quinta-feira, 6 de maio de 2010

Kata artística...

Tem havido algumas manifestações no nosso meio acerca de uma prova denominada “Kata de Composição Livre” realizada recentemente num torneio de Karaté.

Uma Kata que deveria ser original/genuína, expressa de forma livre e criativa, respeitando integralmente os conteúdos fundamentais do Karaté, que teria de apresentar acções motoras simétricas algumas das quais identificassem graus de dificuldade acrescidos do ponto de vista físico e que apresentasse também dois a três elementos de expressão corporal geral.

Esta Kata seria avaliada por um júri constituído pela Equipa Técnica de Selecções da FNK-P que atribuiria uma pontuação de acordo com uma tabela e cuja classificação seria entre os 5 e os 20 pontos.

Logo se levantaram vozes não só contra este tipo de prova como contra a própria FNK-P...

Nada tenho contra nem a favor, é só mais um tipo de prova. O Kyokushinkai não faz kumite ao KO? E os desempates não são através de testes de quebra? E não existem já há muito, lá fora, campeonatos de Kata artística ou Kata musical?

Foi em 1974 que John Rhee apresentou uma Kata musical no “Los Angeles Olimpic Sport Arena” ao som da Quinta Sinfonía de Beethoven.

Mais tarde organizar-se-iam vários Campeonatos do Mundo de Kata Musical, onde sobressairia John Chung, aluno directo do Mestre John Rhee, o qual viria a ser destronado posteriormente pelo canadiano Jean Frenette em 1987, na Alemanha e que se tornou conhecido pelas suas exibições nas galas de Bercy, em Paris.

Portanto, até aqui, nada de novo...

Por quê a celeuma?

Institucionalmente o Karaté é um desporto: prova-o a existência de uma Federação, o estatuto de Utilidade Pública e o apoio que lhe é dado pelo IDP.

Se o pretendemos praticar “acreditando” estar a fazer uma “arte marcial”, somos livres de o fazer. Se o queremos praticar competindo contra outros, fazendo um desporto, também somos livres de o fazer. De uma ou outra maneira (modo, via) a opção é de cada um...

Se o Shito-Ryu possui quarenta e três Kata, o Shotokan vinte e uma, o Goju-Ryu doze e o Wado-Ryu dez, por que motivo não pode haver a livre criação de novas formas? Desde que justificáveis, sim, desde que a aplicação das suas técnicas seja demonstrável em forma de Bunkai, sim também.

Tal prova estava perfeitamente regulamentada, logo quem queria participar no jogo conhecia as regras.

As outras modalidades desportivas têm evoluído modificando regras (veja-se por exemplo o caso do Judo), algumas modalidades têm dado origem a outras (como o Futsal, o Râguebi de sete, ou Futebol e o Voleibol de praia)... Porque não pode evoluir o Karaté?

Modificaram-se os escalões etários, mudaram as protecções, deixou de haver o Kumite ao Sanbom... por quê agora tanto alarido?

Mas porque não pode haver Kata artística (chamemos-lhe assim) como expressão corporal? Talvez a grande falha organizativa tenha residido em não ter sido obrigatória a apresentação da Bunkai dessa Kata e que a mesma não tivesse, à semelhança de outras modalidades desportivas, um segundo júri que atribuísse uma nota artística (talvez alguém mais especialista em acrobática, ou em coreografia) a fim de fazer uma média com a nota atribuída pelo júri técnico...

O essencial é que se demonstre a existência da sua Bunkai e que o painel de avaliação não seja só constituído pelos seleccionadores regionais...

Quem saiu prejudicado? Penso que os competidores que participaram, nada mais!

A modalidade, essa pode - e deve - evoluir.

Quando o Karaté cá chegou, vindo do Japão, nós já cá estávamos. Tínhamos o jogo do pau e os pauliteiros de Miranda. E não nos esqueçamos que na transição do Karaté do oriente para o ocidente houve um processo de aculturação.

Será que não podemos ter mais nada?

Penso que haverá na Federação espaço para quem quer fazer competição e para quem o não quer fazer. Deve a mesma zelar pelos interesses dos seus associados em ambas as situações... mas como disse um político, quando os de cima não querem e os de baixo não podem...

E nós não podemos por quê?????

Porque nos acomodamos, porque temos medo... e como disse Shakespeare, “do que tenho medo é do teu medo”!
...

2 comentários:

  1. A mim não me incomodam os piolhos dos outros se eles gostam de se coçar. O que evito é ser contaminado...
    Não é a "polémica" que mais me entusiasma.
    Live and let live!

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  2. A polémica só "vem a lume" porque provavelmente quem tem tempo para a fomentar, não teve tempo para se formar noutras disciplinas... A ignorância, neste país, também já ocupa um posto! Pior..., é que esses indivíduos nem sequer se apercebem que são ignorantes e continuam a "opinar" sobre tudo e mais alguma coisa! Enfim...

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