sábado, 28 de maio de 2011

Forma e conteúdo - ideologia, pragmática e caos!


Enchamos nove garrafas de formas diferentes com diversos líquidos - água, cerveja, vinho, azeite, whisky, sumo de laranja e por aí fora...

Enchamos nove garrafas de formas diferentes com Coca-Cola...


Não teremos dúvidas que no primeiro caso teremos formas e conteúdos diferentes, enquanto no segundo teremos formas diferentes mas sempre o mesmo conteúdo...

E sempre que nos dirigimos a um supermercado para comprar uma Coca-Cola, cuja embalagem actual está na última garrafa da foto, nem sequer colocamos a questão de estar a adquirir sempre a mesma forma e o mesmo conteúdo...

Como tudo na vida, e é Roland Bhartes (1) que nos explica isso, "«forma» e «conteúdo» são duas faces constitutivas do mesmo fenômeno. Desse modo, «forma» e «conteúdo» compõem o próprio processo de interpretação do mundo. Na experiência concreta da realidade, não vemos primeiro a «forma» das coisas para depois interpretar-lhes o «sentido» ou «conteúdo». Essa separação não ocorre na experiência, pois é fruto de uma cisão meramente teórica."

O mesmo se passa com o Ser Humano: o seu carácter e a sua personalidade definem as suas acções... A sua adaptação entre a eficiência (como fazer) e a eficácia (o resultado) apresentam-nos o produto final da sua acção intencional, a sua obra.  Por isso mesmo se fala na tríade valores-atitudes-comportamento!

É de reflectir numa citação encontrada no blog "basta que sim" (aqui), num post denominado «a pseudo dialéctica entre forma e conteúdo», colocado a 16.02.2008:

"Não há bom conteúdo que salve a arte sem a forma ideal. Não há ética que perdure sem uma estética que a suporte. Não há ideologia defensável sem a pragmática adequada."

E por que motivo? Porque, como nos diz Eduardo Lourenço (2), "pode discutir-se se a desordem em que estamos mergulhados - desde a económica até à da legalidade e da ética - releva ou não, em sentido próprio, do conceito de caos. Do que não há dúvidas é de que o habitamos como se fosse o próprio esplendor."

Façamos algo para não o habitarmos e façamos algo mais ainda para para que não seja o próprio esplendor...

(1) Eco, Umberto, 1999, "As Formas do Conteúdo", São Paulo, Perspectiva, p. 66.
(2) Lourenço, Eduardo, 1999, "O Esplendor do Caos", Lisboa, Gradiva, p. 11.

2 comentários:

  1. Belo texto, caro Armando!

    O Karaté também tem forma e conteúdo.

    As suas organizações igualmente, mas precisam essencialmente de forma estética e funcional e conteúdo ético e de qualidade.

    Esperemos que dia 11 saibamos sair do caos...

    Um abraço.

    JA Neves

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  2. Pois é Zé!

    Já sabes em quem vais votar no dia 5?
    Então também já sabes em quem vais votar no dia 11!
    Vais votar nos mesmos, porque são os mesmos que têm de ficar lá a controlar a situação.
    Onde está a lista de sócios? Mas se não houve presidentes nestes últimos anos, nem houve novos sócios, como se sai do caos?

    Pedro Correia

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