sábado, 21 de abril de 2012

Um novo escândalo no futebol

"Rebentou um novo escândalo no futebol, envolvendo o nome de Paulo Pereira Cristóvão, vice-presidente do Sporting.
O caso tem contornos rocambolescos: Rui Martins, ex-líder de uma claque de Alvalade e colaborador da empresa de segurança do dirigente sportinguista, ter-se-á deslocado ao Funchal, antes do jogo entre o Marítimo e o Sporting, para fazer um estranho depósito de dois mil euros na conta bancária de José Cardinal, um dos árbitros escolhidos para aquele jogo da Taça de Portugal.
Na sequência das investigações e das buscas policiais, o ex-inspector da Polícia Judiciária pediu imediatamente a suspensão do seu cargo directivo no Sporting. Mas logo a seguir decidiu voltar atrás, tendo conseguido impor, surpreendentemente, o seu regresso, após uma reunião do conselho directivo leonino que durou mais de nove horas.
As causas deste caso grotesco, que mais parece o pico de um iceberg, ultrapassam a chafurdice em que alguns clubes de futebol estão atascados.
Em primeiro lugar, é preciso afirmar que o caso Cardinal é o espelho do país, que julgou que podia vencer à custa de truques; em segundo, é a demonstração da existência de uma cultura de gangsterismo nos mais diferentes sectores de actividade; em terceiro, é um sintoma inquietante de que algo vai muito mal no universo da segurança privada, em que empresas e profissionais credíveis são obrigados a conviver com cowboys disponíveis para todo o serviço, quiçá para fazer o que até está vedado aos serviços de informações; em último lugar, é mais um exemplo da habilidosa tentativa de confusão entre a presunção de inocência e a assunção da responsabilidade ética, uma prática que tem contribuído para o aviltamento desconcertante do funcionamento do regime democrático.
 (...)
A mudança também passa pela escolha dos mais competentes e com provas dadas para travar quem tem alimentado o polvo de interesses difusos e instalados através de métodos repugnantes, seja no desporto ou em qualquer outra área.
Subestimar a capacidade de compreensão, escrutínio e reacção dos portugueses é muito mais do que um erro colossal, é um falhanço histórico sem perdão."

Trancrevemos com a devida consideração este excerto das Crónicas Modernas de Rui Costa Pinto, intitulado "Faroeste à portuguesa", publicado hoje no jornal "i", página 13, podendo ser lido na íntegra aqui.

Nota: negritos da nossa responsabilidade.

3 comentários:

  1. caro Armando !
    Obrigado pela divulgação deste texto, não o conhecia. O futebol português está cada vez mais um caso de polícia. A corrupção tomou conta deste protetorado à beira-mar plantado. A corja que decide nos diversos domínios do protetorado pensa que tudo se vende e se compra.
    Na verdade Rui Pinto tem razão: " este caso Cardinal é o espelho do país, que julgou que podia vencer à custa de truques. mete ex-agentes da judiciária, segurança privada, estamos no reino dos padrinhos, dos todos poderosos, para quem tudo vale. Como é que um senhor desta estirpe continua à frente duma instituição desportiva como o SCP, diz tudo sobre a ética e os valores que dirigem a maior parte do futebol do protetorado.
    Subscrevo quase tudo o que escreve o Sr, Rui Pinto, sublinhando :
    "A mudança também passa pela escolha dos mais competentes e com provas dadas para travar quem tem alimentado o polvo de interesses difusos e instalados através de métodos repugnantes, seja no desporto ou em qualquer outra área." Mas, pergunto : Será que os interesses e os negócios instalados permitirão ? Terão a ética e a justiça força para se sobrepor à Mafia ?
    Grande abraço,
    Luís Sérgio

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  2. Dr. Armando:

    Quando temos pessoas que pertencem a uma agência de detetives privados ou de segurança (algo mais ou menos assim) a ocuparem cargos dirigentes em clubes, ou quando se procuram transferir processos ou atuações de uma área para outra, isto não admira.

    Chama-se a isto "promiscuidade".

    No Karaté também há eventualmente várias pessoas a exercerem várias funções ao mesmo tempo: são diretores que são possivelmente treinadores, são formadores que pertencem à direção da associação de treinadores, são árbitros e juízes que são treinadores...

    Logo, já nada disto é admiração. Luís Sérgio sublinha o parágrafo que está a bold e que deve ser sublinhado! Eu também!

    Um abraço
    JA Neves

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  3. Eu não disse que até os VALORES têm um valor e só é preciso saber qual o seu preço? Um Sr. Inspetor da PJ tem Valores... rege-se por um código de conduta... Agora é ex e alegadamente tentou uma manobra mas saíu-lhe o tiro pela culatra, porque não estavam à espera que o árbitro pedisse para não arbitrar o jogo. Deixou de ter Valores?

    A ser verdade qui está demonstrado! Foram os mais competentes das que foram escolhidos para a direção do SCP?

    Mas atenção: a cilada também pode ter sido montada a ele... não vamos julgar a pessoa à primeira!

    Abraço
    Pedro Correia

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