terça-feira, 29 de março de 2011

Ética, política, justiça e desporto... e o retrato do nosso país! (III)


O conteúdo dos últimos posts fez-nos regredir quase um ano atrás, até 23 de Abril de 2010, dia em que o semanário «Expresso» dava a conhecer acórdão que absolveu Domingos Névoa. Mais um exemplo neste país...

Mas o que é exemplar sobre este assunto é a crónica de Ricardo Araújo Pereira, na revista VISÃO, nº 895, de 29 Abril 2010, na sua última página, subordinada ao título “Este país não é para corruptos”.

E o autor explora o tema, expondo o seu raciocínio: “(...) Que Portugal é um país livre de corrupção sabe toda a gente que tenha lido a notícia da absolvição de Domingos Névoa. O tribunal deu como provado que o arguido tinha oferecido 200 mil euros para que um titular de cargo político lhe fizesse um favor, mas absolveu-o por considerar que o político não tinha os poderes necessários para responder ao pedido. Ou seja, foi oferecido um suborno, mas a um destinatário inadequado. E, para o tribunal, quem tenta corromper a pessoa errada não é corrupto - é só parvo. A sentença, infelizmente, não esclarece se o raciocínio é válido para outros crimes: se, por exemplo, quem tenta assassinar a pessoa errada não é assassino, mas apenas incompetente; ou se quem tenta assaltar o banco errado não é ladrão, mas sim distraído. Neste último caso a prática de irregularidades é extraordinariamente difícil, uma vez que mesmo quem assalta o banco certo só é ladrão se não for administrador.
O hipotético suborno de Domingos Névoa estava ferido de irregularidade, e por isso não podia aspirar a receber o nobre título de suborno. O que se passou foi, no fundo, uma ilegalidade ilegal. O que, surpreendentemente, é legal. Significa isto que, em Portugal, há que ser especialmente talentoso para corromper. Não é corrupto quem quer. É preciso saber fazer as coisas bem feitas e seguir a tramitação apropriada. Não é acto que se pratique à balda, caso contrário o tribunal rejeita as pretensões do candidato. "Tenha paciência", dizem os juízes. "Tente outra vez. Isto não é corrupção que se apresente."

Este é o país que temos!... Este é o retrato do nosso país!... Com ele terminamos esta trilogia.



Nota: negritos da nossa responsabilidade.

1 comentário:

  1. Caro Armando !
    este país parece que não é para gente séria, ou será que não é para levar a sério ?
    Abraço,
    Luís Sérgio

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