---
Há a tendência para definir o Karaté como «a via das mãos vazias» numa perspectiva etimológica. Atendendo ao conteúdo da actividade, a definição far-se-á pela eficácia (resultado) da técnica aplicada num determinado contexto táctico.
---
Tendência também para definir a Kata como a «essência» do Karaté.
---
---
Mas deveremos questionar se não serão demasiado superficiais estas questões.
---
---
Em primeiro lugar, porque encarando o Karaté como um manancial de técnicas que, se dirigidas a pontos vitais, poderão ser letais, a segurança e a integridade do parceiro de treino ou do adversário são fundamentais. Por isso mesmo a ênfase dada ao «controlo» no treino e na competição. Daí o preferir utilizar o termo «respeito» como sinónimo de Karaté. Dentro e fora do Dojo! Não será por acaso que em Okinawa existe um provérbio que reza “se respeitares os outros, eles respeitar-te-ão a ti!”.
---
Quanto à essência do Karaté, parece-me que não será de colocar a tónica na Kata mas sim na sua Bunkai. As inúmeras “técnicas escondidas” na Kata só se revelam na sua Bunkai… e esta é de tal modo relevante que a própria competição por equipas acabou por a adoptar…
Cada Kata possui a sua Bunkai Oyo, conhecida da maior parte dos treinadores e dos praticantes que, de facto, introduzem esta dimensão do seu próprio ensino e treino, como forma de melhor compreenderem a Kata, fazendo assim a sua análise e o seu estudo, pois esta não é uma mera coreografia – como pode parecer aos olhos do leigo – mas sim a representação de um combate real contra quatro adversários imaginários situados nos planos anterior, posterior e laterais mas que se podem deslocar hipoteticamente para planos diagonais.
Mas a partir da inicial Bunkai Oyo desenvolve-se um processo de revelação da aplicação prática da “técnica escondida” e um outro de criação quando existe pesquisa e investigação que nos levam a outras formas de Bunkai da mesma Kata mais evoluídas, mais elaboradas e mais “eficazes” com o devido «respeito» pelo acompanhante, pois a Bunkai é uma prática biunívoca.
Deixa então de ser uma tarefa fechada para se tornar numa tarefa aberta onde a criatividade, na impossibilidade de ser aprendida, se torna numa exercitação e numa busca constante.
Conclui-se então que o treino de Kata sem treino de Bunkai é incompleto, o que acaba por diminuir a "eficácia" do Karaté reduzindo a sua "essência"...
Embora concorde com tudo o que foi escrito neste post penso também que a ideia inicial na criação dos Katas seria não só de salvaguardar e perpetuar as técnicas próprias de cada estilo, como também permitir o treino a sós para aperfeiçoamento das técnicas e na impossibilidade de ter parceiro. Além disso Kata é diferente de Kumite, não penso que seja essencialmente pelo bunkai dos Katas que o nosso Karaté se torne mais eficiente, claro que tudo ajuda tal como o Kihon, mas penso que tem mais peso o treino de Kumite, a eficiência não vem só da técnica mas também do físico e principalmente do mental. Niju Kun "Primeiro espírito, segundo técnica".
ResponderEliminarPara mim o Kata é mais uma ferramenta de trabalho(aperfeiçoamento técnico) para o Kumite, é um meio de...
No entanto nas demonstrações publicas deveria-se fazer sempre Bunkai, porque senão quem não é praticante não percebe o Kata e portanto não pode apreciar o que está a ver.
Oss!
Permitam-me um breve olhar sobre o "todo" que chamamos Karate.
ResponderEliminarAo entrarmos neste mundo, nesta mini-sociedade que é o mundo das Artes Marciais, a primeira coisa que aprendemos é o Kihon 基本 "os fundamentos". Aprendemos a deslocarmo-nos e as várias formas e aplicações de técnicas.
Numa segunda fase, aprendemos os Kata 型 "formas/padrões" - estes são de facto a perpetuação do ensino original dos mestres fundadores (seja qual for o estilo de Karate).
Numa terceira fase aprendemos os Bunkai 分解 o que significa literalmente "compreensão das partes" e, imediatamente após, aprendemos as Ôyô 応用 "aplicações".
Ou seja. Aprendemos o movimento (Kihon), COMO deve ser executado (Bunkai) e a sua APLICAÇÃO (Ôyô) prática em COMBATE (Kumite 組手).
Não há a menor dúvida que esta sequência lógica de ensino/aprendizagem conferem outra dimensão à arte praticada porque, sem a menor sombra de dúvidas, o praticante precebe e compreende os objetivos dos movimentos de forma madura e sólida. "Saber" é sempre melhor do que fazer "ao calhas".
Agora, a minha questão é: será que realmente ensinamos/aprendemos um Bunkai consistente?
Tenho visto o ensino em incontáveis escolas ocidentais e até hoje NUNCA vi um único ponto vital ser ensinado nestas escolas!
Uma coisa é a bela "teoria" outra coisa é a crua "realidade" do ensino marcial... É que para ensinar tal matéria tem-se de saber realmente e isso implica ESTUDAR a arte! Tenho visto - quer nas vertentes desportivas quer nas vertentes mais "marciais" do Karate a instrução de combate ser direccionada "a um nível" genérico (Jôdan 上段, Chûdan 中段 ou Gedan 下段) sem nunca ser especificado qual ponto vital específico a atingir.
Uma coisa é a mística do Karate preciso e efetivo, outra coisa é o ensino/aprendizagem de qualidade propriamente dito...
Caro Joseverson, obrigado pelo seu comentário!
ResponderEliminarToda a razão sobre o facto de o Karaté ter de ser estudado!
No Goju-Ryu, vertente OGKK, estudamos os pontos vitais, daí os três níveis não serem genéricos: possuem pontos específicos para servirem como alvo. Consoante a percussão, a lesão, o desmaio ou a morte. Daí a importância do controle.
Grande abraço!