fair-play» e seriam mais frequentes comportamentos éticos e morais. Encontrariamos na nossa modalidade mais justiça e humildade, mais respeito e sinceridade...

Será isso verdade? Será isso uma realidade actualmente?


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segunda-feira, 26 de julho de 2010

E nós aqui tão perto...


O espanhol Alberto Contador venceu pela 3ª vez o Tour de France... e repare-se que desde 2006 esta prova velocipédica tem sido sempre ganha por nuestros hermanos...

No futebol, tanto no Europeu como no Mundial, a Espanha sagrou-se campeã...

Nos últimos Jogos Olímpicos, em Pequim, os espanhóis trouxeram para casa 18 medalhas...

No hóquei em patins, apesar de nós termos 15 títulos Mundiais e 20 Europeus, a Espanha venceu os últimos 3 Mundiais assim como os últimos 5 Europeus (e já vão com 14 Mundiais e 14 Europeus, quase a apanharem-nos!)...

Rafael Nadal é o número um do ranking ATP com 8 títulos do Grand Slam, tendo ganho este ano Roland Garros e Wimbledon...

Na fórmula um, Fernando Alonso foi o mais jovem Campeão do Mundo de sempre, vencendo em 2005 e 2006...

No basquetebol Paul Gasol brilha na NBA e o Barcelona é bicampeão da Europa...

No andebol, os espanhóis foram Campeões Mundiais em 2005 e medalha de bronze nas últimas quatro edições dos Jogos Olímpicos...

Até no futsal, desde que a FIFA organiza o mundial, só Brasil e Espanha chegaram ao mais alto lugar do pódio...

Em 2009, a Espanha obteve a sua primeira medalha de ouro nos Mundiais de Natação de Roma...

No Karaté, 20 medalhas de ouro em Campeonatos Mundiais, 20 de prata e 52 de bronze, com mais 3 primeiros lugares, 3 segundos e 2 terceiros no último Europeu em Atenas (e só estamos a falar de séniores)...

Hoje iniciam-se os Europeus de atletismo em Barcelona...
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E nós aqui tão perto.... por que motivo será?

terça-feira, 20 de julho de 2010

Data Marcada!

O 10º Gasshuku Europeu da Okinawa Goju-Ryu Karate-Do Kyokai realizar-se-á desta vez em Los Alcázares. Apesar deste evento, que de cinco em cinco anos se realiza em Múrcia, Espanha, no próximo ano não se efectuar na própria cidade de Múrcia, Los Alcázares fica na mesma região mas perto do Mar Menor.

Embora ainda estejamos a uma certa distância do mesmo, há que agendar as datas: de 21 a 24 de Abril de 2011.
Toda a comunidade europeia da OGKK aí estará reunida, estando também presentes os representantes da mesma em Portugal.
Será só uma questão de nos organizarmos e...

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Instrutores há muitos... Mestres poucos há!

Ao contrário do que a maior parte de nós imagina, o termo "Sensei" não significa "mestre". Decompondo etimologicamente a palavra, "Sen" significa "antigo, que se antecipou", enquanto "sei" está imbuído do conceito de "existência, pureza". Logo, "Sensei" é aquele que existe antes de nós em determinado campo e que detém uma existência pura, exemplar.

Os japoneses chamam Sensei aos seus pais, ao seu médico, ao seu professor... e dentro das Artes Marciais o título de Sensei é aplicado àquele que ensina como verdadeiro pedagogo, àquele que forma, àquele que se situa verdadeiramente dentro da via - daí a existência do termo "Do".


"Mestre" não é um título, é uma relação que se estabelece entre o que compartilha os seus ensinamentos com outro, é a criação de uma empatia entre dois seres humanos, é a partilha de conhecimentos mas também de sentimentos, de vivências e de ideais.

Aliás, a legislação portuguesa só reconhece o título de "Treinador", logo não há instrutores, professores nem mestres de Karaté. Há Treinadores de Karaté! Porém, habituámo-nos ao instrutor, ao professor e ao mestre...

Como nos diz Thomas Cleary em «A Arte Japonesa de Criar Estratégias», sabemos "que a forte presença militar que caracteriza a história nacional do Japão imprimiu determinados elementos do ethos guerreiro em importantes esferas do pensamento e da sociedade japonesa, bem além do contexto original". Daí o facto de a sociedade japonesa ser uma sociedade altamente hierarquizada e disciplinarizada (forma civil de militarismo às vezes disfarçada de Zen ou de Artes Marciais, segundo o mesmo autor) - de onde resulta a necessidade de graus, de patamares e de títulos específicos conforme o lugar e as funções que se ocupam na mesma (os kyu, os dan, os senpai, os sensei, os shian, os renshi, os kyoshi, os hanshi...).

Qual o motivo da técnica ser definida como o mínimo de esforço para o máximo de eficácia? Segundo Alan Watts, em «O Espírito Zen nas Artes Marciais», "'a economia de força' é o princípio Zen de ir direito para a frente', e na vida, como na arte, o Zen jamais desperdiça energia parando para explicar; ele somente indica". Tal como o verdadeiro Mestre, ele somente indica...

A idolatria pelo "mestre", o seu endeusamento, pode por vezes tornar-se doentia e fazer-nos cair em fundamentalismos... até porque a mentalidade japonesa é diferente da mentalidade europeia, a cultura ocidental nada tem a ver com a cultura oriental e Florence Braunstein, em «Penser les Arts Martiaux», faz-nos notar que “a oposição fundamentada entre o Ocidente e o Oriente repousa a maior parte das vezes sobre a construção de um eu, a procura fanática de um ego. A compreensão falseada da grande maioria dos praticante de Artes Marciais do contexto cultural destes últimos conduziu-os a comportamentos no limite do patológico sobre o Dojo. A vontade de perder o seu ego conduziu-os a uma vontade de submissão que fazia do Sensei, não um mestre, no sentido do magister latino, pondo de parte a conotação espiritual, mas a um dominus. As respostas oscilam entre a afirmação de si e a negação de si, simultanea e contraditoriamente, num movimento que em cada um dos extremos pode conduzir à transposição para um limiar patológico. O indivíduo pode abandonar a sua solidão na psicose, entre exaltação e depressão, entre a certeza paranóica de ser o único e o centro de tudo e o trabalho esquizofrénico do apagamento de si”.

Enquanto no Japão houve uma evolução socio-historico-cultural, nós ao importarmos o Karaté provocámos uma aculturação - algo se perdeu, algo se modificou, algo se ganhou... Há aqui, portanto, uma transformação temporal e uma transformação geográfica.

Na opinião de Affonso Sant’Anna em «O Homem que Conheceu o Amor», “Mestre é aquele que tem poder e conhecimento. O melhor Mestre é aquele que não tem poder nem conhecimento, mas está disposto a perder poder para desvendar múltiplos conhecimentos. Neste caso, perder é uma maneira de ganhar e conhecer é começar de novo".

E é nesse perder poder e começar de novo em conjunto com outrém que se funda um verdadeiro relacionamento. Essa relação estabelecida entre quem tem conhecimentos e os transmite a alguém que elege para deles ser depositário denomina-se em japonês "giri". Seguindo Maurice Pinguet, em «A Morte Voluntária no Japão», o termo ‘giri’ tem o significado de “obrigação, dever, dívida moral que liga o sujeito a qualquer pessoa da qual tenha recebido benefício ou favor. O giri, não sendo baseado numa lei universal, não é nem a justiça no sentido ocidental nem o contrato precário entre dois indivíduos, que se anula quando o seu objecto é atingido. Os vínculos do giri estabelecem-se entre pessoas concretas, bem determinadas, que podem estar em situações diferentes (pai-filho, mestre-aluno, suserano-vassalo, patrão-empregado) ou equivalentes (vizinhos, aliados, amigos, colegas, camaradas). Essas relações duráveis, irrevogáveis, comportam a ideia que o sujeito faz de si mesmo e a estima que se tem por ele; são confiadas à sua descrição, à sua delicadeza. É preciso devolver um benefício, ou melhor, mostrar que ele não foi esquecido, e o pagamento, que aliás não anula mas alimenta a relação, pode-se revestir das mais diversas formas, na maioria das vezes simbólicas.”

O Mestre não é só pois aquele que unicamente transmite a técnica, aquele que é mais graduado, aquele que se encontra à frente do Dojo ou da Associação, o Mestre é aquele que estabelece laços afectivos com o discípulo e este para com ele fica em dívida, é o indivíduo que para além de ministrar o treino forma e educa para a vida, e, como refere Florence Braunstein em «Les arts Martiaux Aujourd'hui - états des lieux», "le maître, rappelons-le, c'est celui avant tout qui maîtrise et qui se maîtrise".

Daí o facto de instrutores, ou treinadores, haver muitos.... porém, Mestres, poucos há!

Quanto vale uma imagem? Só mais que mil palavras?

Tanto «A Bola» como o «Record» de ontem, dia 14 de Julho, noticiam que a imagem de João Garcia - o único português a escalar as 14 montanhas acima dos 8.000 metros sem oxigénio - vale mais de seis milhões de euros. Segundo um estudo da empresa NewsSearch, entre o 1º semestre de 2009 e o mesmo período de 2010 o valor monetário das notícias sobre este alpinista cresceram cerca de 90%, pois de 620.319 Euros no primeiro período passaram para 6.224.520 Euros no último.
Quem é (ou era) o seu principal patrocinador? O Millenium...
Quando o desemprego em Portugal atinge os 10,5%, tendo actualmente a quarta taxa de desemprego mais elevada da Zona Euro, depois da Eslováquia (13,7%), Irlanda (13,8%) e Espanha (18,8%) e quando possui 54.600 licenciados dentro desses 10,5% - 54.600 licenciados desempregados, a maior taxa de licenciados desempregados na Europa per capita mas o país com menor número de licenciados per capita da Europa - coloca-se uma questão: por que motivo é que um seleccionador nacional de futebol, que ganha 1,6 milhões de Euros por ano recebe 720 mil Euros de prémio por estar presente nos oitavos de final do Campeonato do Mundo? Porque afinal só perdemos com a Campeã do Mundo (triste consolação!)? Quando aumenta em Portugal o número de milionários tal como aumenta o número daqueles que mal possuem dinheiro para comprar a sua alimentação, as suas roupas e os seus medicamentos, justifica-se este prémio? Talvez a única resposta resida no facto do Seleccionador Nacional de Futebol ser um Treinador Licenciado... (Já agora, quanto ganha mensalmente o Seleccionador Nacional de Karaté, que possui a mesma licenciatura que o Seleccionador Nacional de Futebol? Talvez me atreva a dizer que não possui ordenado mensal!).
Por que motivo os treinadores de futebol e um jogador são obrigados a prestar declarações à imprensa, principalmente à TV, no final de um jogo? "Jogámos bem, saímos de cabeça erguida, estou aqui para trabalhar e ajudar a equipa, vou dar o meu melhor..." Não, não é por causa das respostas aos entrevistadores nem por causa das palavras... O objectivo é o painel que se encontra por trás deles!
Reparem: Galp, BES, Modelo, TMN, Sagres, Samsung, Nike... E quem paga toda esta publicidade? Nós, sim, nós quando adquirimos estes produtos ou os produtos comercializados por estas empresas!

(foto: negociosdofutebol.blogspot.com)


A 16 de Agosto de 2008 o «Correio da Manhã» noticiava que o Presidente da Federação Portuguesa de Futebol auferia de um rendimento anual superior a 224 mil euros, pagando de impostos mais de 60 mil. Gilberto Madaíl acumulava com o salário da FPF – mais de 11 mil euros – uma pensão de reforma de funcionário público, na ordem dos quatro mil euros por mês. Quanto ganham os Presidentes das outras Federações? Tanto quanto sei, o Presidente da Federação Nacional de Karaté - Portugal nem sequer é remunerado...

Mas quando chegamos a um pavilhão onde se vai disputar um Campeonato Regional de Karaté, seja qual for a sua categoria, conseguimos ver afixada nas paredes e na parte frontal das bancadas publicidade - grandes painéis, placards, faixas... será que sendo estes campeonatos da responsabilidade da Federação, embora eventualmente organizados por associações ou clubes locais, o valor dessas imagens publicitárias reverte a favor da FNK-P?

E quando encontramos nos cartazes alusivos a esses campeonatos, ou a outros torneios ou eventos a frase "com o apoio da FNK-P" junto do seu logótipo - que é propriedade da Federação e está devidamente registado - a exposição dessa imagem reverte com alguma contrapartida para a própria Federação?

Pois é, somos amadores... Mas a alta competição e o rendimento não se compadecem com amadorismos!

Uma ou várias questões a ponderarmos...

Em Sintra, Carlos Diniz, cego e 1º Dan de Judo...

Aos 53 anos, Carlos Diniz é o primeiro cinto negro de Judo em Portugal.
No Judo Clube de Sintra, onde aos 73 anos pontifica o Mestre Bastos Nunes, no passado dia 3 deste mês, Carlos Diniz prestou provas perante um júri de graduações, sendo responsável pela sua candidatura o Mestre Fernando Seabra, 3º Dan, o único reconhecido e habilitado pela Federação Portuguesa de Desporto para Deficientes com competências para ministrar o ensino desta modalidade a praticantes com esta deficiência.
De parabéns não só Carlos Diniz, mas também a Federação Portuguesa de Judo, que desde 2006, com o apoio de Mestre Jean Perier, 7º Dan de Judo e responsável por esta modalidade a nível da Associação Internacional de Desporto para Cegos, desenvolve um projecto em parceria com a Federação Portuguesa de Desporto para Defecientes e com o Comité Paralímpico Português.

(Fonte e foto: Sintra Desportivo, Ano III, n.º 51, 12.07.2010, p. 2)

No Karaté não conhecemos casos deste género entre nós, mas no estrangeiro, pelo menos desde 1976 alguns invisuais têm obtido o seu 1º Dan, assim como a prática da nossa modalidade em cadeira de rodas também se verifica em alguns países.
Será que algum dia, em Portugal, as pessoas portadoras de qualquer incapacidade, quer seja mental ou motora, poderão e serão capazes de praticar a nossa modalidade orientadas por técnicos habilitados e com competências para tal?

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Acaso e causalidade...

Parafreseando o Dr. Abel Salazar, "quem só percebe de medicina nem de medicina percebe". Parafraseando o Prof. Manuel Sérgio, "quem só percebe de desporto, nem de desporto percebe". Logo, é lógico que "quem só percebe de Karaté nem de Karaté percebe"! Ora, para parecer que percebo um pouco de Karaté hoje vou desabafar sobre futebol!
Vem isto a propósito do Mundial de Futebol que ontem terminou. Foi um Mundial essencialmente ingrato para o Gana e para o Uruguai. Para o Gana porque para além de falhar aquele penalty nos minutos finais e que o levou a um prolongamento, também um penalty falhou nas decisões da marca da grande penalidade ditando a sua eliminação. Para o Uruguai porque aquela bola na trave de Fórlan no último minuto o levou para a discussão do 3º e 4º lugar - o que define o pior dos três primeiros e a frustração definitiva daquele que poderia ter estado no pódio e não esteve. Acasos do futebol... e no Karaté também não haverá acasos?
Portugal sente-se feliz com a sua prestação: afinal só perdeu com a Campeã do Mundo... foi essa a causa por que fomos eliminados. Apareceram-nos os nossos vizinhos no caminho e... fado, sina, destino... estava escrito nos astros! Não, a culpa não foi do treinador, nem do ex-melhor jogador do mundo... foi da causalidade de termos de ter jogado com a equipa espanhola... e no Karaté também não haverá causalidades?
Por que motivo procuramos causas onde só existe acaso?
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sábado, 10 de julho de 2010

"Doping no ciclismo" ou "Justiça em Portugal"?

Desta vez deixo-vos com a coluna «Tiro e Queda» de Carlos Anjos, Conselheiro da ASFIC, publicada no passado dia 9 do corrente, na página 16 do "Correio da Manhã".

Sob o título "Doping no ciclismo", este cronista diz-nos os seguinte:

"O processo 'Doping no ciclismo' terminou com a absolvição dos arguidos. Como explicar que depois de se ter apreendido um grande número de produtos dopantes, de se ter apreendido material tecnológico para esse fim, de os ciclistas terem esses produtos em suas casas, de ao médico se ter apreendido documentos com o plano de tomas desses produtos por parte dos ciclistas e de nesse plano haver a indicação de que os atletas em determinados momentos tinham de se ausentar de casa para não serem alvo de controlos anti-doping de surpresa? Tudo isto valeu zero. Por vezes fica-nos a sensação que estamos todos à espera que os arguidos confessem os seus eventuais crimes que tenham cometido. Ficámos pois a saber que aquele grupo de ciclistas resolveu de forma individual ou em conjunto recorrer à auto-medicamentação, e que ninguém naquela equipa achou estranho os resultados que passaram a obter.
Arrisco-me a afirmar que esta decisão foi um péssimo sinal dado ao desporto em Portugal.
Foi um sinal de que tudo vale a pena, um sinal claro de que a batota pode compensar. Ao contrário do que vemos todos os dias acontecer noutros países europeus, onde a justiça é implacável com estas práticas, países onde foram feitas as análises aos produtos apreeendidos, em Portugal, parece que nada queremos fazer. É pena."
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quarta-feira, 7 de julho de 2010

A um passo das férias...

Acabei de ler com agrado um post intitulado "Guerreiros..." no blog do meu amigo José Jordão (http://karateleiria.blogspot.com/), que, seriamente, recomendo a todos que leiam atentamente... Claro que já coloquei lá um comentário!...

Mas a um passo das férias quero-vos deixar aqui uma citação de Jean Piaget que me "persegue" há trinta anos (aliás, coloquei-a no meu Relatório de Estágio quando me profissionalizei). Hoje quero partilhá-la convosco:

"O principal objectivo da educação é criar homens e mulheres capazes de fazerem coisas novas e não de repetirem simplesmente o que as outras gerações já fizeram - seres criativos, inventivos e descobridores.

O segundo objectivo da educação é formar espíritos capazes de criticar, de verificar e de não aceitar tudo o que se lhes propõe".

Guardem-na (se quiserem!) mas apliquem-na ao Karaté... o Karaté também é educação, o Karaté merece e as nossas crianças também!

Uma boas férias para todos!


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quinta-feira, 1 de julho de 2010

A todos os Treinadores (ou futuros treinadores) de Karaté!

O Instituto do Desporto de Portugal, I.P. (IDP, IP), deu início ao “PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES”, através da realização de reuniões com todas as Federações Desportivas, nos dias 26 e 27 de Maio.

E isso pudémos nós confirmar no nosso Fórum...

Com a publicação do Decreto-lei n.º 248-A/2008, de 31 de Dezembro, e do Despacho n.º 5061/2010, de 22 de Março, estão criadas as condições para se iniciar um conjunto de procedimentos, envolvendo o IDP, IP e as Federações Desportivas, conducentes à implementação daquele Programa.

As reuniões que se iniciaram, têm como objectivos a apresentação do Programa, esclarecimento dos processos e procedimentos a seguir, bem como a definição das tarefas a realizar pelas Federações Desportivas com Utilidade Pública (UPD), e pelo IDP, I.P.

No entanto, parece-me que pelo menos até ao final deste ano, poderá a FNK-P, assim o deseje, levar ainda a cabo, nos moldes anteriores, um Curso de TM - equiparável ao Grau I - e um Curso de TNI - equiparável ao Grau II.

Ora, tem a Direcção da FNK-P ao seu dispor pelo menos quase duas dezenas de formadores com competências técnicas, científicas e pedagógicas para poder levar a cabo esses dois cursos, até porque no presente ano cicil ainda nenhum Curso de Formação de Treinadores foi realizado.

Com quem poderá contar a direcção da FNK-P para serem ministrados esses cursos? É muito fácil, é só olharmos para os anteriores Cursos: Abel Figueiredo, Armando Inocentes, Nuno Cardoso, Joaquim Gonçalves, João Dias, José Ramos, João Palrilha, Cristina Caeiro Lopes, Gonçalo Esteves, Fernando David, José Chagas, Joaquim Fernandes, Davide Gomes, Bruno Rosa, Vera Lúcia Ramos, Vítor Rosa e Alexandre Ramos.

Quando? É muito fácil, é só consultarmos o calendário: 2, 3, 4 e 5 de Outubro - um fim de semana com ponte - e 30 e 31 de Outubro juntamente com 1 de Novembro.

Quem assumiu o Departamento de Formação, em conjunto com o Assessor Técnico do mesmo, Dr. Abel Figueiredo, poderão lançar mãos à obra...

Para os que não estiveram no nosso Fórum, aqui fica a apresentação que foi feita pelo Dr. Mário Moreira em representação do IDP, do futuro Programa Nacional de Treinadores.

O Jornal «A BOLA» descobriu...

Na edição do Jornal «A Bola» do passado dia 29 de Junho, na página 45, intitulada "A Bola de Estilos", é destacado o primeiro livro publicado pela FNK-P.
O Jornal «A BOLA» descobriu "Da Ética Desportiva às Perversidades no Desporto", um livro que foi oferecido aos Presidentes de todas as Associações pela Federação e que, pelos vistos, não passou despercebido a este diário desportivo.
Um livro onde se explora a ética desportiva, a moral no desporto, o fair-play e o espírito desportivo e que nos mostra comportamentos exemplares no desporto.
Mas um livro que nos mostra também a bivalência do desporto que acaba por fazer despontar no seu seio as suas perversidades: a violência, o doping, a corrupção, a fraude desportiva, a morte súbita, as lesões permanentes, a exploração infantil e o treino intensivo precoce, assim como a ingerência no mesmo da política e da religião, sendo até visíveis no mesmo casos de racismo e de terrorismo.