sábado, 26 de março de 2011

Metáforas...

António Simões, no passado dia 22, na sua crónica semanal “Com bola ou talvez não” em «A Bola», na página 47, fala-nos de metáforas... emprego de palavras em sentido figurado, em que a significação natural de uma palavra é substituída por outra, por virtude de relação de semelhança subentendida. Com a autorização do seu autor, transcrevemos integralmente “Metáforas...” parafraseando o seu conteúdo em relação à nossa modalidade, o karaté... porque ela se aplica também e porque para isso também obtivémos a autorização de António Simões!

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Aprendi com Torga a ter grande admiração por aquelas pessoas muito pobres que nunca aparecem sujas nem rotas no meio da rua. (Nem falsas.) Que usam durante o dia, com a maior decência, o único fato que têm e que à noite, mal chegam a casa, o despem, o escovam, o penduram e ficam nuas diante da própria consciência, à espera de o vestir de novo, muito dignos, no dia seguinte. (Pois, eu sei: no karaté às vezes é preciso fugir da imagem bem composta dessa vida no espelho, quebrá-lo, porque a vitória está fora dele no campo ou não – e a candura, a humildade, a ingenuidade não ganham jogos e outros bons sentimentos menos ainda.)
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Aprendi com Dostoievski que há comboios cheios de pensamentos que, vertiginosos, nos atravessam a cabeça a toda a hora – e são um perigo. Porque vão desenfreados atrás do sonho, perdem o sentido, descarrilam. (Pois, eu sei: no karaté é ainda mais preciso abafar o gemido com o devaneio, o dobre a finados com a esperança. Prometer o paraíso sob a forma de um fundo, que venha quente do frio, ou sob a forma de um messias, que venha frio do quente , pode ser uma tentação se o que sobra é já quase só o desespero, a humilhação ou nada.)
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Aprendi com Roth que às vezes somos a metáfora que nos leva por um caminho de trevas de caixão às costas numa viagem que não pára porque o ponto onde deixá-lo está sempre a fugir-nos do destino de não percebermos que o que desejávamos cobrir com sete palmos de terra não vai no caixão, vai dentro de nós a destruir-nos ou a iludir-nos. (Pois, eu sei: no karaté isso ainda se nota mais. Quando desata a ser dor o suspirar pela glória que não vem logo uma voz se ouve agreste e se ergue até ao estrondo: a dos humores. Em forma de ilusão ou não.) E nas voltas em vão do caixão chega-se enfim ao instante em que vale mais o risco que o carpido e é por isso que eu acho que o próximo Director do Departamento de Formação da FNK-P, tal como o próximo Presidente da cadavérica Associação Nacional de Treinadores de Karaté, podem mesmo sair de uma roleta russa contra a tradição, a suspeita e o medo...
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Nota: parafraseados a negrito.

4 comentários:

  1. Dr. Armando:

    A Associação Nacional de Treinadores o que é? Eu nunca a vi e se diz que está cadavérica a mim parece-me é que já está bem debaixo de sete palmos de terra.

    Quanto ao próximo Director do DF esperemos por ele para ver o que vai fazer. Quantas notas de quantos cursos vai ter de fazer deitar cá para fora? Acha que alguém vai querer assumir isso? Só se quiser protagonismo e tacho...

    Um abraço.

    JA Neves

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  2. Eh pá, vocês estão preocupados com isso?

    Eu sei, eu respondo-vos: o próximo director do DF e até a próxima direcção vão sair da comissão das comemorações do aniversário da federação.
    O que eu não sei é o que eles estão a comemorar!

    Pedro Correia

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  3. Só mais uma coisa: leiam o que escreveu o José Jordão no blog dele sobre o curso de treinadores que está a decorrer.

    Pedro Correia

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  4. Bom texto ! Parabéns ! Excelente adaptação.

    Abraço,
    L. Sérgio

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