sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A ética no desporto português


Com todo o respeito, transcrevemos na íntegra o post de Fernando Tenreiro, do seu blog «O Desporto e a sua Economia», publicado a 10 do corrente (
http://desportoeconomia.blogspot.com/), com o título supra:

O debate sobre a ética que se faz no Colectividade Desportiva, aqui, tem duas dimensões e uma consequência, de entre muitas outras:

1. José Constantino discute o conteúdo do produto desportivo, quando refere a ética como parte ou exterior ao produto

2. João Boaventura, seguindo a deixa dos outros comentaristas, discute o conceito da ética referindo o conjunto de vários pensadores.

A consequência que retiro partindo de João Boaventura "Heidegger recorda que a etimologia de “ethos” tem um sentido mais antigo e mais sugestivo, o de “moradia” ou “lugar onde se habita”, isto é, a morada do homem é o ser que somos, e em que nos tornamos, pelo agir livre e responsável." e da imagem da gravidez de Levinas é a necessidade/obrigação do desporto ser grávido de ética.

Estes últimos aspectos relacionam-se intrinsecamente com a economia e o desenvolvimento das políticas nas organizações privadas e nas públicas.

Os economistas da economia das instituições como Douglas North e os estudos de Barro sugerem que a ética e a reputação são elementos essenciais do desenvolvimento e que os países mais desenvolvidos do mundo possuem valores éticos e critérios de reputação mais elevados do que os países que se atrasam no desenvolvimento económico.

Não basta aprovar códigos de ética e anunciar programas que depois se passam anos e anos sem aplicar e desenvolver ou dar condições para um desenvolvimento seguro do princípio entre os agentes desportivos e, tantas vezes, se actua em sentido contrário aos ditos códigos.

Os comportamentos desviantes de que fala José Constantino encontram-se ao mais alto nível, como sugere Armando Inocentes, quando os agentes públicos cerceiam o debate de ideias, impedem a produção e a promoção de informação e não prestam contas dos seus actos.

A gravidez de Ética tem consequências de que o exercício da política desportiva portuguesa tem estado arredada e que obriga a comportamentos consonantes com o dito 'estado interessante'.

Há quem sugira que nesta altura os dados já estão lançados e que a ética dos protagonistas os irá levar a determinados percursos que afinal serão produtores de menor quantidade e qualidade de desporto no sentido ético dos países europeus mais desenvolvidos.

Como dizia o treinador do anónimo Kaiser Soze 'A Ética vê sempre'.
...

2 comentários:

  1. Muito interessante !
    Mas, o que não sei é se a ética "Vê sempre". Seria muito bom se fosse assim. A ética do desporto português , parece-me que anda "às apalpadelas ", voa no escuro. A ética existe e vê sem dúvida mas está prisioneira dum poder que "controla a informação e o debate de ideias" , como diz o Armando. A ética libertar-se-á um dia, assim o espero, quando a razão e a justiça tomarem as rédeas aos poderes. Até lá...

    Grande abraço,
    Luís Sérgio

    ResponderEliminar
  2. Caro Luís:

    Num comentário ao post "O sobressalto ético" de José Manuel Constantino, no blog «Colectividade Desportiva», eu próprio transcrevi de Ricoeur (que defende o primado da ética sobre a moral), que “nós existimos, em certo sentido, no belo meio de uma conversação que já começou e na qual tentamos orientar-nos a fim de podermos por nossa parte acrescentar-lhe a nossa contribuição”.

    Se o árbitro não viu, não aconteceu... mas o facto é que aconteceu! Pode é ter várias interpretações da parte daqueles que viram...

    Acabamos por chegar à conclusão que afinal “a ética não vê tudo”. Nós é que tentamos ver tudo, discutir tudo e chegar a conclusões. Será possível?

    Um abraço!

    ResponderEliminar