sábado, 11 de setembro de 2010

Duas notícias...

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A primeira notícia faz-nos deparar esta semana com o falecimento do holandês Anton Geesink...
Um nome desconhecido para a maioria dos praticantes de Karaté porque Geensing foi um dos expoentes máximos do Judo, sendo membro do Comité Olímpico Internacional desde 1987.

Competindo na categoria mais pesada, Geesink foi o primeiro ocidental a conquistar um título internacional nesta modalidade. Geesink foi bicampeão mundial - primeiro em Paris, em 1961 e depois no Rio de Janeiro, em 1965, quebrando assim a hegemonia japonesa.
Nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 1964, após os japoneses já terem conquistado três (leves, médios e semi-pesados) das quatro medalhas de ouro que se encontravam em disputa na estreia da modalidade em Jogos Olímpicos, aguardava-se com expectativa o open. Ninguém acreditava que a supremacia nipónica seria posta em causa!
No Nippon Budokan Hall, bastaram 9 minutos e 22 segundos para Geesing derrotar o tri-campeão nacional japonês Akio Kaminaga, diante de 15.000 pessoas.
O Japão ficou em estado de choque, ao ver contrariada a teoria de que um judoca hábil poderia derrotar qualquer adversário, de qualquer tamanho. Dois anos após a derrota, Kaminaga suicidou-se como forma encontrada para pedir perdão pela derrota.
Mas nestes mesmos Jogos Olímpicos o Japão sofreu outro desaire, desta vez na maratona: Kokichi Tsuburaya, favorito, viu-se relegado para um segundo plano durante toda a corrida por Abebe Bikila. À entrada no estádio, Tsuburaya entrou isolado na segunda posição, mas nos últimos duzentros metros viu-se superado pelo inglês Basil Heatley, tendo de se contentar com a medalha de bronze. Nove meses antes dos Jogos Olímpicos do México, após o calvário de algumas lesões, Tsuburaya concluíu que seria impossível chegar à vitória nos mesmos. Mais um suícidio honroso: Tsuburaya cortou as carótidas com uma lâmina de barbear e deixou escrita uma só frase lacónica: "não posso correr mais".
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A segunda notícia, também desta semana, leva-nos ao futebol e ao Barcelona. A Direcção deste Clube anunciou a criação de um código ético para evitar que se repitam casos de corrupção e e uma gestão mais transparente da Direcção, ao mesmo tempo que também vai criar uma denominada «comissão de controlo e transparência».
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Exemplo que deveria ser seguido por todas as organizações deportivas... pois como dizia o prémio Nobel russo Alexander Solzhenitsyn, "porque hesitar , se teremos de tomar essa decisão, inevitavelmente, algum dia? Porque repetir o que outros fizeram e seguir o angustiante percurso até ao fim, quando não estamos ainda tão adiantados a ponto de não podermos retroceder? Se o que está à frente da coluna exclama «estou perdido», temos, necessariamente de ir até ao ponto em que ele percebeu o seu erro e, somente depois de ali chegar, iniciar o caminho de regresso? Porque não retroceder e enveredar logo pelo caminho certo, onde quer que nos encontremos?". Solzhenitsyn ainda admitia que quem estava à frente da coluna desse conta do seu erro... Mas o que acontecerá se esse não perceber o seu erro? Ou os seus erros?...

1 comentário:

  1. Caro Armando , dois bons textos que se interligam, porquê cortar as carótidas, depois de um desaire nos jogos olímpicos, onde ficou então o espírito olímpico ?
    O exemplo do Barcelona prende-se com a inevitável questão da ética no desporto, matéria que dominas bem e sobre a qual tens reflectido. Mas será que no contexto actual há muitos interessados em seguir o Barcelona. Não se passa nada em Portugal ?
    Por cá, desde o futebol ao Karaté, parece-me que a ética está moribunda e, os tristes exemplos que vêm de cima, como diz o povo, são de fugir.

    Grande abraço,
    Luís Sérgio

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