segunda-feira, 16 de abril de 2012

REIHŌ (礼法) – a etiqueta, parte integrante do KARATE-DŌ (空手道) (1)


Em todos os estilos de Karate-dō, todos nós - sem exceção - sabemos que:

一、空手道は礼にはじまりり、礼に終ることを忘れるな。
HITOTSU - KARATEDŌ WA REI NI HAJIMARI, REI NI OWARU KOTO O WASURERU NA.
Importante, não se esqueça que o Karate-dō deve iniciar com saudação e terminar com saudação.

É um conhecimento tão fundamental como o próprio Karate-dō.

A questão que colocamos é a seguinte: como instrutores, treinadores, árbitros ou juízes, Sensei ou Senpai, sabemos o que esta frase significa REALMENTE? E se sabemos damos-lhe o devido significado e valor?

Permitam-nos lançar alguns questionamentos sobre o que sabemos ou não, de facto, a respeito desta expressão e do seu significado.

Sem necessidade de muito trabalho mental e pela observação direta, todos nós sabemos que - como Karateka - treinamos os Kata até a exaustão, analisamos cada movimento, seus graus de execução, de precisão e como estes serão avaliados; praticamos as técnicas de Kumite um número incontável de vezes, praticamos para ser precisos, rápidos, aprendemos a "pontuar" e, novamente, treinamos, treinamos, treinamos...

Mas quando é que treinamos - estamos a falar realmente de TREINAR - a saudação (Reihō, quer seja Zarei - sentada -, quer seja Ritsurei - de pé)?

Lembrem-se, estamos a falar da máxima acima mencionada...

As federações nacionais e internacionais de Karate-dō aquando da realização de cursos de árbitros e da aprovação dos mesmo, o que dizem a respeito deste assunto?

Um árbitro de Kata (ou Kumite) o que observa numa competição, o que vê primeiro? Sem precisar de muito tempo para responder, verificamos a "saudação correta" ou a "execução do primeiro movimento" do Kata no primeiro caso, ou a "técnica a pontuar" no segundo? Regra geral, os árbitros não observam a saudação no princípio do Kata (nem no final!) e esta COMEÇA e TERMINA o Kata! Regra geral, os árbitros não observam a saudação no Kumite e este COMEÇA e TERMINA na saudação! Atenção – sabemos que generalizar é um defeito e que nem todos os árbitros assim procedem, mas estes são a minoria das minorias!

Portanto a saudação FAZ parte tanto do Kata como do Kumite e é algo a ser avaliado também!

Mas isso só importa se entendermos o grau de "respeito" e "conhecimento cultural" que a saudação traz em si. A formalidade, a execução correta do movimento... como se de um Kata se tratasse, uma precisão e perfecionismo de movimento como se de um Kumite se tratasse.

Quando numa competição presenciamos o competidor de Kata e de Kumite fazerem a saudação de maneiras completamente diferentes – a de Kata por vezes é cheia de “rócócós” e de "nove horas" e a de Kumite é "vou ali e já venho" – qual o seu valor?

A questão crucial é que a saudação demonstra o nosso grau de respeito para com o painel avaliador (no caso dos Kata), os juízes e nosso adversário em combate (no caso de Kumite)... ou seja, demonstra o nosso grau de educação e o quanto "compreendemos" o significado da máxima que inicia este post!

Já num exame de graduação, o painel de examinadores preocupa-se e avalia isso? Aqui, estamos em crer que sim… Por que será?

Portanto, é necessário que SAIBAMOS o que estamos a fazer... e SABEMOS?!


Nota: este texto foi redigido em conjunto por Joséverson Goulart e Armando Inocentes, terminando no próximo post.

12 comentários:

  1. Acredito que o karateca deva ter conhecimentos de etiqueta (tão aprofundados e extensivos, consoante a sua graduação, ou seja, o aprendizado é gradual). Porém, já não acredito que o respeito da etiqueta tenha uma correspondência directa com as intenções ou inclinações pessoais de cada indivíduo. O hábito não faz o monge, basicamente.
    Por vezes a etiqueta não passa de um culto ossificado desprovido de essência.
    Será que os painéis de avaliadores se preocupam com a etiqueta? A sério? Porque é giro preocuparem-se e depois vermos discussões enormes em público (Facebook) sobre o mérito e demérito dos mesmos exames, examinadores e examinados. E estou a falar de uma das maiores associações do País (à qual não pertencemos, gostaria de esclarecer).

    Resumindo, devemos conhecer e cumprir com a etiqueta, mas esta, frequentemente, não nos diz nada sobre a verdadeira natureza ou carácter de quem temos pela frente.

    Maria Camarão

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Cara Maria Camarão:

      Obrigado pelo comentário. Aguardemos pela segunda parte do post.

      Um abraço!

      Eliminar
    2. Não querendo transformar isto num debate de Filosofia, pergunto: a etiqueta é passível de ser ensinada e obedecida, mas a Moral, e num sentido restrito a Ética, serão elas passíveis de ser ensinadas por via institucional? O sentido moral não nascerá precocemente no meio familiar? Será possível controlar a jusante as acções do indivíduo em Sociedade, o no exercício da sua profissão (Ética)?

      Eliminar
    3. Cara Maria Camarão:

      Não sei se vou conseguir responder...

      Enquanto a ética é universal, a moral é cultural. Enquanto a ética é prescritiva, a moral é normativa. Logo, a ética propõe, diz-nos "como" se deve fazer e é um espaço de debate sobre a noção do "que é bom para" e comumente aceite por todos os povos, enquanto a moral diz-nos o que devemos fazer inseridos numa cultura ou numa família.
      O desenvolvimento moral da criança depende dos pais, dos educadores, dos professores... o desenvolvimento moral do desportista depende do seu treinador... Picasso dizia que até aos 7 anos criava-se e a partir daí imitava-se!
      Por via institucional a ética não é passível de ser ensinada - é passível de originar códigos com normas e sanções e, passando a ser normativa, entra-se no domínio da moral e da deontologia.
      Controlar a jusante? Duas hipóteses: (1ª) Só coercivamente - a lei ou é cumprida (e tudo corre bem e pode haver prémios), ou é violada (e há sanções), ou é contornada (e aqui está a grande papel dos espertos!); (2ª) Ou talvez de outro modo: com incentivos, não nos esquecendo que "há três tipos básicos de incentivos, económicos, sociais e morais (Levitt & Dubner, 2006, “Freakonomics – O Estranho Mundo da Economia”, Lisboa, Editorial Presença) - não sou eu que o digo..., mas concordo!
      Mas estes autores também nos dizem que “a moral representa o modo como as pessoas gostariam que o mundo funcionasse – enquanto a economia representa o modo como ele, de facto, funciona”.

      Tentei...
      Mas se quiser transformar isto num debate de Filofia, é da discussão que nasce a luz... ou então é da discussão que se abrem os olhos! Está à vontade!

      Um abraço amigo!

      Eliminar
    4. Muito bem argumentado e esclarecedor.
      Gostei da referência ao Picasso, é um dos meus favoritos. Ele também dizia os "maus artistas copiam, os bons artistas roubam". Por vezes temos de roubar (no bom sentido) o que não nos foi ou é dado. Esse sim, é o grande segredo!

      Um abraço,

      Eliminar
  2. Hélio Ramos - Praia da Vitória16 de abril de 2012 às 02:12

    Karaté é "simplesmente" qualquer coisa de FABULOSO!!! No entanto não se pode explicar num breve texto. Quando eu tirei o Curso de Treinador Monitor, (hoje, Curso de Treinador de Grau I), eu disse ao Sensei Joaquim Gonçalves, (um dos Formadores deste Curso), que todos os karatecas e familiares, (principalmente pais das crianças praticantes), deviam frequentar este Curso, não que o tivessem que tirar, fazendo os respectivos testes e terem que ser aprovados, apenas frequentar, pois isso bastaria para que compreendessem o mínimo sobre este belo desporto, e ele concordou comigo! A saudação faz parte do karaté tal como a bola faz parte do futebol.
    Ficarei atento aos próximos comentários pois quero que todos saibam que considero-me um "eterno estudante de karaté".
    Um abraço a todos.
    HRamos

    ResponderEliminar
  3. No meu entendimento a saudação é, unicamente respeito. Podemos transpor esse ritual para o cumprimento que dirigimos a qualquer pessoa. Quando alguém nos é apresentado, apertamos a mão dessa pessoa e dizemos "muito prazer em conhecê-lo". Na maioria das vezes é uma frase oca porque é uma pessoa com a qual não temos "ligação". Quando saudamos um amigo de longa data ou alguém com quem temos empatia a sério, o nosso cumprimento é mais caloroso a a intenção do que dizemos é real. A saudação é respeito - ponto final. Respeito pelo que se faz,onde se faz e com quem se faz. Se é obrigatório? Devia ser, porque só se coloca em frente a um adversário no tatami ou a um painel de arbitragem, quem quer. Quem está disposto a demonstrar que ama o que faz. Ao executar a saudação está implicitamente a afirmar: Estou aqui de coração para lhes mostrar do que sou capaz, do trabalho que posso fazer e da partilha que vou ajudar a acontecer... honesta e empenhadamente. Posto isto, que tipo de saudação se deve fazer? Existe outra?

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Caro José Ramalho:

      Também re vou pedir para aguardares pela segunda parte do post... talvez aí haja respostas para as tuas perguntas.

      Um abração!

      Eliminar
  4. Sensei Armando:

    Claro que a etiqueta faz parte do karaté. É o respeito pelo Mestre, pelo colega, pelo dojo, pela modalidade. É a estima e o gosto por aquilo que fazemos. Mas a saudação, em zarei ou em ritsurei, tem de ser sentida, não é só o apertar a mão a alguém que não conhecemos e dizemos "muito prazer" (poderíamos aqui falar ou escrever sobre prazer mas...) e às vezes nem temos "prazer" nenhum.
    A saudação é o início ou a consolidação de uma relação, é colaboração, é solidariedade e empatia com o outro ou com aquilo que abraçámos. Foi importada do Japão? Foi, mas tem um significado profundo, não é só forma, é conteúdo e é espírito.

    Não é como algumas marionetes que andam por aí a apregoar as cinco máximas e a abanar a cabeça umas para as outras (mesmo que sejam do sexo masculino) só a sacudir a caspa do couro cabeludo.

    Penso ser o primeiro post em colaboração, mas de parabéns os dois autores.
    Com um abraço amigo, aguardo a continuação.
    Pedro Correia

    ResponderEliminar
  5. A saudação é uma questão de cortesia. Há os que concordam com ela por ser tradicional, há os que desnecessitam dela mantendo os mesmos valores e o mesmo respeito por tudo quanto acima já foi dito. Pergunta José Ramalho "Posto isto, que tipo de saudação se deve fazer? Existe outra?" Tem-se feito (utilizado) sempre a tradicional, embora deturpando-a por vezes tanto na forma como no significado. Existe outra? Poderia existir, mas talvez não fosse a mesma coisa...
    Na esgrima cruzam-se floretes, no boxe tocam-se com as luvas, no futebol trocam-se galhardetes no início, durante o jogo matam-se e esfolam-se e no fim cumprimentam-se todos - mas esses gestos terão o mesmo sentido que a saudação do Karaté?
    Cumprimentos a todos.
    José Brás

    ResponderEliminar
  6. A etiqueta é uma formalidade que faz parte do Karaté. Cono costuma referir o Dr. Armando pertence a um ritual que tem um significado, e todos os rituais têm o seu. Logo, fazendo parte do Karaté deve ser treinada e deve ser descodificada para se ficar a saber o seu verdadeiro sentido. E deve ser cumprida.

    Veremos a seguir...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Peço desculpa pela minha gralha. A segunda frase deveria ter começado pela palavra «Como».

      Eliminar