sábado, 25 de agosto de 2012

Uma reflexão sobre os resultados nacionais em Londres 2012

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Passou a euforia... passaram os aplausos e as críticas... arrefeceram os ânimos...

Por isso mesmo uma última reflexão, esta sobre os resultados nacionais nos J. O. de Londres 2012, conforme o prometido!

De um lado os que argumentaram que os portugueses sofrem de falta de cultura desportiva - quem o afirmou saberá quantos buracos tem um campo de golfe? Ou as medidas de uma baliza de futebol? Ou quem foi Oscar Schmidt? - de um outro lado os que afirmaram que esta delegação portuguesa foi a melhor preparada de sempre, os que afirmaram que o desporto português está obsoleto... ou ainda os que disseram que aos portugueses faltou o querer, o treinar e o vencer...

O que é certo é que se falou muito nos diplomas... depois falou-se muito numa medalha de prata... 

Uma comitiva com 77 competidores - mas nada se disse quanto aos restantes números do staff... quantos dirigentes, quantos fisioterapeutas, quantos treinadores, quantos psicólogos (terá ido algum?)... ou quanto se gastou... ou qual os montantes com que contribuíram os patrocinadores (EDP, Continente...)!

Certezas ficam: nós é que sustentamos aqueles que foram a Londres... quando pagarmos a luz ou formos ao hipermercado...

Certezas ficam: atletas tratados de maneira diferente... os que perderam e ficaram lá, os que perderam e tiveram de vir embora... quem ficou, ficou à nossa custa (e os argumentos que sustentam essa tese são discutíveis!).

Um só exemplo, que tive a oportunidade de constatar, e que deixo para reflexão: a Irlanda tem  cerca de 6 milhões de habitantes, Portugal cerca de 10 milhões... A Irlanda levou 54 competidores, Portugal 77... A olho nu, proporcional! Mas a Irlanda levou para casa 1 medalha de ouro, 1 de prata e 3 de bronze...

Mas o mais curioso é que tanto os medalhados como os restantes irlandeses foram tratados de maneira igual, na vitória e na derrota!


(Foto: Armando Inocentes)


Estamos em crise mas houve dinheiro para Londres! Justificou-se irem atletas só para "rodar"? Talvez sim, talvez não...

Enquanto o governo inglês aproveitou logo as primeiras medalhas para apresentar um discurso sobre o desenvolvimento do desporto escolar, o que aconteceu cá? Anunciou-se em plenos Jogos a perda das bolsas dos atletas tal como se anunciou a redução da carga horária de Educação Física nas escolas...

Criticar os atletas? Se deram o seu máximo na preparação e nas provas, não é merecido mesmo que tenham sido derrotados... Mas se foram passear, sim, critiquem-se estes mas também quem os levou a Londres...

Não temos uma base que sustente a pirâmide? Não, nem parece que a venhamos a ter... O desporto escolar não pode resolver tudo... clubes e federações têm as suas responsabilidades...

Agora, durante quatro anos, façamos umas sardinhadas, bebamos um penaltis, discutamos o futebol e... estaremos prontos para os próximos J. O. - estaremos cá para pagar de novo!

"A única competição que verdadeiramente importa é a próxima. A anterior já é uma medalha na vitrine ou na gaveta, ou no baú."* Atrevo-me a acrescentar - HOJE! Aguardamos os resultados dos paralímpicos e a visibilidade que terão...

* Bernardinho, 2007, "Cartas a um Jovem atleta: determinação e talento, a caminho da vitória", São Paulo, Ed. Campus/Elsevier, p. 90.

Nota: já agora, sabem quem foi Bernardinho?

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