Na terça-feira passada, o Prof. Sidónio Serpa* alertava-nos para o facto de serem características fundamentais dos praticantes de alto rendimento a autonomia e a independência. Afirmava inclusivamente que “na verdade, será muito difícil que um atleta que sempre esteve dependente das instruções do seu treinador, venha a ter capacidade de responder autonomamente quando atinge uma idade que deveria corresponder a um nível de maturidade superior, mesmo que para tal venha a ser solicitado por quem o orienta na altura. A autonomia e independência nas respostas aos problemas colocados pela competição desportiva deve ser estimulado pelos processos metodológicos de treino ao longo da formação, estando intimamente ligados ao desenvolvimento pessoal para o qual deve contribuir o trabalho do treinador.” Realço desde já a utilização da palavra «dependente» na primeira frase.
Válido para o ser humano, para o atleta, e válido igualmente para as organizações e/ou instituições. No plano da gestão e da organização, se as mesmas não possuem autonomia e independência continuarão sempre reféns de algo… mesmo que julguem ou sintam os seus dirigentes que não.
Nas comemorações de ontem do 102º do Comité Olímpico de Portugal, Vicente Moura declarou que “há 10 anos tínhamos uma dependência do estado de 20 por cento e agora são uns 80”, mostrando-se satisfeito por estar a receber a tempo e horas os quatro milhões anuais para a preparação olímpica e já ter recebido 60 mil dos 660 mil previstos para a Missão (segundo o jornal «A Bola» de hoje, página 30). Realço também a utilização da palavra «dependência» no discurso.
A Lusa, através do Jornal de Notícias on-line de hoje, afirma que Vicente Moura revelou que o Comité Olímpico de Portugal assinou hoje três protocolos de patrocínio que representam 20 por cento de um orçamento que ronda os cinco milhões de euros.
Ainda segundo esta fonte, Vicente Moura declarou que "não é possível todo o desporto português viver na tutela do Estado", reafirmando a necessidade de encontrar formas alternativas de financiamento, depois de assinados os acordos com as empresas Modelo Continente, EDP e Procter & Gamble, que significam um encaixe de cerca de um milhão de euros. Não é possível mas vive...
No fim da cadeia alimentar, somos nós que pagamos estes patrocínios ao comprar no Modelo Continente, ao consumirmos energia elétrica, ao adquirirmos produtos da marca Gillette, Oral-B, Ariel, Tampax, Evax, Vick, pilhas Duracell ou eletrodomésticos Braun.
E termina o Prof. Sidónio Serpa a sua crónica afirmando que “os processos autocráticos na relação treinador-atleta não só estão culturalmente desajustados, como impedem a realização do potencial dos praticantes.”
Mais uma vez, tal como para os indivíduos igualmente para as organizações e/ou instituições.
Tal como na nossa Federação se delibera autocraticamente que nos escalões de formação o painel de juízes de Kata pode ser constituído por 3 elementos (33,33% de poder para levantar a bandeira azul ou a vermelha para cada juiz) em vez dos normais 5 juízes (poder na ordem dos 20%, revelador de uma maior equidade).
Ou como na nossa Federação se organiza autocraticamente o actual modelo de competição nos mesmos escalões, em que alguns pais se deslocam por vezes cerca de 180 Km para o seu filho ou filha executar somente uma Kata ou disputar um Kumite… Bela pedagogia!
* “Estimular a autonomia”, «A Bola», 15.11.2011, p. 32.
Concordo plenamente!
ResponderEliminarNem autónomos nem independentes - pensam que são, mas ilusão! Sempre a mando dos outros.
Abraço.
Pedro Correia