segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Corrupção, ética, moral, deontologia - tudo no mesmo saco?


"Se um remédio pode fazer-me mais valente, mais lúcido, mais generoso, onde é que fica a ética?"
Slavoj Žižek, em entrevista feita por Enric González, publicada no “El Pais” de 25/3/2006.


Ao abrir ontem o jornal «Público» na página 23, deparei-me com um artigo de São José Almeida intitulado “A corrupção em Portugal mudou e já não é o que era”.
A autora começa com palavras de Cândida Almeida, directora do Departamento Central de Investigação e Acção Penal, que lembra que «a corrupção não é uma invenção recente em Portugal, como não o é em qualquer sociedade humana. Onde há exercício de poder, há iminência de corrupção, de que alguém tente ser favorecido por quem detém esse poder.» E após uma quase análise histórica e cronológica, termina o seu artigo com palavras de João Cravinho: «Há um grupo de avençados, que são pagos em carreiras políticas e que até podem achar que não participam na rede de corrupção, que não se reconhecem como agentes e beneficiários, mas são-no. Depois, há os inocentes úteis, que não participam directamente, mas sem os quais o sistema não se aguenta. São os que dizem: ‘Não tenho provas, tragam provas’.»

Mais adiante, nessa mesma edição, mas na página 39, encontrei a “Opinião” do Prof. José Manuel Meirim: «Deparamo-nos com um impressionante poder federativo, omnipresente e tantas vezes autoritário e arbitrário. Contemplamos a incapacidade da administração pública desportiva nas suas funções de fiscalização. Vivemos na omissão do Estado, do Governo e na sua cumplicidade perversa com algumas organizações desportivas, sejam clubes ou federações desportivas. E o Direito do Desporto, esse, perde muita da sua magia inicial. O mito cai redondamente. Resta-nos a via dura do combate desigual contra a indecência e as ofensas aos direitos fundamentais das pessoas e a sua dignidade.»

Há uma transversalidade nestes dois textos, e referem-se ambos a algo digno da citação de D. Álvaro Vaz de Almada, primeiro conde de Abranches (1390-1449) e que já manifestei num post mais abaixo: «é fartar ... fartar ... vilanagem!»

E quais os motivos? A Ética é um espaço de reflexão e de discussão que deve estar presente no seio de qualquer sociedade, de qualquer instituição, de qualquer organização… a não estar corre-se o risco de não se distinguir a animalidade irracional de uma matilha da democraticidade de um grupo organizado. A primeira só possui responsabilidades intraespécie, o segundo possui responsabilidades sociais – logo, intergrupal.

A Ética é prescritiva, a Moral é normativa! Logo, quando temos carreiras simultâneas de treinadores e de técnicos de arbitragem mais imperativo se torna o debate e a existência de um código deontológico para cada uma destas classes… mas disso ninguém quer saber!

Na nossa modalidade, o Karaté, tão cheio de “Do” que até já o retirámos de «Karate-Do», tão cheia de máximas e de “Dojo Kun”, onde tem estado esse espaço de reflexão? Onde tem estado a sua responsabilidade social? Mas disso também ninguém quer saber…
...

2 comentários:

  1. Como diz mais ou menos um ditado que ouvi recentemente (e cuja origem não me recordo), «se todos varrermos a soleira da nossa porta, o mundo ficará mais limpo».
    Em termos de mudanças de fundo significativas, creio que o melhor que podemos fazer é mesmo transmitir, com as nossas palavras e, acima de tudo, com o nosso exemplo, os valores éticos e morais necessários para que cada pessoa, individualmente, seja superior à tentação da corrupção.
    Mas será tudo muito mais fácil se começarmos por nós próprios. Há um dito em inglês que diz «Practice what you preach» e que me é bastante caro. A coerência é, para mim, um dos valores a almejar. Então, se temos "Dojo Kun", se temos 5 máximas (Carácter, Sinceridade, Etiqueta, Esforço, Autocontrolo) que regem a nossa arte/modalidade/prática e que promovemos aos nossos alunos, talvez devamos começar por olhar para dentro e aplicá-las na nossa pessoa.
    O resto, há-de vir por arrasto...

    ResponderEliminar
  2. Hélio Ramos - Praia da Vitória8 de dezembro de 2011 às 02:16

    Sem justiça nada entrará nos eixos.
    Portugal está podre... infelizmente.
    Um abraço.
    HRamos

    ResponderEliminar