sexta-feira, 20 de julho de 2012

Francisco Lázaro: como uma vítima passa a herói... ou um mito desfeito...

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Realizou-se ontem no Museu do Desporto, no Palácio Foz, uma tertúlia "Em Memória de Francisco Lázaro", cuja morte fez cem anos no passado dia 15. Presentes para além do Secretário de Estado do Desporto - Alexandre Mestre, do Presidente do COP - Vicente de Moura, do Presidente da CDP - Carlos Paula Cardoso, do Presidente da CPAT - José Curado, assim como de Fernando Mota e Jorge Vieira da FPA e do Presiente da nossa Federação, João Salgado,  outras personalidades compareceram.

A sessão, moderada por Cecília Carmo, jornalista da RTP, iniciou-se com a apresentação de um filme (que pode ser visto aquisobre a Maratona de Estocolmo de 1912.
António Simões, Diretor Executivo do jornal «A Bola» e vencedor do prémio Norberto Lopes dissertou, numa perspectiva histórica, sobre as dificuldades que já nesse tempo os nossos atletas tiveram para ir aos J. O. de Estocolmo, assim como sobre a vida pessoal (o seu trabalho de carpinteiro, a esposa grávida de quatro meses...), o treino e a maratona de Francisco Lázaro.
João Campos, treinador olímpico de atletismo, mostrou-nos o que é a preparação de um atleta olímpico para uma prova como a maratona, realçando que naquele tempo o treino de Lázaro, desafiando os elétricos desde o Bairro Alto até Benfica era tudo menos treino para a maratona.
Pedro Branco, médico da FPA, enfatizou o que sente um maratonista aos 10, aos 20 e aos 30 quilómetros, desfazendo a ideia de que a morte de Lázaro tivesse sido causada por uma meningite.
Jorge Silvério, Professor na Universidade do Minho, psicólogo do desporto e acompanhante de treinadores e atletas, colocou a tónica no termo "tenacidade" e mostrou como é importante a preparação psicológica de um atleta que tem de percorrer solitariamente 42,195 quilómetros.

Assim se desfizeram as ideias de que Lázaro tinha sido o único corredor a partir de cabeça destapada, tal como se desfez o mito de que Lázaro alguma vez tivesse andado à frente da maratona, questionando-se ainda um facto nunca esclarecido: quem era o seu treinador?

Ou por ter untado o corpo com sebo antes da corrida, o que impedia a sudação, ou pelo uso normal na altura da "emborcação" (uma mistura de quatro claras de ovo, uma gema de ovo, água destilada, essência de terebentina rectificada e ácido acético), ou por ter utilizado estricnina (normal também nessa época), ou por ter ingerido demasiado líquido na altura do abastecimento, o que é certo é que acabou por falecer... Desidratação e insolação foram apontadas como causas oficiais da sua morte. No relatório da autópsia a sua morte é atribuída a um «desequilíbrio hidro-electrolítico irreversível», onde consta ainda a referência a um fígado «completamente mirrado, do tamanho de um punho fechado e rijo, de tal forma que só se conseguia partir a escopro, como se fosse uma pedra.»

Francisco Lázaro, a quem se atribui a frase "ou ganho ou morro", pode não ter ganho, mas entrou para a história dos Jogos Olímpicos de Verão talvez pelas piores razões - ou porque a pátria precisava de um herói nessa altura -, dando início a uma lista de mortes que tem nomes como o do pugilista romeno Nicolae Berechet (Berlim, 1936) e o do ciclista dinamarquês Knud Jensen (Roma, 1960).

2 comentários:

  1. Não importa como, mas o que é triste,o que nos deve preocupar e questionar, é por que razão se morre a fazer desporto , se sempre nos ensinaram e acreditamos que o desporto serve para melhorar a saúde, dar bem-estar ? Para que serve então o desporto quando a preocupação é vencer a qualquer preço? Que sociedade é esta que, vê na actividade desportiva o oposto da sua essência ou , pelo menos, alguns a entendemos como tal ? O Homem serve o desporto, ou o desporto serve o Homem ?
    Grande abraço,
    Luís Sérgio

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  2. Penso que naquela altura o que se fazia no desporto era com base em noções muito mal conhecidas e alicerçadas ainda nas crendices. Quem fazia desporto eram os "curiosos do desporto" como o foi F. Lázaro.
    Como sempre, houve dificuldades para ir a Estocolmo - talcomo hoje há dificuldades em ir a muitos lados.
    Pegando na questão do Luís Sérgio, é o desporto que deve servir o Homem! Mas a economia, a publicidade e o marketing deixam-no?

    Um abraço.
    Pedro Correia

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