quarta-feira, 30 de junho de 2010

Ensaio sobre a cegueira - continuação e conclusão...

E como prometido, cá retomamos o fio à meada em relação ao texto do Prof. Dr. Olímpio Bento - sendo de novo os negritos de nossa autoria.

Falava ele sobre os principais sujeitos da cegueira e da insanidade que estava caracterizando. E quem são eles?

“São os que fazem com que a utopia da democracia se transforme em dura desilusão. Os que usam todos os ardis para encobrir a indecência do modo de ser e de estar de exercer o poder para impor, por via legal, decisões abjectas e reprováveis pela moral. Os que alargam o fosso da cada vez maior separação entre a lei e a ética. Os que arrotam, medram e respiram bem na palhaçada hedionda e pérfida da quadratura do círculo de interesses sujos que nos governam. Os abjectos corruptos e os seus aliados, defensores e encobridores. Os desavergonhados autores e beneficiários da promiscuidade entre política e negócios. A mixórdia asquerosa de mentirosos, negadores, vigaristas, defraudadores, trampistas, intrujões, chupistas, golpistas, tartufos e embusteiros. Os amorais que reclamam para si privilégios, intocabilidade e honorabilidade e espezinham a dignidade e humanidade dos outros. Os que tratam as pessoas como meras e rebaixadas coisas e lhes roubam os requisitos de uma vida própria. Os prepotentes que condenam os trabalhadores por conta de outrem, os humildes e pequenos ao esbulho dos seus direitos e ao infortúnio e desdita. Os que pairam acima do desencanto e desolação desta época putrefacta e se recusam a ver o chão juncado de danos colaterais. Os que censuram, perseguem, proíbem, reprimem ou vetam o pensamento divergente, ditam sempre mais exigências, obrigações e restrições para os outros e para si desenham um mundo de fraude, mentira, impunidade, deleite e regabofe. Os insensíveis e indiferentes ao sofrimento alheio, avessos a reconhecer nos outros a condição de seus semelhantes. Os que se situam a si na casta de entes superiores e aos ignorados restantes na sarjeta dos dejectos inferiores.

Esta choldra, que de tudo faz negócio imundo, cria um asfixiante vazio ético e moral, obrigando-nos a procurar o oxigénio existencial em qualquer sítio, onde a nossa fome de ilusões possa ser aquietada e sobreviver. É por isso que nos voltamos para o futebol. Para nos encontrarmos com muita gente que sente como cada um de nós e se vê desmotivada para expressar indignação e revolta perante o desvario que marca o nosso destino e ignora as aflições e aspirações, dramas e agruras das pessoas de bem, honradas, sérias e laboriosas.

Vamos ao futebol, como quem procura pão para a boca. Por isso ansiamos sempre pelo começo das novas temporadas. Nós, os adeptos, investimos nele a paixão não correspondida na política e nas actividades que a deviam merecer, por serem determinantes da nossa vida. Devemos salvá-la e alimentá-la, para que se não perca e possa ser mobilizada para pleitos nobres e transcendentes. Para tanto, o futebol não devia cometer traição; mas, infeliz e amargamente, está a trair nesta hora, pela mão dos seus agentes e branqueadores mediáticos.”

E será só o futebol? É só a questão que coloco para meditarem...

Obrigado Professor pela sua lúcida reflexão...
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