quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Para um balanço do ano de 2011 (I)



É prática comum fazer-se no final de cada ano um balanço desportivo.

Disse Rui Lança (1), ontem, em «Colectividade Desportiva»: “Quase a terminar o ano de 2011, constatamos que um conjunto de decisões relacionadas com a prática e a gestão desportiva foram e vão continuadamente sendo adiadas. Para lá da necessidade dessas decisões, é importante referir que existiram afirmações públicas que essas mesmas decisões iriam acontecer ainda durante 2011.” Referia-se o autor a decisões governamentais…
Mas podem-se extrapolar estas afirmações também para o campo da nossa modalidade – o Karaté!
Isto acontece porque entidades, ou organizações, ou instituições são constituídas por pessoas. E são geridas por pessoas… e “pessoas” são seres humanos, com virtudes e com defeitos, servindo ou servindo-se…
Federações, associações ou clubes não são geridos como empresas. Se o fossem, cada uma ou cada um deveriam “contribuir activamente para o desenvolvimento social, não apenas por meio dos lucros económicos que gera [no caso do desporto, a serem de novo investidos no mesmo], mas também por meio de uma intervenção directa na resolução de problemas de ordem social e na minimização dos efeitos prejudiciais que a sua actividade pode ter no bem-estar colectivo” (2).
É generalizada a ideia de que a constituição de um grupo, institucional ou não, cria um coletivo de pares que remam todos na mesma direção. Um coletivo constituído por indivíduos que representam outros coletivos dificilmente representa todos esses coletivos. Mas cada direção tem sempre dois sentidos…
Um sentido aponta para a união dos indivíduos do grupo ainda que alguns considerem que outros não funcionam, funcionam mal, ou ainda que certos funcionam ao contrário, criando-se um certo corporativismo. Cria-se a ideia que o coletivo é maior que a soma dos indivíduos que o constituem… Cria-se a ideia que nenhum deles se deve atraiçoar a si próprio renunciando aos seus princípios e valores… Cria-se a ideia que o interesse (ou “os interesses”) da maioria (ou por vezes a imposição de uma minoria mascarada de representante dessa maioria) deve sobrepor-se aos imperativos éticos de cada um dos seus elementos. Cria-se a ideia de que quem é divergente deve ser ostracizado, marginalizado…
Outro sentido aponta para uma liderança forte (não confundir com autocracia nem despotismo!), com objetivos comuns, com uma gestão alicerçada numa Ética em que os efeitos que produzem ou possam vir a produzir tenham “impacto no bem-estar ou na qualidade de vida de indivíduos e de colectividades” (2). Mas quanto maior for esse coletivo, mais facilmente a sua cisão… embora a sua ação possa seguir as normas impostas pelo Direito, embora a sua ação justifique a sua existência e assegure a sua continuidade. Sem valores morais e princípios comuns aos constituintes desse coletivo, de nada lhe valerá a Ética…
A Ética é uma componente de qualquer Sociedade e é o que distingue de um bando de um grupo estruturado. Os valores em que a sociedade se apoia, o seu sistema de crenças, é o elemento que mais contribui, no médio prazo, para definir a forma como uma sociedade funciona. Um país depende totalmente do sistema de crenças do seu Povo, do conjunto de valores que pratica, do grau em que exige a si próprio o respeito por esses valores” (3). Reside o problema principalmente nas crenças, convicções por vezes não fundamentadas mas existentes porque fruto de um sistema reprodutivo.
Termina Rui Lança (1) o seu post com as seguintes palavras:  É urgente decidir. Prefere-se ir adiando a decisão com a esperança de que a decisão irá doer menos pelos esforços que estão a ser feitos? E quais esforços e quais os indicadores e factores críticos que estão a ser levados em conta? A ideia - não contabilizada ou quantificada - é que algumas entidades foram forçadas a desistir, terminar ou ir para outros campos de acção. E isto agradará a quem decidirá? No meu ponto de vista, sim…"
Modestamente, no meu ponto de vista também… e também no karaté...



1) – Lança, Rui, 2011, “Quando a ausência de decisões e de sinais são os melhores sinais”, «Colectividade Desportiva».
(2) - Almeida, Filipe, 2010, “Ética, Valores Humanos e Responsabilidade Social da Empresas”, Cascais, Princípia.
(3) – Silva, Mário Parra, Presidente da Direção da Associação Portuguesa de Ética Empresarial, Revista Negócios Portugal, n.º 2, 2011, pp.39-41.
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1 comentário:

  1. É sempre mais fácil adiar decisões...

    É sempre mais fácil quem tem a responsabilidade de tomar decisões remeter-se ao silêncio...

    Um abraço,
    JA Neves

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