quinta-feira, 24 de março de 2011

Em busca da grandeza

O Prof. Dr. Sidónio Serpa dá o sujestivo título de "Em busca da grandeza", esta semana, à sua coluna de opinião no jornal «A Bola» de terça-feira passada, na página 38.

Uma excelente crónica, que nos parece até excepcional, pois para além de incisiva vai directa ao assunto.

Com a devida autorização do seu autor aqui a transcrevemos na íntegra, para que ela chegue a mais leitores e para que se medite sobre o seu conteúdo.

---"O desporto apareceu para benefício das pessoas. Nas suas formas primitivas não tinha dirigentes para o enquadrarem nem treinadores para o orientarem. Mas praticantes sempre teve! São estes que dão sentido à actividade. Técnicos, dirigentes e gestores surgiram numa fase mais evoluída e encontraram justificação na missão de melhorar todos os factores da prática desportiva, dos atletas e do seu envolvimento, de tal forma que o desporto realize a finalidade última de contribuir para o bem-estar das sociedades.
---A estes princípios devem obedecer todas as organizações, onde se inclui o desporto e, portanto, todas as condutas dos seus actores. Porventura obra dos demónios ou da má formação das pessoas, ou da falta de entendimento sobre a finalidade do que fazem, ou da sua falta de competência, os que devem gerir e enquadrar tendem, demasiadas vezes, a visar o benefício próprio. Vaidade sem ética, poder com ausência de valores, benesses materiais ou sociais à sombra do estatuto justificam o envolvimento de alguns e consequente desregulação dos sistemas e práticas desportivas. Muito melhor estaria o desporto se o ser humano fosse mais respeitado, se não se fosse além do que se conhece e é capaz, se o interesse dos que se deve servir não fosse secundarizado, se a cultura vencesse a esperteza. Será isso exclusivo do desporto? A observação da realidade quotidiana prova que não. O País é disso o mais dramático exemplo. No desporto há quem pense que a vitória do clube, mesmo ilícita, se sobrepõe aos valores do bom desempenho ético no campo, como no País o interesse dos partidos e seus líderes se colocou acima do interesse nacional. Em algumas federações os pequenos interesses mesquinhos de alguns arruinaram anos de trabalho e a prática dos atletas*. Tal como vemos Portugal ser destruído por políticos que não percebemos se têm potencial de competência, mas verificamos que almejam derrotar os adversários mesmo que assim destruam o País e sacrifiquem o povo. Será difícil os políticos entenderem que nunca podem ser homens e mulheres em confronto pessoal buscando vitórias sem honra, porque a nobreza da missão que os transcende é juntarem-se para defender Portugal e os portugueses? Mas para isso é preciso ser-se Grande.”

*Aqui, humildemente, acrescentaríamos «e de treinadores...».

Não somos nós que o afirmamos. É o Prof. Dr. Sidónio Serpa!...


Nota: negritos da nossa responsabilidade.

2 comentários:

  1. Pois é, o mal dos nossos dirigentes é só visarem o seu benefício próprio.

    O mal dos nossos dirigentes é não serem Grandes! Coitados...

    Pedro Correia

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  2. Creio que o principal problema é misturarmos desporto com competição – ou, eventualmente, acharmos que competição desportiva e desporto são a mesma coisa.
    (Antes de avançar quero salientar que não pretendo fazer aqui NENHUMA crítica velada, nem explícita, ao karate desportivo; desta vez não é esse o meu propósito.)
    A questão, para mim é esta: quando decido ir correr sozinho, pelo simples prazer de o fazer, ou por motivos de saúde, ou seja por que motivo for, isso é desporto. Quando o vou fazer com um amigo para gozar do prazer da corrida e da companhia do amigo, ambos retirando os mesmos benefícios da prática, isso é desporto.
    Quando decido fazer uma corrida CONTRA o meu amigo, isso já não é desporto, é competição. E aí, perde-se uma das belezas da actividade desportiva (por oposição à actividade competitiva).
    Ora, para fazer desporto, não são precisos dirigentes, gestores, ou qualquer outro cargo que decidam inventar.
    Para fazer competição, sim, são necessários, pelo menos quando passamos para níveis em que as recompensas já não se limitam ao bem-estar e superação pessoais.
    É aqui que começam a ser necessários "controladores" externos para tudo e mais alguma coisa, o que, porventura, leva a que outros interesses entrem em jogo – por culpa das nossas fraquezas humanas.

    Voltássemos nós a dedicarmo-nos apenas ao "jogar à bola" na rua, e desapareciam os presidentes, dirigentes, assitentes, treinadores, gestores, responsáveis técnicos, etc., etc., etc.

    A competição é obrigatoriamente má? Não!
    A competição tem um grande potencial para deturpar a noção de desporto? Não!
    O homem tem propensão para tornar a competição no "irmão feio" do desporto? SIM!

    Mas aí, como é de pequenino que se torçe o pepino, cabe-nos a nós, formadores de futuros adultos, incutir-lhes os valores necessários para que saibam estar acima das tais fraquezas e para que saibam distinguir adequadamente desporto, competição e interesses...

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