sábado, 18 de dezembro de 2010

Para que servem verdadeiramente as "artes marciais"?...

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Apesar do "auto-controle" e da "disciplina" serem algumas das bandeiras do Karaté e de cada estilo ter o seu próprio "Dojo Kun", e quer se encare este como «desporto» ou como «arte marcial», continuamos a verificar que esta actividade é bivalente, isto é, tanto serve para formar o carácter do indivíduo orientado por valores positivos como serve para certos indivíduos o poderem utilizar a seu bel-prazer e até com intenções malévolas...
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Convinha reflectirmos nesta época natalícia - quadra de paz e amor! - sobre o nosso papel como Treinadores, que tipo de conhecimento transmitimos e o que fazem dele os nossos alunos...
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Vem isto a propósito de duas notícias curiosamente publicadas na mesma edição do Correio da Manhã de 13 de Novembro, uma na página 18 e outra na página 33...
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Na primeira, passada em Lagos, e segundo o mesmo jornal, um jovem de 16 anos praticante de artes marciais escolheu como vítima um colega de 17. Este queixou-se e foi agredido. Está internado e em estado grave porque foi empurrado, levou um pontapé na cara e, caindo desamparado, bateu com a parte de trás da cabeça no chão. Na segunda, passada em Porto Alegre, no Brasil, um praticante de artes marciais de 23 anos partiu os braços à professora com uma cadeira e, com a vítima desmaiada no chão, socou-a repetidamente partindo-lhe os dentes...

Não sabemos qual o tipo ou género de «arte marcial» praticada por qualquer um deles... e ainda há pouco um gang desmontado na margem sul do Tejo tinha como cabeça de fila um instrutor de uma «arte marcial»...
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As três grandes questões que aqui quero colocar são as seguintes:
1º - Onde está o célebre «auto-controlo» destes praticantes?
2ª - Que papel tiveram nas suas vidas os seus Treinadores e qual a sua responsabilidade?
3ª - Como pode ser encarado pela sociedade a actividade que praticamos com notícias destas?
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Se souberem, ou se quiserem aventar hipóteses, por favor comentem...

5 comentários:

  1. Algumas das "artes marciais" que referes nem sequer o são - são meros desportos de combate sem filosofia, sem princípios morais e éticos. Servem apenas para demonstrar superioridade (se é que existe) perante os outros. Rivalidades e demonstrações de "força" não são exemplos a seguir. Infelizmente é o que mais se vê...

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  2. Caro amigo,

    Estas questões relacionadas com a vida para além do Dojo, não podem ser dissociadas daquilo que é a educação dos praticantes.

    Hoje mais que nunca o Professor/Instrutor/Sensei, tem um papel importante na formação dos nossos jovens. No Karate, apesar de continuarmos a pensar que os valores estão acima de de qualquer interesse e todos os praticantes se regerem pelas 5 máximas, que não são mais do que regras de cidadania transversais a qualquer actividade humana,o que é verdade é que assistimos todos os dias à desvalorização desses valores, e por norma são os nossos colegas que através de condutas menos próprias conduzem por vezes valores, princípios e condutas muito pouco próprias para com os princípios dos praticantes da nossa modalidade que também é Arte mas é acima de tudo uma forma de vida.

    João Cardiga

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  3. Recebido via e-mail, com os meus agradecimentos, aqui publico um comentário relevante de um amigo!

    Caro Armando Inocentes

    Notícias desse teor enchem-me de tristeza e parece-me que seria importante uma profunda reflexão acerca dos modos que nós, karatekas, temos de a obviar.

    Permita-me então algumas considerações:

    1- tenho notado nas competições a que assisto (da fnkp e da liga de karate shotokan - lpks ) a existência de atitudes dos competidores, dos treinadores e do público que desprestigiam o karate e levam a essas lamentáveis atitudes por si descritas. Nos competidores é a falta de humildade, as manifestações de regozijo quando marcam um ponto, a falta de etiqueta perante o outro, o uso da batota, quer quando aplicam golpes ilegais quer quando fazem teatro tentando que o outro seja penalizado, a falta de zanshin. Nos treinadores nota-se que gesticulam e insultam em altos berros os árbitros quando esses não assinalam determinado ponto.

    2- tenho notado a importância dos rituais para manter a agressividade inerente ao karate sob controle; quando não existem esses rituais ela extravasa, muito facilmente, não só dentro do karate como igualmente para o seu exterior. Lembro-me duma situação que se passou comigo: estava eu no meu Dojo sem estar equipado e um colega de treino, devidamente equipado, começou a "atacar-me" com vários golpes e eu senti-me tão "deslocado" que não consegui defender nem contra-atacar nenhum dos seus golpes! ou seja, estou tão habituado a praticar karate com o gui que quando me vi sem ele a ser "atacado" não consegui reagir, nem tal me passou pela cabeça!! Apercebi-me aí da importância dos rituais e da importância que eles têm no controle da agressividade.

    3- parece-me importante o voltarmos a valorizar devidamente o DO: nós praticamos karatedo e não karate.

    4- parece-me igualmente importante termos a noção (ou melhor, voltarmos a descobrir essa noção hoje em dia tão maltratada em nome de novas modas) de que quem nos ensina karate-do não é um simples treinador mas sim o nosso Mestre ou Sensei.

    5- inerente a todos os pontos anteriores aparece-nos renascido o "velho" binómio: Arte versus Desporto. Teremos nós de reaprender a sentir o karate como Arte e não como Desporto? Aqui para mim está o fulcro da questão. O karate como arte constitui uma Via de aperfeiçoamento pessoal que dura toda a vida, é algo em que o "meio", i.é, o "processo", é mais importante do que os resultados, sempre tão dependentes de factores imponderáveis e tão redutores da riqueza intrínseca da nossa arte... Mas para isso teremos de ultrapassar essa oposição tão querida à generalidade dos formadores da fnkp: a do tradicional e do moderno.

    Perdoe-me a desfaçatez de lhe apresentar tais esboços, mas faço-o pela amizade e respeito que me inspira.

    Obrigado
    Carlos Camelo

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  4. Caro Armando !
    Depois dos excelentes comentários anteriores, não há muito mais a dizer, mas , de qualquer modo, tudo se resume a uma consigna,cada vez mais, esquecida no Karaté e tudo o resto : "SEM EDUCAÇÃO DAS SENSIBILIDADES as HABILIDADES não servem para nada."

    Infelizmente o "nosso Karaté" está cheio de habilidades e habilidosos.

    Grande abraço,
    Luís Sérgio

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  5. Depois de todos estas boas reflexões só me limito a citar esta frase de Gichin Funakoshi "Qual é a utilidade de um homem forte, sem filosofia".

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