sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Políticos, dirigentes e treinadores... e ética!


Os meios de comunicação social deram-nos a conhecer que ontem foi apresentado pelo secretário de Estado da Juventude e do Desporto as linhas gerais do “Plano Nacional de Ética e Desporto”. Mas em lado nenhum encontramos linhas, quer sejam segmentos de reta, semirretas ou mesmo retas… Fala-se, diz-se, que será introduzido em Janeiro próximo, que tem como principal missão introduzir os valores de respeito e fair play no desporto, seja nas escolas ou na alta competição… Pessoalmente não acredito, pois vão-se preocupar com o público – e não com as claques; vão-se preocupar em criar mais uma comissão para… – e não com a ética na própria prática desportiva, porque isso de questões estritamente desportivas não são para os tribunais...

E vou explicar por que não acredito. Primeiro os políticos:
1º - Rui Pereira, professor de direito, antigo presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo e ex-Ministro da Administração Interna, declarava na sua crónica do «Correio da Manhã» (08.01.06, p. 12) quenenhuma sociedade assegura a inexistência de quaisquer distúrbios e a punição de todos os crimes. Por exemplo, o modo seguro de erradicar a violência desportiva seria acabar com o próprio desporto”. Logo, o modo de acabar com a violência na sociedade será acabar com a própria sociedade…

2º -
Ainda há poucos dias Bagão Félix, ex-Ministro da Segurança Social e do Trabalho, ex-Ministro das Finanças e da Administração Pública , atualmente membro do Conselho de Estado dizia (escrevia) na sua crónica em «A Bola» (10.11.2011, p. 2): "Sou um benfiquista com uma relação indestrutível de monogamia clubística. Seja qual for o contexto, a modalidade, o momento, não imagino outra situação que não a vitoriosa. Sei quantas vezes a imersão emocional me obnublia a emersão racional. Aliás, é esta transmutação que me conduz a desfrutar, sem peias, o prazer da parcialidade."
Reparare-se no "prazer da parcialidade"...
E continua: "De facto, não há - creio - adepto a cem por cento que não seja parcial. Com militantismo. De outro modo, é porque a paixão é menor do que a que julga possuir."
Ainda bem que "só crê"! Para ser apaixonado não é necessário ser militante... nem parcial... basta amar algo e saber discernir o bem do mal!

E vou continuar a explicar por que não acredito: em segundo lugar os dirigentes desportivos:

Faço minhas, com o devido respeito e consideração, as palavras da Prof.ª Jenny Candeias expressas na sua crónica de hoje em «A Bola» (01.12.2011, p. 40): “Ao longo dos anos apercebi-me de que as agressões são mais frequentes vindas do lado de dirigentes e suspeito mesmo que alguns devem ter antenas, como certos invertebrados, que lhes permitem sentir para que lado podem fugir, quando o interesse pessoal estiver em causa. São como aranhas, moscas, formigas, escorpiões e abelhas dos quais só nos apercebemos quando nos incomodam. Têm capacidades que lhes aguçam os sentidos e os levam a pôr em acção as tais antenas para chegarem ao que apenas lhes interessa: poder, reconhecimento, dinheiro, whatever… desde que se mantenham no cargo. Reconheçamos que aguentam, com um bom estômago, coisas que enojam. Têm poder de encaixe, mesmo quando desmascarados. São ingénuos (para não dizer outra coisa) e não compreendem factos que estão à vista de quem é míope. Uns, só muito tarde percebem no que se meteram, outros, para atacarem ou defenderem, não hesitam em lançar veneno.” Faltou simplesmente referir o cinismo e a hipocrisia.

E por que continuo sem acreditar? Em último lugar, os treinadores (felizmente não todos!):
 
Muitos só possuem o Curso de Treinadores, mas muitos outros são licenciados em Educação Física para além de também possuírem o seu Curso de Treinadores. Mas a competição não se compadece com amadorismos e procuram levar os seus competidores ao lugar mais alto do pódio a qualquer preço. Possuem competências técnicas e pedagógicas, mas faltam-lhes as competências éticas e morais! Muitos sabem mas não conhecem e conhecer é obrigação de quem ensina e de quem ministra treinos. Terem sido bons competidores não é sinónimo de serem bons treinadores!
Numa boa equipa, com bons atletas/jogadores/competidores, qualquer treinador é bom… ponham um bom treinador a treinar competidores medianos e veremos os resultados!...
...

7 comentários:

  1. Inocentes Sensei.

    Não sou de tecer elogios (e raramente o faço) porque acredito que "fazer bem" não é opção de quem ensina, mas obrigação.

    Contudo, quando algo excede àquilo que estou acostumado a ver, o elogio faz-se necessário.

    Opinião fundamentada: Excelente!

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  2. Caro Dr. Armando:

    Já vamos estando habituados às suas análises lúcidas e contundentes, mas esta... ultrapassa em muito algumas das que já aqui apresentou.

    Primeiro ponto: embora os políticos citados não estivessem directamente ligados ao desporto, meteram a foice em seara alheia. Comprovado que o desporto está entregue a políticos que dela nada percebem - não foi o actual secretário de Estado que disse (antes de o ser) que o regime Jurídico das Federações Desportivas era um regime jurídico paralizante? Então porque persistimos nele?

    Segundo ponto: Então eu vou inscrever 60 praticantes na federação sem ter direito a voto na AG? E sem saber sequer quem me vai representar? Os meus 60 votos só servem para o Conselho Geral, mas depois o delegado vai-me auscultar a mim e aos outros para levar as nossas posições à AG?

    Já viu o Relatório e Contas de 2010 da FNK-P? Taxas associativas 36 000€, quotas de atletas 101 000€...

    Para onde vai o nosso dinheiro?

    Último ponto: treinadores? Estão à sua sorte, por isso é que é cada um para seu lado. As notas dos cursos já saíram? Nem vão sair - passa-se tudo administrativamente, pede-se a cédula ao IDP e... já está!

    Grande abraço e bom fim-de-semana!

    JA Neves

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  3. Se facto não há perspectivas para que algo mude.

    Quando se coloca um padeiro a fazer o trabalho de um canalizador, é natural que as coisas não corram bem.
    O problema maior é que ninguém se parece importar com os pingos que lhe caem na testa e com a conta da água ao final do mês…

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  4. Caro Armando !
    Naquilo a que se convencionou chamar desporto em Portugal, não há ética nem moral. As principais modalidades estão tomadas pela "ética financeira", pelo compadrio e pelo vencer a qualquer preço, sem respeito pelas regras e valores, quanto mais pelo adversário. Depois, os cegos que sustentam esta palhaçada admiram-se de os enjaularem, mas não são eles que legitimam toda a espécie de patifarias que os poderes reinantes na esfera desportiva e não só praticam.
    Os camarotes ditos presidenciais ,de certos campos, de certas modalidades, fazem lembrar um salão de padrinhos. Os jogos e os interesses são muitos, por isso, a ética vai campo fora. Infelizmente o karaté não foge à regra.
    Retomando a metáfora do burro, como diria A.Aleixo :
    " Há tantos burros mandando
    em homens de inteligência,
    que às vezes fico pensando
    que a burrice é uma ciência !"

    Grande abraço,
    Luís Sérgio

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  5. Hélio Ramos - Praia da Vitória4 de dezembro de 2011 às 00:14

    Caro amigo, Sensei Armando Inocentes!
    O senhor tem razão em tudo o que disse, mas se por acaso pensa que que toda a gente acha isso, aí eu já lhe digo que o senhor não tem razão. A quadra de António Aleixo que o senhor Luís Sérgio mencionou no seu comentário continua actual... e isso é muito triste.

    Continue a agradar-nos com o seu maravilhoso blog.

    Um abraço.
    HRamos

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  6. Caros amigos:

    Obrigado pela vossa colaboração!

    Esqueci-me ainda de abordar a deontologia dos treinadores... mas ficará para uma próxima!

    Um abraço a todos!

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  7. Recebida via e-mail, o que se agradece, de autor devidamente identificado:

    "Caro Armando:

    Bravo! Vá para cima deles sem medo. Não os poupe
    O seu texto apanha os passarões pelo bico!
    Não recue; vá em frente.

    Forte abraço
    JB"

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