segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Dois portugueses, um francês e um inglês...

Admiram-se os meus alunos quando lhes digo que o Karaté, para além de ser praticado, também tem de ser estudado...
E não só o Karaté, mas tudo o que gira ao seu redor!
Assim, proponho-me aqui a aconselhar os interessados a lerem nestas férias alguma destas obras de interesse.

A primeira, embora de 1982, continua actual: "A Manipulação dos Espíritos", de um conjunto de autores sob a direcção de Alexandre Dorzynski e editada pela Assírio e Alvim. Este livro mostra-nos como desde pequenos somos sujeitos a pressões, voluntária ou inconscientemente exercidas que visam fazer-nos pensar (e agir) de um modo diferente do nosso e como somos submissos em relação a quem detém o poder ou a autoridade. Os autores tentam identificar e explicar as principais manipulações a que estamos expostos, pondo em evidência os mecanismos a que os manipuladores recorrem. Excepcional a apresentação da experiência de Stanley Milgram... e da sumissão à autoridade!
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Mas sendo o anterior um livro já antigo, embora actual - diga-se mais uma vez - e provavelmente difícil de encontrar no mercado, apresento uma sugestão alternativa que desenvolve o mesmo tema. Vicente Romano escreveu "A Formação da Mentalidade Submissa" que a Deriva publicou em 2006. Diz o autor que "o pensamento mágico, acrítico, gera uma consciência conformista, submissa. O que significa deixar por mãos alheias a solução dos problemas próprios, situação em que tudo pode ser facilmente manipulado por esses interesses estranhos."

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O terceiro livro, de autoria de Florence Braunstein e editado em 2001 pela L´Harmattan, assenta basicamente em três questões: a primeira assenta no que nós fizémos das artes marciais. Esta questão diz respeito ao modo como fomos do Bujutsu, "técnicas de combate", ao Budo, "a via do combate" e se tornou uma filosofia existencial. Ao impor os nossos ritos, os nossos ritmos, o nosso corpo e as nossas limitações físicas, complexificámos estes levando à sua estetização. Outra consequência é também a sua desportivização excessiva, e ainda mais removê-las de seu propósito original de técnicas de sobrevivência. A segunda refere-se ao que as artes marciais fizeram de nós e nos permitiram enfatizar as consequências de uma verdadeira ideologia da corporeidade e como elas, num mundo em vias de des-simbolização, de um indivíduo a quem a sociedade tem banalizado, delas não têm necessidade e como ele pode reconstruir e estabilizar a identidade graças a elas. Finalmente, o terceiro, leva-nos a questionar as artes marciais como possíveis novas técnicas de New Age de acordo com o conceito de eficiência ocidental, e não mais asiática, alterando assim profundamente o significado mesmo da estratégia e dos seus conceitos iniciais.

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Por último, de Charles Hackney, "Martial Virtues - lessons in wisdom, courage, and compassion from the world's greatest warriors", já editado este ano pela Tuttle Publishing. Aqui uma abordagem sobre de onde são provenientes estas virtudes, se são inerentes às artes marciais ou se podem ser cultivadas e ensinadas. O autor, percorrendo o mundo de Este a Oeste, socorrendo-se de filósofos, guerreiros e civilizações desde a antiga Grécia até aos Samurai e Ninja do Japão, emprega ferramentas da moderna psicologia para examinar o desenvolvimento dos valores marciais.

Leiam, que qualquer um deles vale a pena!...

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