É desnecessário apresentar o Prof. Dr. Jorge Olímpio Bento...
Da Nota Editorial “Ensaio sobre a cegueira: danos colaterais, mentiras e perversões” publicada no n.º 2-3 do Volume 9 da Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, não resistimos a transcrever o seu ponto 2 (o negrito é de nossa autoria):
“Se olharmos em redor e prestarmos a devida atenção, veremos que a nossa era está enredada numa teia de manipulações e mistificações, demências e mentiras. Este ambiente crepuscular e de limbo, despido de inteireza, nobreza e hombridade, em que estiolam princípios e valores,[1] é propício a que aprendamos, como diz, Arnaldo Jabor, de cabeça para baixo, a partir do que é negativo e execrável, porque “os canalhas são mais didácticos que os honestos. O canalha ensina mais (...) As tramóias e as patranhas de hoje são deslavadas; não há mais respeito pela mentira. Está em andamento uma ‘revolução’ (...) na cara da população como fito de nos acostumar ao horror”. Nunca se aprendeu tanto de cabeça para baixo! Aprendemos que a corrupção, a farsa e demais iniquidades não “são um ‘desvio’ da norma, um pecado ou crime; são a norma mesmo, entranhada nos códigos, nas línguas, nas almas (...) Aprendemos a mecânica da sordidez; a técnica de roubar o Estado”, a maneira de fazer “esgotos à flor da pele”, “orgasmos” e o emocionante “sarapatel entre o público e o privado”. “Querem nos acostumar a isso, mas poder ser (oh Deus!) que isto seja bom: perdermos o auto-engano, a fé. Estamos descobrindo que temos de partir da insânia e não de um sonho de razão, de um desejo de harmonia que nunca chega”.[2]
“Até que enfim – acrescenta Arnaldo Jabor – nossa crise endémica está sujamente clara” e nos mostra uma “prodigiosa fartura de novidades imundas”, oferecendo temas deliciosos para teses de “doutorado sobre nós mesmos”!
Obviamente no desporto – notoriamente no futebol – também se mente. Mas ele é, sobretudo, expressão do quanto nos mentem os protagonistas deste tempo e do quanto assenta na obscenidade no mais descarado fingimento a força que os sustenta.
Sim, os sintomas da alienação e loucura reinantes nesta era foram nítidos nas aquisições do Real Madrid, na enchente do seu estádio para a apresentação de Cristiano Ronaldo, tal como na exploração mediática do evento e nas absurdas cláusulas de outras transferências. Porém são outros os principais sujeitos da cegueira e insanidade. São os que fazem com que a utopia da democracia se transforme em dura desilusão. Os que usam todos os ardis para encobrir a indecência do modo de ser e de estar de exercer o poder para impor, por via legal, decisões abjectas e reprováveis pela moral. Os que alargam o fosso da cada vez maior separação entre a lei e a ética.”
E continua explicando quem são os outros principais sujeitos desta cegueira e desta insanidade...
Mas como já vai longo o texto, retomaremos o fio à meada no próximo post.
[1] “Sem valores não se pode construir nada”, Lech Walesa, in: Jornal Público, Lisboa, p. 3, 01.09.2009.
[2] “Aprendemos de cabeça para baixo”, Arnaldo Jabor, in: Jornal do Comércio, Caderno C, p. 6, Recife, 25.08.2009.
Da Nota Editorial “Ensaio sobre a cegueira: danos colaterais, mentiras e perversões” publicada no n.º 2-3 do Volume 9 da Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, não resistimos a transcrever o seu ponto 2 (o negrito é de nossa autoria):
“Se olharmos em redor e prestarmos a devida atenção, veremos que a nossa era está enredada numa teia de manipulações e mistificações, demências e mentiras. Este ambiente crepuscular e de limbo, despido de inteireza, nobreza e hombridade, em que estiolam princípios e valores,[1] é propício a que aprendamos, como diz, Arnaldo Jabor, de cabeça para baixo, a partir do que é negativo e execrável, porque “os canalhas são mais didácticos que os honestos. O canalha ensina mais (...) As tramóias e as patranhas de hoje são deslavadas; não há mais respeito pela mentira. Está em andamento uma ‘revolução’ (...) na cara da população como fito de nos acostumar ao horror”. Nunca se aprendeu tanto de cabeça para baixo! Aprendemos que a corrupção, a farsa e demais iniquidades não “são um ‘desvio’ da norma, um pecado ou crime; são a norma mesmo, entranhada nos códigos, nas línguas, nas almas (...) Aprendemos a mecânica da sordidez; a técnica de roubar o Estado”, a maneira de fazer “esgotos à flor da pele”, “orgasmos” e o emocionante “sarapatel entre o público e o privado”. “Querem nos acostumar a isso, mas poder ser (oh Deus!) que isto seja bom: perdermos o auto-engano, a fé. Estamos descobrindo que temos de partir da insânia e não de um sonho de razão, de um desejo de harmonia que nunca chega”.[2]
“Até que enfim – acrescenta Arnaldo Jabor – nossa crise endémica está sujamente clara” e nos mostra uma “prodigiosa fartura de novidades imundas”, oferecendo temas deliciosos para teses de “doutorado sobre nós mesmos”!
Obviamente no desporto – notoriamente no futebol – também se mente. Mas ele é, sobretudo, expressão do quanto nos mentem os protagonistas deste tempo e do quanto assenta na obscenidade no mais descarado fingimento a força que os sustenta.
Sim, os sintomas da alienação e loucura reinantes nesta era foram nítidos nas aquisições do Real Madrid, na enchente do seu estádio para a apresentação de Cristiano Ronaldo, tal como na exploração mediática do evento e nas absurdas cláusulas de outras transferências. Porém são outros os principais sujeitos da cegueira e insanidade. São os que fazem com que a utopia da democracia se transforme em dura desilusão. Os que usam todos os ardis para encobrir a indecência do modo de ser e de estar de exercer o poder para impor, por via legal, decisões abjectas e reprováveis pela moral. Os que alargam o fosso da cada vez maior separação entre a lei e a ética.”
E continua explicando quem são os outros principais sujeitos desta cegueira e desta insanidade...
Mas como já vai longo o texto, retomaremos o fio à meada no próximo post.
[1] “Sem valores não se pode construir nada”, Lech Walesa, in: Jornal Público, Lisboa, p. 3, 01.09.2009.
[2] “Aprendemos de cabeça para baixo”, Arnaldo Jabor, in: Jornal do Comércio, Caderno C, p. 6, Recife, 25.08.2009.
Para o Prof. DR. Jorge Olímpio Bento uma salva de palmas, como são justas e actuais as suas palavras, a cegueira anda ai. A cura está difícil e, se os HOMENS BONS, a maioria dos HOMENS BONS continuar calada e, sem nada fazer a insanidade governará "Ad eternum".
ResponderEliminarContinuaremos na Caverna de Platão, governados por sombras insanas e maquiavélicas. Eles sabem bem o mal que fazem e, nós, ingenuamente, pensamos que não.
Que valores se transmitem quando os maiores órgãos da comunicação social dedicam horas a directos de viagens de autocarros com atletas de futebol, só para vermos o autocarro em andamento, na ordem inversa do vazio que transporta ? Quantas horas se dedicam por estes dias aos gestos de altruísmo, às descobertas da medicina e da ciência ?
Infelizmente, vivemos uma cegueira insana, a pior das cegueiras: a dos cegos que já não querem ver !
Até quando ?
Obrigado Armando pela partilha deste texto.
grande abraço,
Luís sérgio