quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Compreender o Karate-Do numa quadra natalícia...

Nesta quadra merece especial atenção debruçarmo-nos um pouco sobre a cultura japonesa. Qual o motivo, perguntarão alguns... Tanto mais que não fosse, porque o Karate-Do, para além de se sentir, tem de se compreender…
São já conhecidos os sete princípios (ou virtudes) do Bushido:
  • GI (, GI) - Justiça e moralidade, atitude direta, razão correta, decidir sem hesitar;
  • YUU (, YUU) - Coragem, bravura heróica.
  • JIN (, JIN) - Compaixão, benevolência.
  • REI (, REI) - Polidez e cortesia, amabilidade.
  • MAKOTO (, MAKOTO) - Sinceridade, veracidade total.
  • MEIYO (, MEIYO) - Honra, glória;
  • CHUU (, CHUU) - Dever e lealdade.
Vamos precisamente analisar o quinto princípio, designado “MAKOTO”, para o que nos apoiaremos em Maurice Pinguet, (1987), “A Morte Voluntária no Japão”, Rio de Janeiro: Editora Rocco.
Diz-nos este autor que este termo poderá significar sinceridade, lealdade, autenticidade. Algo propício numa época natalícia…
Na tradição autóctone, o termo makoto (ma – verdade e koto – conduta) significa a pureza do coração constatada nas ações – algo afastado da sociedade atual nos dias de hoje…
O mesmo autor afirma que na especulação confuciana, a sinceridade é igualmente considerada como uma virtude cardeal que autentica as outras quatro (embora Pinguet não as refira, elas são: decoro, sabedoria, benevolência e retidão).
Pinguet diz-nos ainda que foi a partir do século XVII que a filosofia moral, particularmente no bushido, se referiu constantemente a makoto como a um princípio essencial.
Sendo toda a obra sobre o seppuku*, Pinguet (p. 128) diz-nos que “todas as virtudes que evoca o termo makoto (sinceridade, pureza, autenticidade, lealdade) são fundamentais nesse elo presumido que faz com que a verdade dependa da energia, num ato decisivo capaz de impor silêncio ao repisar das palavras e de estabelecer um fato irreversível. É a mim apenas que cabe decidir o que sou – agindo.”
Ora, é precisamente nesta quadra, em que desejamos tantas coisas boas a uns e a outros - o tal Natal que é sempre Natal quando o homem quiser (na gíria futebolística poderíamos dizer que "penalty é como o Natal ... sempre que o homem - ou o árbitro - quiser ...") -  que deveremos refletir sobre nós, fazermos uma instrospeção, e desejarmos a nós próprios decidirmos o que queremos ser, agindo...  

* suicídio honroso efetuado com um tanto através de uma incisão no abdómen, ato último de dignidade.
Nota 1: negritos da nossa responsabilidade.

Nota 2: graças à atenção e à especialidade de Joseverson Goulart San, agradecendo a gentileza, foram retirados os ideogramas iniciais e colocados os corretos (23.12.2012). Aos interessados em conhecerem os motivos reais, aconselha-se vivamente a consulta de http://jojimonogatari.blogspot.com/2011/12/50-karate-e-shodo.html.

3 comentários:

  1. Os sete princípios do Bushido:
    GI (義) - Retidão, justiça, moralidade.
    YŪ (勇) - Coragem.
    JIN (仁) - Compaixão.
    REI (礼) - Cortesia.
    MAKOTO (誠) - Sinceridade, veracidade total.
    MEIYO (名誉) - Honra.
    CHŪ (忠) - Lealdade.

    Atenção Inocentes Sensei!
    A barra (ou acento circunflexo) acima da vogal indica alongamento da mesma, não tendo a necessidade de escrever duas vezes a mesma vogal... mas isso já foi falado anteriormente a respeito de transcrição fonética japonesa. Caso contrário vai ter mesmo de escrever GOUJUU-RYUU. (^_^)

    São conceitos que vão mais além do que as simples palavras podem definir.

    Quanto a MAKOTO, existem realmente dezenas de traduções para esta expressão, dependendo dos ideogramas utilizados. Por exemplo:
    真  まこと MAKOTO - "Realidade" no Budismo.
    誠  まこと MAKOTO - "Verdade" - antónimo de "Mentira".
    真事 まこと MAKOTO - "A realidade" budista.
    真言 まこと MAKOTO - "Palavras verdadeiras" (não mentiras).
    Etc..

    Quanto ao Seppuku 切腹, era apenas facultado à classe nobre e determinados Samurai 侍 "serviçais", não sendo permitido à população. Foi proibido no período Meiji e posteriormente foi "revivido" na classe militar japonesa através - de forma evidente - dos Shinpū 神風 (erradamente chamados de KAMIKAZE) na 2ª Guerra Mundial, evocando o "dever" diante das circunstâncias. "Viver quando é justo viver, morrer quando é justo morrer" disse Yamamoto Tsunetomo, autor de HAGAKURE KIKIGAKI.

    Mesmo que estes conceitos fossem tidos como "nobres" e alvo de conduta social do período Sengoku e parte do período Edo, cairam em desuso da mesma forma que caiu a classe Samurai.

    Contudo, a adequação do pensamento marcial actual - do período "pós-feudalismo" no Japão - implica não ter ilusões quando é ou não correcto agir. À consciência das nossas decisões chama-se "educação" e não é um sentimento consequente de uma época festiva apenas, mas uma constante no coração de todos que são Karate-ka.

    ResponderEliminar
  2. Caro Joseverson San:

    Mais um obrigado sobre esta lição de japonês!

    O seu último período sintetiza todo o meu post...

    Um grande abraço!

    ResponderEliminar
  3. Caro Armando !
    antes de mais obrigado por este post, estendo o agradecimento ao SR. Joseverson que presumo pessoa muito consciente, logo com boa educação.DE todo um post muito interessante destaco a consigna : "É a mim apenas que cabe decidir o que sou - agindo." Grande lição de vida, de cidadania ,de coragem. Agir para ser, contrário do esperar ( oportunista desta época)esperar que alguém nos salve, faça por nós , é mal português. Os meus desejos são que os Homens decidam o que são - agindo. Chega de ver passar o comboio.
    Felizes e bons natais para ti, família e todos os leitores deste blog.
    Grande abraço,
    Luís Sérgio

    ResponderEliminar