O desporto sempre esteve ligado aos valores, à ética, à educação, à formação da personalidade do ser humano - daí o ser tão comum falarmos em fair-play, em espírito desportivo e em ética desportiva.
Mas o desporto evoluiu e de uma actividade lúdica chegou ao alto rendimento, onde a política e a economia nele se intrometeram, o que fez com que se tornasse bivalente.
Esta semana Sidónio Serpa alertava-nos para os perigos do alto rendimento: "o desporto de alta competição encerra riscos muitas vezes ignorados. Há questões relacionadas com a saúde física, por via dos esforços intensos ou de metodologias inadequadas, ou os problemas psicológicos decorrentes do stress intenso." («A Bola, 26.04.2011, p. 31).
Abordando o fraco investimento na formação académica dos desportistas e posteriormente na sua vida profissional, a falta de preparação de viverem com o sucesso e as luzes da ribalta, "acresce a intransmissível excitação do desafio sempre presente, do confronto com os outros, ou consigo mesmos, de uma atitude de constante disposição para o combate contra adversários por vezes transformados em inimigos." Mas como tudo acaba por acabar, chega a altura em que têm de dar novo rumo à sua vida e "procuram nova excitação em mudanças na vida, fugindo do previsível, numa busca porventura indefinida e em prejuízo de quem está perto de si. Prolongam o hábito de combater adversários, imaginando ataques vindos de quem pensa de forma diferente e gerando conflitos que, partindo do nada, se auto-reforçam."
E Sidónio Serpa remata dizendo que estes são perigos de primeira grandeza associados a desadaptações na vida pessoal e familiar, não evitados a tempo por deles não se ter consciência. Surgem os conhecidos casos de alcoolismo, de droga, de desemprego, enfim... de vegetação!
Mas o autor salienta, e com pertinácia, que estes perigos "como raramente são atribuídos ao alto rendimento, nada se faz para precavê-los. Mas é temática em que vale a pena reflectir."
Víctor Baptista, Albertina Dias e outros isso merecem!
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