Fantástica a crónica de Lídia Peralta Gomes na edição de hoje do «Record», na sua página 2, intitulada "Herói ou Vilão", a qual, porque vale a pena ler e comentar, com a nossa reverência transcrevemos na íntegra.
A DECISÃO DE ARRANCAR A LANCE ARMSTRONG OS TÍTULOS NO TOUR NÃO É LÍMPIDA.
A DESISTÊNCIA DO NORTE-AMERICANO TAMBÉM NÃO.
(Foto: Reuters, Record, 27.08.2012, p. 2)
No verão de 1999 estava prestes a fazer 12 anos e tinha três meses de férias. Foi assim até 2005, ano em que entrei para a faculdade. Durante esses sete anos abdiquei de estar com os amigos, de ir à praia, enfim, tudo aquilo que os miúdos fazem nas férias.
Tudo para ver Lance Armstrong a subir o Alpe d’Huez, o Hautacam e o Galibier, para ver o norte-americano a passear-se de amarelo nos Campos Elísios, permanentemente a tremelicar de emoção por sentir que, sim, estava a ver a história a desenhar-se à minha frente. Nós, mais novos, somos mesmo assim, precisamos de heróis como de pão para a boca.
Agora sei que, muito provavelmente, todas essas tardes fechada em casa foram tempo perdido. Muito provavelmente porque, sem confissão cabal por parte de Armstrong ou sem a divulgação pública de provas concretas, podemos optar por confiar na agência norte-americana antidopagem (a já célebre USADA) ou não. O processo é, no mínimo, nebuloso. Por um lado, o texano é condenado tendo por base testemunhos de um grupo de ex-colegas, gente da credibilidade de um Floyd Landis ou de um Tyler Hamilton, a quem foram oferecidos acordos que, diz-se, envolveriam penas de suspensão por doping substancialmente mais leves e a possibilidade de não terem de devolver todos os prémios monetários ganhos ao longo da carreira. E, oficialmente, continua a não existir uma amostra positiva que prove que Armstrong andou todos estes anos a brincar connosco.
Por outro lado, não será este "baixar de braços" justificado com "cansaço" (!) quase uma declaração de culpa? Face a acusações tão atrozes, capazes de deitar por terra a mais bonita história do desporto, não seria lutar até ao fim a única opção? Principalmente quando estamos a falar de alguém que desafiou as estatísticas e venceu um cancro quando tinha menos de 40% de hipóteses de o fazer? Estranho.
Esperemos então pacientemente pelo veredicto final da UCI, única entidade que pode retirar os 7 títulos no Tour a Lance Armstrong, confirmando a decisão da USADA, que à luz dos regulamentos é discutível. Mas nada vai evitar que para sempre o Planeta fique dividido em dois: entre os que acreditam que Armstrong é um dos maiores campeões do desporto mundial e os que creem que é uma grande fraude. De que lado é que eu estou? Confesso, ainda não sei. Não sou ingénua ao ponto de pensar que o Mont Ventoux se sobe com bifes e esparguete, mas também sou partidária daquela máxima postulada por S. Tomé: ver para crer.
Tudo para ver Lance Armstrong a subir o Alpe d’Huez, o Hautacam e o Galibier, para ver o norte-americano a passear-se de amarelo nos Campos Elísios, permanentemente a tremelicar de emoção por sentir que, sim, estava a ver a história a desenhar-se à minha frente. Nós, mais novos, somos mesmo assim, precisamos de heróis como de pão para a boca.
Agora sei que, muito provavelmente, todas essas tardes fechada em casa foram tempo perdido. Muito provavelmente porque, sem confissão cabal por parte de Armstrong ou sem a divulgação pública de provas concretas, podemos optar por confiar na agência norte-americana antidopagem (a já célebre USADA) ou não. O processo é, no mínimo, nebuloso. Por um lado, o texano é condenado tendo por base testemunhos de um grupo de ex-colegas, gente da credibilidade de um Floyd Landis ou de um Tyler Hamilton, a quem foram oferecidos acordos que, diz-se, envolveriam penas de suspensão por doping substancialmente mais leves e a possibilidade de não terem de devolver todos os prémios monetários ganhos ao longo da carreira. E, oficialmente, continua a não existir uma amostra positiva que prove que Armstrong andou todos estes anos a brincar connosco.
Por outro lado, não será este "baixar de braços" justificado com "cansaço" (!) quase uma declaração de culpa? Face a acusações tão atrozes, capazes de deitar por terra a mais bonita história do desporto, não seria lutar até ao fim a única opção? Principalmente quando estamos a falar de alguém que desafiou as estatísticas e venceu um cancro quando tinha menos de 40% de hipóteses de o fazer? Estranho.
Esperemos então pacientemente pelo veredicto final da UCI, única entidade que pode retirar os 7 títulos no Tour a Lance Armstrong, confirmando a decisão da USADA, que à luz dos regulamentos é discutível. Mas nada vai evitar que para sempre o Planeta fique dividido em dois: entre os que acreditam que Armstrong é um dos maiores campeões do desporto mundial e os que creem que é uma grande fraude. De que lado é que eu estou? Confesso, ainda não sei. Não sou ingénua ao ponto de pensar que o Mont Ventoux se sobe com bifes e esparguete, mas também sou partidária daquela máxima postulada por S. Tomé: ver para crer.
Será que perante suspeitas, antes que se chegasse ao fundo da questão, se chegou a um acordo? A ser assim ficará sempre a dúvida e Armstrong continuará sempre a ser recordado pela luta contra o cancro e pelos 7 Tours... saindo assim por cima - sempre!
ResponderEliminarÉ sem dúvida uma decisão polémica, se for tomada no sentido da anulação dos títulos, tanto mais que não há uma única prova positiva de doping (em 600 testes de anti-doping realizados), somente baseada em testemunhos, que poderão muito bem ter sido moeda de troca para alívio de penas. Tudo muito estranho. Enfim...
ResponderEliminarEu continuo a acreditar no atleta. A desilusão de ver o seu nome denegrido somada à provável impotência para contrapor, ter-lhe-à causado grande tristeza ao ponto de desistir de lutar. Quem vence uma luta contra o cancro tudo o resto lhe parecerá de menor importância. Quero acreditar nisto porque Lance Armstrong foi e é um ídolo. Ninguém é culpado até prova em contrário. A dualidade de opiniões é legítima, concordo... mas eu dou-lhe o benefício da dúvida.
ResponderEliminarSe calhar falta-lhe dinheiro para continuar a pagar valores monstruosos a um pelotão de advogados ...
ResponderEliminarNem sei que dizer, tudo isto é muito estranho, mais estranho é demorarem tanto tempo para decidir. Se há doping revelem a tempo e horas, antes de terminarem os eventos, depois de tantos anos, não me parecem claros os objectivos.
ResponderEliminarGrande abraço,
Luís Sérgio
PS
excelente crónica a de Lídia Gomes.
Dizem que ele se dopou? E os 500 controles negativos?
ResponderEliminarE quem o acusa? Colegas que vão ter atenuantes por o acusarem?
Abraço!
Pedro Correia