quinta-feira, 27 de maio de 2010

Fórum Nacional de Treinadores

Enviado a todas as Associações a 26 do corrente e presente na página da net da FNK-P, alertamos todos os Treinadores para o conteúdo que se transcreve:
"Programa Nacional de Formação de Treinadores
Considerando o interesse manifestado pela FNK-P ao longo dos últimos meses no acompanhamento da aplicação do Dec. Lei nº 248 A, de 31 de Dezembro e transmitido a V. Exas., informa-se que decorre hoje uma reunião entre o IDP e a FNK-P em âmbito a definir o plano de acções a produzir no futuro de acordo com o novo Programa Nacional de Formação de Treinadores. As principais linhas de força resultantes desta reunião serão dadas a conhecer publicamente em sede do Fórum Nacional de Treinadores a realizar a 10 de Junho do corrente ano, relativamente ao qual serão dados a conhecer oportunamente todos os detalhes."
Assim, terão os Treinadores de Karaté não só a oportunidade de se reverem em conjunto como de ficarem esclarecidos em relação ao acima exposto. Aguardamos comunicação sobre local e horário...

Nuno Almeida no pódio

Foi com particular alegria que tomei conhecimento que Nuno Almeida, o finalista da FMH que comigo partilhou momentos inesquecíveis durante o seu Estágio, subiu ao pódio no Campeonato Nacional da Liga de Shotokan, realizado no passado fim de semana no Pavilhão do Ginásio Sul da Cova da Piedade.
O 3º lugar, medalha de bronze no open de kumite, abre ao Nuno Almeida as portas para a participação nos treinos de selecção da Liga para apurar os representantes do nosso país no Europeu de Shotokan da ESKA.
A sua forma de encarar a competição, assim como os conhecimentos e as competências que possui auguram para este jovem de 22 anos um futuro promissor.
Força Nuno! Importante é ser paciente e nunca desistir! Desde já os meus parabéns e votos de sucesso para ti...
(Foto: Sporting Clube de Portugal http://www.sporting.pt/index.asp )

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Há quem nasça velho...

Estamos cada vez mais velhos, mais idosos... Mas, como diz Camilo José Cela (2002), “há quem nasça velho e quem morra, pasmado pelos anos, galharda ou ternamente jovem, conforme o temperamento e o ofício”, (...) “há quem nasça tendo já abdicado sem o saber (da mesma forma que os príncipes nascem príncipes) e há quem morra com netos e como sem ter dado importância à briga."

Mas numa sociedade que dá cada vez mais importância à moda, ao vestuário, ao culto do corpo, a idade deixa marcas no corpo... embora por vezes a mente se recuse a dar conta de tal. Mas a mente existe porque há um corpo, segundo Manuel Damásio (2003), e se o corpo é o suporte e fornece os conteúdos básicos de que o indivíduo necessita, a mente desempenha vários papéis úteis e necessários ao corpo, tal como o controlo da execução das respostas automáticas para um determinado fim, assim como a associação de várias ideias que permitam a antecipação e planeamento de novas respostas e de novos comportamentos (formação) – essa motricidade intencional de que tanto nos fala Manuel Sérgio em todos os seus livros.

O avanço na idade indica-nos que estamos cada vez mais perto do inexorável fim...

Na nossa sociedade, onde “os valores e as crenças determinam a nossa maneira de viver e de encarar o mundo” generalizou-se o gosto pelo poder, pela posse de bens materiais e difundiu-se a necessidade de competir (Daniel Sampaio, 2010). Mas por vezes também damos conta que temos a necessidade de cooperar.

Corpo e mente cooperam, tal como cooperam mente e corpo, num só uno, indivisível.

E se no “conforme o temperamento e o ofício” o primeiro é individual, característica de cada um, no nosso ofício – ofício de treinador – este já é comum a todos, embora desempenhado segundo cada um e por vezes de maneiras diferentes...

Num ofício em que o corpo já foi jovem e, provavelmente, competiu mais do que cooperou (nem que tivesse sido só consigo próprio), quando deixa de ser jovem (embora pretenda por vezes parecê-lo) há que cooperar mais do que competir...

Porque quando esse inexorável fim chegar, a questão que se colocará é: que sementes deixamos cá?

Nos seus «onze contos de futebol», exemplarmente Cela (op. cit.) relata-nos que havia um jogador “que era o verdugo dos penalties, o feroz e frio executor da perna de morte do futebol. Às vezes, no entanto, falhava, então os companheiros, ao terminar o jogo, manteavam-no como fazem aos cães no Entrudo, para lhe servir de escarmento.
– Mas o que é que estão a fazer a esse desgraçado?
– Nada, minha senhora; estão a manteá-lo, para que aprenda a ter pontaria. E, além disso, ele não é nenhum desgraçado, é o famoso Blas Tronchón, Harinita, o nosso ponta-de-lança, sete vezes internacional. Nós somos uns executantes, não fazemos mais do que cumprir ordens.
– Do treinador, esse fantasma sem caridade?
– Não, minha senhora, das nossas consciências
.”

E exemplarmente por quê? Porque de facto nos mostra que na maior parte das vezes, na grande maioria das vezes, ser treinador é “ofício” de reprodução, a não ser que o “temperamento” e a “mente” de cada um a tal se oponham, pois o corpo já não acompanha o dos por si comandados.

Daí o termos os conceitos japoneses de Shin, Gi e Tai. Não é só a condição física do praticante (tai karada) ou a sua habilidade técnica (ghi waza) o mais importante no Karaté. Relembramos que quando temos como objectivo máximo o aperfeiçoamento do seu carácter, é o seu espírito, o seu mental, o seu coração – e que os japoneses designam por “shin kokoro” – que é o mais importante. E esse desenvolve-se não só com a prática, mas também com espírito de sacrifício, com sinceridade, com disciplina com respeito, mas também se desenvolve com a competição e com a cooperação.

Vem esta reflexão a propósito daquilo que tive oportunidade de aprender com alguns dos meus competidores no 1º Torneio da Kaizen, que a nível formativo e pedagógico foi extremamente relevante. Relevante para mim também, como treinador, pois competidores houve que me impressionaram.

Já brinquei com eles no post anterior, agora é a vez de analisar a sério o ocorrido...

Ver o António, sete anos, cinto branco, quatro meses de prática, fazer a sua Fukyo Kata Dai Ichi com aquela garra e determinação, ou o Yhami, com a mesma idade, a mesma graduação e o mesmo tempo de treino com aquela voluntariedade, valeu a pena.


Tal como foi gratificante ver o Gonçalo aplicar-se nas suas execuções e o Rafael encarar com naturalidade o facto de se ter enganado ao anunciar uma Kata e executar outra...


A força do Bruno e a aplicação do Alexandre, que tanto gosta de fazer Saifa mas que na hora certa se consciencializou que afinal ainda não está boa para apresentar em competição... ambos tendo feito todas as Gekisai com uma concentração digna de realce.


A voluntariedade da Rute, da Samira e da Zália, pela primeira vez perante juízes e público, com nervosismo, com ansiedade, mas que executaram as suas formas... assim como a Carolina e a Isabela que se superaram a elas próprias mostrando que afinal possuem mais força do que aquela que mostram às vezes nos treinos.


O Diogo que lavado em lágrimas, se sentiu injustiçado nas suas duas avaliações de Kata mas que no Kumite soube recuperar de uma desvantagem perante um colega do próprio dojo, o Rúben Santos, que tanto na Kata como no Kumite se aplicou ao máximo.

O Ruben Jacinto, que em Kata deu mais do que costuma dar, e em Kumite pela primeira vez, embora sendo o menos alto de todos, com determinação e empenho todos levou de vencida...


O Alberto, que aceitou arriscar pela primeira vez Seyunchin e que valeu a pena...


E aquele que mais «puxou» da bancada pelos da sua equipa, o Yúri, deu um exemplo notável de companheirismo, que no final foi retribuído pelos aplausos do seus colegas galardoados. Manifestação espontânea que mostrou a colaboração existente no grupo.



Por último, os meus alunos e competidores mais antigos (o Rui Loureiro e o Ricardo Prelhaz) e que desta vez tiveram a oportunidade de constatar que afinal as bandeiras da arbitragem até são “pesadas” e que às vezes a decisão tem de ser entre uma Kata má e uma menos má... tal como por vezes tem de se decidir o ponto na dúvida e sem direito a “replay”...

E ainda há quem seja contra a competição no Karaté ou não encare este como um desporto... Como afirma Fenando Pessoa (2009), sob o pseudónimo de Bernardo Soares, no seu Livro do Desassossego, "uma só coisa me maravilha mais do que a estupidez com que a maioria dos homens vive a sua vida: é a inteligência que há nessa estupidez."



Cela, Camilo José, 2002, “Onze contos de futebol”, Porto, asa editores
Damásio, António, 2003, “Ao encontro de Spinoza – as emoções sociais e a neurologia do sentir”, Mem Martins, Europa-América.
Sampaio, Daniel, 2010, “Valores e Crenças”, Revista «Pública», 23 de Maio, p. 4.
Soares, Bernardo, 2009, “Páginas do Livro do Desassossego”, Ática, Guimarães Editores.




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sábado, 22 de maio de 2010

Momentos Kaizen...

Os melhores momentos do 1º Torneio da Kaizen...

- Reparem só nisto: vou cheio de vontade...


- Então estamos ambos de acordo?
- Não não, eu agora sou é do Benfica!




- Com concentração, sai tudo certo...


- Cheio de força... desta vez é que vai!


- Dar o meu melhor! Dar o meu melhor!...


- Já fiz muitas, sim, mas esta é a primeira...


- Ora cá vai disto!


- No que eu me fui meter... ...


- Vês como valeu a pena? Tens é de continuar!

- Não és pequenino demais para este troféu?


- Está um ali no meio, à direita, que não está a condizer...


- Então, isso aconteceu no Kumite?
- Não, se fosse eu varria-os todos com as «canadianas»!...

- Aquele todo de branco (até no cabelo!) também deu prémios?

- As medalhas? Onde andam as medalhas?
- Ainda agora aqui estavam... querem ver que já as levaram?...

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Excelente exemplo da Kaizen

No passado sábado, dia 12, em Queluz de Baixo, a Kaizen Karate Portugal deu um excelente exemplo de formação competitiva para crianças e jovens ao realizar o seu 1º Torneio. Alicerça-se este comentário no facto de todas as poules serem constituídas por quatro competidores e quer em Kata, quer em Kumite, em cada uma todos defrontavam todos.
A organização esteve excelente, estando de parabéns o Presidente da Kaizen, João Ramalho, assim como o principal (incansável) elemento da organização, Nuno Santos.
Cerca de uma centena e meia de crianças e jovens presentes, dos 6 aos 13 anos, algumas competindo pela primeira vez, e a bancada completamente cheia criaram uma moldura que abrilhantou este Torneio.


Alguns não só competiram pela primeira vez, como outros também se iniciaram na arte da arbitragem, adquirindo assim alguns conhecimentos que lhes permitirão poder analisar a parte extra-competição de outro modo como se poderão iniciar numa nova carreira via Federação, sob a ajuda inestimável do árbitro federativo Marco Mateus. Da parte do Tapada Kids, presente com quinze competidores orientados pelos Treinadores Armando Inocentes e Cristina Lopes, contribuiram para o plano da arbitragem Ricardo Prelhaz e Rui Loureiro.



Alguns momentos espectaculares dos intervenientes pela primeira vez na prova de Kata (Yhami, António, Gonçalo, Bruno, Alexandre, Samira, Rafael, Carolina e Rute), assim como de alguns outros já com mais um pouco de "rodagem" (Alberto, Ruben Santos e Ruben Jacinto).


Não só em Kata, mas também em Kumite, momentos houve que empolgaram a assistência dado o nível técnico dos competidores, não tendo o público regateado aplausos.

Ruben Jacinto, com 10 anos, pela primeira vez em Kumite foi a revelação ao vencer cinco combates consecutivos. A final de Kumite 12-13 anos foi disputada por Ruben Santos e Diogo Neto, tendo sido este último o vencedor após uma boa recuparação dado que se encontrou numa desvantagem inicial.


Diogo Neto, com algum traquejo já na prova de Kata, foi o atleta mais prejudicado pelo painel de arbitragem na sua área dada a inexperiência destes elementos. Kata apresentada como Shitei Kata não pode ser analisada como Tokui Kata. A derrota deste competidor nas suas duas primeiras provas motivou uma reunião do Sensei Marco Cruz com o painel de arbitragem. Como aspecto negativo, mas sem culpas para ninguém, foi o facto de só três árbitros estarem em cada área. Para um competidor nestas condições uma bandeira a seu favor ou contra vale 33,3%, enquanto se o painel de arbitragem fosse constituído por cinco juízes esse valor seria de 20%...


A alegria de todos os participantes receberem uma medalha... Mais um ponto pedagogicamente positivo neste Torneio em relação aos escalões de formação!


Enquanto uns descansavam, outros "meditavam" antes de entrar em prova enquanto olhares atentos observavam as provas dos colegas... ou das colegas...



O pódium feminino de Kata 12-13 anos, com a estreia de Carolina Ferreira no 3º lugar, após Isabela Xavier pela primeira vez se ficar igualmente no terceiro lugar na categoria 10-11 anos.



Alberto Cavaleiro no lugar mais alto do pódiúm em Kata no escalão 10-11 anos.


Ruben Jacinto, o herói da jornada, iniciando-se no Kumite e ao vencer o mesmo sem uma única derrota no escalão 10-11 anos e Alberto Cavaleiro no 3º lugar.


O companheirismo presente com o aplauso dos colegas ao Yúri Inocentes, que com eles se preparou para este Torneio mas devido a uma fractura no polegar do pé direito contraída uma semana antes, do mesmo se viu ingloriamente afastado. Uma próxima haverá para participar!


Mais um exemplo enaltecedor da Direcção da Kaizen, ao agraciar este competidor com um prémio. Na presença do Presidente João Ramalho, Nuno Santos atribui uma medalha ao homem das "canadianas" incentivando-o a continuar a treinar para poder participar no próximo Torneio.


Diogo Neto em 1º lugar e Ruben Santos em 2º lugar no Kumite 12-13 anos.

Excelente este exemplo de organização da Kaizen, podendo-se afirmar que existiu uma boa gestão do tempo, as instalações eram óptimas, os prémios entregues de qualidade, e o nível técnico dos competidores dos escalões de formação já começa a dar nas vistas devido ao trabalho desenvolvido por todos os treinadores - e alguns infelizmente não puderam estar presentes com os seus atletas por motivos profissionais. Como pontos menos positivos poderemos apontar a escassez de elementos para arbitrarem assim como o apoio médico, que felizmente até nem foi necessário!
A Kaizen mostrou capacidade e empenho - aguardamos desde já o 2º Torneio... Venha ele!!!
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sexta-feira, 14 de maio de 2010

Um comentário de um amigo

Para além do comentário do Luís Sérgio, Professor, homem de letras e karateca pai de uma outra karateca, a Inês, que foi uma das melhores alunas numa das melhores turmas que leccionei, inserido na rubrica «comentários», recebi por mail um comentário do Nuno Almeida que aqui publico na íntegra, a seu pedido, com os devidos agradecimentos:
"É sempre satisfatório quando o nosso trabalho é valorizado. Nomeadamente quando tal acontece por alguém cuja experiência, quer a nível da modalidade propriamente dita, quer a nível pedagógico, é bastante mais vasta que a minha.
Tudo está em constante transformação. Assim, ainda que passo-a-passo, é fundamental agirmos numa perspectiva de evolução da modalidade. A ideia não será trocar o “velho” pelo “novo”, a “arte marcial” pelo “desporto de combate”. Tudo está interligado e, a rejeição de qualquer parte do sistema, representa uma perda para a modalidade e os seus praticantes.
O ser humano detesta o desconhecido. Como tal, o seu esforço ao longo da História, tem sido o de minimizar a imprevisibilidade. Para isso, a tecnologia desenvolveu-se, estudos foram realizados e dados quantificados. Tem sido esta ânsia em controlar ao máximo todas as variáveis que tem permitido a evolução em todas as modalidades desportivas. Será algum dia possível reduzir a imprevisibilidade de qualquer modalidade a zero? Duvido! Todavia, enquanto treinadores, professores, etc. a nossa função é a de tentar encontrar um “Como?”, não a de arranjar desculpas (mais ou menos criativas) para o facto de algo ainda não ser possível.
Quero agradecer ao meu Metodólogo, Dr. Armando Inocentes, por toda a disponibilidade oferecida ao longo de todo este processo de Estágio. Fiquei feliz por saber que ainda há mentes “irrequietas”, mentes que não aceitam argumentos baseados em palpites, que preferem desperdiçar horas de sono a pesquisar uma verdade, a desistir (por comodismo) e defender mentiras. Mais do que isso, fiquei feliz de sentir que tinha uma pessoa a orientar-me o Estágio com a qual me identificava. Alguém que, tal como eu, adora esta modalidade e gostava de a ver florescer, livre de tantas ervas daninhas que têm travado esse belo processo. Esta relação permitiu-me confirmar o que eu já há muito desconfiava: a diferença de gerações entre pessoas só representará uma barreira se assim o desejarmos.
Mais uma vez, muito obrigado por tudo!
Nuno Almeida"
Não se pense que se trata de uma troca de «galhardetes». Como diz o Luís Sérgio, foi um "trabalho sério, feito com saber." Foi uma partilha constante em que, curiosamente, o Nuno nunca chegou atrasado a um treino nem nunca faltou a nenhum. Separam-nos 31 anos cronológicos e cerca de duas dezenas de prática e mais outras tantas de ensino. Tal como ele, também fui (embora breve!) competidor e sei e conheço os sacrifícios que se fazem e o que se sente "lá dentro". Mas todas estas separações acabaram por ser um elo de ligação - e de união até! - pois de facto não houve "barreiras de gerações". E nem tudo foram rosas para o Nuno, pois também teve os seus momentos de «sofrimento», que fazem parte da modalidade. Fica aqui um breve apontamento.


Já agora Nuno, como dizem os orientais (penso que Confúcio), não interessam as vezes que cais, interessam sim as vezes que te levantas!...

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quinta-feira, 13 de maio de 2010

O primeiro estagiário da FMH em Karaté

Tive a honra e o prazer de ter sido convidado pela Faculdade de Motricidade Humana como Metodólogo, para orientar o Estágio do primeiro aluno a desenvolver a sua actividade na nossa modalidade. Único aluno aliás, esperando que a este outros se sucedam, pois o Karaté bem o merece.
Ontem, perante o Prof. Dr. Miguel Moreira e outros Professores dessa Faculdade, assim como de um numeroso grupo de colegas, Nuno Almeida teve a oportunidade de apresentar um balanço do trabalho desenvolvido ao longo do ano, primeiro numa fase de observação do trabalho de Treinador e depois actuando na prática, directamente dirigindo os treinos.


As ctividades desenvolveram-se sob a égide da Portugal Goju-Ryu Karate-Do Shinkokai e decorram no Quinta Grande Health Club, em Alfragide, às segundas e quartas, e no Tapada Kids, na Tapada das Mercês, às sextas feiras. Planificação, exemplificação, observação, correcção, incentivação e acompanhamento foram muitas das tarefas desempenhadas por Nuno Almeida.
Durante o seu Estágio, Nuno Almeida, competidor do Sporting Clube de Portugal, procurou motivar os praticantes destes dois Dojos para a competição, integrando nos seus treinos componentes técnicas e tácticas inovadoras pedagogica e didacticamente. Soube assim transpor os conhecimentos adquiridos na FMH para o terreno, assim como, humilde e abnegadamente, soube transmitir o que tem sido a sua prática como competidor a par de incorporar na mesma os conhecimentos científicos e académicos que possui.
Com o meu apoio e as minhas orientações, espero ter contribuído para a formação deste Estagiário, podendo afirmar que a partir de agora conto com mais um amigo (e futuro colega) no Karaté.
Por aquilo que os meus alunos aprenderam e por aquilo que também tive a oportunidade de aprender com o Nuno Almeida, o meu obrigado.
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segunda-feira, 10 de maio de 2010

Necessário é criar...

Viver não é necessário;
o que é necessário é criar.”
Fernando Pessoa

Penso que todos estaremos de acordo ao dizermos que os intervenientes directos no espectáculo desportivo são os jogadores e os árbitros. Como intervenientes indirectos teremos os treinadores, os médicos e os espectadores (embora possamos descortinar outros se quisermos ser um pouco mais abrangentes).

Do ponto de vista do praticante/competidor/jogador, o desporto é técnica, táctica, performance, rendimento, tentativa de se ultrapassar a si próprio, hipótese de alcançar a vitória e actividade que se pratica tanto como forma de realização pessoal como até própria profissão.

Para aquele que ajuíza ou avalia, a aplicação das regras com equidade e segundo princípios éticos será a tarefa fundamental.

Para quem assiste, o espectador, o desporto é essencialmente identificação (procura da vitória do «seu clube») e estética (procura da visualização de bonitas jogadas, de belos movimentos corporais).

Como nos diz Olímpio Bento (2009), “os valores pedagógicos do desporto têm o ético e o estético como eixo central. Os outros valores são desdobramentos e articulam-se em torno desses dois vectores basilares.

O que procura o praticante/competidor/jogador e o espectador numa prova de Kata?

Antes de tentarmos responder a esta questão façamos uma pequena reflexão sobre esta prova.

Sabemos que na execução de uma Kata, sendo esta a representação de um “combate real” contra quatro adversários imaginários e sendo uma tarefa fechada, a mesma apela mais à fase execução-controlo e menos à fase percepção-decisão, ou seja, engloba a realização do acto motor e o retorno de informações importantes para a avaliação desse acto. Numa competição, para além da sua própria informação intrínseca sobre a realização da Kata, o competidor recebe a informação extrínseca veiculada pelos avaliadores – os árbitros.

Há na Kata actual uma padronização: o executante realiza comportamentos motores que visam aproximar-se de um modelo de comportamento ideal. Há aqui para além da execução de sequências de técnicas, o recurso a uma percepção espaço-temporal do executante que determina uma precisão espacial para a execução dos movimentos e também uma precisão temporal – quase que podemos falar em trajectórias do corpo e ritmos do mesmo. Isto é o que o árbitro avalia... quando conhece a Kata.

Podendo definir-se a técnica como mínimo de esforço e o máximo de eficácia, verificamos que na Kata a técnica é avaliada comparando-a com um modelo ideal (falamos em técnica correcta, em velocidade de execução da mesma, em equilíbrio, em posições de pernas correctas, em mudanças de direcção perfeitas, e falamos ainda no kime imposto e na atitude de zanshin).

Mas não podemos constatar na Kata a eficácia dessa técnica – daí a necessidade da sua Bunkai, onde poderemos também analisar o “mínimo de esforço” (condicionantes biomecânicas e anatomofisiológicas). Isto é o que não pode ser avaliado por um árbitro durante uma prova (só) de Kata...

E façamos agora uma outra pequena reflexão sobre o conceito de desporto.

Manuel Sérgio (2009), na sua última obra, dá-nos excelente informação sobre este fenómeno, de onde retiramos as seguintes citações: “fazer desporto nada tem a ver com dogmas, mas com a participação num acto criador.” “A qualidade é a proposta de que o desporto (e a vida) continua à espera – é a qualidade que nos distingue das demais criaturas.” “O ser humano só o é, enquanto acto de superação ou de criação.” “(...) treinar não é impor ideias a ninguém, mas dar meios de expressão à capacidade criadora e de transcendência dos jogadores.

É pois imperativo que o Karaté assuma esse acto criador, que dê asas ao sonho e à imaginação e que proporcione aos seus competidores as possibilidades de se libertarem da reprodução que tem existido até agora nos movimentos padronizados das Kata instituídas e de criarem as suas próprias formas de composição livre. A reprodução (não a confundamos com o tradicionalismo) é inimiga da evolução. Mas para isso é necessário que exista uma formação consciente tanto de treinadores, como de praticantes e competidores, como de árbitros. Como já afirmei (Inocentes, 2009), “a formação é antagónica da reprodução. A evolução, no sentido de progresso, é o oposto da rotina e da repetição.

Embora no Karaté ainda exista a dicotomia «arte marcial» – «desporto de combate» (embora eu prefira o «desporto de contacto corporal directo»), segundo Moreira et al. (2008), “o desporto é uma arte e o desportista, um artista que vive para criar novos movimentos, uma invenção, destinado a ajudar o ser humano a fazer-se cultural e moral. Assim, ele cumpre duas funções: a do jogo e a da competição.

Ora, verificamos precisamente que são os adeptos da arte, da «arte marcial», que se opõem à criação de novos movimentos impedindo esse “fazer-se cultural e moral”, que condenam a competição, que rejeitam uma prova de Kata artística, que exigem a existência de um «seleccionador para Kata» mas que nada dizem quanto à necessidade de um psicólogo para acompanhar os trabalhos da selecção nacional. Tudo em nome da essência do Karaté...

E lembramo-nos aqui, quando se criticam aqueles que a par de terem competências técnicas possuem competências académicas e pedagógicas, de Gomes Pereira (2005) quando nos diz que “a par da observação, a avaliação das competições e treinos afigura-se como uma tarefa de tal forma importante, complexa e multifacetada, que não pode ser desempenhada integralmente pelo mesmo indivíduo. De facto, não só a intervenção em treino, como cada modalidade de observação e avaliação requer uma intervenção especializada. Neste âmbito, a formação especializada em Ciências do Desporto, nas suas múltiplas vertentes, desempenha um papel determinante, não só na obtenção de marcas, mas também na formação moral e cívica do cidadão que, talvez por mero acaso, em determinada fase da sua vida, quantas vezes curta mas intensa e marcante, decidiu optar pela «vida de atleta de competição».

Mas voltemos à pergunta de partida: o que procura o praticante/competidor/jogador e o espectador numa prova de Kata?

O competidor sem dúvida que procura mostrar o que sabe, procura mostrar os seus dotes (as suas competências) e acima de tudo a vitória. Na Kata de composição livre pode mostrar a sua criatividade, a inovação de comportamentos motores e a sua disponibilidade biomecânica e anatomofisiológica. “Ao tentar superar-se continuamente, com o objectivo de ser mais eficazmente activo, o corpo confronta-se com o facto de ser o seu próprio obstáculo” diz-nos Cunha e Silva (2008). O corpo (o indivíduo na sua globalidade) que supera os obstáculos que encontra em termos de velocidade, resistência, força e principalmente flexibilidade não merece ser exibido em movimentos criados por ele próprio e adaptados à sua própria antropomorfologia? Entendemos que sim, pois dá uma outra visibilidade e uma outra qualidade à modalidade.

O espectador sem dúvida que para além da procura da vitória daquele ou daqueles com quem se identifica procura também o estético, o sublime. A Kata de composição livre permite-lhe assistir a uma maior beleza, a uma melhor e mais bonita coordenação espaço-temporal, a um ritmo próprio do competidor, enfim, a uma estética superior do que na Kata clássica. Fernando Savater (1995) diz-nos que “à empresa gestora da sala cinematográfica o que mais interessa são as entradas vendidas e o número de espectadores que vão abandonando a sessão contínua para deixar lugar a outros; mas para os próprios espectadores o que importa é a qualidade do espectáculo a que assistem.” E para o espectador a qualidade não estará também na Kata de composição livre? Não estará presente a qualidade também para quem se quiser dedicar a ela? Para quem quiser revelar novas formas de expressão corporais e rítmicas? Mas com a sua explicação numa Bunkai – isso também será criatividade e inovação – assim como com um júri técnico e um júri artístico e com uma avaliação que seja a média das notas atribuídas por ambos! Aliás, não se faz isto já há muito noutras modalidades desportivas?
Veja-se um pequeno video em http://www.youtube.com/watch?v=EsyY2aOzFvY, ou perca-se ainda mais um pouco a ver outro em http://www.youtube.com/watch?v=-ID7ZGQui2I&feature=related e tirem-se conclusões!
Falam os detractores desta prova em ginástica e em dança. Mas para eles não deixou de haver «arte marcial» quando os japoneses esconderam as técnicas de Karaté nas suas danças tradicionais... Falam sem saber do que falam. Procuram fazer a leitura de um fenómeno sem o saber interpretar. Procuram saber ler a partir do que vêem, mas não sabem ver a partir da leitura que fazem.

Esta prova nada retira ao Karaté, antes pelo contrário: acrescenta, inova, cria. Como dizia o poeta, “viver não é necessário; o que é necessário é criar.


Cunha e Silva, Paulo, 2008, “Corpo, Vigilância, Controle”, in D. Rodrigues (Org.), “Os Valores e as Actividades Corporais”, pp. 113-126, São Paulo, Summus Editorial.

Gomes Pereira, José, 2005, “A superação desportiva: os limites da performance humana. Fabricar Campeões: Treino Desportivo ou o «Mundo do Vale Tudo»?”, in D. Rodrigues (Ed.), “O Corpo que (des)conhecemos”, pp. 109-134, Cruz quebrada, Edições FMH.

Inocentes, Armando, 2009, “Ritos, reproduções e crenças: uma análise socio-pedagógica”, in J. Salgado & L. Pereira, “Karaté: entre a tradição e a modernidade”, Lisboa, Edições FNK-P, pp. 117-158.

Manuel Sérgio, 2009, “Filosofia do Futebol”, Lisboa, Prime Books.

Moreira, Wagner Wey et al., 2008, “Do Corpo à Corporeidade: a arte de viver o movimento no esporte”, in D. Rodrigues (Org.), “Os Valores e as Actividades Corporais”, pp. 127-146, São Paulo, Summus Editorial.

Olímpio Bento, 2009, “Acerca da Conjuntura Corporal: Desporto versus «Actividade Física»”, in J. O. Bento & J. M. Constantino, “O Desporto e o Estado – ideologias e práticas”, p. 161-214, Porto, Edições Afrontamento.

Savater, Fernando, 1995, “O Conteúdo da Felicidade”, Lisboa, Relógio D’Água.

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quinta-feira, 6 de maio de 2010

Kata artística...

Tem havido algumas manifestações no nosso meio acerca de uma prova denominada “Kata de Composição Livre” realizada recentemente num torneio de Karaté.

Uma Kata que deveria ser original/genuína, expressa de forma livre e criativa, respeitando integralmente os conteúdos fundamentais do Karaté, que teria de apresentar acções motoras simétricas algumas das quais identificassem graus de dificuldade acrescidos do ponto de vista físico e que apresentasse também dois a três elementos de expressão corporal geral.

Esta Kata seria avaliada por um júri constituído pela Equipa Técnica de Selecções da FNK-P que atribuiria uma pontuação de acordo com uma tabela e cuja classificação seria entre os 5 e os 20 pontos.

Logo se levantaram vozes não só contra este tipo de prova como contra a própria FNK-P...

Nada tenho contra nem a favor, é só mais um tipo de prova. O Kyokushinkai não faz kumite ao KO? E os desempates não são através de testes de quebra? E não existem já há muito, lá fora, campeonatos de Kata artística ou Kata musical?

Foi em 1974 que John Rhee apresentou uma Kata musical no “Los Angeles Olimpic Sport Arena” ao som da Quinta Sinfonía de Beethoven.

Mais tarde organizar-se-iam vários Campeonatos do Mundo de Kata Musical, onde sobressairia John Chung, aluno directo do Mestre John Rhee, o qual viria a ser destronado posteriormente pelo canadiano Jean Frenette em 1987, na Alemanha e que se tornou conhecido pelas suas exibições nas galas de Bercy, em Paris.

Portanto, até aqui, nada de novo...

Por quê a celeuma?

Institucionalmente o Karaté é um desporto: prova-o a existência de uma Federação, o estatuto de Utilidade Pública e o apoio que lhe é dado pelo IDP.

Se o pretendemos praticar “acreditando” estar a fazer uma “arte marcial”, somos livres de o fazer. Se o queremos praticar competindo contra outros, fazendo um desporto, também somos livres de o fazer. De uma ou outra maneira (modo, via) a opção é de cada um...

Se o Shito-Ryu possui quarenta e três Kata, o Shotokan vinte e uma, o Goju-Ryu doze e o Wado-Ryu dez, por que motivo não pode haver a livre criação de novas formas? Desde que justificáveis, sim, desde que a aplicação das suas técnicas seja demonstrável em forma de Bunkai, sim também.

Tal prova estava perfeitamente regulamentada, logo quem queria participar no jogo conhecia as regras.

As outras modalidades desportivas têm evoluído modificando regras (veja-se por exemplo o caso do Judo), algumas modalidades têm dado origem a outras (como o Futsal, o Râguebi de sete, ou Futebol e o Voleibol de praia)... Porque não pode evoluir o Karaté?

Modificaram-se os escalões etários, mudaram as protecções, deixou de haver o Kumite ao Sanbom... por quê agora tanto alarido?

Mas porque não pode haver Kata artística (chamemos-lhe assim) como expressão corporal? Talvez a grande falha organizativa tenha residido em não ter sido obrigatória a apresentação da Bunkai dessa Kata e que a mesma não tivesse, à semelhança de outras modalidades desportivas, um segundo júri que atribuísse uma nota artística (talvez alguém mais especialista em acrobática, ou em coreografia) a fim de fazer uma média com a nota atribuída pelo júri técnico...

O essencial é que se demonstre a existência da sua Bunkai e que o painel de avaliação não seja só constituído pelos seleccionadores regionais...

Quem saiu prejudicado? Penso que os competidores que participaram, nada mais!

A modalidade, essa pode - e deve - evoluir.

Quando o Karaté cá chegou, vindo do Japão, nós já cá estávamos. Tínhamos o jogo do pau e os pauliteiros de Miranda. E não nos esqueçamos que na transição do Karaté do oriente para o ocidente houve um processo de aculturação.

Será que não podemos ter mais nada?

Penso que haverá na Federação espaço para quem quer fazer competição e para quem o não quer fazer. Deve a mesma zelar pelos interesses dos seus associados em ambas as situações... mas como disse um político, quando os de cima não querem e os de baixo não podem...

E nós não podemos por quê?????

Porque nos acomodamos, porque temos medo... e como disse Shakespeare, “do que tenho medo é do teu medo”!
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